A necessidade de romper com o silenciamento imposto pela censura conduzida pelo Estado Novo em Portugal, fez com que, terminada a guerra colonial em 1974, determinadas vozes ganhassem espaço para contar, muitas vezes de forma autobiográfica, os horrores da ditadura em Portugal e das guerras em África. A reunião de memórias individuais e coletivas contribuiu para a formação de uma extensa produção no campo ficcional, tanto literário, quanto cinematográfico. Nesse contexto, as percepções subjetivas do real vão de encontro à política de silenciamento e ao "lugares de esquecimento" dos discursos oficiais, por isso, percebemos a importância do campo ficcional para a realização de um luto, doloroso, porém imprescindível, não só dos treze anos de guerra, mas também dos mais de quarenta anos de repressão do Estado Novo. Para refletir sobre esses temas, tão caros à contemporaneidade portuguesa, neste trabalho, parte do projeto (FAPEMIG) "Poder e silêncio(s): a pós-colonialidade entre o discurso oficial e a criação ficcional", pretendemos analisar a relação entre a produção literária portuguesa pós-74 e a construção de novas identidades, relação esta pautada em disputas pela memória, por "lugares de memória", especialmente entre gerações.