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EDUCAÇÃO LITERÁRIA: DIÁLOGOS ENTRE OS ESTUDOS LITERÁRIOS E A LINGUÍSTICA APLICADA
- CLECIO DOS SANTOS BUNZEN JUNIOR (UFPE) - clecio.bunzen@gmail.com
- CYNTHIA AGRA DE BRITO NEVES (UNICAMP) - cynthiaagrabneves@gmail.com
- Marcel Alvaro de Amorim (UFRJ) - marceldeamorim@letras.ufrj.br
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ESCRITAS DE MULHERES AFRICANAS E AFRODIASPÓRICAS NO CENÁRIO DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
- CELIOMAR PORFIRIO RAMOS (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) - celiomarramoss@hotmail.com
- Marinei Almeida (Universidade do Estado de Mato Grosso) - marinei.almeida@unemat.br
- Rodolfo Moraes Farias (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) - rodolfetz83@gmail.com
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FIOS QUE SE TECEM EM REDE: A FICÇÃO LATINO-AMERICANA E OS DIÁLOGOS TRANSNACIONAIS
- Graciane Cristina Mangueira Celestino (Centro Universitário Planalto do Distrito Federal - UNIPLAN) - graciane.letras@outlook.com
- GREGORY MAGALHÃES COSTA (UERJ) - gregorymagalhaescosta@gmail.com
- FABIO RODRIGO PENNA (Instituto Federal Fluminense) - fabio.penna@iff.edu.br
EDUCAÇÃO LITERÁRIA: DIÁLOGOS ENTRE OS ESTUDOS LITERÁRIOS E A LINGUÍSTICA APLICADA
EIXO: REDES LITERÁRIAS
SIMPÓSIO: EDUCAÇÃO LITERÁRIA: DIÁLOGOS ENTRE OS ESTUDOS LITERÁRIOS E A LINGUÍSTICA APLICADA
COORDENADORES:
- CLECIO DOS SANTOS BUNZEN JUNIOR (UFPE) clecio.bunzen@gmail.com
- CYNTHIA AGRA DE BRITO NEVES (UNICAMP) cynthiaagrabneves@gmail.com
- Marcel Alvaro de Amorim (UFRJ) marceldeamorim@letras.ufrj.br
RESUMO: As pesquisas em Linguística Aplicada em suas vertentes inter/transdisciplinar (SIGNORINI; CAVALCANTE, 1998) e, mais recentemente indisciplinar (MOITA LOPES, 2006; 2009), vêm colaborando para discussões sobre o campo da educação literária em espaços escolares ou não escolares (AMORIM e SILVA, 2020; NEVES, 2021; NEVES & BUNZEN, 2022). No cenário brasileiro, pode-se destacar várias pesquisas sobre as práticas e os eventos de letramentos com uso de textos e obras literárias em diferentes contextos sociopolíticos e ideológicos (STREET, 2014). Compreender tais facetas pela lente das práticas sociais de letramentos (Street, 2014) é essencial para (re)pensarmos os modos de produção, circulação e recepção da literatura como resistência e transgressão culturais nos processos complexos de formação de leitores e escritores literários, tal como requer uma educação literária e libertadora (Freire, 2019[1967]) em uma sociedade democrática. Os processos de reexistência envolvem mediação em espaços e territórios diversos, fazendo com que a Linguística Aplicada possa, cada vez mais, se interessar pelo constante renascer no centro de diversas tensões políticas. Ao procurar pensar na diversidade de territórios educativos formais para crianças, jovens e adultos, a Linguística Aplicada também tem de debruçado sobre análise de políticas públicas, como o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), o Programa Nacional do Livro e do Material Didático com foco em obras Literárias (PNLD-Literário) e o chamado Novo Ensino Médio (NEM), e em propostas curriculares nacionais ou internacionais de ensino de linguagens, como a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para compreender as facetas do trabalho com o campo literário nas mais diferentes instituições escolares. Dessa forma, a Linguística Aplicada se configura, também, como um campo epistemológico que pode contribuir para análise da produção, da recepção e da circulação dos textos literários em suas diversas linguagens em contextos educativos formais, informais ou não-formais diversos. Nessa lógica, este simpósio tem por objetivo acolher investigações em torno da Educação Literária (no sentido mais amplo) no âmbito da pesquisa em Linguística Aplicada, em diálogo com outros campos do conhecimento, especialmente, com os Estudos Literários. Em outros termos, busca-se congregar pesquisas que levem em conta implicações éticas, estéticas, políticas, ideológicas e transgressivas dos processos formais, informais ou não formais de experiências, aprendizagens e apropriações dos textos e das obras literárias com diferentes textualidades e discursos. Partimos da compreensão de que a pesquisa envolvendo a Educação Literária na contemporaneidade deve implicar a busca por novas epistemes, que subvertam a perspectiva linear, homogênea, monológica e objetivista da produção de saberes, e acreditamos que, nesse sentido, as bases da Linguística Aplicada tem muito a contribuir. Compreendemos, assim, a Linguística Aplicada, especialmente em sua vertente Indisciplinar, como um relevante espaço para um fazer acadêmico problematizador, transgressivo (PENNYCOOK, 2006) e de desaprendizagem (FABRÍCIO, 2006), que pode nos permitir criar fricções sobre discursos sedimentados (FABRÍCIO; SZUNDY, 2019) e desconstruir a ilusão de apartamento entre política/ideologia e pesquisa científica, podendo contribuir, também, para a busca pela compreensão e construção de processos educativos com o texto literário que sejam mais responsivos e responsáveis (BAKHTIN, 2010) à contemporaneidade. É nessa perspectiva que a pesquisa em Educação Literária pode construir ações-enquanto-posições para respaldar suas ações-enquanto-movimentos (SANTOS, 2019), a fim de produzir rupturas teórico-metodológicas acerca de práticas literárias em voga nas instituições – escolares ou não escolares – nacionais. Com efeito, este simpósio espera reunir investigações sobre a mediação em sala de aula com o texto literário, análise de políticas públicas e de materiais e recursos didáticos, análise de produções orais e escritas que envolvam o texto literário, análise de projetos e experiências com obras literárias nos contextos educativos (salas de aula, bibliotecas escolares, bibliotecas comunitárias, etc.), análise de propostas curriculares nacionais ou internacionais para a educação literária, análises sobre a formação (inicial e continuada) de professores para o ensino de literaturas, projetos didáticos de ensino de literatura (canônica e não-canônica), seja em língua materna, seja em língua estrangeira, tanto na educação básica quanto na educação superior; letramentos literários presentes (ou não) nas avaliações oficiais de ensino (o Enem) e nos exames seletivos para ingresso em universidades (os vestibulares); dentre outras temáticas, na tentativa de estabelecer um diálogo fértil que busque inteligibilidade sobre o modo como a Linguística Aplicada tem contribuído – e pode contribuir ainda mais – para fazer avançar as pesquisas sobre a Educação Literária.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Literária; Letramentos; Literatura; Linguística Aplicada
ESCRITAS DE MULHERES AFRICANAS E AFRODIASPÓRICAS NO CENÁRIO DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
EIXO: REDES LITERÁRIAS
SIMPÓSIO: ESCRITAS DE MULHERES AFRICANAS E AFRODIASPÓRICAS NO CENÁRIO DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
COORDENADORES:
- CELIOMAR PORFIRIO RAMOS (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) celiomarramoss@hotmail.com
- Marinei Almeida (Universidade do Estado de Mato Grosso) marinei.almeida@unemat.br
- Rodolfo Moraes Farias (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) rodolfetz83@gmail.com
RESUMO: “O perigo da história única” (CHIMAMANDA, 2018) nos levou a adentrar em águas ainda pouco navegadas, num navio conduzido por mulheres negras que velejam na contramão da concepção hegemônica, rumo à uma perspectiva feminista negra afrocentrada, num ato de autonomeação, de (re)contar a história, a partir de uma ótica gendrada, racializada e marcada por categorias que constituem esse grupo, reconhecendo a multiplicidade que o compõe. Deparamo-nos, então, com um fazer literário elaborado, como sugere Pinheiro (2021), como uma estratégia de resistência ao silenciamento e as violências sofridas por mulheres racializadas desde o período colonial perdurando, muitas vezes, até a contemporaneidade. Desse modo, o “outro do outro” (KILOMBA, 2019), impõem-se, apesar de enfrentar inúmeros obstáculos, como aquela voz que num ato de escreviver, contando a sua história, no entanto, extrapolando o “eu”, assumindo, assim, uma escrita com dimensão “política e coletiva” (SOUZA, 2018). Talvez esta seja uma das principais motivações que têm nos guiado à produção literária de mulheres negras: entender que a história oficial, por conseguinte, tudo que a circunscreve, inclusive a arte, foi concebida a partir da visão de homens brancos cisheterossexuais oriundos das classes mais favorecidas da sociedade (DALCASTAGNÈ, 2008), salvo as raras exceções que conseguiram driblar o apagamento sistêmico. É necessário ressaltar que, mesmo que as mulheres negras estejam rompendo o silenciamento imposto, tendo certa visibilidade (inter)nacional, há elementos que ainda obliteram esse grupo. Resta-nos, como pesquisador e pesquisadora, contribuir para que esses elementos sejam (re)conhecidos, portanto, nomeados, a fim de descortinarmos o lado “marginal” a que produção esteve relegada. Pode haver inúmeras formas de (re)conhecer tais elementos, contudo, uma das mais coerentes é ouvir o que essas mulheres têm a dizer, seja no campo científico, na arte, na literatura, na crítica literária e em outros âmbitos da sociedade, pressupondo que ninguém é mais capaz de identificar as dores que as próprias vítimas. Deparamo-nos, então, com um fazer literário elaborado, como sugere Pinheiro (2021), como uma estratégia de resistência ao silenciamento e as violências sofridas por mulheres racializadas desde o período colonial perdurando, muitas vezes, até a contemporaneidade. A necessidade de ouvir/ler, refletir, discutir e analisar produções daquelas que tiveram as vozes silenciadas por sistemas opressores, machistas e sexistas, se faz urgente, sobretudo em um país que tem sua base fincada ainda em um sistema neocolonialista. Apesar de tímida, nos últimos anos tem sido notória a conquista de espaço das mulheres negras no mercado editorial e, além disso, tem aumentado de forma significativa o interesse de pesquisadores(as) em refletir sobre essa produção literária na academia. A visibilidade da escrita dessas mulheres é importante, entre outros fatores, por apresentar uma nova perspectiva social permitindo, assim, que elas se autorrepresentem e representem suas semelhantes e, consequentemente, rasurem os estereótipos atribuídos a esse grupo na literatura hegemônica. A autoria feminina negra é, então, uma grande conquista, visto que, ao “assenhorar-se da pena”, essas mulheres deixam de ser “objeto” nos textos literários, tornando-se sujeito da/na literatura, apresentando “escrevivências”, ou seja, permitindo que a subjetividade e a memória se apresentem, contudo, sem um centramento em si, na evidência de uma memória coletiva da população racializada. Segundo Mata (2006), tais literaturas são metonímias da história dos países e, por isso, consideradas textos memórias. Dado o exposto, nosso objetivo é reunir trabalhos que discutam a produção literária de autoras negras em diferentes gêneros literários, com os seguintes objetivos: (1) debater a importância da autoria feminina negra; (2) refletir sobre como se dá a representação de mulheres negras na literatura produzida por autoras negras; (3) abordar a relevância das produções literárias de mulheres negras no cenário africano, afro-brasileiro e afrodiaspórico; (4) discutir em que medida essas produções contribuem para desconstruir os estereótipos atribuídos aos negros, em especial, às mulheres negras. Serão bem-vindas propostas centradas nos estudos comparados, não somente entre textos literários, mas, destes com outros tipos de artes (cinema, teatro, pintura, etc), incluindo o diálogo com outras áreas de conhecimento (antropologia, sociologia, história e etc). Ainda, baseados nos pressupostos defendidos por Patrícia Hill Collins (2017), de que é preciso se munir de estudos que intervém sobre a questão da intersecção das desigualdades, na reconfiguração das hierarquias de raça, classe, gênero e sexualidade; de Judith Butler (2017), ao dizer que se alguém “é” uma mulher isso não é tudo, pois o gênero, por não se representar de maneira coerente no que diz respeito ao contexto histórico, estabelece diálogo com outros aspectos, dentre eles os raciais, classicistas, étnicos, sexuais e regionais, uma vez que “se tornou impossível separar a noção de ‘gênero’ de interseções políticas e culturais em que invariavelmente ela é produzida e mantida” (p. 21). Enfim, dentre outros estudos críticos e teóricos que centrem nessas questões, as propostas apresentadas deverão considerar tais pressupostos, uma vez que é de suma relevância para pensar o lugar outorgado à mulher negra em uma sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Autorrepresentação; Mulheres negras; Autoria feminina negra; Interseccionalidade; Afrodiaspóricas.
FIOS QUE SE TECEM EM REDE: A FICÇÃO LATINO-AMERICANA E OS DIÁLOGOS TRANSNACIONAIS
EIXO: REDES LITERÁRIAS
SIMPÓSIO: FIOS QUE SE TECEM EM REDE: A FICÇÃO LATINO-AMERICANA E OS DIÁLOGOS TRANSNACIONAIS
COORDENADORES:
- Graciane Cristina Mangueira Celestino (Centro Universitário Planalto do Distrito Federal - UNIPLAN) graciane.letras@outlook.com
- GREGORY MAGALHÃES COSTA (UERJ) gregorymagalhaescosta@gmail.com
- FABIO RODRIGO PENNA (Instituto Federal Fluminense) fabio.penna@iff.edu.br
RESUMO: A ficção contemporânea latino-americana é permeada pela construção de uma identidade encruzilhada, baseada em culturas, histórias, embates, liberdades, resistências, revelando diferenças, semelhanças e conexões. Essa noção esteve presente em um contexto de ressurgimento de um discurso de solidariedade transnacional impulsionada pela Revolução Cubana, golpes militares que se espalhavam pelos países, além de um forte sentimento anti-imperialista. Os modos de pensar as resistência aos modelos ficcionais de tradição eurocêntrica foram se intensificando, a fim de demonstrar como os escritores, a partir década de 1950, representariam os marcos socioculturais e históricos, tendo por pressuposto a produção literária dos países tidos como “periféricos”. Um exemplo disso é a obra de José Maria Arguedas com seus rios profundos, pois o autor imprimiu os ritmos quéchuas na língua espanhola, como modo de solucionar seus conflitos decoloniais. Solução semelhante, embora distinta, foi a de João Guimarães Rosa, que simulou uma língua geograficamente sertaneja por meio de arcaísmos, regionalismo e de estrangeirismos, afixações e composições que soam regionais sendo sertanejas num sentido simbólico de criação poética original, como podemos depreender de seu diálogo com Gunter Lorenz. Essas construções alegóricas e manifestações estéticas se expandiram em uma multiplicidade e heterogeneidade de estilos e formas que foram aflorando na América Latina e no Caribe, congregando à narrativa romanesca os mitos e as visões das culturas indígenas e afrodiaspóricas, ofertando aos ficcionistas latino-americanos o desenvolvimento de uma narrativa crítica, voltada para os processos de escravização. Esse desenraizamento das populações de seus territórios originários, causando uma séria crise identitária e apagamento de memórias ancestrais, é tema explorado por ficcionistas tais como: Jacques Romain, Manuel Zapata Olivella, Mayra Santos-Febres, Derek Walcott, Marysé Condé, Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo, Jeferson Tenório, Carolina Maria de Jesus, Itamar Vieira Júnior, Daniel Munduruku, só para citar alguns casos. De tal modo, a percepção de uma ficção que, de maneira indireta, reflete a constituição de “amefricanidade” e experiências individuais que se referem a trânsitos literários operando manifestações estéticas de interseccionalidade, como dispõe Gonzalez (1988), pode ser percebida como experiência única na ficção latino-americana contemporânea, o que Garramuño (2014) chamará de “experiência do comum”, ou seja, o momento em que desfoca a distinção entre texto e experiência. No que concerne ao conceito de Améfrica Ladina, cunhado por Lélia González, ele se presentifica a partir da necessidade de professores universitários, que atuam na formação de professores da educação básica brasileira, darem aporte às leis 10.639/03 e 11.645/11, que tornaram obrigatório o ensino de cultura afro-brasileira, africana e indígena no país. González tinha como principal proposição um olhar sensível em relação à constituição de nossas identidades e memórias, ao pontuar que a Améfrica seria “[...] uma criação nossa e de nossos antepassados no continente em que vivemos, inspirados em modelos africanos[...]”. Para a antropóloga, americanos seriam tanto africanos quanto os povos originários que residiam no continente antes da chegada de Colombo, e que como tal desempenham papel fundamental na “experiência histórica” que é constituída pela diáspora. O estudo da produção ficcional referente às narrativas e saberes em atravessamentos e transculturações, que foram silenciadas, invisibilizadas e excluídas, pode revelar os ficcionistas que produzem narrativas de amefricanidade, as quais podem ser observadas nas antologias de literatura latino-americana organizadas. É importante destacar que Abdias do Nascimento, em seu conceito de “quilombismo”; Lélia González com o conceito de “Améfrica”; Jerome Branche em suas pesquisas e escritos sobre a diáspora, e Édouard Glissant, em sua poética da relação e da diversidade, colaboraram para que a discussão qualificada sobre um modelo de reorganização social fosse difundido, tendo por objetivo a aliança de uma herança cultural africana com as bases de uma dinâmica social que tivesse como pressuposto a multiculturalidade e a multirracialidade na América Latina. O simpósio que ora se apresenta tem por finalidade reunir trabalhos que versem sobre narrativas ficcionais afro-latino-americanas que contemplem a segunda metade do século XX e primeira metade do século XXI. O escopo da abordagem não precisa ser somente multicultural, mas também multirracial, traçando comparações e confluências entre narrativas distintas. Os textos referentes às reflexões sobre “amefricanidade”, “quilombismo” e “paisagens afrodiaspóricas” devem apresentar o objeto de estudo, seus objetivos, método de análise e apreciação dos conceitos que serão analisados. Também serão aceitos textos que apresentem produtos de pesquisa de mestrado ou doutorado, além de resultados de projetos de leitura aplicados na educação básica que versem sobre as noções sistêmicas apresentadas, de maneira a debater essa temática nos cronogramas de literatura e língua portuguesa, tanto na universidade quanto na educação básica, objetivo também do simpósio ora apresentado.
PALAVRAS-CHAVE: Améfrica; Diáspora; Ficção Contemporânea; Quilombismo; Literatura latino-americana.
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A FRONTEIRA É DENTRO: ONTOCOSMOLOGIAS INDÍGENAS E AFRO-DIASPÓRICAS NO BRASIL
- ADALBERTO MULLER JUNIOR (Universidade Federal Fluminense) - adalbertomuller@gmail.com
- ALEXANDRE ANDRÉ NODARI (Universidade Federal de Santa Catarina) - alexandre.nodari@gmail.com
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AS LITERATURAS DE LÍNGUA FRANCESA SEM MORADA FIXA: ENTRE MARGENS E FRONTEIRAS
- Josilene Pinheiro-Mariz (Universidade Federal de Campina Grande) - jsmariz22@hotmail.com
- Dennys Silva-Reis (Universidade Federal do Acre) - reisdennys@gmail.com
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EXPRESSÕES LITERÁRIAS DA PAN-AMAZÔNIA
- Juciane dos Santos Cavalheiro (Universidade do Estado do Amazonas) - jucianecavalheiro@gmail.com
- Carlos Antônio Magalhães Guedelha (Universidade Federal do Amazonas) - cguedelha@gmail.com
- Iza Reis Gomes (UFAC/IFRO/UNIR/CAPES/BRASIL) - iza.reis@ifro.edu.br
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GEOPOESIA E ENFRONTEIRAMENTOS: MARGENS E POLIFONIAS NOS RIOS DA AMAZÔNIA
- AUGUSTO RODRIGUES DA SILVA JUNIOR (Universidade de Brasília) - augustorodriguesdr@gmail.com
- Willi Bolle (Universidade de São Paulo) - willibolle@yahoo.com
- Ana Clara Magalhães de Medeiros (Universidade de Brasília (UnB)) - a.claramagalhaes@gmail.com
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LITERATURA, CULTURA E IDENTIDADE NA/DA AMAZÔNIA: CIRCULAÇÃO, TRAMAS E SENTIDOS NA LITERATURA
- Roberto Mibielli (UFRR) - rmibielli@yahoo.com.br
- Márcio Araújo de Melo (Universidade Federal do Norte do Tocantins) - marciodemelo33@gmail.com
- Sheila Praxedes Pereira Campos (UFRR) - sheilapraxedes@hotmail.com
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MARGENS E FRONTEIRAS AMAZÔNICO-ANDINAS: MEMÓRIAS, ORALIDADES, VISUALIDADES, LITERATURAS
- Gerson Rodrigues de Albuquerque (Universidade Federal do Acre (UFAC)) - gerson.ufac@gmail.com
- Luana Ferreira Rodrigues (Universidade Federal do Amazonas) - luanarodrigues@ufam.edu.br
- Francisco Bento da Silva (Universidade Federal do Acre) - francisco.bento@ufac.br
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OUTROS LUGARES NARRATIVOS: POÉTICAS ORAIS NA AMAZÔNIA E NO NORDESTE
- Daniel Batista Lima Borges (Universidade Federal do Amapá) - danielborges@unifap.br
- Marcos Paulo Torres Pereira (Universidade Federal do Amapá) - marcospaulo@unifap.br
- Margarida da Silveira Corsi (Universidade Estadual de Maringá-UEM) - mscorsi@uem.br
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SUJEITOS EM (DES)LOCAMENTO: TENSÕES TRANSCULTURAIS E CONVIVÊNCIA EM ESPAÇOS DE FRONTEIRA
- Gerson Roberto Neumann (UFRGS) - gerson.neumann@gmail.com
- Fernanda Boarin Boechat (UFPA) - fernandaboechat@gmail.com
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UM SALTO NA ESPIRAL APOCALÍPTICA
- Gabriela Lopes Vasconcellos de Andrade (Universidade Federal de Minas Gerais) - gabrielalvandrade@gmail.com
- Antonia Torreão Herrera (Universidade Federal da Bahia) - antoniatherrera@gmail.com
A FRONTEIRA É DENTRO: ONTOCOSMOLOGIAS INDÍGENAS E AFRO-DIASPÓRICAS NO BRASIL
EIXO: MARGENS E FRONTEIRAS
SIMPÓSIO: A FRONTEIRA É DENTRO: ONTOCOSMOLOGIAS INDÍGENAS E AFRO-DIASPÓRICAS NO BRASIL
COORDENADORES:
- ADALBERTO MULLER JUNIOR (Universidade Federal Fluminense) adalbertomuller@gmail.com
- ALEXANDRE ANDRÉ NODARI (Universidade Federal de Santa Catarina) alexandre.nodari@gmail.com
RESUMO: Este simpósio toma como marco inicial as ideias de entrelugar (Santiago) e de heterogeneidade cultural (Cornejo Polar) para (re)pensar as fronteiras e os limites da literatura brasileira com os saberes originários e/ou afro-diaspóricos do e no Brasil. Quando se fala em fronteiras e de limites (Nodari), aqui, propomos que é a partir de uma “teoria das fronteiras” (Michaelson; Johnson) que cria condições seguras para se questionar o locus central onde se instaura uma linha de pensamento, uma disciplina ou uma espistemologia. Assim, antes de partir para o mero confronto ou diferenciação polarizada (p. ex., entre “centro x margem”, “original x cópia”, “metrópole x periferia”; “nacional x cosmopolita”; “escrita x oralidade” etc.) queremos de-limitar o que vem a ser um pensamento da e na fronteira, capaz de “fazer fronteira” (Sakai apud Cardozo et alii), e no qual as ideias de inscrição, de rastro e de traço (Derrida) criam um lugar-outro, onde o método volta a ser caminho, passagem, um lugar de transversalidade de saberes e de horizontalidade das relações entre sujeito e objeto. É nessa condição que acreditamos ser possível questionar o “sentido da formação” (Arantes; Arantes) de uma ideia de Nação relaciona a estrutura da colonização com a formação das elites (econômicas, intelectuais, literárias), desconsiderando aqueles saberes que foram silenciados nessa ou excluídos dessa formação: as cosmologias e ontologias (Charboniet et alii) dos povos indígenas e afro-diaspóricos. Para além do embate com o pensamento da “formação”(Natali), trata-se de pensar aqui também a inscrição histórica (o rastro, a contra-escrita, as marcas) de outros corpora de saberes que permaneceram silenciados até bem recentemente na historiografia canônica e oficial, saberes em que o corpus muitas vezes foi um corpo sujeito à violência do processo colonial. Considerando que tal processo teve a seu serviço sempre o que se pode chamar de uma epistemologia branca (de matriz europeia), que via de regra operou tacitamente no sentido de menosprezar formações discursivas (ou escrituras) “menores” e subalternizadas, as quais, em contrapartida, sempre foram escrevendo uma outra História, e inscrevendo outros sentidos e outras formações no corpo heteróclito (e heterotópico) do que se chama Brasil. Vale recordar que tais saberes (cosmologias, epistemologias, ontologias) não fizeram parte nem da formação do corpus de um pensamento brasileiro, no sentido lato, nem na fundamentação econômica e jurídica de um Estado que se estruturou justamente sobre os corpos dos excluídos (inclusive os corpos animais e vegetais). Contudo, não se trata apenas de evocar a história dessa violência originária na formação do Brasil moderno e contemporâneo (nem de apenas mostrar a “montanha de escombros” vista pelo Anjo de Walter Benjamin), mas de abrir-se à escuta, e de procurar traduzir essas outras vozes, ou os rastros dessas outras vozes, que muitas vezes falaram (direta ou indiretamente) em suas línguas de origem – como as línguas da família tupi-guarani, inscritas na história da literatura brasileira desde Anchieta, ou antes–, ou ainda em línguas afro-diaspóricas – como as línguas do candomblé e do congado, que uma “tradução-exu” (Capilé; Gontijo Flores) ou uma imersão antropológico-literária (Pereira) foram capazes de trazer à superfície da nossa cena literária, de forma exemplar. Queremos insistir sobretudo no aspecto de linguagem que fundamenta esta proposta, pois, mais do que ouvir o que fala (ou não) o subalterno, trata-se de escutar o como fala, ou seja, em sua(s) própria(s) língua(s), ou nas línguas que surgem de uma relação (Glissant) ou das múltiplas formas de tradução. Desse modo, queremos pensar – e mais que pensar, fazer trabalhar – os regimes de multilinguismo e de heteroglossia que poderiam fomentar a formação de um Brasil mais múltiplo (do ponto de vista linguístico e literário) e de um Estado mais diverso, plurinacional, que reconheça as suas fronteiras de dentro (como um corpo reconhece suas fraquezas e suas forças, duas doenças e suas alegrias). Nesse sentido, a literatura comparada é tomada aqui como terreiro e de aldeia, um território onde se tornam possíveis várias formas de relação e de tradução, um entrelugar heterogêneo e heterotópico. Do ponto de vista pragmático, pretendemos, com o simpósio, ao mesmo tempo, e de forma interligada: 1) auxiliar na visibilização e institucionalização acadêmicas da pesquisa em literaturas indígenas e afrodiaspóricas, inclusive e especialmente incentivando a presença de pesquisadores, professores e escritores indígenas ou que trabalhem com línguas indígenas e culturas afro-diaspóricas; 3) reunir, estabelecer e expandir a rede de pesquisadores de literaturas e cosmologias indígenas e afro-diaspóricas, congregando estudiosos de diversos níveis, daqueles em ainda em formação (pós-graduandos) àqueles já renomados e estabelecidos institucionalmente; 3) dialogar com os povos indígenas amazônicos que eventualmente possam se deslocar até o Congresso da Abralic.
PALAVRAS-CHAVE: Fronteira; Cosmologias Indígenas; Literatura afro-diaspórica; Formação; Inscrição e rastro;
AS LITERATURAS DE LÍNGUA FRANCESA SEM MORADA FIXA: ENTRE MARGENS E FRONTEIRAS
EIXO: MARGENS E FRONTEIRAS
SIMPÓSIO: AS LITERATURAS DE LÍNGUA FRANCESA SEM MORADA FIXA: ENTRE MARGENS E FRONTEIRAS
COORDENADORES:
- Josilene Pinheiro-Mariz (Universidade Federal de Campina Grande) jsmariz22@hotmail.com
- Dennys Silva-Reis (Universidade Federal do Acre) reisdennys@gmail.com
RESUMO: Relacionada à diversidade dos espaços nos quais a língua francesa é utilizada, a noção de francofonia é um tema controverso entre os falantes da língua. Por vezes, sinônimo de submissão, o uso desse conceito não é unanimemente aceito entre aqueles que têm o francês como língua materna, de comunicação, oficial, veicular ou de trabalho, como no caso de professores de francês pelo mundo. Tal controvérsia perceptível alinha-se à histórica colonização de povos em continentes diversos; onde, na maioria dos casos, a língua francesa foi imposta pelo colonizador francês, assim como ocorreu em países de todos os continentes, nos mares e oceanos ao redor do mundo. Apesar da imposição do francês como a língua de uma elite cultural, a história da França, marcada pela missão civilizadora no século XIX, é responsável por difundir a língua nos países ultramarinos, associada à introdução do francês nas escolas. . Portanto, pelo prisma das literaturas de língua francesa, torna-se possível conhecer culturas dos povos dos cinco continentes e dos três oceanos do planeta. Essa situação pode, evidentemente, destacar a diversidade da língua, mas concentra-se especialmente nas características culturais distintas das comunidades que compartilham o francês. Isso indica que, de maneira semelhante ao português no Brasil, o francês é uma língua que proporciona unidade em meio a uma diversidade de espaços culturais. A partir desse olhar, buscamos, neste simpósio, incitar predominantemente, duas questões: [1] as que abraçam a própria noção de francofonia e [2], a de promover reflexões sobre as literaturas produzidas em países de língua francesa, as ditas “francófonas”, em diálogo com a literatura brasileira.Sobre a primeira questão, ressalte-se que tal discussão é necessária, uma vez que há, minimamente, dois eixos que ancoram esta reflexão: o eixo institucional internacional, que revela a análise do período recente, para o qual um trabalho de arquivos, especialmente diplomáticos, ainda precisa ser realizado; e, o eixo de história de ideias, relacionado aos debates sobre a promoção do francês como língua cultural de vocação universal e às controvérsias que visam defendê-lo como ferramenta de comunicação em diversas situações (países francófonos e organizações internacionais) e como língua de comunicação internacional (Moura, 2007, p. 33-34). Então, na problemática da F/francofonia subjazem realidades linguísticas e sociais muito distintas. O nível de domínio da língua varia entre as regiões, grupos sociais e entre os indivíduos. Como comparar a situação linguística em Genebra, Bruxelas, Montreal à situação de Bamako, Casablanca, Porto Príncipe? Segundo Combe (Combe, 2010, p. 7), “considerando a diversidade das situações linguísticas, culturais e sociopolíticas, a aparentemente neutra palavra "francofonia" deve ser obrigatoriamente colocada no plural, pois as francofonias são necessariamente múltiplas”. Ainda segundo o especialista, o mesmo ocorre com as literaturas francófonas. O uso das expressões "francofonia" e "literatura francófona" no singular só fazem sentido em um contexto muito específico de oposição a outras "-fonias": anglofonia, germanofonia, hispanofonia, arabofonia, etc., e às literaturas de outras línguas: a literatura francófona versus a literatura anglofona nas Antilhas ou na África. Quanto à segunda questão que buscamos discutir neste simpósio, pondera-se sobre as literaturas “francófonas” e seus possíveis diálogos com a literatura brasileira, esta também tem relação com as noções de margens e fronteiras, sobretudo porque as literaturas “francófonas” tem, no seu seio, uma característica de movência e fratura, ao mesmo tempo. Para Ette (2018), elas são “literaturas sem morada fixa”, a partir desse olhar, compreende-se que as literaturas de língua francesa, em todos os espaços em que é publicada, é produzida “EntreMundos”, fronteiriços ou não. Pode-se convocar para o debate a classificação tipológica de francofonia literária proposta por Beniamino (1999). Segundo ele, só é possível falar em francofonia literária a partir de universos simbólicos criados nas seguintes situações: situação de criolização, situação de colonização e situação de “reinado cultural” (Beniamino, 1999). Classificação esta que pode ser, com as devidas ressalvas, comparada às literaturas lusófonas, em particular, à brasileira. Assim, neste simpósio, acolheremos reflexões sobre obras literárias “francófonas”, problematizando-se essa noção de F/francofonia e identificando diálogos entre as literaturas produzidas em francês nos mais diversos espaços da Francofonia e a literatura brasileira, buscando-se considerar tal procedimento como um convite no olhar de Gosfoeguel (2016, p. 45): “para que se produza, a partir de diferentes projetos epistêmicos políticos..., rumo a um projeto decolonial de liberação para além das estruturas capitalistas, patriarcais, eurocêntricas, cristãs, modernas e coloniais”. É importante ressaltar que os estudos das literaturas de língua francesa produzidas no Norte Global também serão aceitas, uma vez que em seus espaços de origem são, por vezes, tidas como minoritárias e, ainda, são fundamentais para o contexto de discussão das literaturas “francófonas”. Para se pensar o projeto de liberação, pontos de vistas e análises que apontem para as literaturas e outras linguagens, para o ensino das literaturas francófonas e outras linguagens serão bem-vindos neste simpósio que reflete sobre margens e fronteiras de literaturas de língua francesa pelo mundo.
PALAVRAS-CHAVE: F/francofonia; literaturas; francês.
EXPRESSÕES LITERÁRIAS DA PAN-AMAZÔNIA
EIXO: MARGENS E FRONTEIRAS
SIMPÓSIO: EXPRESSÕES LITERÁRIAS DA PAN-AMAZÔNIA
COORDENADORES:
- Juciane dos Santos Cavalheiro (Universidade do Estado do Amazonas) jucianecavalheiro@gmail.com
- Carlos Antônio Magalhães Guedelha (Universidade Federal do Amazonas) cguedelha@gmail.com
- Iza Reis Gomes (UFAC/IFRO/UNIR/CAPES/BRASIL) iza.reis@ifro.edu.br
RESUMO: A literatura da Pan-Amazônia é um reflexo da diversidade cultural, ambiental e social que caracteriza essa vasta região do Brasil e de quase uma dezena de países da América do Sul. Têm em comum, entre outras coisas, o privilégio de partilhar a maior floresta tropical do mundo, e com ela as múltiplas belezas, riquezas, mistérios e símbolos que comporta. Composta por uma rica tapeçaria de vozes indígenas, comunidades ribeirinhas, povos tradicionais e escritores contemporâneos, a literatura pan-amazônica emerge como uma expressão consistente de identidade e resistência. A Pan-Amazônia abriga uma variedade de ecossistemas, desde florestas tropicais exuberantes até rios imponentes. Essa complexidade ambiental se traduz na literatura por meio de expressões poéticas e narrativas que exploram as interações entre os seres humanos e a natureza, muitas vezes destacam a importância da preservação ambiental e a luta contra a degradação e o desmatamento. Por vezes, celebram as tradições, os mitos e os rituais das comunidades indígenas. Além de vozes indígenas contemporâneas – como Daniel Munduruku, Márcia Kambeba, Cristino Wapichana, Yguarê Yamã, Elias Yaguakãg, Lia Minápoty, Roni Wasiry Guará –, a literatura pan-amazônica também incorpora a perspectiva de escritores consagrados, a exemplo de Gabriel García Márquez, Manuel Scorza, José Maria Arguedas, Dalcídio Jurandir e Vicente Franz Cecim, também escritores contemporâneos ativos, que vivem nas cidades e experimentam a complexidade do choque entre a modernidade e as tradições, caso de Milton Hatoum, Márcio Souza, Nicodemos Sena, Daniel Alarcón e Hector Abad Faciolince. Autores, cada um com sua particularidade, que exploram questões sociais, políticas e econômicas que permeiam a vasta região, oferecendo uma visão multifacetada das realidades pan-amazônicas, afastam-se da ideia eurocêntrica de paraíso perdido ou inferno verde. Ao longo das páginas de obras como as do ciclo ficcional de Dalcídio Jurandir, levantadas por Voigt Leandro em sua tese de doutorado (2014), A espera do nunca mais – uma saga amazônica, de Nicodemos Sena, Dois irmãos e Cinzas do Norte, de Milton Hatoum, percebe-se um esforço para romper estereótipos e desafiar narrativas simplificadas sobre a Amazônia, assim contribuindo não apenas para o enriquecimento cultural da região, mas também para o entendimento global da importância da Amazônia no contexto planetário. Nessas obras, por exemplo, o dilema literário encontra lugar nos problemas universais dos seres humanos, com seus dramas pessoais, sociais e políticos. Nesse sentido, este simpósio tem a proposta de criar um espaço para apresentação de estudos relativos à literatura da Pan-Amazônia, em seu desafio de recriar e ressignificar questões ambientais, estéticas e sociais da região, assim como outras questões humanas universais, olhadas a partir de lentes da pesquisa linguístico-literária na Amazônia. Nesta esteira, o presente simpósio busca contribuir para a promoção de um pensamento pan-amazônico, por meio da discussão sobre o estabelecimento de modelos de representações da Amazônia, presentes em narrativas e poéticas, escritas ou orais. Exemplos de estudos sobre essa construção da pan-amazônia encontram-se em Ana Pizarro (2012), Édouard Glissant (2005), Foot-Hardman (2009), Neide Gondim (2007) e Paes Loureiro (2015), os quais apontam caminhos para a pesquisa que imerge nas interfaces da literatura e das ciências humanas sobre a modernidade nas Amazônias, no Brasil e no mundo, de modo a evidenciar um olhar outro para a produção literária produzida, sobretudo, a partir da metade do século XX. Paes Loureiro repensa a região amazônica, de modo a redimensionar a representação da realidade. Ana Pizzaro, em Amazônia: as vozes do rio, destaca que, ao longo da história, foi criada uma Amazônia não real, representada por olhares extrapostos, que marcam a relação com a alteridade de modo a intensificar visões estereotipadas, exóticas e preconceituosas. A pesquisadora chilena dá destaque às múltiplas visões e vozes alternativas que compõe a região. Édouard Glissant é um defender da autonomia da voz e das identidades culturais, sobremaneira dos povos e nações emergentes. Assim, a partir da literatura produzida na pan-Amazônia, esta proposta de simpósio busca debater e analisar as formas literárias em relação ao referido espaço, de modo a pensar a região a partir de contextos relacionais entre o regional, o nacional, o transnacional e o internacional. Para tanto, podem ser inscritos trabalhos que se vinculem a um dos eixos teórico-temáticos a seguir: Clube da Madrugada 70 anos depois; Diálogos pan-amazônicos; Literatura e identidade; Literatura e enunciação; Literatura indígena; Literatura e discursos decoloniais; Novas configurações narrativas e poéticas pan-amazônicas.
PALAVRAS-CHAVE: literatura; pan-amazônia; alteridade; identidade cultural.
GEOPOESIA E ENFRONTEIRAMENTOS: MARGENS E POLIFONIAS NOS RIOS DA AMAZÔNIA
EIXO: MARGENS E FRONTEIRAS
SIMPÓSIO: GEOPOESIA E ENFRONTEIRAMENTOS: MARGENS E POLIFONIAS NOS RIOS DA AMAZÔNIA
COORDENADORES:
- AUGUSTO RODRIGUES DA SILVA JUNIOR (Universidade de Brasília) augustorodriguesdr@gmail.com
- Willi Bolle (Universidade de São Paulo) willibolle@yahoo.com
- Ana Clara Magalhães de Medeiros (Universidade de Brasília (UnB)) a.claramagalhaes@gmail.com
RESUMO: Neste início de novo milênio, em um tempo de fragmentações, dissoluções e virtualidades, a geopoesia desponta como teoria das margens e das fronteiras. Pedagogias, práxis, epistemes e hermenêuticas provocam rasgos nos cânones literários e históricos. Entre estéticas e poéticas, para a geopoesia, discutir a história a contrapelo (à pororoca), no sentido preconizado por Walter Benjamin, problematizando os centros culturais, políticos e simbólicos foi sempre a busca por uma teoria que se consolidasse na relação Centro-Oeste/Norte que refletisse sobre as novas ordens e desordens mundiais: “pensar esse (des)global constitui um ato revolucionário para a crítica literária, justamente porque atualiza (...) a velha querela (querelle) entre o novo e o velho, o universal e o regional, que marca um campo de estudos em Literatura Comparada” (Medeiros; Silva Jr, 2023, p. 71). O literário é concebido não só na academia/universidade, mas a partir do universo oral, não-grafado, performado. Essa acolhida das margens e da transformação das fronteiras é traduzida nos aquilombamentos, aldeamentos, vãos, rincões, ermos e gerais dos interiores brasileiros. A reescrita e a recontação de histórias atualizam-se oralmente, corporalmente, paleograficamente por autores e leitores, foliões individuais e coletivos. Tradições que nos guiam por rotas de andarilhos e navegantes, ambulantes e cordelistas, carpideiras e brincantes, flâneurs e etnoflâneurs que fazem da geopoesia uma forma polifônica e carnavalizada de olhar o mundo. No sentido bakhtiniano, a literatura de campo engloba: provérbios e ditos, casos e causos, canções e toadas, repentes e alvoradas, suças e umbigadas, romarias e mascaradas. Na foz pensamental do Cerrado e correndo para os rios teóricos da Amazônia, a geopoesia se move nos banzeiros da literatura brasileira, nos remansos das literaturas latino-americanas, nos mares das literaturas de língua portuguesa. Entre a polifonia (?????????), preconizada por Bakhtin, e O narrador (Der Erzähler), de Walter Benjamin, surge o conceito de enfronteiramento como instrumento de liberdade, como teoria-prática que compreende o empoderamento pela consciência da relação entre espaço e discurso, territorialidade e voz. A geopoesia, no rastro da multiplicidade, alimenta-se dialogicamente de constantes atualizações (desenvolvidas nos Congressos da ABRALIC desde 2018). O enfronteiramento – que movimenta horizontes e marginálias, transeuntes e transes – recusa a palavra autoritária e monológica (Bezerra, 2005). Entre a etnografia e a etnoflânerie, o geopoeta (Erzähler/??????????) busca formas dialógicas de refletir sobre o nosso milênio de extremos e extremismos, pleno de migrações e diásporas, viagens globais e refronteiramentos, vírus e viralidades. Evocando sempre a palavra-outra, para estar efetivamente com o outro, convidamos e agregamos trabalhos sobre versos e canções, prosas e dramas, relatos e arquivos, cinema literário e peças-filme, mapas e relatos de viagens e de viajantes “que de tão longe vêm vindo” (BRANDÃO, 2010). Nossas rodas abraçam trabalhos teóricos, etnográficos, artísticos, (mestres dos saberes), e tradições que dialoguem com a visão polifônica. Sendo assim, dos contatos interculturais redimensionados pelas tecnologias da informação, a teoria da geopoesia nasce do encontro de topografias para discutir formas geopolíticas, geoculturais e geopoéticas. Enfrentar o preconceito literário, renovar as perspectivas do cânone e apresentar autores esquecidos, desconhecidos, pouco estudados apresenta papel fundamental no enfronteiramento e nos marginalismos na literatura comparada. Dos contatos com a ecocrítica, a geocrítica, a análise do discurso dialógica, estudos pós-coloniais e perspectivas da enunciação que movimentem o espaço (literário) e as experiências urbana, rural, camponesa, ribeirinha, dentre outras, novos paradigmas submergem entre paradigmas. No ano dos oitenta anos de nascimento de Willi Bolle, abrimos uma “moldura teórica que questiona a tradição e o patrimônio cultural literário” (Bolle, 1986, p. 09), para provocar inquietações no seio das literaturas e críticas comparadas. Diante de nossa escavação histórica e composição do contemporâneo, convidamos ao perene exercício da geopoesia – atenta aos contatos e contextos interculturais. Formas literárias cerradeiras/amazoniais (versus local, sertanejo, regionalismo...) nos permitem relacionar a experiência do espaço geográfico e simbólico brasileiro à dinâmica histórico-cultural que marca a relação Sul-Sul x Norte-Sul. Assim, convocamos para este Simpósio o olhar responsável e responsivo de estudiosos que discutam e retratem diásporas (migrações e invasões) raizamas (raízes e rizomas), margens e enfronteiramentos, pensando-se povos orginários, indígenas, sertanejos, caipiras, quilombolas, diaspóricos, retirantes, centroestinos, amazoniais, “do mato”, “da floresta”, “de pobre”, “de orla”. Finalmente, discutir a literatura comparada, a partir do método crítico polifônico, considerando-se os conceitos-práxis de geopoesia e enfronteiramento, estando no palco da Amazônia, constitui a prioridade deste Simpósio Temático, que almeja, enfim, movimentar as ideias de: nação e região, margens e polifonias, literaturas e práticas sociais. Ou, como diria Vicente Cecim: “diz-se literatura/ É como esse tempo que mistura os olhos abertos e os olhos fechados” (Cecim, 1988, p. 335).
PALAVRAS-CHAVE: Geopoesia; Crítica Polifônica; Enfronteiramento; Margens.
LITERATURA, CULTURA E IDENTIDADE NA/DA AMAZÔNIA: CIRCULAÇÃO, TRAMAS E SENTIDOS NA LITERATURA
EIXO: MARGENS E FRONTEIRAS
SIMPÓSIO: LITERATURA, CULTURA E IDENTIDADE NA/DA AMAZÔNIA: CIRCULAÇÃO, TRAMAS E SENTIDOS NA LITERATURA
COORDENADORES:
- Roberto Mibielli (UFRR) rmibielli@yahoo.com.br
- Márcio Araújo de Melo (Universidade Federal do Norte do Tocantins) marciodemelo33@gmail.com
- Sheila Praxedes Pereira Campos (UFRR) sheilapraxedes@hotmail.com
RESUMO: O simpósio que propomos não pretende dar conta de toda a diversidade cultural da Amazônia, mas abrigá-la. Pretende contrastá-la, compará-la, tanto interna, quanto externamente, questionando as fronteiras e limites de sua regionalidade/universalidade, além de mostrar uma fatia desta construção/invenção em seus múltiplos aspectos. Ao abrigarmos trabalhos cuja temática se refere à Amazônia, pretendemos exercer a comparação tanto no que concerne aos objetos abordados em cada trabalho, na sua relação com o cânone central, quanto na relação entre seus centros, como também nas relações constituídas entre centros, margens e periferias, dentro e fora do âmbito do espaço regional amazônico, propondo sempre o necessário debate entre seus autores/pesquisadores. Nesse sentido, o simpósio objetiva, assim como pretende-se, objetivará sempre a discussão acerca dos limites e das confluências linguísticas e culturais da/na Amazônia, nas perspectivas da Teoria da Literatura, dos Estudos Culturais e da História (e áreas afins), deslocando-se o eixo da análise da cultura, desfazendo ideias já constituídas acerca dessa região, com vistas a tornar possível o debate em torno das identidades híbridas, de uma compreensão dessas identidades frente às estruturas globais e às novas configurações do lugar do periférico, das fronteiras, das culturas e das epistemologias não ocidentais, bem como da circulação, tramas e sentidos da Literatura neste universo. Pretendemos, principalmente, privilegiar questões relativas à literatura (sua teorização, suas possibilidades, suas categorias, o modo como se apresentam ao leitor os narradores, o que propõem como narrativa, que tipo de intervenção pedagógica é feita nas escolas a partir do objeto literário, por exemplo); privilegiar a estética de contos, fábulas e mitos da literatura latino-americana, de origem oral ou escrita. Também é nosso objeto de investigação a identificação e interpretação de certo discurso identitário, a partir do estudo comparado de textos literários diversos, enfocando questões culturais específicas, quase sempre oriundas ou emanadas, da produção literária/mitológica amazônica, de sua circulação, tramas e sentidos. Visa-se, deste modo, a compreensão das representações do ser amazônida, quer no habitat, quer longe dele, em seus anseios locais/universais, seja através da leitura das diversas relações de confronto entre a textualidade amazônica e a produção cultural na América Latina, ou do levantamento crítico da(s) identidade(s) plasmada(s) na produção literária da Região. Neste sentido, reunir-se-ão, inicialmente, professores pesquisadores das IFES de Roraima e do Tocantins, bem como, vêm se somando a esses pesquisadores dos demais estados amazônicos, bem como de outras paragens, interessados em temas e textos literários oriundos desta Região. A cada nova ABRALIC temos visto crescer a quantidade de trabalhos sobre a região Amazônica, ao mesmo tempo em que vemos crescer também a ignorância sobre ela. A diversidade de fronteiras e de culturas, dentro e fora das comunidades indígenas locais, é um dos elementos que tem merecido destaque em nossas pesquisas. Nesse sentido, a relação com as culturas ancestrais, ao longo das edições deste simpósio, em especial, tem se ampliado, amplificando o alcance da necessidade de discussão em torno das questões inerentes às culturas tradicionais da Amazônia. Em termos bibliográficos, algumas publicações resultaram das edições presencias anteriores desse simpósio como a publicação de um livro Nós da Amazônia: Literatura, Cultura e Identidade na/da Amazônia, em 2014, Literatura, cultura e identidade na/da Amazônia de 2018 e Literatura, cultura e identidade da Amazônia: circulação, tramas e sentidos em 2021, sempre levando o título do simpósio e os textos completos resultantes deste. É bem verdade que boa parte do conhecimento sobre nossa Região Amazõnica ainda está por ser construído. A imagem que prevalece, geralmente, é a de um “lugar periférico”, subdesenvolvido ao extremo (“primitivo”, para alguns), fechado em seus limites regionais, pobre, tomado pela floresta, em que há grande diversidade de culturas indígenas e pouca intelligentsia. Ou, como tem sido demonstrado pela imprensa nacional e internacional, um espaço de garimpo, subjugado pelo crime, terra sem lei. No Brasil, em especial, este imaginário (a que chamamos senso comum) construiu a equivocada ideia de que além de una, enquanto região, a Amazônia é brasileira. Mas, além de abranger vastas áreas urbanas, como Belém e Manaus (ambas com população acima de um milhão de habitantes cada, os centros regionais), a Amazônia já é internacional. Basta que verifiquemos a existência das outras amazônias fronteiriças e sulamericanas: a venezuelana, a boliviana, a colombiana, a peruana, a equatoriana, as guianenses... O ambiente que figura no senso comum tão pouco corresponde à realidade da Região. Se de um lado predominante, mas nunca homogêneo, há matas exuberantes e abundantes, por outro lado, também há o pântano, o altiplano e o lavrado (savana, pobre de florestas e rica em vegetação rasteira). Entendemos que estar, dessa vez, na Amazônia, falando dela é algo ainda mais importante. Não apenas em função dos temas e da vitrine para o mundo, que proporciona a ABRALIC, mas, principalmente, porque precisamos, entre nós, em nosso próprio solo, adquirir consciência do que somos. Nada melhor do que a pesquisa acadêmica para isso.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura da/na Amazônia; Literatura Comparada; Margens, periferias e Fronteiras
MARGENS E FRONTEIRAS AMAZÔNICO-ANDINAS: MEMÓRIAS, ORALIDADES, VISUALIDADES, LITERATURAS
EIXO: MARGENS E FRONTEIRAS
SIMPÓSIO: MARGENS E FRONTEIRAS AMAZÔNICO-ANDINAS: MEMÓRIAS, ORALIDADES, VISUALIDADES, LITERATURAS
COORDENADORES:
- Gerson Rodrigues de Albuquerque (Universidade Federal do Acre (UFAC)) gerson.ufac@gmail.com
- Luana Ferreira Rodrigues (Universidade Federal do Amazonas) luanarodrigues@ufam.edu.br
- Francisco Bento da Silva (Universidade Federal do Acre) francisco.bento@ufac.br
RESUMO: A perspectiva que norteia este Simpósio Temático (S.T.) está inicialmente relacionada com as proposições teórico-críticas da escritora, ensaísta e crítica literária chilena, Ana Pizarro (2023) e do poeta, ensaísta e filósofo martinicano, Édouard Glissant (2005): com Pizarro é possível adentrar na significativa reflexão que aponta para a necessidade de se pensar formas outras de produção/análise do texto literário ao propor o conceito de fluxos culturais, por ela tomado como uma rede em constante mudança e movimento. Os fluxos culturais se transformam em fala, se expressam em língua, se tornam oralidade, escritura, gesto, movimento, canto, afirma a autora, destacando sua natureza múltipla. Tais fluxos se sobrepõem, se anulam, se intensificam e incorporam novas formas em diferentes sentidos, configurando outras dobras e linhas de fuga; com Glissant apreende-se o texto literário não como algo produzido em suspensão ou solto no ar, mas que sempre provém de um lugar, de um espaço/tempo, de uma paisagem que proporciona a produção de palavras, discursos, afetividades, percepções estéticas, poéticas, políticas. E esse lugar é parte da totalidade-mundo, uma categoria analítica que embasa a poética da relação e a percepção de que todo texto literário provém de um lugar que é sempre inseparável do todo-mundo. Na vertente das categorias formuladas por Pizarro e Glissant, encontra-se um rico veio para debater a relação literatura, margens e fronteira a partir de narrativas que vêm sendo urdidas em localidades amazônicas e andinas que podem constituir-se como elementos de fundamental importância para uma espécie de cartografar ou mapear toda uma literatura e/ou textos críticos produzidos nas margens transfronteiriças dos mundos latino-americanos, em uma significativa geografia de encontros, percepções e sentimentos (Albuquerque 2015). Cartografar esse que também implica em estabelecer um distanciamento crítico do que se convencionou chamar de “literatura de expressão amazônica”, geralmente legitimadora de noção de uma região fundada sob o “signo da colonização, da ocupação, do desenvolvimento, da evolução, da integração, da civilização, e da modernidade ininterruptas” (Albuquerque 2024), em uma redundante repetição acrítica e objetivista dos mesmos lugares comuns que reduzem os mundos amazônico-andinos a um fantasmagórico lugar vazio, desértico, distante, isolado, primitivo e selvagem. Nessa direção, sem perder de vista os desafios dos tempos presentes, compreendendo que não se diz qualquer coisa em qualquer tempo, em qualquer lugar (Foucault, 2007) e pautado na ideia de que sempre que a dimensão estética entra em debate é necessário lançar mão de um olhar profanador (Benjamin, 1993) ou de um olhar político em substituição ao olhar histórico (Sarlo, 1997), este S.T. abre espaço para abrigar pessoas dispostas a compartilhar estudos, leituras e reflexões críticas que coloquem no centro das discussões as memórias, as oralidades, as visualidades e as literaturas dos mundos andino-amazônicos, pensando suas muitas margens e fronteiras como lugares em que a totalidade-mundo é tecida. Nesse diapasão, a relação entre o lugar e sua relação com o mundo coloca em cena a crítica ao eurocentrismo, mas sem deixar de problematizar essencializadas categorias provincianas e amazonialistas (Albuquerque, 2016) que tomam a Amazônia ou o mundo andino como coisas em si, como substâncias. O que se busca é ampliar e colocar em outras bases o debate em torno do binômio local–global com o objetivo de contemplar variadas possibilidades interpretativas para se pensar cidades, florestas, rios, planícies e montanhas como espaços/tempos multifacetados nos quais são alinhavadas as experiências, as mediações, as relações socioculturais simétricas e assimétricas de mulheres e homens de distintas comunidades humanas e de distintos componentes étnicos e linguísticos. No rastro de redes de relacionamentos, estruturas de sentimentos e processos de apropriação/incorporação, as memórias, as oralidades, as visualidades, as literaturas ou os fluxos culturais se constituem como imprescindíveis elementos para se estabelecer diálogos com múltiplas formas de simbolizar vivências, experiências, resistências, reexistências, sobrevivências e escrevivências (Evaristo, 2020) de sujeitas e sujeitos sociais e históricos em exercícios de suas próprias invenções e reinvenções como seres iguais/diferentes (Arendt, 2009), bem como com as territorialidades, margens e fronteiras que são produzidas, renovadas ou refeitas em seus modos de viver, sonhar, amar, lutar. No amplo espectro dessas questões ganha sentido e relevância as narrativas orais, escritas e imagéticas potencializadoras de vozes, performances, imaginários, viveres, saberes e fazeres capazes de permitir incursões em trajetórias individuais e coletivas em contínuos diálogos com processos identitários e com alteridades. A tecitura de outros caminhos para a formulação de novos diálogos histórico-literários, para o acolhimento de interpretações humanizadoras e para a percepção de intervenções sustentáveis sobre as diversas realidades culturais amazônicas, andinas, indoamericanas pode ganhar consistentes fios nas conversações, debates e diálogos acadêmicos centrados nas temáticas norteadoras deste Simpósio Temático.
PALAVRAS-CHAVE: Amazônias; Mundos andinos; Fronteiras; Margens; Literaturas.
OUTROS LUGARES NARRATIVOS: POÉTICAS ORAIS NA AMAZÔNIA E NO NORDESTE
EIXO: MARGENS E FRONTEIRAS
SIMPÓSIO: OUTROS LUGARES NARRATIVOS: POÉTICAS ORAIS NA AMAZÔNIA E NO NORDESTE
COORDENADORES:
- Daniel Batista Lima Borges (Universidade Federal do Amapá) danielborges@unifap.br
- Marcos Paulo Torres Pereira (Universidade Federal do Amapá) marcospaulo@unifap.br
- Margarida da Silveira Corsi (Universidade Estadual de Maringá-UEM) mscorsi@uem.br
RESUMO: A literatura, em suas diversas formas, apresenta-se como um território vasto e rico para a exploração de temas que transcendem as fronteiras físicas e intelectuais. É particularmente no âmbito das narrativas orais, que compõem a teia cultural e a memória de comunidades tradicionais situadas à margem dos centros dominantes de produção e disseminação do conhecimento, que este campo ganha notoriedade e urgência de estudo. Nestas periferias culturais, encontram-se tesouros de sabedoria e expressão que desafiam as normativas acadêmicas estabelecidas e sugerem novas configurações para o entendimento e a valorização da diversidade cultural e linguística. O simpósio "Outros Lugares Narrativos: poéticas orais na Amazônia e no Nordeste" surge como uma plataforma dedicada à celebração e ao estudo dessas vozes frequentemente marginalizadas. Propõe-se a fomentar um diálogo enriquecedor entre os conhecimentos tradicionais e acadêmicos, explorando os repertórios, as performances e a circulação das tradições orais e da cultura popular. Este encontro acadêmico destaca-se pela sua abordagem específica, buscando reconstruir e valorizar as narrativas emergentes, especialmente da Amazônia e do Nordeste brasileiro, regiões ricas em diversidade cultural mas frequentemente negligenciadas pelos discursos hegemônicos. Neste contexto, Mignolo (2003) aponta para a necessidade de uma "nova ordem mundial" que repense e redefina as culturas do conhecimento, promovendo um remapeamento que valorize os locais de enunciação do Sul global. Assim, o simpósio almeja não apenas a preservação e divulgação das riquezas das tradições orais, mas também a integração desses saberes nas práticas educacionais, artísticas e de pesquisa, estimulando a construção de acervos e a promoção de práticas culturais que dialoguem diretamente com as comunidades locais. Este encontro acadêmico não se limita à salvaguarda do patrimônio cultural imaterial; ele busca também estabelecer conexões entre acervos de entrevistas e redes de pesquisa nacionais e internacionais, estimulando um diálogo frutífero sobre as riquezas socioculturais, linguísticas e artísticas derivadas dos gêneros da oralidade. Ao fazer isso, o simpósio contribui para um redimensionamento das fronteiras geográficas, textuais e disciplinares, ressaltando a importância de repensar e valorizar as múltiplas formas narrativas que constituem o tecido cultural do Brasil. "Outros Lugares Narrativos" antecipa a continuação de esforços acadêmicos e culturais voltados para o aprofundamento do estudo das poéticas orais no Brasil. Por meio da valorização das narrativas orais, este simpósio propõe uma reflexão crítica sobre as maneiras pelas quais a literatura e a cultura são concebidas, estudadas e ensinadas, sugerindo novos caminhos para a integração dessas vozes no panorama cultural e educacional mais amplo. Ao fazer isso, espera-se ampliar a divulgação e a apreciação das culturas minorizadas, enriquecendo o diálogo intercultural e promovendo uma compreensão mais inclusiva e diversificada da literatura e da cultura brasileira. Pretende-se acolher, entre outras, pesquisas que ajudem a discutir a entrevista como metodologia primária de coleta de dados, transcrição, catalogação e análise de narrativas e poemas orais, como (como provérbios, ditos, cordéis, casos, canções, histórias de vida), assim como sua posterior circulação em meios digitais, espaços artísticos e educacionais. Parte-se do princípio de que a busca pelos contadores de histórias e poetas da cultura popular, residentes tanto nas zonas urbanas quanto periféricas, visa não apenas a preservação e divulgação de seus repertórios, mas também promover um diálogo produtivo entre as práticas de narração oral e o meio acadêmico. Pretende-se, também, acolher trabalhos provenientes de ações de ensino, pesquisa e extensão que se sustentem na constituição de acervos, promovendo práticas artísticas, culturais e educacionais que dialoguem com comunidades locais, como ribeirinhos, quilombolas e indígenas, povos e comunidades tradicionais - Andirobeiras, Apanhadores de Sempre-vivas, Caatingueiros, Caiçaras, Castanheiras, Catadores de Mangaba, Ciganos, Cipozeiros, Extrativistas, Faxinalenses, Fundo e Fecho de Pasto, Geraizeiros, Ilhéus, Indígenas, Isqueiros, Morroquianos, Pantaneiros, Pescadores Artesanais, Piaçaveiros, Pomeranos, Povos de Terreiro, Quebradeiras de Coco Babaçu, Quilombolas, Retireiros, Ribeirinhos, Seringueiros, Vazanteiros, Veredeiros, pessoas LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência, pessoas idosas, em situação de rua e outros grupos minorizados, assim como grupos musicais e poético-literários, discussões e resultados que podem ser levados também à escola básica, como forma de ampliar a divulgação e a valorização de culturas minorizadas. O simpósio alinha-se ao redimensionamento das fronteiras geográficas, textuais e disciplinares, enfatizando o locus enunciativo do Sul do mundo. Ao mapear contadores de histórias da Amazônia e do Nordeste, busca-se não apenas salvaguardar um patrimônio cultural imaterial, mas também contribuir para uma nova ordem mundial que reconheça e valorize as múltiplas vozes narrativas, especialmente aquelas longe dos centros hegemônicos de produção do conhecimento. Espera-se colocar em contato acervos de entrevistas e redes mundiais e nacionais de pesquisas de narrativas orais, favorecendo a discussão acerca das riquezas socioculturais, linguísticas e artísticas provenientes dos gêneros da oralidade. O simpósio “Outros Lugares Narrativos: poéticas orais na Amazônia e no Nordeste” antecipa a continuação em iniciativas subsequentes que aprofundem o estudo das poéticas orais no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Poéticas orais; Metodologia narrativa; Escola básica; Tradições orais; Decolonialidade
SUJEITOS EM (DES)LOCAMENTO: TENSÕES TRANSCULTURAIS E CONVIVÊNCIA EM ESPAÇOS DE FRONTEIRA
EIXO: MARGENS E FRONTEIRAS
SIMPÓSIO: SUJEITOS EM (DES)LOCAMENTO: TENSÕES TRANSCULTURAIS E CONVIVÊNCIA EM ESPAÇOS DE FRONTEIRA
COORDENADORES:
- Gerson Roberto Neumann (UFRGS) gerson.neumann@gmail.com
- Fernanda Boarin Boechat (UFPA) fernandaboechat@gmail.com
RESUMO: A literatura, também um espaço de relações entre saberes interdependentes vertidos em linguagem, fundamenta-se nas negociações com a diferença que atravessam o processo da escritura, desde sua produção até sua recepção. Assim, faz-se necessário compreender, desde o comparatismo literário, como é possível alçar as análises críticas de autores e obras a um conjunto amplo de diálogos que favorece a relevância da tessitura textual mais do que de um valor estético formulado por absolutos universalistas. Considerar a localização e a historicidade, bem como as imbricações do poder e das colonialidades na literatura fornece condições de tensionar a teoria literária numa época em que as mobilidades populacionais e a consequente apresentação dessas trajetórias em obras narrativas e poéticas demanda abordagens e conceitualizações diversas. Isto “[p]orque a época atual é uma época da rede. Ela demanda concepções de ciência móveis e relacionais, transdisciplinares e transareais e uma terminologia orientada pelo movimento." (ETTE apud CAPAVERDE, 2021, p. 299). Portanto, propomos as discussões deste simpósio a partir da amplitude de possibilidades do conceito de “Literaturas do mundo” como elaborado pelo teórico romanista e comparatista alemão Ottmar Ette (2016, p. 13), em que se “mostra que as formas de produção, de recepção e de distribuição da literatura, em escala planetária, não se alimentam de uma única ‘fonte’, não são reduzíveis a uma única linha de tradição como à tradição ocidental, por exemplo.” Tal perspectiva está aliada, aqui, aos projetos decoloniais do Grupo Modernidade/Colonialidade a partir da qual se realiza um reposicionamento epistemológico em que “[a] crítica à modernidade da perspectiva decolonial concebe que a emancipação [...] só será possível uma vez que a subalternização de experiências e de epistemologias instituídas pela modernidade seja suplantada” (BALTAR, 2020, p. 38). A possibilidade de tal reposicionamento é vislumbrada através de “um outro estatuto de alteridade, estabelecido pela transmodernidade” (Idem), conceito desenvolvido por Mignolo e Walsh (2018) e por Enrique Dussel, no sentido de que “todos os aspectos que se situam ‘além’ (e [...] ‘anteriores’) das estruturas valorizadas pela cultura euro-americana moderna, e que atualmente estão em vigor nas grandes culturas universais não europeias e foram se movendo em direção a uma utopia pluriversal” (DUSSEL, 2016, p. 63). Esses movimentos podem ser mapeados pelos modos como se apresentam (e são apresentadas) populações em (des)locamento; em obras cuja temática, perspectivas narrativas e linguagem elaborem a migração, a viagem, o exílio e o refúgio. Nesse sentido, no presente Simpósio tem-se também o interesse em observar a participação social e o direito à voz das pessoas em deslocamento, fora de seu espaço, por meio de sua produção literária, a saber, considerando-as tradutoras culturais por meio da autoria literária. A compreensão da produção literária existente, dessa forma, é também de um medium privilegiado de integração, que mobiliza a articulação entre a cultura de origem e a de acolhida. Recebe nossa atenção a reflexão e simbolização intercultural do deslocamento que vai além das limitações de uma lógica nacional. Narrativas e poéticas (des)locadas podem sinalizar para conexões interculturais que ultrapassam a noção baseada e/ou limitada a aspectos históricos, político-econômicos e/ou geográficos, como é o caso de sujeitos indígenas que migram por razões diversas para outras Regiões e/ou determinadas localidades, como Municípios específicos, deixando seu território de origem ainda que no mesmo país. A autoria literária, nesse sentido, abre-se como um caminho de inserção intercultural para além da dimensão de um multiculturalismo funcional, cujo objetivo assenta-se exclusivamente na promoção de uma integração dos sujeitos migrantes na lógica do sistema econômico, sem abertura para questões próprias à sua bagagem cultural (WALSH, 2009). Por meio de narrativas e poéticas de sujeitos (des)locados é possível vislumbrar uma dimensão da interculturalidade que impulsione a chegada a universos culturais ricos em processos de alteridade e que sejam capazes de ressignificar o olhar sobre os migrantes, exilados, refugiados, bem como sobre a cultura de acolhida. A proposta deste Simpósio Temático está, por fim, em consonância com os Estudos Transareais de Ottmar Ette, uma vez que os caminhos tornam-se mais relevantes que as localidades, o deslocamento se sobressai à demarcação de fronteiras e à comunicação. Por meio da produção literária, compreendida em si mesma como ambiente, atravessa-se e conecta-se elementos diversos que compõem os espaços no globo. Portanto, são convidados a enviarem comunicações, pesquisadores e pesquisadoras que promovam discussões teóricas sobre os conceitos previamente elencados, bem como análises de obras literárias articuladas comparativamente no âmbito das “Literaturas do mundo”, das perspectivas decoloniais e dos deslocamentos culturais (literatura migrante, sem morada fixa etc).
PALAVRAS-CHAVE: Fronteira; migrações; convivência; transculturalidade; decolonialidade.
UM SALTO NA ESPIRAL APOCALÍPTICA
EIXO: MARGENS E FRONTEIRAS
SIMPÓSIO: UM SALTO NA ESPIRAL APOCALÍPTICA
COORDENADORES:
- Gabriela Lopes Vasconcellos de Andrade (Universidade Federal de Minas Gerais) gabrielalvandrade@gmail.com
- Antonia Torreão Herrera (Universidade Federal da Bahia) antoniatherrera@gmail.com
RESUMO: O presente simpósio propõe pensar a relação entre literatura e a ideia de apocalipse. A passagem do Livro do Apocalipse, capítulo 6, versículo 14, é um motivador da proposta. O último livro da apresenta uma série de imagens apocalípticas para descrever eventos catastróficos e o desenrolar do fim dos tempos. Em meio à força imagética da escrita aparece uma frase emblemática: "O céu afastou-se como um livro que é enrolado". A metáfora indica o fechamento da vida, da história linear e o encerramento do céu. O livro, a própria Bíblia, e a história do mundo se encerram. O conceito que se estabeleceu de literatura na modernidade está intimamente ligado a uma ideia de razão linear de progresso. No livro organizado por Franco Moretti, A cultura do romance (2009), Claudio Magris, no capítulo, “O romance é concebível sem o mundo moderno?”, afirma que o romance é a expressão da modernidade radical – “O romance é o mundo moderno” (p. 1016) –, visto que ele surge com o fim do período feudal, em que estruturas rígidas passaram a se tornar perenes, o romance celebra o avanço das ideias. Enrolar o livro e afastar o céu é fechar o progresso e a promessa de liberdade, e consequentemente da história humana. Hegel, em Curso de estética volume I e Fenomenologia do espírito (2014), entre outros, reitera sua ideia principal, a partir de sua dialética, de que a história é a forma da liberdade da consciência, que vai além de uma limitação sensível para uma compreensão além do consenso. A metáfora do livro sumariza o fim da história – encerra a possibilidade de ser, de exceder e de avançar. No entanto, o próprio versículo do afastamento do céu e do desenrolar do livro denuncia sua contradição sobre o fim. O termo apocalipse vem do grego apokálypsis, entendido como manifestação ou descoberta, construído a partir do prefixo apo-, o qual significa “sentido de externo, fora ou como agente de distância” e o verbo kályptein, indicando a ação de ocultar, cobrir, mas também descobrir, mostrar o oculto. Por isso, apokalyptikós é entendido como uma visão ou revelação. Uso arbitrário da imagem do apocalipse, como destruição total e punição, engessa, impossibilita a abertura para a criação. A partir da ideia de descoberta do externo, podemos pensar no apocalipse como uma forma de revelar o mundo. O céu se afasta para possibilitar o outro. O livro se enrola, não no movimento ocidental de esquerda para direita, mas em uma forma espiral, desenrolar, possibilitar outra forma de ler a vida – adiando o fim do mundo (Krenak, 2019). Magris, na sua reflexão sobre o romance moderno, já discorria sobre a inventividade do romance, em sua forma híbrida, de difícil definição, na liberdade do espírito, na inovação técnica e polifônica. Em um certo respingo com o apocalíptico, o que será ocultado e/ou revelado, a literatura encena o desconforto de estar em um mundo sem certeza, decorrente da ascensão da burguesia e consolidação do capitalismo. Hegel, ao discutir sobre história e estética, até a sua ideia de “fim da arte”, que superaria a limitação do sensível, parece tecer a possibilidade desse fim como um caminho ao estranho. A dialética hegeliana pensa que alcançar o espírito absoluto, sua liberdade, é estranhar para si, de si – negar a si, sua própria finitude, alienar-se de si para voltar como outro. O apocalipse é a negação total de si e do mundo, apaga-se e destrói tudo, no entanto no movimento espiral parece sugerir uma possibilidade de uma cosmologia múltipla. A literatura, como produção ficcional e poética, é um salto na espiral apocalíptica, no afã de atingir o zênite da linguagem e, decorrente desse ato está incluso o movimento de fazer tábula rasa de tudo que a precede, apesar de ser esse seu lastro. Mediante a angústia ante a dor de existir e, no impulso de arrogância estética, cada escrita literária quer sua inserção no sistema como o apogeu que surge do aniquilamento total, do nadir da linguagem. Destruir para construir. Assim, convidamos pesquisadores, professores e estudantes para dialogar, a partir da literatura e da sua inventividade, sobre os discursos de fim e sobre as previsões de encerramento como formas de repensar criticamente novas possibilidades, cosmologias e sentidos para a vida e para o mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Apocalipse; Crítica;
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ENCANTARIAS E ENCANTADOS NAS PARAGENS E PAISAGENS IMAGINÁRIAS DA AMAZÔNIA
- Marisa Martins Gama-Khalil (UFU; UNEMAT; CNPq) - mmgama@gmail.com
- Sonia Maria Gomes Sampaio (Universidade Federal de Rondônia) - soniagomesampaio@gmail.com
- Mara Genecy Centeno Nogueira (Universidade Federal de Rondônia) - maracenteno@gmail.com
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GEOGRAFIAS DAS SUBJETIVIDADES: PARA ENTENDER CONSTRUÇÕES PAISAGÍSTICAS DE RESISTÊNCIA NA LITERATURA
- Evaldo Balbino da Silva (Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)) - evaldo_balbino@yahoo.com.br
- Leni Nobre de Oliveira (Centro Federal Tecnológico de Minas Gerais (CEFET – MG)) - leninobredeoliveira.araxa@cefetmg.br
- Tereza Ramos de Carvalho (Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT/CUA)) - tcrtereza18@gmail.com
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MOBILIDADES NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA LATINO-AMERICANA
- Tatiana da Silva Capaverde (Universidade Federal de Roraima) - tatianacapaverde@gmail.com
- Liliam Ramos da Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) - liliam.ramos@ufrgs.br
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TRADUÇÕES DA AMAZÔNIA: DA VIOLÊNCIA COLONIAL À DECOLONIALIDADE
- Naylane Araújo Matos (Universidade Federal de Rondônia) - naylaneam@gmail.com
- Andreia Guerini (Universidade Federal de Santa Catarina) - andreia.guerini@gmail.com
ENCANTARIAS E ENCANTADOS NAS PARAGENS E PAISAGENS IMAGINÁRIAS DA AMAZÔNIA
EIXO: RIOS E OUTRAS PAISAGENS
SIMPÓSIO: ENCANTARIAS E ENCANTADOS NAS PARAGENS E PAISAGENS IMAGINÁRIAS DA AMAZÔNIA
COORDENADORES:
- Marisa Martins Gama-Khalil (UFU; UNEMAT; CNPq) mmgama@gmail.com
- Sonia Maria Gomes Sampaio (Universidade Federal de Rondônia) soniagomesampaio@gmail.com
- Mara Genecy Centeno Nogueira (Universidade Federal de Rondônia) maracenteno@gmail.com
RESUMO: O simpósio abrigará trabalhos que se proponham a realizar reflexões sobre manifestações de encantarias e/ou de seres encantados no espaço da região amazônica. Entendemos as encantarias como uma paisagem imaginária através da qual os seres encantados podem desvelar-se por meio de ficções. O poeta e teórico João de Jesus Paes Loureiro define as encantarias a partir do espaço mítico e poético constituído pela mata, pelos rios e também pelo sfumato ou devaneio, “onde habitam os encantados, os deuses da cultura amazônica” (Paes Loureiro, 2008, p. 7). Configura-se também como encantaria a linguagem que poetiza e/ou narra acontecimentos desse espaço encantado. Para Paes Loureiro, a conversão semiótica faz a função prática da linguagem ceder lugar à função poética, desautomatizando as palavras, reinventando-as. Ao falar de encantarias, naturalmente as palavras perdem o uso automatizado e buscam novos horizontes sígnicos. A irrupção “da função poética das abismais encantarias da linguagem ocorre no processo de re-hierarquização dos signos com a inversão da dominante que passa a ser exercida pela estética” (Loureiro, 2008, p. 16). A imaginação e o devaneio tomam conta dessa linguagem ressignificada. Para tratar do devaneio, Paes Loureiro vale-se de uma noção da pintura, sfumato (esfumado), que é o efeito provocado pelo uso da estopa em vez do pincel, fazendo com que o desenho fique com as sombras esbatidas. esfumaçadas. É a natureza fugaz e imprecisa do sfumato que permite a passagem da experiência cotidiana para a experiência poética, da natureza humana para a natureza cósmica. O sfumato, na cultura amazônica, é o devaneio e este é “uma atitude sem repouso, mas tranquila do imaginário” (Paes Loureiro, 2015, p. 60). Esse imaginário é incessantemente instigado a manifestar-se num espaço repleto de florestas de árvores, águas e símbolos. O espaço por excelência das encantarias é a natureza e esta encontra-se entranhada de mitos, mistérios, revelações. No caso da Amazônia, trata-se da floresta aquosa, penetrada por águas reais e simbólicas, misteriosas. Os povos originários e as comunidades beiradeiras traduzem suas experiências na floresta através de histórias, faladas ou cantadas, repletas de encantarias. Os botos, curupiras, mapinguaris, iaras ou guayaras, matintas pereiras, kãweras, ypurés, assombrações, miragens e visagens são nalguns desses seres encantados que habitam as experiências diárias e imaginárias do povo amazônida. Muitas experiências encantadas originam-se da relação íntima e simbiótica dos humanos com os animais, uma relação que, vista pelos olhos da razão ocidental, seria insólita. Contudo, os ameríndios têm uma visão animista da existência. O animismo manifesta uma equivalência autêntica e multinatural entre as relações que humanos e não-humanos cultivam consigo mesmos, por isso podemos dizer que os animais veem os animais como os humanos veem os humanos: como humanos (Viveiros de Castro, 2017). Assim, os sistemas animistas se caracterizam pela continuidade das relações entre humanos e não humanos; nesses sistemas, as interioridades e subjetividades comuns superam as descontinuidades representadas pelas diferenças corporais, físicas. Philippe Descola defende que o animismo consiste no melhor antídoto contra o solipsismo, pois em vez de um mundo centrado no eu, onde cada forma de existência existe confinada em função de características físicas específicas, existe o mundo animista, “gigantesco espaço de troca transespecífica”, no qual “as interioridades que habitam tipos de corpos distintos começam a se comunicar numa linguagem comum” (Descola, 2023, p. 84). Relacionada ao animismo, a noção de perspectivismo ajuda a explicar algumas encantarias. Eduardo Viveiros de Castro aponta que tanto humanos como não-humanos apreendem o mundo através de perspectivas distintas. O perspectivismo encontra-se frequentemente relacionado “à ideia de que a forma manifesta de cada espécie é um mero envelope (uma ‘roupa’) a esconder uma forma interna humana, normalmente visível apenas aos olhos da própria espécie ou de certos comutadores perspectivos transespecíficos, como os xamãs” (Viveiros de Castro, 2018, p. 57). O olhar animista e perspectivista abarca um sentido descolonizador, assim como também as encantarias, porque em todos esses casos se opera a possibilidade de discursos transgressores e desautomatizadores. As narrativas ficcionais que trazem as encantarias em suas tramas desvelam sempre a transgressão, porque desautomatizam o olhar sobre as normas, sobre as verdades absolutas; sobre os discursos de dominação e de repressão. As encantarias funcionam como espaços de leveza e de fluidez, que podem nos fazer mudar a nossa percepção sobre o mundo que nos rodeia.
PALAVRAS-CHAVE: Encantarias; Encantados; Amazônia; Ficção
GEOGRAFIAS DAS SUBJETIVIDADES: PARA ENTENDER CONSTRUÇÕES PAISAGÍSTICAS DE RESISTÊNCIA NA LITERATURA
EIXO: RIOS E OUTRAS PAISAGENS
SIMPÓSIO: GEOGRAFIAS DAS SUBJETIVIDADES: PARA ENTENDER CONSTRUÇÕES PAISAGÍSTICAS DE RESISTÊNCIA NA LITERATURA
COORDENADORES:
- Evaldo Balbino da Silva (Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)) evaldo_balbino@yahoo.com.br
- Leni Nobre de Oliveira (Centro Federal Tecnológico de Minas Gerais (CEFET – MG)) leninobredeoliveira.araxa@cefetmg.br
- Tereza Ramos de Carvalho (Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT/CUA)) tcrtereza18@gmail.com
RESUMO: Este simpósio busca tecer reflexões sobre a representação em literatura e as construções de paisagens que se perfazem nessa representação. Para entender as construções paisagísticas no discurso literário, buscamos aqui o conceito de paisagem, que se torna singular no quadro de uma geografia efetivamente humanista, nos termos de Cosgrove (1998). Para o geógrafo, a paisagem, ao contrário de lugar, diz sobre a nossa posição no esquema da natureza. Mais do que as ideias de espaço ou ambiente, o conceito de paisagem nos diz que podemos conhecer esse esquema apenas através da consciência e da razão humanas. Do mesmo modo, Luiz Otávio Cabral, na esteira de Cosgrove, disserta sobre uma corrente humanista do pensamento geográfico: “O universo da geografia constitui-se não somente de países, cidades, propriedades agrícolas, mares, relevo, clima, etc., mas também de ideias, sentimentos, imagens e representações. [...]. Em outras palavras, pode-se dizer que a perspectiva humanista focaliza-se no estudo da imaginação e ação humanas e na análise objetiva e subjetiva de seus produtos” (CABRAL, 2000, p. 35). Cabral também nos chama a atenção para um olhar sobre as partilhas entre sujeito e paisagem e sobre o modo como se dá a interação entre ambos: “Sob uma perspectiva humanista é preciso deslocar a atenção do objeto externo para os processos que ocorrem com os sujeitos que interagem com a paisagem. Não no sentido de determinar com precisão as forças físicas e psíquicas envolvidas, mas de descrever e analisar a maneira pela qual eles partilham essas relações existenciais com o entorno” (CABRAL, 2000, p. 38-39). Já que a paisagem é uma construção/representação feita pelo sujeito a partir das suas relações com os espaços e os lugares, podemos falar duma dinâmica da construção da paisagem, num processo que passa pelos sentidos humanos nos termos de Michel Collot: “A paisagem não é apenas vista, mas percebida por outros sentidos, cuja intervenção não faz senão confirmar e enriquecer a dimensão subjetiva desse espaço, sentido de múltiplas maneiras e, por conseguinte, também experimentado. Todas as formas de valores afetivos – impressões, emoções, sentimentos – se dedicam à paisagem, que se torna, assim, tanto interior quanto exterior” (COLLOT, 2013. p. 26). O arquiteto e urbanista Leo Name, alinhado a essas discussões conceituais, diz-nos da paisagem como sendo ela mais do que um espaço estático. Ela é antes de tudo a produção do espaço e a representação dele feita por sujeitos. E conclui o autor: “Portanto, os significados da palavra “paisagem”, também ambíguos, revelam que ela não é apenas a condição estática de um espaço observado por um sujeito – individual ou coletivo, que tem seus valores e crenças – [...]. É também a produção do espaço e a representação do espaço por estes mesmos sujeitos, o que insere uma perspectiva dinâmica e diacrônica em sua conceituação e significados” (NAME, 2010, p. 165). Se a paisagem representada é leitura que dela se faz, assim podemos falar de uma geografia da subjetividade, geografia essa que se perfaz no curso da literatura. As propostas a serem enviadas poderão contemplar o diálogo interdisciplinar, utilizando-se de conceitos e de categorias como territórios, desterritórios, fronteiras, ecocrítica, paisagem, espaço, lugar, cartografias, diásporas etc. Tais conceitos poderão ser usados para pensarmos e discutirmos sobre formas culturais e imaginários produzidos via literatura. Neste simpósio, o conceito de representação, da literatura como construção discursiva estética, visa estimular debates em torno de questionamentos fundamentais sobre os espaços e os lugares de fala, tanto das vozes enunciadoras quanto das vozes enunciadas. E tudo isso – indo para além dos discursos celebrativos ou das narrativas homogêneas e apagadoras, nas paisagens, dos povos, das lutas de classes, dos problemas de gênero, das culturas subalternizadas –, buscando-se reflexões a serem construídas que vão se debruçar sobre a investigação literária frente a práticas predatórias, ultraneoliberais, frente a crises climáticas e humanitárias, frente às práticas discursivas opressoras dos sujeitos e de suas representações na existência e na resistência. Nossa proposta é acolher, portanto, trabalhos que contribuam para uma discussão sobre a construção da paisagem na literatura, não só a paisagem como região, mas aquela que ultrapassa os limites geográficos na construção do universo simbólico. Ou seja, a presença da paisagem em expressões literárias diversas e de resistência, que possam indicar como os sujeitos se percebem em uma geografia da subjetividade, geografia essa que se perfaz no discurso literário.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Representação; Paisagens; Resistência
MOBILIDADES NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA LATINO-AMERICANA
EIXO: RIOS E OUTRAS PAISAGENS
SIMPÓSIO: MOBILIDADES NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA LATINO-AMERICANA
COORDENADORES:
- Tatiana da Silva Capaverde (Universidade Federal de Roraima) tatianacapaverde@gmail.com
- Liliam Ramos da Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) liliam.ramos@ufrgs.br
RESUMO: “Estamos vivos porque estamos en movimiento” (Jorge Drexler) Segundo James Clifford (1997, p. 14), as mobilidades e os encontros humanos são complexos e de longa data. Em relação às Américas, historicamente, o convívio entre europeus, africanos e as populações aborígenes, nos períodos da violenta conquista e da colonização, converteram o continente americano em um espaço de hibridações culturais que se desdobram até nossos dias. O século XXI assiste a um processo de mundialização que, sendo impulsionado pelo avanço das tecnologias de comunicação, internet e transporte, tem favorecido a intensificação dos deslocamentos culturais e a consequenteaproximação entre distintos povos. Aínsa (2010) considera ainda que, em decorrência das dinâmicas da globalização e seus consequentes efeitos no setor político-econômico, indivíduos de diferentes culturas e lugares podem conviver em permanente contato com alteridades, ensejando, assim, a conformação de identidades alternativas, para as quais não há uma base territorial e linguística única. Nesse mundo interconectado, os sujeitos têm a possibilidade de se converterem em nômades culturais, uma vez que podem se deslocar com certa facilidade por diferentes territórios e, inclusive, habitar os interstícios de diferentes Estados-nações. Descontruir o conceito de nação enquanto delimitador que utiliza os indicativos territoriais, linguísticos ou raciais passa pela desconstrução da ideia de comunidade. Nos referimos à uma comunidade utopicamente igualitária. O filósofo Nancy (2016), assim como outros teóricos como Esposito e Agamben, buscam pensar “uma possível comunidade das singularidades, uma comunidade que não se funde sobre a identidade (a semelhança), mas que se construa na rede da heterogeneidade (a “comunidade inoperante” ou a “comunidade que está por vir” (PEDROSA et al, 2018, p. 69). A comunidade é apresentada enquanto negatividade, pois sua forma igualitária é utópica e sua realização se dá de forma coercitiva. Nesse sentido Nancy (2016) propõe uma comunidade inoperante que congregue, através da subjetividade, todos aqueles sem estado, onde o exilio é pensado como direito e não como penalidade. A percepção de uma fluidez nos espaços e de transcendência nas limitações espaciais também é tema da obra de Ottmar Ette que aponta em seu livro Literatura en Movimiento (2008) para uma literatura sem residência fixa que proporá a compreensão de uma literatura que retrata um “entre mundo” complexo e repleto de construções e desconstruções de limites sociais, culturais e geográficos. Podemos perceber que a compreensão do fenômeno contemporâneo pressupõe o entendimento de “[...] novos padrões de movimento transareais, translinguais e transculturais que ultrapassam a distinção entre literatura nacional e mundial” (ETTE, 2018, p. 17) que se constituem em constantes movimentações entre espaços, tempos, sociedades e culturas. O que está em questão é escrever entre mundos e colocar em debate o elemento dinâmico e fractal, a modificação ou transposição de fronteiras nacionais e/ou culturais, as relações e comunicações em processos de relacionamentos culturais. Em consequência desse cenário mundial, contemporaneamente, os deslocamentos espaciais e culturais voltaram a figurar entre as temáticas recorrentes de obras literárias, somando-se à vasta tradição dos relatos de viagens que são as primeiras manifestações do gênero. O contexto globalizado passa a ressignificar os trânsitos e os viajantes passam a construir novas interações nas relações com o outro, o que permite uma crescente e renovada exploração da temática por autores de nosso tempo. As variadas formas de interação com o global se materializaram no texto literário em diferentes formas de construir identidades e alteridade mutantes, fronteiriças e híbridas, caracterizando as realidades transnacionais ou multiterritoriais latino-americanas. Dessa forma, podemos encontrar, retratados na literatura, indivíduos latino-americanos em situação de migração, exilio, viagem ou a representação da figura do estrangeiro no universo multicultural como formas recorrentes de se tratar dos deslocamentos culturais no âmbito do texto literário, apresentando em comum uma poética do deslocamento. Portanto, o presente Simpósio Temático pretende reunir pesquisadores da área dos estudos literários que se dediquem à análise de obras que tenham como tema estrutural ou temático o eixo da mobilidade. O encontro busca discutir os conceitos de movência, hibridez, e impureza, que, desde as últimas décadas do século XX, desestabilizaram as noções de nacionalidade e identidade. Nesse sentido, parte-se do princípio de que a mobilidade instiga a revisão de dicotomias como local/global, centro/periferia, o próprio/alheio, fomentando o surgimento de outras percepções espaço-temporais, que instauram, na literatura, novas zonas de contatos transculturais, nas quais se redesenham territorialidades alternativas e outras geografias do pertencimento. Além dos diálogos com Aínsa (2010) e Bernd (2010), sobre as estéticas do deslocamento, a base referencial teórica deste simpósio orienta-se pelas ideias de identidades, cultura e espaços de autores como Homi Bhabha (1998), Stuart Hall (2001), Cornejo Polar (2000), García Canclini (2001), Zygmunt Bauman (2001), Augé (2010), Nicolas Bourriaud (2009), entre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura e deslocamento; Mobilidade cultural; Identidades; Fronteiras; Literaturas latino-americanas.
TRADUÇÕES DA AMAZÔNIA: DA VIOLÊNCIA COLONIAL À DECOLONIALIDADE
EIXO: RIOS E OUTRAS PAISAGENS
SIMPÓSIO: TRADUÇÕES DA AMAZÔNIA: DA VIOLÊNCIA COLONIAL À DECOLONIALIDADE
COORDENADORES:
- Naylane Araújo Matos (Universidade Federal de Rondônia) naylaneam@gmail.com
- Andreia Guerini (Universidade Federal de Santa Catarina) andreia.guerini@gmail.com
RESUMO: Desde a invasão colonial que estabeleceu a América enquanto entidade geossocial (QUIJANO, 2005) e que tornou possível a configuração e o ordenamento de um padrão de poder mundial eurocentrado, a Amazônia é traduzida e retratada sob lentes coloniais. É vasta a literatura de viajantes europeus que circundaram a Amazônia, lendo, traduzindo e retratando seus aspectos geográficos, biológicos, antropológicos, históricos, sociais, em diferentes planos histórico-econômicos, textuais e estéticos, como demonstram Correia; Rocha (2023) e Guerini; Torres; Fernandes (2021). A Amazônia enquanto território – floresta, povos, línguas, culturas e modos de vida – estivera por séculos sob o jugo do padrão de poder mundial que incorporou a diversidade e heterogeneidade das histórias culturais das colônias a uma forma hegemônica europeia, cuja representação do Outro se ampara sobretudo no caráter da colonialidade. Isto é, a forma de poder que extrapolou as formas de dominação político-administrativa do colonialismo e que posicionou relações de domínio e subalternidade desde o viés racial e geopolítico (HOLANDA, 2020). Nesse sentido, não obstante a forma de dominação político-administrativa que garantiu a exploração de trabalho e dos recursos naturais das colônias, o colonialismo estabeleceu um padrão de poder que ainda se manifesta na contemporaneidade e naturaliza as hierarquias territoriais, raciais, culturais, epistêmicas e de gênero (RESTREPO; ROJAS, 2010). Ancorado no sistema-mundo colonial moderno eurocentrado, forja-se a Amazônia, cuja exploração é uma guerra de séculos sem cessar fogo, desde o colonialismo às novas formas imperialistas que seguem invadindo o território para exploração de recursos naturais e forças de trabalho, além de seguirem promovendo a homogeneização das diferentes culturas dos povos amazônidos; a fetichização e/ou a exotização da floresta, seus povos e modos de vida; a violência linguística e epistemológica, mediadas pelas representações e traduções da Amazônia desde o século XVI. As representações inventadas da Amazônia (GONDIM, 1994) perpassam processos tradutórios, quer no sentido interlinguístico abordado por Jakobson (2007) – com ênfase na interpretação –, quer no sentido cultural ampliado por Bhabha (1998). Nesse sentido, a acepção de tradução que encampamos neste simpósio é a de “zona de contato”, tal qual formulada por Mary Pratt em Imperial Eyes (2018). O espaço social (trans)fronteiriço que coloca em evidência o contato entre diferentes identidades, gerando choque e disputa entre culturas geralmente marcadas por assimetrias e relações de dominação e subordinação advindas da colonização. Essa zona de contato não é apenas linguística, mas também cultural, política e ideológica, onde identidade e alteridade se bifurcam e onde novas epistemologias podem ser construídas e forjadas a partir da interação com a diferença. Salientamos a importância da veiculação de contradiscursos que desafiam a lógica de produção do saber eurocentrada e as representações estereotipadas/hegemônicas da Amazônia que navegaram rios históricos e atravessaram o Atlântico conjurando o sistema de dominação colonial. Tal sistema, como salienta Lugones (2020), além de se pautar na classificação racial empreendida pelo colonialismo, é fundamentalmente moldado pelo gênero, de modo que também nos interessa debater, cotejar, contrastar e questionar relatos da Amazônia desde a perspectiva decolonial com foco nas relações de gênero e seus entrecruzamentos com demais categorias que acentuam relações desiguais de poder social. Diante do acúmulo imensurável de representações da Amazônia, endereçamos as seguintes perguntas: Como se dão os processos de tradução na e sobre a Amazônia? Como representações da Amazônia suprimem-acentuam-atenuam aspectos históricos, políticos, culturais e linguísticos do contexto amazônico? Como o padrão de poder mundial eurocentrado incide na construção da Amazônia como espaço inventado? Qual Amazônia é lida pelos brasileiros não amazônidos? Quais histórias não foram contadas/traduzidas? Quais teorias de tradução partem da Amazônia enquanto lócus na formulação de suas metáforas e seus paradigmas? Como gênero, raça, classe e outras intersecções se manifestam nos processos tradutórios da Amazônia? Assim, são bem-vindas propostas de diferentes áreas do conhecimento, como a literatura, a tradução, a interpretação, a antropologia, a história, a filosofia, dentre outras, que discutam: Processos tradutórios na Amazônia desde o prisma decolonial; Imbricações de gênero, raça, classe e outras categorias em processos tradutórios na Amazônia; Estudos amazônidos sobre tradução; Revisão de relatos de viajantes europeus sobre a Amazônia; Contradiscursos coloniais sobre a Amazônia; Teorias de tradução em que a Amazônia é lócus de enunciação; Perspectivas indígenas em tradução; Tradução da Amazônia negra; Contatos linguísticos, alteridade e diferença na Amazônia. Ressaltamos o papel significativo da tradução na reprodução da cultura e na perpetuação de crenças e valores históricos e socialmente construídos. Nesse sentido, enquanto ferramenta contracolonial, a tradução, como aponta Rajagopalan (1998), se apresenta como atividade de reescrita, em que povos colonizados, outrora dominados pelo assujeitamento discursivo instrumentalizado pelas traduções da cultura, podem subverter os efeitos da colonialidade por meio da oferta de traduções/discursos alternativas/os, a fim de contestar uma representação hegemônica e desestabilizar hierarquias de poder social.
PALAVRAS-CHAVE: Traduções na/da Amazônia; Colonização; Decolonialidade; Estudos da Tradução e intersecções.
Nenhum simpósio cadastrado neste eixo.
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LITERATURA E TECNOLOGIA: FUTUROS (IM)POSSÍVEIS
- Rejane Cristina Rocha (Universidade Federal de São Carlos) - rejane@ufscar.br
- Ingrid Lara de Araújo Utzig (IFAP/UNIFAP) - lara-chan_ap@hotmail.com
LITERATURA E TECNOLOGIA: FUTUROS (IM)POSSÍVEIS
EIXO: LITERATURAS EM TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
SIMPÓSIO: LITERATURA E TECNOLOGIA: FUTUROS (IM)POSSÍVEIS
COORDENADORES:
- Rejane Cristina Rocha (Universidade Federal de São Carlos) rejane@ufscar.br
- Ingrid Lara de Araújo Utzig (IFAP/UNIFAP) lara-chan_ap@hotmail.com
RESUMO: As discussões sobre literatura e tecnologia têm crescido em todo o mundo, ainda que mais lentamente no Brasil do que no Hemisfério Norte ou em outros países latino-americanos. A longa história da aproximação entre esses dois campos do saber já foi retraçada em publicações acadêmicas sobre o tema, as quais retomam a ambiguidade do termo tékhne no pensamento aristotélico, que designa o artificial ou técnico em oposição à physis. É comum que os primeiros gêneros elencados como significativos dessa ambiguidade sejam as narrativas utópicas ou distópicas sobre a relação homem-máquina, produzidas desde o Renascimento. Posteriormente a ficção científica passa a se destacar nesse âmbito, especialmente nos sistemas literários inglês e estadunidense a partir do século XIX. A discussão das imbricações entre literatura e tecnologia pode também – entre tantos outros percursos distintos – partir dessa literatura sobre a máquina para uma análise da literatura como máquina, no que ganham destaque os movimentos de vanguarda e neovanguarda do século XX, como a escrita automática surrealista, os jogos tipográficos concretistas, ou a linguagem como potência algorítmica do grupo Oulipo. Sob a superfície variada desses experimentalismos, observa-se um vetor comum que aproxima a arte verbal de uma certa engenharia da palavra, em associação ou não com a imagem, favorecendo projetos artísticos de rigor formalista ou algebrismos insuspeitos. Também as relações entre a literatura e a tecnologia podem ser mapeadas a partir dos suportes em que os signos são produzidos, circulados ou consumidos. Nesse âmbito, observa-se a evolução das materialidades da literatura – com destaque para a invenção do livro – para os processos de escritura com ou para os aparatos eletroeletrônicos, nos séculos XX e XXI, sejam as máquinas de escrever elétricas, os softwares editores de texto, ou os dispositivos digitais de leitura (e-readers), entre tantos outros que vêm se multiplicando nos últimos anos. Ainda nesse contexto, cumpre destacar o espaço crescente da “literatura eletrônica”, “literatura cibernética/ciberliteratura” ou “literatura digital”. Muito embora se reconheça que cada um desses adjetivos atrelados ao substantivo “literatura” denota a especificidade do campo por uma associação particular (respectivamente, ao eletrônico, em oposição ao elétrico; ao cibernético, por referência à comunicação entre máquinas; e ao digital, em oposição ao analógico), o conjunto de obras recobertas pelos três termos é praticamente o mesmo, o que justifica seu uso intercambiável neste contexto. Para fins de clareza, pode-se utilizar, porém, a definição de literatura eletrônica postulada pela Electronic Literature Organization (maior grupo mundial de estudos sobre o tema): textos que contêm “um aspecto literário importante que aproveita as capacidades e contextos fornecidos por um computador independente ou em rede” (HAYLES, 2009, p. 21). No entanto, essa definição recobre um universo demasiado vasto de formas artísticas. Assim, para torná-la mais específica, muitos pesquisadores levam em consideração o grau em que as potencialidades da mídia digital são exploradas em cada obra para classificá-las em subgêneros da e-lit; é o caso, por exemplo, de autores como Hayles (2009), Kozak (2017) e Gainza (2018). Discussões mais recentes sobre o tema chamam a atenção, ainda, para a maneira como as onipresentes plataformas digitais têm reconfigurado a compreensão a respeito da literatura eletrônica, como é o caso da proposta de Leonardo Flores (2021), sobre o surgimento de uma 3a Geração da e-lit, ou da proposta de Claudia Kozak (2019), a respeito da inserção de gêneros de circulação massiva, como as Fanfics, no campo dos estudos de literatura eletrônica. Há que se destacar, por fim, que nenhum dos eventos que pontuam a história das associações entre literatura e tecnologia pode ser compreendido de forma dissociada dos fenômenos sociais, políticos e econômicos da modernidade e da contemporaneidade. Devem, pois, ser entendidos como parte de um processo maior de mudança social, e não como produto de um determinismo tecnológico ou estético, o qual alienaria o código de sua função precípua: a expressão humana. Nesse contexto, propomos o presente simpósio, já em sua 3a. edição, com vistas a congregar estudos sobre as relações que podem ser estabelecidas entre os campos da literatura e da tecnologia, atentando para os pontos mencionados ao longo deste resumo, ou para outros que possam se mostrar pertinentes à temática. Nosso objetivo é fomentar discussões sobre esse campo, relevante não só pelo rendimento estético dos produtos literários que o integram, mas também pelas provocações que ele coloca, sobretudo no que diz respeito às definições de escrita, texto, autoria, leitura – isto é, alguns dos pilares sobre os quais se assenta o entendimento do fenômeno literário.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura e tecnologia; máquina; experimentalismos; materialidades; códigos.
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AS LITERATURAS AFRICANAS, AFRO-BRASILEIRA E OS DIREITOS HUMANOS
- Dariana Paula Silva Gadelha (Universidade Federal do Ceará) - dariana.gadelha@yahoo.com.br
- Elen Karla Sousa da Silva (Universidade Federal do Amazonas) - elen.silva@ufam.edu.br
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LITERATURA E RESISTÊNCIA QUESTÕES DE GÊNERO E MINORIAS NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
- ALDINIDA DE MEDEIROS SOUZA (UEPB) - aldinidamedeiros@gmail.com
- Veronica Prudente (UFRR) - veronica.prudente@ufrr.br
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LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-DIASPÓRICAS: REPRESENTAÇÃO DE SEXUALIDADES DISSIDENTES E SUAS INTERSECCIONALIDADES
- Orison Marden Bandeira de Melo Júnior (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) - orison.junior@ufrn.br
- Monaliza Rios Silva (Universidade Federal do Agreste de Pernambuco) - monaliza.rios@ufape.edu.br
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LITERATURAS INSUBMISSAS E SABERES INDISCIPLINADOS: REDES E FUTUROS ANCESTRAIS
- Fernanda Vieira (Universidade do Estado de Minas Gerais - Unidade de Divinópolis) - fernandavsantanna@gmail.com
- Edimara Ferreira Santos (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) - edimara@unifesspa.edu.br
- Jânderson Albino Coswosk (Instituto Federal do Espírito Santo) - jandersoncoswosk@gmail.com
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OLHARES DAS TRANSVERSALIDADES - DE GÊNEROS, RAÇAS, CULTURAS E REPRESENTAÇÃO PELO DIREITO À INCLUSÃO
- Iná Isabel de Almeida Rafael (Universidade Federal do Amazonas) - ina_isabel2000@yahoo.com.br
- Marina Rodrigues Miranda (Universidade Federal do Espírito Santo) - marina.r.miranda@ufes.br
AS LITERATURAS AFRICANAS, AFRO-BRASILEIRA E OS DIREITOS HUMANOS
EIXO: LITERATURAS DE INCLUSÃO E REPRESENTATIVIDADE
SIMPÓSIO: AS LITERATURAS AFRICANAS, AFRO-BRASILEIRA E OS DIREITOS HUMANOS
COORDENADORES:
- Dariana Paula Silva Gadelha (Universidade Federal do Ceará) dariana.gadelha@yahoo.com.br
- Elen Karla Sousa da Silva (Universidade Federal do Amazonas) elen.silva@ufam.edu.br
RESUMO: Há uma antiga discussão na área dos estudos literários acerca da função da literatura. No que tange a tal debate, podemos apontar duas perspectivas que se opõem, a de que a literatura não possui uma função, seja ela educacional, seja social ou mesmo a de agradar aquele que a aprecia; e a de que a literatura tem um caráter engajado, documental, apresentando, nessa perspectiva, uma importância, uma finalidade em nosso meio. Maurice Blanchot, em O espaço literário (2011, p. 52) coloca que a obra literária “[...] nada exige, é desprovida de conteúdo”, assim, está desobrigada ou até esvaziada de um caráter formador ou humanizador . Antonio Candido (2004, p. 182), por sua vez, defende, em seu célebre texto O Direito à literatura, o quanto a arte literária é fundamental, uma vez que desenvolve nosso senso de humanidade, tornando-nos “mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante”. É nessa sentido que pensamos como a literatura desempenha, desde sempre, um papel fundamental na representação e na amplificação das vozes e das experiências das pessoas marginalizadas. Vivemos, atualmente, a “era dos extremos”: devido à persistência do pensamento colonial, ao racismo, à censura, à repressão sistemática ou discriminatória contra aqueles que expressam opiniões discordantes do status quo ou que pertencem a grupos minoritários, seja por motivos políticos, étnicos, religiosos, de gênero, ou outros. Esses problemas podem dificultar a implementação de políticas que promovam os direitos humanos, a justiça, a liberdade e o respeito às diferenças. Eles representam desafios significativos para a construção de sociedades mais justas, inclusivas e respeitosas com a diversidade humana. Desse modo, este Simpósio, o qual se intitula “As literaturas africanas e afro-brasileiras e os Direitos Humanos”, pretende receber propostas de apresentações de trabalhos que abordem a literatura por meio de relatos ficcionais, testemunhos, memorialismo, correspondência, contos, crônicas e ensaios, que expressem já os ideais que fundamentam a filosofia dos direitos humanos. Conforme o pensamento de Antonio Candido (2011), a literatura se manifesta de maneira universal por meio do ser humano, e permite ao indivíduo que desenvolva a sua individualidade em um contexto que representa uma coletividade: “a literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob a pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza”. Candido (2011, p. 188) ainda defende que “a literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrição dos direitos, ou de negação deles, como a miséria, a servidão, a mutilação espiritual” e, assim, é também um direito da humanidade. Todo cidadão deve ter acesso ao conhecimento e ao direito adquiridos pelas gerações que os antecederam. Nesse sentido, Bobbio (2004, p. 16) aponta os fundamentos filosóficos do direito: “não terá nenhuma importância histórica se não for acompanhada pelo estudo das condições, dos meios e das situações nas quais este ou aquele direito pode ser realizado”. Em tempos tão difíceis, de discursos ditatoriais, de intolerância, de desigualdades sociais, de exclusões, de censura, de ruptura da democracia, de desesperanças que se constituem contra mulheres, negros, periféricos, LGBTQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e queers), contra a sua visibilidade e pelo seu silenciamento, contra a liberdade de expressão, contra os negros, quilombolas, faveladas(os) ou não, ribeirinhas(os), caiçaras e tantos outros, faz-se mais que necessário refletir acerca das Literaturas e dos Direitos Humanos é mais que urgente. Abordar essa questão e pô-la em evidência se faz fundamental e inclui-se em um movimento de resistência que se estabelece no cerne dos grupos que requerem acesso à voz literária, que desejam ser ouvidos, lidos, reconhecidos e valorizados. Diante do exposto, propomos diálogos com Danielle Annoni (2008), Hannah Arendt (1979), Norberto Bobbio (2004), Flávia Piovesan (2011; 2012), Lélia Gonzalez (1979; 1983; 2018; 2020), Sueli Carneiro (2018), Vilma Piedade (2017), Beatriz Nascimento (2018), Neusa Santos (1983), Angela Davis (2016), Audre Lorde (2019), Grada Kilomba (2019), bell hooks (2000; 2018; 2019; 2021), Patricia Hill Collins (2019), Stuart Hall (2013), Mbembe (2001; 2018), Aimé Césaire (1978), Homi Bhabha (2013), Frantz Fanon (2005), Gayatri Spivak (2010), entre outros autores e outras autoras relevantes para a relação que sugerimos entre a literatura e os direitos humanos.
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas e Direitos Humanos; Literatura Afro-Brasileira; Literaturas Africanas; violência; resistência; memória.
LITERATURA E RESISTÊNCIA QUESTÕES DE GÊNERO E MINORIAS NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
EIXO: LITERATURAS DE INCLUSÃO E REPRESENTATIVIDADE
SIMPÓSIO: LITERATURA E RESISTÊNCIA QUESTÕES DE GÊNERO E MINORIAS NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
COORDENADORES:
- ALDINIDA DE MEDEIROS SOUZA (UEPB) aldinidamedeiros@gmail.com
- Veronica Prudente (UFRR) veronica.prudente@ufrr.br
RESUMO: Este simpósio pretende discutir as representações dos corpos femininos e de outras minorias nas literaturas de língua portuguesa, cuja historiografia silenciou ou subjugou. Discutir esse tema é de suma importância para combater a objetificação e os preconceitos, permitindo que as discussões tragam embasamentos os quais possam interseccionar e possibilitar diversas interações no tocante ao tema corpo. Embora tenhamos obtido diversos avanços na sociedade, é inegável que, em virtude ainda do domínio das concepções machistas, temos visto, por exemplo, as mulheres assumindo papéis de submissão ao olhar masculino e ainda tratadas com diferença em que pesa serem relegadas à inferioridade no mercado de trabalho. Tais condições não submetem apenas a mulher, mas, também, outros grupos minoritários. A resistência e a insurgência desses corpos, que se fazem presentes em muitas lutas quotidianas, precisam ter sua relevância destacada. Assim, com a intenção de somarmos discussões e conhecimentos literários, teóricos e críticos ao estudo dos corpos na literatura, lembramos que muitos são os nomes que se debruçam sobre estudos nesta área: Grosz, 2000; Le Breton, 2007; Xavier 2007; Louro, 2010; Foucault; 2014; Butler, 2010a; Goellner, 2010. Ressaltamos que o tema já apresenta uma vasta gama de outros nomes que também trouxeram contribuiçoes, na tentativa de revisitar e evidenciar o lugar dessas temáticas na produção do conhecimento. Com uma longa história de maioria masculina no cânone de Língua Portuguesa, reiteramos que discutir sobre os corpos das mulheres e da literatura de autoria feminina é essencial para abrir novos campos de atuação e produzir uma mudança de pensamento social. Nesse sentido, esperamos receber propostas de comunicações que discutam estes aspetos, seja para discuti-los no âmbito da escrita de autoria feminina, ou no âmbito das representações literárias.
PALAVRAS-CHAVE: Resistência. Questões de Gênero. Corpos. Minorias.
LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-DIASPÓRICAS: REPRESENTAÇÃO DE SEXUALIDADES DISSIDENTES E SUAS INTERSECCIONALIDADES
EIXO: LITERATURAS DE INCLUSÃO E REPRESENTATIVIDADE
SIMPÓSIO: LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-DIASPÓRICAS: REPRESENTAÇÃO DE SEXUALIDADES DISSIDENTES E SUAS INTERSECCIONALIDADES
COORDENADORES:
- Orison Marden Bandeira de Melo Júnior (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) orison.junior@ufrn.br
- Monaliza Rios Silva (Universidade Federal do Agreste de Pernambuco) monaliza.rios@ufape.edu.br
RESUMO: Os estudos literários que envolvem a representação de sexualidades dissidentes de forma específica e/ou em intersecção com temas ligados ao construto social de raça, à identidade de gênero, à classe, à religião, entre outras, têm buscado cada vez mais espaço na academia brasileira. Nesse contexto, este simpósio tem o objetivo de promover o debate entre pesquisadores e pesquisadoras que se debruçam sobre as literaturas africanas e afro-diaspóricas que representam as diversas facetas da sociedade e seus embates em torno das sexualidades dissidentes de forma interseccional com outros diferenciadores sociais como raça, identidade de gênero, classe, religião, idade etc. Nessa esteira, abarca, também, pesquisas cujo foco sejam as representações das sexualidades em diálogo com os discursos religiosos, como os discursos fundamentalistas e conservadores, que se colocam como discurso autoritário (Bakhtin, 2015) contra essas sexualidades. Como lembra Audre Lorde (2009), a opressão e a intolerância contra o diferente existem de todas as formas e tamanhos, não havendo, dessa forma, uma hierarquia da opressão. Para Lorde (2007), ainda, todo tipo de opressão deve corromper ou deformar as fontes de poder da cultura daquele(a) que é oprimido(a/e), pois é exatamente essa cultura que dá ao(à) oprimido(a/e) poder para mudar. O simpósio, portanto, busca abrir o espaço para pesquisas que buscam as representações de corpos dissidentes nas literaturas africanas e afro-diaspóricas, reconhecendo que esse espaço precisa de maior visibilidade dentro dos estudos literários africanos e afro-diaspóricos, bem como dos estudos queer, na academia brasileira. Por estar este simpósio no campo da literatura, o seu foco recai sobre pesquisas em que o diálogo entre conteúdo e forma seja estabelecido, reconhecendo que conteúdo, material e forma são elementos indivisíveis do objeto estético (Bakhtin, 2002). Dessa forma, o objeto estético é evidenciado em seu aspecto sociohistórico, ideológico, cultural etc. sem ofuscar os elementos do gênero literário ao qual ele pertence. Buscando superar a cisão entre forma e conteúdo (Bakhtin, 2015), as pesquisas que participam desse simpósio fogem, portanto, do formalismo e do sociologismo, reconhecendo que elementos do conteúdo precisam ganhar forma e se adequar ao gênero literário ao qual o objeto estético pertence. Diante disso, as pesquisas precisam evidenciar como o conteúdo voltado às sexualidades dissidentes é enformado por autores e autoras de obras literárias africanas e afro-diaspóricas em sua criação estética. Nessa esteira, a teoria literária passa a dialogar com várias escolas críticas da literatura, como a crítica pós-colonial/decolonial, as críticas feministas, a crítica queer, entre outras, bem como os estudos da religião. Todas essas vertentes críticas, em diálogo ou separadamente, permitem evidenciar o conteúdo das obras literárias em foco neste simpósio, pois auxiliam o desvelamento de discursos relacionados às sexualidades dissidentes que ganham forma por meio de um material linguístico que não é neutro, mas penetrado axiologicamente por valores sociohistóricos que representam as tensões em torno dessas sexualidades, tendo em vista que autores e autoras introduzem em suas obras um material linguístico povoado de intenções sociais alheias, não conseguindo expurgá-las, mas fazendo-as servir aos seus projetos estéticos (Bakhtin, 2015). É, portanto, a partir desse material linguístico, enformado por autores e autoras de literaturas africanas e afro-diaspóricas, que o conteúdo da opressão a corpos dissidentes em suas interseccionalidades penetra as obras literárias por meio de discursos diversos dentro da obras, quer sejam do narrador, do autor-criador, que se manifesta dentro da obra, quer das personagens, reconhecendo-as como centros de valores, cujas posições axiológicas são percebidas não só pelo que elas dizem, ou seja, seus discursos, como pelo que fazem, ou seja, suas ações ideologicamente destacadas (Bakhtin, 2015). Com esse entendimento do objeto estético, em sua indivisibilidade entre conteúdo e forma, as discussões em torno das literaturas africanas e afro-diaspóricas são evidenciadas neste simpósio, com o fito de, por meio da arte, dar voz àqueles(as) que são muitas vezes silenciados(as/es) na vida. Este silenciamento provocado por discursos homofóbicos, transfóbicos, misóginos, racistas etc. é, frequentemente, corroborado por discursos religiosos fundamentalistas e conservadores que se colocam como discurso autoritário, de verdade absoluta, muito comum na contemporaneidade brasileira, por meio de líderes religiosos e políticos que se pautam na exclusão e na opressão. Destacar as literaturas africanas e afro-diaspóricas neste simpósio, situado no eixo temático Literaturas de inclusão e representatividade, é ir na contramão desse processo excludente e opressor, em que a representação de sexualidades dissidentes em suas interseccionalidades torna-se pivotal não só para a compreensão e análise dos textos literários de cada pesquisa participante, como para a iluminação do tema na academia brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas africanas; Literaturas afro-diaspóricas; Sexualidades dissidentes; Interseccionalidades
LITERATURAS INSUBMISSAS E SABERES INDISCIPLINADOS: REDES E FUTUROS ANCESTRAIS
EIXO: LITERATURAS DE INCLUSÃO E REPRESENTATIVIDADE
SIMPÓSIO: LITERATURAS INSUBMISSAS E SABERES INDISCIPLINADOS: REDES E FUTUROS ANCESTRAIS
COORDENADORES:
- Fernanda Vieira (Universidade do Estado de Minas Gerais - Unidade de Divinópolis) fernandavsantanna@gmail.com
- Edimara Ferreira Santos (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) edimara@unifesspa.edu.br
- Jânderson Albino Coswosk (Instituto Federal do Espírito Santo) jandersoncoswosk@gmail.com
RESUMO: As literaturas de vozes historicamente marginalizadas impulsionam movimentos de (re)construção de epistemologias anti/contra/decoloniais que ultrapassam o debate teórico e alimentam a imaginação radical de futuros possíveis, afastando-se de um multiculturalismo estéril e de uma “representatividade” como fim em si mesma. Afinal, “[...] quando decretamos que visibilidade é sinônimo absoluto de poder?” (Rosa, 2019, p. 18). Imersas em uma práxis decolonial engajada, as literaturas produzidas por populações marginalizadas pelo ocidente - como os Povos de Abya Yala, Povos de África e Afrodiaspóricos, por exemplo - são mais do que meio de autoexpressão, são ferramentas de (re)escrita de mundos, de preenchimento das rupturas históricas e de (re)desenho de cartografias de pertencimento. Literaturas e artes plurais e decoloniais que rasuram as monoculturas do ser e pensar do ocidente, bem como seus sistemas binários de classificação, derramando em vazante sistemas de conhecimento de uma vanguarda ancestral que, como ferramentas imaginativas e de construção de memória social e coletiva, têm também o potencial de (re)imaginação radical de passados e de construção de mundos possíveis. Saberes indisciplinados e insubmissos que semeiam e regam sistemas de conhecimento tradicionais de vanguarda ancestral e que desafiam o anthropos do Antropoceno (esse apocalipse vestido de progresso iniciado na colonização), questionando categorias inventadas de humanidade que criaram a dicotomia homem vs. natureza e inventaram um clube exclusivo da humanidade ao qual nem todas as pessoas tiveram ou têm acesso. Uma “[...] humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também nosso avô, que a montanha explorada em algum lugar da África ou da América do Sul e transformada em mercadoria em algum outro lugar é também o avô, a avó, a mãe, o irmão de alguma constelação de seres que querem continuar compartilhando a vida nesta casa comum que chamamos Terra” (Krenak, 2019, p. 47-48). Em um mundo febril de emergências, como a crise climática, as injustiças social e ambiental, o genocídio de povos “minorizados”, o ecocídio, o epistemicídio de saberes insubmissos, é urgente que nos voltemos para epistemologias plurais e indisciplinadas (dentro e fora da academia), que desmantelem não apenas a hierarquia de saberes, mas que desmontem a noção de um saber único que seria capaz de resolver todos as questões da contemporaneidade. É urgente mergulhar a percepção em literaturas plurais que confrontam o sistema-mundo patriarcal/capitalista/colonial/moderno, que não se limitam ao entendimento ocidental de literatura e que elaboram espaços transfronteiriços de criação. Como nos ensina Lee Maracle, é necessário buscar conhecimentos que podemos transformar para nosso próprio uso, então não há surpresa em dizer que o conhecimento ocidental não é o único que buscamos (1996, p. 87). Neste Simpósio Temático, nos interessa discutir, a partir de múltiplas vozes do Sul Global, uma diversidade e reescrita de literatura, arte e crítica literária, atravessando movimentos sociais, históricos, políticos, geográficos e culturais de representatividades engajadas e (r)existências pelas literaturas de tradição oral e tradição escrita, com seus marcadores de gênero, raça, etnia, classe, sexualidade, identidades, linguagens, posicionalidades e (des)territorialidades. Com as discussões alimentadas neste Simpósio, temos como objetivo o fluir coletivo de epistemologias plurais que colaborem para uma (re)escrita e (re)desenho de futuros ancestrais. Dessa forma, nos debruçamos sobre as Literaturas Indígenas, Afro-Brasileiras, dos Feminismos não-civilizatórios - como o comunitário e o camponês - , dos Futurismos Afro e Indígena, das Ecologias de Saberes e de Saberes Indisciplinados e Insubmissos; e nos debruçamos sobre os processos de apropriação e reinvenção de línguas e saberes dos colonizadores na criação de artes e conhecimentos transgressores. Nosso aporte teórico inclui Dillon (2020), Carvajal (2014), Evaristo (2020), Graúna (2013), Justice (2018), Ailton Krenak (2019), Maracle (1996), Márcia Kambeba (2020), Mignolo (2011), Quijano (2010), Rosa (2019), Tuhiwai Smith (2012) e Vergès (2020, 2021). Propomos acolher neste Simpósio Temático pesquisadoras/pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, como Antropologia, Ciências Sociais, Educação, Geografia, História, Artes, Cinema e Letras, para a partilha e construção de uma rede de saberes comuns, que fluem e atravessam as margens das disciplinas. Essa pluralidade, inter-relação e interdisciplinaridade de conhecimentos e afetos atravessam os nossos olhares e fazeres teóricos, epistêmicos e literários, alimentando o debate sobre literaturas e artes que rasuram a História oficial e o cânone literário ocidental. O chacoalhar das margens não objetiva reforçar sistemas de opressão ao transformar o ex-cêntrico no novo centro, mas fluímos para explodir/implodir a lógica colonial centro-margens e as relações hierárquicas de sistemas de conhecimento e modos de existir.
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas Insubmissas; Saberes Indisciplinados; Epistemologias anti/contra/decoloniais; Ecologias de Saberes; Práxis Decolonial
OLHARES DAS TRANSVERSALIDADES - DE GÊNEROS, RAÇAS, CULTURAS E REPRESENTAÇÃO PELO DIREITO À INCLUSÃO
EIXO: LITERATURAS DE INCLUSÃO E REPRESENTATIVIDADE
SIMPÓSIO: OLHARES DAS TRANSVERSALIDADES - DE GÊNEROS, RAÇAS, CULTURAS E REPRESENTAÇÃO PELO DIREITO À INCLUSÃO
COORDENADORES:
- Iná Isabel de Almeida Rafael (Universidade Federal do Amazonas) ina_isabel2000@yahoo.com.br
- Marina Rodrigues Miranda (Universidade Federal do Espírito Santo) marina.r.miranda@ufes.br
RESUMO: No ambiente educacional/acadêmico, muito se discute sobre a partir de qual teoria uma análise, uma pesquisa, um estudo baseia a discussão epistemológica do objeto de investigação, ou seja, qual teoria ou quais teorias sustentarão as hipóteses advindas das discussões e, consequentemente, os resultados que nela(s) são “respaldado(s)”. A primeira inquietação surge: os fatos e os fenômenos, bem como uma gama de dramas sociais diversos são abarcados pelas teorias existentes no campo da literária? A segunda inquietação surge quando se indaga quem são os teóricos que criam as teorias a serem utilizadas por uma diversidade tão expressiva que são as tramas sociais que as diversas personagens (ou sujeitos não ficcionais) vivem, experienciam situações e são atingidas nos campos por onde transitam, como a escola, a delegacia, a praça, o shopping, a igreja, aldeia, a floresta, a casa e, mais ainda, as periferias? Quanto à primeira questão, sabemos da necessidade do diálogo do campo literário com outros campos do conhecimento, como a história, a antropologia, a filosofia, a psicologia, a sociologia e tantos outros que podem estabelecer uma inter/disci/multidisciplinaridade quando se pretende analisar uma obra literária (sendo esta oral ou escrita, e ampliando mais o conceito, um objeto artístico, como a música, a pintura, o teatro, a escultura). O fato é que muitas teorias foram criadas, ao longo do tempo, a partir de uma realidade que não contempla a diversidade étnica, religiosa, de gênero, raça e sexo existente em um país tão heterogêneo quanto o Brasil. Quem são os sujeitos invisibilizados (ou que foram invisibilizados) ao longo da criação das teorias literárias? indígenas? afrodescendentes? refugiados? mulheres? gays? lésbicas? bi/trans/sexuais? prostitutas? catadoras de papel, analfabetas, negras, como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Maria Firmina dos Reis? Estes grupos de pessoas nos levam ao conceito de subalternidade, termo discutido por Gayatri Spivak (2014). Para a escritora indiana, o subalterno é aquele que não pode falar, na concepção política do termo, isto é, a fala. O discurso dos subalternos não teve (e ainda não tem em algumas sociedades) o valor político capaz de mudar, criar e executar leis que visem o respeito e a segurabilidade de seus direitos. Não que os subalternos não possam falam, mas quem de fato os ouve? Onde este discurso é proferido? Quais os impactos que os discursos promovem na sociedade? Pensando nestas questões, será se o campo literário foi capaz de teorizar temas relacionados a esses grupos? Pensamos que ainda não. E acreditamos na necessidade de se estabelecer diálogos com campos do conhecimento que promovam análises mais completas de obras literárias, análises que transbordem o campo literário e adentrem tantos outros que se fizerem necessários, rompendo com análises tão somente internalistas, e contemplando análises externalistas das produções culturais (BOURDIEU, 2004). Assim, é possível chegar a obras de mulheres negras, de homens negros, de quilombolas, de indígenas, de feministas, e de tantos outros que nem se quer aparecem como textos literários na historiografia da literatura brasileira, ou mesmo na historiografia literária de países da América Latina. No entanto, o que vemos hoje é uma crescente ascensão dos estudos e das pesquisas voltadas aos temas decoloniais, como diversidade cultural, negritude, identidade, gênero e feminismo. Stuart Hall (2016), em seu livro Cultura e representação, apresenta como a imagem nos ajuda a ver o mundo em que vivemos, ele nos leva a perceber de que forma o homem negro passou a ser representado nas mídias na década de 1960, dentro de uma análise que nos permite experienciar os impactos nocivos da diáspora, diferenciação e globalização, no corpo negro. Ou em outros corpos não contemplados pelo discurso colonizador da branquitude. O escritor jamaicano nos afirma que a cultura é um ponto crítico de intervenção social, onde relações de poder são estabelecidas e potencialmente desestabilizadas. Sendo a cultura o lugar de desestabilização das relações, o antropólogo Roque Laraia (2014) reafirma que o etnocentrismo tem sido o causador de muitos conflitos entre diferentes etnias, pois busca eleger suas práticas, costumes, crenças e valores como as corretas, as produtivas e as que devem ser referências a todas as demais culturas. É o que Esposito (2013) denomina de tanatopolítica, política da morte, em vez de uma biopolítica, política da vida, nas discussões sobre fronteiras e repatriação. Em contrapartida, percebemos um cenário pós-colonial, que luta pela reafirmação da multidiversidade para se chegar a reflexões decoloniais, que refutam a continuidade de um passado patriarcal e embranquecido, misógino e opressor com as mulheres, os afrodescendentes e os indígenas. Fundamentados nesta discussão, este simpósio contempla trabalhos nos quais se discuta modos de inclusão das diversas representatividades, tanto nas línguas estrangeiras, indígena e portuguesa quanto na escrita literária, assim como a sua conexão com as demais linguagens artísticas, propondo um ambiente acolhedor, ressaltando e compartilhando as experiências das vozes diversificadas e transgressoras das/dos personagens/sujeitos em situações de dominação em um sistema social.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Representação. Diversidade. Inclusão.
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LITERATURA E DISSONÂNCIA
- André Dias (Universidade Federal Fluminense - UFF) - andredias@id.uff.br
- Rauer Ribeiro Rodrigues (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS) - rauer.rodrigues@ufms.br
- Felipe Gonçalves Figueira (Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES) - fgfigueira@gmail.com
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LITERATURA NACIONAL E ESTRANGEIRA TRADUZIDAS NA E SOBRE A AMAZÔNIA: RELATOS DE VIAGEM
- Lilian Cristina Barata Pereira Nascimento (Universidade Federal do Pará) - lilian@ufpa.br
- Lúcia Marina Puga Ferreira (Universidade do Estado do Amazonas) - lpuga@uea.edu.br
- Marie Helene Catherine Torres (Universidade Federal de Santa Catarina) - marie.helene.torres@gmail.com
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RELAÇÕES INTER-DIALÓGICAS DA LITERATURA E SOCIEDADE
- Lucélia de Sousa Almeida (Universidade Federal do Maranhão - UFMA) - lucelia.almeida@ufma.br
- FRANCISCO ALVES GOMES (Universidade Federal de Roraima - UFRR) - aluadoalves@gmail.com
LITERATURA E DISSONÂNCIA
EIXO: NAVEGANDO EM PLURALIDADES
SIMPÓSIO: LITERATURA E DISSONÂNCIA
COORDENADORES:
- André Dias (Universidade Federal Fluminense - UFF) andredias@id.uff.br
- Rauer Ribeiro Rodrigues (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS) rauer.rodrigues@ufms.br
- Felipe Gonçalves Figueira (Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES) fgfigueira@gmail.com
RESUMO: A proposta do simpósio é examinar a manifestação da dissonância em diferentes obras literárias das mais variadas nacionalidades, com vistas a compreender o modo pelo qual alguns autores se constituíram, através dos discursos literários, como vozes questionadoras de seus tempos, sociedades e condições existenciais. A ideia central é abrir espaço para o diálogo entre pesquisadores que investigam variados autores, cujas obras expressam inquietações e questionamentos, tanto na esfera sociopolítica quanto na ideológica, na estética ou na existencial. O que se espera é que os trabalhos apresentados no âmbito do Simpósio Literatura e Dissonância discutam, entre outras questões, o problema teórico do intelectual frente às variadas ideologias, quer sejam elas hegemônicas ou não, e o problema histórico dos escritores diante do status quo, manifestado na esfera da política, dos costumes, da economia, da cultura, da tecnologia etc. Mikhail Bakhtin, falando sobre o grande tempo histórico e o trabalho dos escritores, chama atenção para o seguinte fato: “o próprio autor e os seus contemporâneos veem, conscientizam e avaliam antes de tudo aquilo que está mais próximo do seu dia de hoje. O autor é um prisioneiro de sua época, de sua atualidade. Os tempos posteriores o libertam dessa prisão, e os estudos literários têm a incumbência de ajudá-lo nessa libertação.” (BAKHTIN, 2003, p. 364). Sendo assim, ao abordarmos a temática Literatura e Dissonância, temos clareza de que todo autor, para o bem e para o mal, é antes de tudo um homem de seu tempo. Desse modo, aos que se ocupam da investigação literária cabe a tarefa de, dialogicamente, atualizarem os diversos discursos literários produzidos nos mais variados tempos e espaços históricos. Agindo assim, os estudiosos da literatura contribuirão para manter a vivacidade de distintos autores e obras. Sobre a criação romanesca, o pensador russo adverte que “o autor-artista pré-encontra a personagem já dada independentemente do seu ato puramente artístico, não pode gerar de si mesmo a personagem – esta não seria convincente” (BAKHTIN, 2003, 183-184). Em outras palavras, nenhuma personagem é fruto do gênio criador de um autor adâmico, pois a matéria de memória da literatura está no mundo social, local de onde os escritores extraem os motivos para criar. Dessa forma, as premissas bakhtinianas apresentadas aqui fundamentam o desenvolvimento das nossas reflexões e ajudam a ampliar os sentidos das análises. O fórum, observada a perspectiva da dissonância no campo dos estudos literários e do comparativismo, acata propostas que vão desde o enfoque do ensino da literatura, passando pela questão do trabalho crítico, até chegar à discussão teórica das experiências literárias e dos diálogos transdisciplinares. Seja no espaço das territorialidades, cujos limites se esvaem diante da instantaneidade das comunicações globais, seja no âmbito do regional esvaziado no mesmo diapasão, procura-se o dissonante na antiga ordem hierarquizada, no finado mundo bipolar ou no universo multilateral que se instaura. Há que se considerar, ainda, estudos comparativos entre autores que, mesmo distantes no tempo e no espaço, fixam a seu modo o questionamento de valores hegemônicos e não hegemônicos. Tais autores, independente se no âmbito da prosa ou da poesia, acabam por constituir uma aproximação literária mediada pelo estado de permanente inquietação. Entretanto, dialeticamente, a literatura, ao mesmo tempo que compartilha inquietações, estilhaça certezas e provoca os leitores. Nas palavras de Antoine Compagnon: “A literatura desconcerta, incomoda, desorienta, desnorteia, mais que os discursos filosófico, sociológico ou psicológico porque ela faz apelo às emoções e à empatia. Assim, ela percorre regiões da experiência que os outros discursos negligenciam, mas que a ficção reconhece em seus detalhes” (COMPAGNON, 2009, p.50). Nesse sentido, o discurso literário potencializa as noções de resistência, de estética e de política, na medida em que tais conceitos, mediados pelo trabalho literário, terão suas perspectivas matizadas por diversas concepções de mundo, abrindo possibilidades dialógicas infinitas a todos que se ocupam da experiência literária. Do ponto de vista da historiografia literária, qualquer que seja o modo analítico proposto, os problemas se sucedem, pois os últimos anos têm sido de deslocamentos incessantes dos postulados teóricos. Tais deslocamentos transformaram em cada vez mais inglórios os embates com o mundo concreto, considerando a acelerada mutabilidade das circunstâncias sociais, políticas, históricas e das representações simbólicas, no âmbito das artes em geral e da literatura em particular. Assim sendo, no estudo da circulação e dos sentidos construídos a partir da literatura cabe, inclusive, questionar as significações do conceito de literariedade. Tal questionamento pode incorporar novas e dissonantes acepções ao termo, tanto na perspectiva dos cânones consagrados, quanto dos cânones emergentes. Levantar questionamentos, de preferência contundentes, e produzir conclusões, ainda que provisórias, é o que se espera com o presente Simpósio Temático, que em 2024 completa doze anos ininterruptos de participações na ABRALIC, sempre com intensa adesão de pesquisadoras e pesquisadores dos mais diferentes níveis.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Prosa; Poesia; Análise de discursos.
LITERATURA NACIONAL E ESTRANGEIRA TRADUZIDAS NA E SOBRE A AMAZÔNIA: RELATOS DE VIAGEM
EIXO: NAVEGANDO EM PLURALIDADES
SIMPÓSIO: LITERATURA NACIONAL E ESTRANGEIRA TRADUZIDAS NA E SOBRE A AMAZÔNIA: RELATOS DE VIAGEM
COORDENADORES:
- Lilian Cristina Barata Pereira Nascimento (Universidade Federal do Pará) lilian@ufpa.br
- Lúcia Marina Puga Ferreira (Universidade do Estado do Amazonas) lpuga@uea.edu.br
- Marie Helene Catherine Torres (Universidade Federal de Santa Catarina) marie.helene.torres@gmail.com
RESUMO: Desde os mais remotos relatos dos viajantes europeus do século XVI às produções nacionais brasileiras, a Amazônia é, muitas vezes, descrita a partir do fascínio pela exuberância da fauna e da flora, da intensa irradiação solar, das chuvas torrenciais e dos colossais rios que, no geral, marcam a presença desse espaço e a construção do seu discurso (PIZARRO, 2012). Considerando a riqueza de diversidade das identidades amazônicas que são presentes nas obras literárias, o interesse principal desse simpósio é oferecer visibilidade às essas obras literárias nacionais e estrangeiras traduzidas para várias línguas, sejam de qualquer origem, para fazê-las circular não só no Brasil, mas também em outros países, uma forma de compreender um pouco mais sobre a(s) cultura(s) Pan-amazônica(s), na medida em que se amplia o horizonte de perspectiva sobre a região afora dos limites nacionais e/ou culturais, já que além das muitas línguas indígenas, também as línguas espanhola, portuguesa, inglesa, francesa e neerlandesa são faladas na grande região. E as traduções dessas narrativas amazônicas muitas vezes só se interessam (e reforçam) os estereótipos já cristalizados sobre a referida região, seja por estrangeiros ou mesmo por cidadãos brasileiros. Na obra Literatura Traduzida e Literatura Nacional (2009), os organizadores examinaram o papel da literatura e colocaram a tradução no centro da questão. Assim, a literatura traduzida é parte integrante do sistema cultural e literário, como por exemplo o (eco)sistema brasileiro, o que permite revisar contribuições teóricas acerca da história e da constituição da literatura brasileira. Pascale Casanova (2002) fala até da possibilidade de mudar o ponto de vista sobre uma obra, o que supõe, segundo ela, a modificação do ponto a partir do qual se observa. A autora repensa, de fato, o conceito de cânone literário inserindo novos elementos como o centro e a margem. Ademais, é por meio da tradução que a crítica estuda a evolução das literaturas nacionais modernas como troca de valores culturais e como mediação com o estrangeiro, o que permite revelar o espírito nacional e a disseminação e a circulação das ideias. De fato, a representação da Amazônia na literatura, seja no imaginário não somente do estrangeiro, mas também do amazônida, sempre seduziu os leitores interessados no tema, conforme relatos de viagens na Pan-Amazônia através dos tempos, alguns desses relatos recentemente publicados na revista “Cadernos de Tradução: Traduzindo a Amazônia”, que já conta com três números publicados em 2021, 2022 e 2023, organizados por Guerini, Torres e Fernandes. É recorrente encontrar nova traduções inéditas ou retraduções de obras esquecidas no tempo quando se trata de Pan-Amazônia. A literatura na e sobre a Amazônia é apreendida aqui a partir das teorias da ecoliteratura e ecotradução, termo criado em português por Torres (2021) a partir do inglês ecotranslation e do francês éco-traduction, fazendo referência a todas as formas de pensamento e prática de tradução que se envolvem conscientemente nos desafios da mudança do meio ambiente induzida pelo homem (CRONIN, 2017). A “ecoviagem (eco-travel) explora deste modo os encontros dos viajantes com o ambiente ao longo dos séculos e questiona: qual é o futuro da escrita de viagem na era do Antropoceno? (CRONIN, 2022). Ainda à luz da ecoliteratura, a ecotradução concerne aos textos literários que traz de uma forma ou de outra a natureza como tema, personagem, reflexão e que apreende a tradução da relação entre a natureza e a literatura em diversos contextos culturais e examina em que medida a ficção e/ou a poesia deram um lugar essencial à natureza e às relações antrópicas com o meio ambiente. Portanto, visando ampliar estudos escritos na e sobre a Amazônia, são bem-vindas comunicações sobre: relatos de viagem de autores brasileiros sobre a Amazônia até o inicio do século XX; Autor/tradutor/natureza; tradução comentada de relato de viagem sobre a Amazônia em outra língua-cultura; depoimento de autores brasileiros ou estrangeiros na ou sobre a Amazônia em cartas, diários, literatura de viagem; o papel da escrita de viagem; tradução e poder da Amazônia na circulação da literatura brasileira; recepção de um autor amazônico específico em tradução em outra cultura; impacto dos textos escritos em português e das traduções de relatos de viagem sobre a Amazônia na formação do cânone literário nacional e na formação da identidade nacional; teorias: teoria da viagem, teorias nômades; além de retradução de literatura na e sobre a Amazônia.
PALAVRAS-CHAVE: Estudos da Tradução; Amazônia; Relato de viagem; Literatura Nacional; (Eco)Tradução
RELAÇÕES INTER-DIALÓGICAS DA LITERATURA E SOCIEDADE
EIXO: NAVEGANDO EM PLURALIDADES
SIMPÓSIO: RELAÇÕES INTER-DIALÓGICAS DA LITERATURA E SOCIEDADE
COORDENADORES:
- Lucélia de Sousa Almeida (Universidade Federal do Maranhão - UFMA) lucelia.almeida@ufma.br
- FRANCISCO ALVES GOMES (Universidade Federal de Roraima - UFRR) aluadoalves@gmail.com
RESUMO: O simpósio proposto busca receber trabalhos que explorem a relação entre literatura e sociedade sob uma perspectiva dialógica. Espera-se que essas contribuições revelem interações sócio histórico-situadas, abordando temas diversos como morte, violência e corpo. Para Bakhtin, a ideia de discurso é de produção coletiva, enfatizando que mesmo quando uma pessoa fala sozinha, a finalidade só é alcançada se houver participação do ouvinte, daí a inter relação entre Literatura e Sociedade, (autor obra-leitor). Serão trabalhos aceitos tanto na poesia, quanto prosa. A base teórica pode ser expandida, de acordo com o eixo “Navegando em Pluralidades”. Bakhtin, teórico russo, estabelece em sua obra a perspectiva de que a linguagem, na sociedade, é essencialmente um diálogo. De acordo com ele, cada expressão verbal é direcionada a alguém, e nesse ato de expressão, há sempre a expectativa de uma resposta (Bakhtin, 2010, p.11). O autor enfatiza que todos os campos da atividade humana estão interligados ao uso da linguagem, e, portanto, a liberdade na fala é limitada, já que o que é dito é pré-determinado pelo ouvinte. Nesse sentido, o autor, ao escrever uma obra, também participa dessa predeterminação dialógica. Na visão do autor, é na interação social que o indivíduo se percebe a si mesmo e ao outro. Essa interação é mediada pelos diversos enunciados que circulam na sociedade. O enunciado, segundo Bakhtin, é a unidade de análise para compreender a enunciação. Está em inter-relação direta com a cultura, respondendo imediatamente aos processos sociais de formação de sentido. Bakhtin expande sua análise para a obra de arte, enfatizando que sua vitalidade e significado não residem apenas no psiquismo individual, mas também estão intrinsecamente ligados a contextos cognitivos, sociais, políticos, econômicos e religiosos. Ele destaca que a obra de arte é viva e significante em um mundo que também é vivo e significante. A orientação dialógica, para Bakhtin, é uma característica inerente a todo discurso vivo. Cada caminho do discurso em direção ao objeto se encontra com o discurso de outrem, participando assim de uma interação viva e tensa. A única exceção seria um Adão mítico que chegasse ao mundo com a primeira palavra, antes de qualquer influência externa. Bakhtin também destaca a importância do auditório social na formação do mundo interior e na reflexão de cada indivíduo. Ele argumenta que cada ato de fala, independentemente de sua extensão, seja uma simples palavra ou uma tese de doutorado, está permeado por enunciados de outros. Enfatiza que não há separação na cultura entre as esferas ética, científica e estética, e que o ato criativo só adquire significado dentro dessa unidade cultural. A identificação dialógica, segundo Bakhtin, é crucial, pois identifica a voz social, localiza e estabelece possibilidades de tensões com outras vozes, inclusive aquela que é interna à personagem. Dessa forma, o ato de fala está sempre inserido em um contexto mais amplo de interações sociais, contribuindo para a complexidade e riqueza do discurso. Em síntese, a perspectiva dialógica de Bakhtin oferece uma abordagem profunda e abrangente para compreender a relação entre linguagem, literatura e sociedade. Sua análise destaca a interconexão entre os discursos individuais e sociais, enriquecendo a compreensão das dinâmicas complexas que permeiam a comunicação humana. O pensamento de Mikhail Bakhtin sobre a linguagem como um diálogo intrínseco à sociedade é fundamental para entendermos a natureza dos discursos e das interações humanas. Bakhtin argumenta que toda expressão verbal é essencialmente uma resposta a alguém, refletindo a perspectiva de uma audiência potencial. Ele enfatiza que a linguagem permeia todos os aspectos da vida humana, conectando-se intimamente com as diversas atividades e contextos sociais (2016, p.11).
PALAVRAS-CHAVE: LITERATURA; SOCIEDADE; RELAÇÕES INTER-DIALÓGICAS;
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A PERSISTÊNCIA DO GÓTICO NA LITERATURA E NO CINEMA
- Cynthia Beatrice Costa (Universidade Federal de Santa Catarina) - cynthiacos@gmail.com
- Fernanda Aquino Sylvestre (Universidade Federal de Uberlândia) - fernandasyl@uol.com.br
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AMAZÔNIA LITERÁRIA EM MOVIMENTO: DIVERSIDADE E INTERARTES
- Gisele Giandoni Wolkoff (UFF) - gwolkoff@gmail.com
- Artemis de Araújo Soares (UFAM) - artemissoares@yahoo.com.br
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CONVERGÊNCIA E TESSITURAS POÉTICAS: LITERATURA BRASILEIRA, AFRO-BRASILEIRA, PORTUGUESA E AFRICANA
- ROSIDELMA PEREIRA FRAGA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA) - rosidelmapoeta@yahoo.com.br
- ISAAC NEWTON ALMEIDA RAMOS (UNEMAT) - isaac.ramos@unemat.br
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CORES DA LITERATURA E DA POLÍTICA: CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
- Osmar Moreira dos Santos (Universidade do Estado da Bahia (UNEB)) - osantos@uneb.br
- Jordi Canal Morell (École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), PARIS) - jordi.canal@ehess.fr
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DESDE ENCRUZILHADAS FILOSÓFICAS, LITERÁRIAS E VISUAIS: (RE)TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES ENTRE AMÉRICAS, ÁFRICAS E AMAZÔNIAS
- Amilton José Freire de Queiroz (Universidade Federal do Acre) - amiltqueiroz@hotmail.com
- Ezilda Maciel da Silva (Universidade Federal do Pará) - ezilda.silva@hotmail.com
- Henrique Silvestre Soares (Universidade Federal do Acre) - henrique. Soares@gmail.com
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LITERATURA EM PERSPECTIVA SEMIÓTICA E FILOSÓFICA: EXPERIÊNCIA E SENTIDO EM SEMIOSE
- Josivan Antonio do Nascimento (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano) - josivan.nascimento@ifsertao-pe.edu.br
- Feliciano José bezerra filho (Universidade Estadual do Piauí) - felicianofilho@uol.com.br
- LUIZIR DE OLIVEIRA (Universidade Federal do Piauí) - luiziroliveira@gmail.com
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NOS LIMITES DA ADAPTAÇÃO: ARQUIVOS DE LITERATURA, CINEMA E OUTRAS ARTES
- Maria Gabriella Flores Severo Fonseca (Universidade Federal do Amazonas) - gabriellafloress@hotmail.com
- Roberto Medina (Universidade de Brasília) - prof.medina@gmail.com
- Serge Dominique Margel (Universidade de Neuchâtel) - margelserge@gmail.com
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PENSAR COM AS PLANTAS
- Fabricia Walace Rodrigues (Universidade de Brasília) - fabriciawalace@gmail.com
- Allison Marcos Leão da Silva (Universidade do Estado do Amazonas) - allisonleao@uea.edu.br
- Anne Louise Dias (Universidade de Brasília) - anne.ldias@gmail.com
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POESIA LÍRICA E POESIA HAICAÍSTA: ORIENTE E OCIDENTE EM CONTEXTO
- Cacio José Ferreira (Universidade Federal do Amazonas) - caciosan@ufam.edu.br
- Norival Bottos Júnior (Universidade Federal do Amazonas) - norivalbottos@ufam.edu.br
- Kélio Júnior Santana Borges (IFG) - kelio.borges@ifg.edu.br
A PERSISTÊNCIA DO GÓTICO NA LITERATURA E NO CINEMA
EIXO: TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
SIMPÓSIO: A PERSISTÊNCIA DO GÓTICO NA LITERATURA E NO CINEMA
COORDENADORES:
- Cynthia Beatrice Costa (Universidade Federal de Santa Catarina) cynthiacos@gmail.com
- Fernanda Aquino Sylvestre (Universidade Federal de Uberlândia) fernandasyl@uol.com.br
RESUMO: Entendido como modo, gênero ou termo guarda-chuva que remete a uma variedade de tropos e motivos, o gótico demonstra ano após ano uma notável persistência que se alastra por uma diversidade de artes e meios, como arquitetura, moda, literatura, cinema, música e quadrinhos. Na narrativa de ficção, relaciona-se com o excesso (Botting, 1996) e com o medo (Cavallaro, 2002), incitando leitores e/ou espectadores a questionarem os limites do real e a acessar os pavores e desejos íntimos que os assombram. Pode ser pensado como uma reação às ansiedades sociais da Idade Contemporânea (Markendorf; Sá; Drozdowska-Broering, 2023), com toda a desconfiança provocada pelo excesso de racionalismo e urbanismo concentrada nas entrelinhas de narrativas ambíguas, incômodas e, com frequência, aterrorizantes. Pode também remeter às maldades humanas e à tirania, captadas com sensacionalismo pela imprensa pós-Revolução Francesa, apresentando coberturas detalhadas de guerras e crimes. As simbologias expressas por meio de traços fantásticos, assim como das figuras quase sempre presentes da jovem ingênua, da pessoa à beira da insanidade e do Doppelgänger, tornam o gótico um profícuo gerador de interpretações psicológicas e psicanalíticas, desencadeando inesgotáveis tentativas por parte do público de desvendar mistérios incrustrados em enredos e personagens (MacAndrew, 1979). A multiplicidade de reações e interpretações também advém da prevalência de temas ditos universais, como perda da inocência, morte, enlouquecimento, hereditariedade e a carga do passado refletida no presente, além da interessante territorialidade que caracteriza o gótico – daí a preponderância de mansões, castelos e propriedades rurais; o horror derivado do gótico, aliás, motiva discussões de cunho imobiliário (Magistrale, 2008; Corstorphine & Kremmel, 2018). Popularizada na Inglaterra na segunda metade do século XVIII por autores como Horace Walpole e Ann Radcliffe, a ficção gótica iniciou-se com narrativas pseudomedievais de mistério e romance – elementos que ainda atraem o público quase 300 anos depois – e foi passando por ampliações e transformações, tornando-se ora mais diluída, ora mais contundente, mas sempre incessante. É produtivo mergulhar em suas raízes europeias, mas a contemporaneidade também demanda um entendimento maior de suas expressões sulistas, pelo olhar de autores como William Faulkner, Flannery O’Connor e Toni Morrison; de suas vertentes pós-coloniais e decoloniais (Wisker, 2016), desenvolvidas por Silvia Moreno-Garcia, Nalo Hopkinson e Samantha Schweblin, entre tantas outras escritoras caribenhas e latino-americanas; e até mesmo do gótico brasileiro, hoje estudado na obra oitocentista de Álvares de Azevedo, Machado de Assis e Fagundes Varella e encontrado entre modernistas e contemporâneos, de Guimarães Rosa e João do Rio a Cristhiano Aguiar, com seu recente Gótico nordestino. Também requerem maior atenção as maneiras pelas quais são operadas apropriações e manipulações do gótico tradicional a partir do século XX, em romances já consolidados, como Rebeca e Lolita, na releitura de contos de fadas de Angela Carter, Margaret Atwood e Robert Coover, entre outros, nos best-sellers de Stephen King e em boa parte do que se considera literatura de suspense, terror ou horror. O gótico encontrou terreno igualmente (senão mais) fértil no cinema, ascendendo nos anos 1920 e 1930 com o expressionismo de Nosferatu e a ousadia visual de A noiva de Frankenstein, que ajudou a solidificar o monstro no imaginário ocidental. As tantas adaptações audiovisuais dos clássicos de Bram Stoker e Mary Shelley merecem linhas históricas próprias; herdeiros de Frankenstein, por exemplo, abrangem das leituras mais literais às desconstruções vistas em filmes como Edwad Mãos de Tesoura e o recente Pobres criaturas. O apelo comercial fez o gótico desdobrar-se, ao longo de um século de cinema de grande alcance popular, em um sem-número de filmes arrepiantes do tipo “família muda-se para uma casa nova (assombrada)” e suas possíveis variações, em grande parte adaptações de obras literárias, resultando em clássicos do cinema hollywoodiano como Psicose, O bebê de Rosemary, O exorcista e O iluminado (Simmons, 2017). Filmes à moda slasher e found footage também podem ser relacionados ao gótico (Cherry, 2009). Os anos 2020 não apresentam sinais de superação, nem mesmo de cansaço, confirmando a persistência do gótico – em modo atualizado, mas contumaz –no recente burburinho gerado por Saltburn e na expectativa atual por um novo Nosferatu. Assim, este simpósio convida trabalhos que relacionem o gótico presente em diferentes obras e meios narrativos – literário e audiovisual – em seu viés mais transgressor, de modo a examinar os porquês de sua persistência na ficção e no gosto popular.
PALAVRAS-CHAVE: Gótico na literatura; gótico no cinema; gótico pós-colonial; gótico brasileiro.
AMAZÔNIA LITERÁRIA EM MOVIMENTO: DIVERSIDADE E INTERARTES
EIXO: TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
SIMPÓSIO: AMAZÔNIA LITERÁRIA EM MOVIMENTO: DIVERSIDADE E INTERARTES
COORDENADORES:
- Gisele Giandoni Wolkoff (UFF) gwolkoff@gmail.com
- Artemis de Araújo Soares (UFAM) artemissoares@yahoo.com.br
RESUMO: Tendo em vista que as Humanidades têm como objeto a Cultura tanto enquanto condição da existência constitutiva das sociedades, quanto mediadora dos aspectos da vida social, os estudos acerca das identidades (conforme elaboradas em HALL. 1998, 1996; ESCOSTEGUY, 2001; BHABHA, 1994) a partir do comparativismo (NITRINI, 2000) ganham relevo no mapeamento de regiões brasileiras. Pensar as literaturas para além dos textos tradicionais, ou seja, pensá-las em articulações variadas, em adaptações, traduções e ressignificações é atualizar o pensamento sobre modos de leitura, visões críticas do mundo e, também, sobre o ensino das literaturas. Segundo Marilene Corrêa (apud Wilson Nogueira, 2008, p.15): “O material que ilustra as condições culturais de distanciamento e de integração das festas ao mercado são os pontos opostos entre as tradições de suas sociedades, as suas formas de adaptabilidade, e as relações de mercado e seus níveis de profissionalização.” Indo além da proposição declarada por Marilene Corrêa da Silva de FREITAS acerca do rigor analítico da estrutura material e simbólica das festas, estudar “a estrutura externa da sociedade, e a vontade dos indivíduos, enquanto sujeitos...” (ibid idem, p.16) incitamos os estudiosos a estabelecerem vínculos analíticos entre as epistemologias, confrontando-as em suas convergências. Ou seja, pensarmos as produções culturais no que têm de tecido dialógico com as literaturas, confrontando-as (estas últimas) em suas bases clássicas. É assim que pensar os vários festivais amazonenses e da região norte, por exemplo, desde as canções que entoam os seus movimentos, os poetas compositores, a sua história, o entrelaçamento das artes – relações interartes - significa realçar a importância das literaturas nas dinâmicas sociais, expandir as suas áreas de estudo/ensino, particularmente, dos corpos os mais variados (conforme elencado por Artemis SOARES, 2016) como espaços de tradução e adaptação, dando ensejo a reinterpretações dos atores sociais nas dinâmicas amazonenses. Em O Corpo: olhares diversos (2016: 76 ) Soares define que: “O corpo é o acesso para a identificação (...) e...cada povo é resultante de um momento próprio e único. Isso permite que, sobre a identificação feita por meio do corpo, possam ser elaboradas múltiplas leituras. O corpo tem sido objeto frequente do conhecimento, sempre com novas interpretações e reinterpretações.” Além disso, ressalta-se que inverter a lógica histórica de enunciar a partir do centro sobre as margens tem a ver com promover regiões culturalmente desfavorecidas e que poderão ganhar visibilidade também pela divulgação dos modos variados de cultura e, assim, promover desenvolvimento regional, seja pelo acesso à informação cultural e à sua disseminação, seja pela promoção da construção contínua do patrimônio cultural da região amazônica que se notabilizou no século XX pelos seus parques industriais e turismo, mas que acabou por silenciar sobre o histórico colonialista durante os séculos anteriores, que reuniram forte miscigenação étnica e cultural e que voltam a aparecer em festivais, canções, adaptações de textos de gêneros tradicionais e outros. Assim, ao atentar a discursos culturais variados que componham o amplo escopo das literaturas e novos olhares sobre a sociedade, a história e as suas dinâmicas, este simpósio abre-se a novos potenciais epistemológicos do desenvolvimento socioeconômico da região, inovando os modos de pensar o Brasil (a partir de suas margens e na pluralidade literária) e convocando originalidade na maneira como se pesquisa cultura no país. É deste modo que este simpósio visa traçar paralelos entre a literatura, as outras artes, a sociedade em suas dinâmicas plurais no cenário amazonense a fim de que traduzam culturalmente a diversidade da região, incitando a construção de conhecimento bibliográfico, praticando aquilo que Boaventura De SOUSA SANTOS (2002) define como novas epistemologias ou, ainda, “epistemologias do sul”. O fator comparatista permitirá um viés analítico mais completo acerca das problemáticas sociológicas (e não só) relativas à contemporaneidade, no que tange tanto à produção, quanto à distribuição dos modos variados de cultura na região em destaque. A transculturalidade, a adaptação, as relações interartes e os efeitos destes modos de produção criativa poderão compor o rol de práticas a serem objeto do escrutínio crítico das propostas apresentadas, tais como: - festas, manifestações populares e regionalismos: impactos sociais e sociológicos. - questões de gênero nas transposições de meios, adaptações. - festas, manifestações populares, regionalismos: intertextos e interartes (pintura, música, fotografia, artes visuais). - poesia a partir de/ou sobre a Amazônia: traduções e suas consequências. - poesia a partir de/ou sobre a Amazônia, as relações interartes, traduções e adaptações. - prosa amazonense e/ou sobre a Amazônia e as relações interartes: impactos sociais, sociológicos e midiáticos. - o cinema da e sobre a Amazônia e as relações culturais locais (Sociologia, Filosofia e Artes). - a música, o espaço social e as relações humanas. - a dança, os corpos, e as relações de poder.
PALAVRAS-CHAVE: Interdisciplinaridade; interartes; transculturalidade; Amazônia; festivais
CONVERGÊNCIA E TESSITURAS POÉTICAS: LITERATURA BRASILEIRA, AFRO-BRASILEIRA, PORTUGUESA E AFRICANA
EIXO: TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
SIMPÓSIO: CONVERGÊNCIA E TESSITURAS POÉTICAS: LITERATURA BRASILEIRA, AFRO-BRASILEIRA, PORTUGUESA E AFRICANA
COORDENADORES:
- ROSIDELMA PEREIRA FRAGA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA) rosidelmapoeta@yahoo.com.br
- ISAAC NEWTON ALMEIDA RAMOS (UNEMAT) isaac.ramos@unemat.br
RESUMO: CONVERGÊNCIA E TESSITURAS POÉTICAS: LITERATURA BRASILEIRA, AFRO-BRASILEIRA, PORTUGUESA E AFRICANA Profa. Dra. Rosidelma Pereira Fraga – PPGL/UFRR Prof. Dr. Isaac Newton Almeida Ramos – PPGEL/UNEMAT Dentro do eixo Tecendo conexões interdisciplinares, este simpósio intitulado Convergência e tessituras poéticas: literatura brasileira, afro-brasileira, portuguesa e africana tem como objetivo fulcral debater variedades temáticas em que a poesia lírica e a poesia épica estejam na zona epistemológica da convergência trazendo à baila a intertextualidade, a intratextualidade, estudos dialógicos entre poesia, pintura, música e outras expressões artísticas em diálogo com a análise literária comparada. Por excelência, tem como norte discutir textos teóricos e literários em contexto de literatura comparada levando em consideração o grupo de pesquisa Africanidades, literaturas e minorias sociais (UFRR) e o grupo de pesquisa em Estudos da Arte e da Literatura Comparada (UNEMAT), de forma a dialogar com pesquisadores de outras instituições dentro e fora do Brasil e receber propostas em que a poesia seja um dos corpus de investigação que pode advir do poema clássico ao contemporâneo. Como eixo metodológico e epistemológico, pretendemos, entre outros aspectos, debater produções poéticas de vários autores da literatura brasileira, afro-brasileira, portuguesa e africana de todos os tempos em seus diversos recortes temáticos que a poesia, pelo viés da metáfora do olhar, permite desabrochar. Em amplo debate da poesia lírica, insta apontarmos as literaturas em diálogo que se interligam com africanidades, afrodescendências a partir da perspectiva transdisciplinar que se concentram no diálogo com literatura, sociedade, cultura, história e múltiplas artes. Sob esse prisma, este simpósio pretende abrigar ainda estudos da poesia lírica de países como Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe em convergência com a literatura brasileira e portuguesa. Neste simpósio podemos trazer para discussão teórica o campo comparativo de poéticas por meio da alusão que desperta na consciência do leitor uma referência indireta que não foi expressa no texto literário, não obstante o leitor toma conhecimento através do texto relido para ampliá-lo na memória discursiva (releitura indireta). Haroldo de Campos, citado por Gilberto Mendonça Teles (1989, p. 42), concebe a alusão como “o adensamento da significação”, da mesma forma que Diana Barros (1994), ao ver como a possibilidade de acréscimo de sentido. Aludindo a outras obras, Julia Kristeva (1979) salienta a presença de vozes intertextuais paragramáticas. Sistematicamente, a epígrafe poética se justapõe no texto segundo irradiando em vozes discursivas. Julia Kristeva (1979, p. 174) concebeu a epígrafe como uma rede paragramática. Essa leitura, baseada no paragramatismo que se refere à absorção de uma multiplicidade de vozes textuais que não necessariamente deva repetir o mesmo significado. Cada voz é reatualizada em cada leitura e recepção. Não menos importante, este simpósio buscará debater o ensino da poesia afro-brasileira a partir de perspectivas da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos de cultura afro-brasileira em diálogo com outras formas de linguagens, de modo a ampliar o debate para o combate ao racismo que a arte poética pode permitir como função social. Com este debate sobre a poesia afro-brasileira, o simpósio agregará pesquisas que visem contextualizar e sistematizar análise da produção poética negra sob a ótica de literatura menor, elucidar a emancipação da literatura escritas por mulheres negras, abrir espaço para a discussão sobre lugar de fala e em que contextos tais escritores afro-brasileiros escrevem seus poemas e o lugar que devem ocupar no panorama da literatura brasileira. Em consonância, serão bem vindos trabalhos com enfoque no exame de tendências da poesia afro-brasileira que investiguem temas sobre racismo, violência, sexismo, memória, escravidão, subalternidade, mas que também o negro possa ser visto como sujeito protagonista de sua história e a partir do poema centrar nas escritas de si e do outro. Além desses pontos de debates, abriremos espaços profícuos para abordagens de pesquisas sobre subjetividade e seus desdobramentos nos poemas de autores de portugueses a dos países africanos em língua portuguesa. E na esfera de convergência e tessituras cabem o alargamento para se pensar no lugar do sujeito lírico na poesia contemporânea, com uma leitura da imagem e da chama do erotismo e um olhar de leitmotiv sobre as palavras que remetem diálogo de uma metáfora intertextual. Esperamos receber pesquisadores que se debruçam nos estudos poéticos sobre multifacetados olhares e relações de interartes, metaversos, em todos os veículos de manifestações poéticas, quais sejam: livro, diário, blogs, podcast, jornais, redes sociais e outras intermídias em suas múltiplas experiências e experimentações literárias de mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia; Afro-brasileira; Brasileira; Portuguesa; Africana
CORES DA LITERATURA E DA POLÍTICA: CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
EIXO: TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
SIMPÓSIO: CORES DA LITERATURA E DA POLÍTICA: CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
COORDENADORES:
- Osmar Moreira dos Santos (Universidade do Estado da Bahia (UNEB)) osantos@uneb.br
- Jordi Canal Morell (École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), PARIS) jordi.canal@ehess.fr
RESUMO: CORES DA LITERATURA E DA POLÍTICA: CONEXÕES INTERDISCIPLINARES (simpósio para ABRALIC, 1 a 5/07/2024, UFAM) Jordi Canal (Centre de Recherches Historiques, EHESS – Paris) Osmar Moreira (Pós-Crítica, UNEB – Alagoinhas) A dimensão cromática da literatura e da política transborda por textos e lugares em todos os momentos. Com as cores da literatura se explora sistemas literários (CANDIDO, 1975), representações, formas de interlocução disciplinares e sentidos (BARTHES, 1980); em relação à política, é nomeada, insultada, identificada, marcada, exposta, simbolizada, excitada, comunicada, vendida e vestida (JORDI, 2023). Além de significantes (SAUSSURE, 2016), uma cor é acima de tudo uma ideia, portanto não é um fenômeno natural, mas sim uma construção cultural complexa e um fato da sociedade contemporânea (PASTOUREAU, 2000). Assim, as cores e seus matizes como um significante na literatura, nas artes e na ciência em geral, têm constituído além de um dispositivo de expressão do pensamento (SILVA, 2002) uma categoria teórico-metodológica da maior importância para se enfrentar essa espécie de colapso hermenêutico (ROCHA, 2021) nos tempos atuais dominados por algoritmos, fake news (BARBOSA, 2020) e inteligência artificial. Entre o branco e o preto, o primeiro como tabula rasa e o segundo como ameaça escatológica (DELEUZE, 2007; 2023), parece haver pouco espaço fora do pensamento arborescente (DELEUZE e GUATTARI, 1995) com seus dispositivos de nomeação, suas autoridades abstratas, seus imperativos lógicos e as prescrições de sentidos. Se é assim, a questão que se coloca é: se a percepção artística, cultural e política, nesse estado de coisas, está em perigo, como repensar os valores epistemológicos no âmbito da literatura e da política para que seja possível descrever esse fenômeno contemporâneo e promover outras formas de cientificidade, produção, circulação e interação de saberes. Dito isto, os objetivos desse simpósio são: reunir pesquisadores de todas as áreas para se pensar esse ecossistema das cores e seus impactos na subjetividade, modos de vida e formas de fazer política (CANAL, 2014); contribuir para outras explorações epistemológicas interdisciplinares no âmbito da literatura comparada (SANTOS, 2019) e áreas afins; constituir um acervo relevantes de ideias para expandir os intercâmbios interinstitucionais e suas redes de pesquisadores nacionais e internacionais. Os resultados previstos, a partir desses objetivos, além do aguçamento dos sentidos no âmbito da pesquisa avançada sobre as cores em vários domínios, também a abertura para a circulação e o encontro de outras formas de saber da comunidade científica e popular (SANTOS: 2016; 2021). Sem um trabalho científico interdisciplinar rigoroso, articulado por redes científicas e de práticas comunitárias, não temo como enfrentar e superar essa problemática. Palavras-chave: cores, literatura, política, interdisciplinaridade. REFERÊNCIAS BARTHES, Roland. Aula. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 1980. BARBOSA, Mariana (Org.). Pós-verdade e fake News: reflexões sobre guerra de narrativas. Rio de Janeiro: Cobogó, 2020. CANAL, Jordi. La historia es un árbol de historias: historiografía, política, literatura. Zaragoza: Prensas Universitarias de Zaragoza, 2014. CANAL, Jordi (Ed.). Los colores de la política en la España contemporánea. Madrid-Zaragoza: Marcial Pons-Prensas de la Universidad de Zaragoza, 2022. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 2 vols. São Paulo: Edusp;/Belo Horizonte: Itatiaia, 1975. DA SILVA, João Carlos Salles Pires. A gramática das cores em Wittgenstein. Salvador: Quarteto, 2002. DELEUZE, Gilles. Francis Bacon: lógica da sensação. Trad. Roberto Machado et. al. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. DELEUZE, Gilles. Sur la Peinture: Cours Mars-Juin 1981. Paris: Les Éditions de Minuit, 2023. DELEUZE e GUATTARI. Introdução: rizoma. In: Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Trad. Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995, v.1. PASTOUREAU, Michel. Bleu: Histoire d’une couleur. París: Éditions du Seuil, 2000. ROCHA, João César de Castro. Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político. Goiânia – GO: Caminhos, 2021. SANTOS, Osmar Moreira dos. A luta desarmada dos subalternos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2016. SANTOS, Osmar Moreira dos. Um banquete antropofágico: violência originária e táticas de negociação cultural emergentes no Brasil. Campinas – SP: Mercado de Letras, 2021. SANTOS, Osmar Moreira dos. Platô de crítica cultural na Bahia: por um roteiro de trabalho científico transgressor. In: ATAÍDE, Cleber et al. (Orgs.). Cartogafia GelNE: 20 anos de pesquisa em linguística e literatura, vol. 2. Campinas – São Paulo: Fontes. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006. CONTATOS: Coordenador: Osmar Moreira (Pós-Crítica, UNEB – Alagoinhas) E-mail: osantos@uneb.br /celular: 71 9 9275 7531. Vice-coordenador: Jordi Canal (Centre de Recherches Historiques, EHESS – Paris) E-mail: jordi.canal@ehess.fr / celular: 34 619 72 30 26.
PALAVRAS-CHAVE: cores; literatura; política; interdisciplinaridade
DESDE ENCRUZILHADAS FILOSÓFICAS, LITERÁRIAS E VISUAIS: (RE)TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES ENTRE AMÉRICAS, ÁFRICAS E AMAZÔNIAS
EIXO: TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
SIMPÓSIO: DESDE ENCRUZILHADAS FILOSÓFICAS, LITERÁRIAS E VISUAIS: (RE)TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES ENTRE AMÉRICAS, ÁFRICAS E AMAZÔNIAS
COORDENADORES:
- Amilton José Freire de Queiroz (Universidade Federal do Acre) amiltqueiroz@hotmail.com
- Ezilda Maciel da Silva (Universidade Federal do Pará) ezilda.silva@hotmail.com
- Henrique Silvestre Soares (Universidade Federal do Acre) henrique. Soares@gmail.com
RESUMO: O simpósio pretende promover diálogos entre áreas do saber como Literatura Comparada, Filosofia e Artes Visuais enquanto zonas de conexões interdisciplinares a partir das quais é possível vislumbrar tanto semelhanças quanto diferenças entre obras artísticas pertencentes às diferentes configurações poéticas, epistemológicas e humanas. Para tanto, busca analisar temas, estilos, estratégias e técnicas utilizadas por comparatistas, literatos(as), filósofos(as) e artistas visuais para dimensionar a potência da voz errante, do corpo diaspórico e do olhar nômade nas textualidades artísticas contemporâneas. Parte, ainda, das reflexões sobre as “histórias locais, projetos globais (MIGNOLO, 2003), as “rotas, trânsitos, migrações” (HERRERA, HOISEL, TELLES, 2018) e as narrativas impuras (SOUZA, 2021). Mas também procura dialogar com a transversalidade da Teoria Literária, dos Estudos Culturais e da Geografia Cultural, acolhendo a perspectiva crítico-teórica de Ivete Walty (2012), Homi Bhabha (1998), Edward Said (2005), Stuart Hall (2013), Benjamim Abdala Junior (2012), Tania Carvalhal (2003), Zilá Bernd (2013), Eurídice Figueiredo (2013), Angel Rama (2001), Cornejo Polar (2000), Hugo Achugar (2006), Aníbal Quijano (2000) e Zulma Palermo (2022). O simpósio coloca-se como parte de um processo, sempre aberto, como é da natureza da literatura comparada. Não à toa, procura elaborar debates sobre “raízes e labirinto” (SANTIAGO, 2006), “vestígios memoriais” (BERND, 2014), “Paralelas e tangentes” (SANTILLI, 2003), uma “geocrítica do eurocentrismo” (MATA, 2012), as formulações pós-coloniais (LEITE, 2013) e “os paradigmas críticos e representações em contraponto” (BRUGIONI, 2019) e as pedagogias decoloniais (WALSH, 2013). A diligência crítica proposta aqui quer pensar as obras literárias, em diálogo com outras esferas do conhecimento. Toma como foco, dentre outros aspectos, as seguintes questões: como os(as) narradores(as), artistas visuais e filósofos(as) africanos(as), latino-americanos(as), brasileiros(as) e amazônicos (as) configuram o diálogo entre culturas, linguagens e humanidades nos séculos XX e XXI? Que papel exercem as estéticas do deslocamento nas trocas e transferências culturais, linguísticas, éticas, políticas e visuais? Como interpretar textualidades que têm representado alteridades desviantes e suscitado novas formas de compreensão da literatura, filosofia, artes visuais, sociedade e cultura? Como abordar romances, contos, crônicas, produções cinematográficas, textos filosóficos e artes visuais que, em certa medida, vão na contramão da busca da identidade nacional, bem como interpretar textualidades artísticas e filosóficas marcadas pela prática des(re)territorialização dos saberes interdisciplinares? Ou, ainda, quem são os(as) novos(as) ficcionistas, artistas visuais, filósofos(as) africanos(as), latino-americanos(as), brasileiros(as) e amazônicos(as) que estariam promovendo novas leituras dos contatos coloniais, pós-coloniais e decoloniais? Que espaços as textualidades artísticas têm ocupado na cena crítico-teórico-comparatista-filosóficas-visuais? Que posicionamentos a crítica pode adotar diante destas textualidades que elegem a montagem, o recorte, as imagens e a citação como formas discursivas tão díspares? Silviano Santiago (2002) desenvolve também uma argumentação sobre a relação entre viagem, sociedade, visualidade e literatura. Para o crítico, “os europeus viajam por que são insensíveis aos seus, porque não tem o alto senso de justiça” (p. 225). A interface entre cultura, sociedade e imaginário está ali, porém não é vista, reconhecida e vivida, sendo negada para dar lugar a construção do espelho da Europa no Novo Mundo, a propagar a fé do Império como instrumento de negação dos valores do outro, indígena, negro, feminino, sequestrar o código linguístico deste último e instituir uma prática etnocêntrica para falar pelo outro e em nome dele. Nesse sentido, pretende-se, neste simpósio, dialogar com a “Literatura brasileira contemporânea” (DALCASTAGNÈ, 2012), estudar “A literatura afro-brasileira: abordagens em sala de aula” (DUARTE, 2019), investigar as “Poéticas indígenas: lugar, identidade e memória” (GRAÚNA, 2015), discutir a leitura da “Literatura como arquivo da ditadura brasileira” (FIGUEIREDO, 2017) e ampliar as lições de “Literatura Comparada e Literatura Brasileira: circulações e representações” (JOBIM, 2020). Eis alguns dos horizontes de interesse que orientam, portanto, a concepção, proposição e concreção deste simpósio, para o qual convidamos pesquisadores e estudantes de pós-graduação a refletir sobre as interfaces entre Literatura Comparada, Filosofia e Artes Visuais. O simpósio pretende ser um espaço para reconhecer que “a literatura comparada sempre teve como objeto produtos literários, e por extensão culturais, distintos, caracterizando-se como o estudo dos contatos, trocas, intercâmbios e embates entre tais produtos”, para irmos na direção de Eduardo Coutinho (2006, p. 218). Enfim, esperamos forjar uma rede de reflexão que permita cartografar as encruzilhadas, as travessias e as poéticas dialógicas entre Literatura Comparada, Filosofia e Artes Visuais, (re)tecendo conexões entre Américas, Áfricas e Amazônias neste XIX Encontro da Abralic, sediado na Universidade Federal do Amazonas, agora em 2024.
PALAVRAS-CHAVE: Encruzilhada; Conexões, interdisciplinaridade; Saberes
LITERATURA EM PERSPECTIVA SEMIÓTICA E FILOSÓFICA: EXPERIÊNCIA E SENTIDO EM SEMIOSE
EIXO: TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
SIMPÓSIO: LITERATURA EM PERSPECTIVA SEMIÓTICA E FILOSÓFICA: EXPERIÊNCIA E SENTIDO EM SEMIOSE
COORDENADORES:
- Josivan Antonio do Nascimento (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano) josivan.nascimento@ifsertao-pe.edu.br
- Feliciano José bezerra filho (Universidade Estadual do Piauí) felicianofilho@uol.com.br
- LUIZIR DE OLIVEIRA (Universidade Federal do Piauí) luiziroliveira@gmail.com
RESUMO: A particularidade das experiências afetiva, estética, filosófica e semiótica resultante da leitura de uma obra literária se constitui por meio do processo filosófico de semiose que os signos linguísticos estabelecem com a materialidade do texto e a consciência do leitor. Alinhados à filosofia-semiótica de Charles Sanders Peirce (2010), entendemos aqui por semiose na literatura o fluxo de signos movimentando-se no instante em que se atravessa as diferentes experiências de leitura. É esta motricidade que fundamenta as relações transuasivas que se estabelecem entre obra, objeto retratado e experiência de leitura pondo isso em semiose com o mundo, o que se assemelha, de certa maneira, à ideia de obra aberta defendida por Umberto Eco (2015). A percepção e apreensão do fenômeno literário não carecem ser reduzidas à experiência de leitura singularizada, pois não se deve descartar a possibilidade de certos textos revelarem objetos que transbordam o faneron de um leitor. O conceito de faneron, conforme descreve a teoria de Peirce (2010, CP. 1931-1958, 8 vols.), refere-se ao que, de alguma maneira ou em algum sentido, apresenta-se como ser-estar para a mente, mesmo que haja ou não uma conexão disso com a realidade. Partindo desse contexto, qual efeito de sentido pode ser revelado a partir da particularidade filosófica do processo de semiose na obra literária? De que maneira os sentidos sensoriais retratados pelo eu que se expressa na obra possibilitam compreender e problematizar as questões existenciais e filosóficas que constituem o universo literário? Quais são as fronteiras de faneron existentes entre a experiência do eu literário com o faneron do eu leitor? Ressaltamos que a investigação semiótica por tal sentido deve abranger um modo de leitura filosófica que perpassa a relação icônica, obsistente e transuasiva produzida pela obra. A iconicidade resulta de relações de semelhanças que os signos apresentam entre si por meio de possibilidades qualitativo-positivas. Trata-se de uma categoria de signo que deve ser entendida dentro do que Peirce considera como Primeiridade (Firstness). É neste eixo que podemos observar como a poesia e a prosa podem criar imagens e ações que, de certo modo, se alinham de maneira que fundamentam o objeto e a intensão da obra como um todo. A obsistência abrange as relações de causa e efeito, ação e reação estabelecidas entre signo e objeto. Trata-se da categoria de signos que pertence ao nível da Secundidade ou Segundidade (Secondness), tal como prefere traduzir Ivo Assad Ibri (2015, 2020, 2021). Este nível possibilita examinar as relações de interdependência que o processo de iconicidade pode implicar para o universo da obra. Por fim, a transuasão corresponde ao processo que produz a semiose entre signo, objeto e interpretante a partir da mediação. Trata-se da categoria de signo que se refere ao nível da Terceiridade (Thirdness) de acordo com o modelo teórico de Peirce. A partir destes três perfis de classificação da relação entre os signos, torna-se possível analisar os efeitos de sentidos resultantes da semiose entre obra, objeto retratado e experiência leitora. A aproximação dos objetos fundantes da obra parte da semiose que se constitui entre os sentidos sensoriais do eu literário com a sensibilidade de apreensão empregada pelo leitor. Tudo isso se torna fundamental para determinar as particularidades afetivas, estéticas, filosóficas e semióticas que a literatura pode proporcionar à experiência de leitura. E diante da natureza da linguagem literária, que se caracteriza pela invenção constante de formas, sob a mobilidade do código verbal, a semiótica buscará a transformação do simbólico (a palavra) em ícone, buscará os meios pelos quais a obra literária presentifica seu objeto, distinguindo assim o fenômeno poético. A abordagem semiótica contribuirá para a literatura, na medida em que busca compreender a construção da semioticidade da linguagem literária. E como afirma Décio Pignatari (2004), a importância da semiótica para o estudo da literatura está justamente na capacidade mais clara que a semiótica tem de situar o signo verbal em relação aos demais signos, atestando assim seu sistema analítico para a compreensão do fenômeno literário. Com base no que propomos, encorajamos a submissão de trabalhos que abordam algumas das questões apresentadas anteriormente em obras literárias nacionais e/ou internacionais, sem distinção de abrangência temática, por meio de uma experiência de leitura e análise embasada em perspectivas filosófico-semióticas, especialmente no âmbito teórico que se alinha à obra de Peirce.
PALAVRAS-CHAVE: literatura; semiose; experiência leitora; sentido
NOS LIMITES DA ADAPTAÇÃO: ARQUIVOS DE LITERATURA, CINEMA E OUTRAS ARTES
EIXO: TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
SIMPÓSIO: NOS LIMITES DA ADAPTAÇÃO: ARQUIVOS DE LITERATURA, CINEMA E OUTRAS ARTES
COORDENADORES:
- Maria Gabriella Flores Severo Fonseca (Universidade Federal do Amazonas) gabriellafloress@hotmail.com
- Roberto Medina (Universidade de Brasília) prof.medina@gmail.com
- Serge Dominique Margel (Universidade de Neuchâtel) margelserge@gmail.com
RESUMO: Sabe-se que a literatura possui uma linguagem própria, uma gramática especi?fica e um campo de competência auto?nomo, mas pode, sobretudo, ser vinculada a outras artes (cinema, música, teatro, pintura, arquitetura ou fotografia). Essa inter-relação das artes cria um novo tipo de documento ou arquivo, uma nova consideração da memo?ria e uma relação diferente com a realidade. E? isso que gostaríamos de desenvolver neste simpósio: a interação da literatura com as outras artes, que produzem uma espécie de arquivo sui generis, histórico e este?tico. Esses novos arquivos, por um lado, transformam a relac?a?o com os objetos e obras que retomam ou reescrevem e, por outro, abrem questo?es metodolo?gicas e epistemolo?gicas relativas aos seus usos e respectivos contextos. Arquivos literários ou artísticos na?o sa?o objetos abstratos ou intangi?veis e na?o constituem uma massa inerte de declarac?o?es, imagens ou documentos ano?nimos. Ao contrário, esta?o vivos e, constantemente, organizam-se e reorganizam-se. Eles sa?o o tema de uma obra quase infinita de reescrita. Devem, portanto, ser entendidos como objetos em transformac?a?o, como efeitos de reescrever, retrabalhar ou citar. Esses arquivos fazem parte de uma determinada construc?a?o discursiva, que conte?m um real poder de criac?a?o. Inventam uma nova forma de produzir memo?ria, capaz de inaugurar o pro?prio acontecimento que arquivam. Para Derrida (2001), em "Mal de arquivo", o "terremoto arquivi?stico" produz efeitos hipomnésicos, ou seja, a estrutura te?cnica do arquivo determina o conteúdo arquivável em seu pro?prio surgimento e em sua relac?a?o com o futuro. O arquivamento produz tanto quanto registra o evento. Esta abordagem permite repensar as ligac?o?es entre literatura, cinema e arquivo. As obras, sejam literárias ou cinematográficas, já na?o conte?m arquivos, que os mostram ou comentam, mas tornam-se elas pro?prias arquivos pelo pro?prio processo da sua produc?a?o. Atualmente, observa-se uma poli?tica de abertura por parte das instituic?o?es culturais a respeito do estudo dos arquivos devido ao poder poli?tico que podem exercer sobre a compreensa?o da realidade, da sociedade e da escrita da histo?ria. Trata-se, portanto, de estender o campo epistemolo?gico dos arquivos para ale?m do quadro historiográfico, para colocá-lo no domi?nio da este?tica e, assim, repensá-lo do ponto de vista de uma histo?ria literária e artística. Os arquivos deixaram de ser meros documentos úteis para a historiografia, que se reduziriam a uma primeira informac?a?o ou primeiro passo de um processo de demonstrac?a?o. Pelo contrário, permitem considerar o tempo dessas obras na sua relac?a?o com o presente, com a experie?ncia, com o conhecimento, mas tambe?m com o sujeito que ve? e mostra o que ve?. Na?o há histo?ria das artes sem uma histo?ria dessa perspectiva arquivi?stica e de sua formac?a?o arti?stica. No campo das reescritas entre literatura e cinema, as práticas de adaptação oferecem um campo favorável para pensar as ligac?o?es arquivi?sticas . A adaptac?a?o, em muitos casos, tem sido pensada segundo uma relação de hierarquia, prioridade, fidelidade, semelhanc?a, na qual e? sempre o cinema que adapta uma obra literária pre?-existente e na?o o contrário. Porém, sabe-se que essa percepção contempla apenas parcialmente a realidade, pois hoje acontece, inclusive, o movimento contrário, quando a literatura “reescreve” uma obra cinematográfica, produzindo uma adaptação literária do audiovisual. Além disso, os estudos sobre adaptação têm revelado que esses produtos adaptados não possuem menor relevância cultural, mas devem ser compreendidos como releituras de um outro autor, nesse caso, o cineasta, que vai dar o seu toque pessoal a uma obra já conhecida. Assim, intercruzam-se vários processos de escrita e reescrita, nos quais não se têm uma hierarquia, mas uma relação entre linguagens, objetos, ideias e expectativas do público. Embora heterogêneas, literatura e cinema cruzam-se, confrontam-se e até mesmo complementam-se em sua alteridade. Dessa forma, ao mesmo tempo que algo se destrói ao passar de uma escrita para outra, tem-se um ganho mútuo para essas duas linguagens: literária e fílmica. Temas, personagens e narrativas circulam entre romances e filmes, mas, ao mesmo tempo, rompem com as leis do gênero. Com base nessas reflexões, nesse simpósio, espera-se receber propostas de comunicação que articulem as discussões sobre as relações estabelecidas entre os arquivos artísticos, como os de literatura, cinema e literatura e outras artes em geral. Serão bem-vindos proposituras que articulem esses temas segundo as mais diversas correntes teóricas, sejam dos estudos sobre intermidialidade (DINIZ; VIEIRA, 2012), relações interartísticas (CLÜVER, 1997), com foco na própria teoria do cinema (STAM, 2003) e da adaptação (HUTCHEON, 2013) ou, ainda, outras que possam abranger as investigações no campo das relações entre a literatura, o cinema e outras artes.
PALAVRAS-CHAVE: Estudos de adaptação; Intermidialidade; Relações interartísticas; Audiovisual; Tendências contemporâneas
PENSAR COM AS PLANTAS
EIXO: TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
SIMPÓSIO: PENSAR COM AS PLANTAS
COORDENADORES:
- Fabricia Walace Rodrigues (Universidade de Brasília) fabriciawalace@gmail.com
- Allison Marcos Leão da Silva (Universidade do Estado do Amazonas) allisonleao@uea.edu.br
- Anne Louise Dias (Universidade de Brasília) anne.ldias@gmail.com
RESUMO: A botânica moderna tem se esforçado em convocar os humanos a um olhar diferenciado para as plantas, propondo a observação atenta de viventes tão diferentes de nós, a partir exatamente de sua alteridade. Stefano Mancuso, um dos principais nomes dessa nova corrente, chama a atenção para a composição corporal das plantas, tão diversa da dos animais: “De fato, nossa única ideia de vida complexa e inteligente corresponde à vida animal; e como, inconscientemente, não encontramos nas plantas as características típicas dos animais, nós as catalogamos como passivas (justamente, “vegetais”) negando-lhes quaisquer habilidades típicas de animais, do movimento à cognição. É por isso que, olhando para qualquer planta, devemos sempre lembrar que estamos observando algo construído sobre um modelo totalmente diferente do animal” (MANCUSO, 2019, p. 94). Com efeito, o conhecimento humano parece ter se voltado continuamente para a busca de semelhanças com um padrão que não era outro senão o de seu próprio corpo e mecanismos de funcionamento. Várias publicações recentes acerca do reino vegetal evidenciam que certa cegueira seletiva dificultou a percepção da importância das plantas para além de um ponto de vista utilitarista (BRAIDOTTI, 2015) e ou exploratório (SHIVA, 2016). A própria noção de “vegetal” assume um caráter pejorativo ao longo dos anos. Em diferentes línguas latinas, consta o adjetivo “vegetativo” caracterizado para designar limitação de vida ou mobilidade, especialmente em expressões como “estado vegetativo” ou “vida vegetativa”, ou ainda o sentido figurado do substantivo “vegetal”: denotando imobilidade atrelada à ausência de consciência de si e do espaço em torno. Essa carga semântica vai exatamente na contramão do que a origem da palavra indica – vegetus: ‘vigoroso, robusto, bem-disposto’. Para além desse termo mais específico, muitas expressões relacionadas ao reino vegetal merecem uma reflexão mais aprofundada, como é o caso de “meio ambiente”, que, se olhada mais atentamente, revela a pretensão de centralidade do humano, que se pensa e se vê rodeado pelos outros viventes, em um espaço fora de si e com o qual não estabelece forçosamente uma relação de interdependência, assumindo, assim, uma posição hierarquicamente superior (FERDINAND, 2022). Ou mesmo a própria ideia de uma dada “preservação da natureza”, em que se pode ler uma “natureza” desligada do humano (e, nesta esteira, tudo que for “natural” se contrapõe ao “civilizado”), cujas supostas fragilidade e vulnerabilidade demandam nosso cuidado benevolente – sem um olhar crítico que suponha que talvez a natureza não dependa da ação humana para se regenerar (será que não deveríamos defender a preservação dos humanos?). Para Ailton Krenak, essas expressões causam verdadeiro estranhamento, uma vez que, do ponto de vista indígena, não há que se pensar em tal cisão entre humanos e aquilo que se chama natureza: “Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza” (KRENAK, 2019, p. 16-7). Como demonstra Philippe Descola ao apontar a instabilidade do clássico par opositivo natural x cultural, na cosmogonia de uma parcela significativa de povos nativos – como para os Yanomamis, conforme descrevem Davi Kopenawa e Bruce Albert (2018) –, não há separação demarcada entre o humano e os demais viventes, sejam eles animais, vegetais ou outros – somos todos parte de um todo orgânico vivo e pulsante, embora cada ser assuma morfologias e perspectivas diversas. Neste todo orgânico e vivo, faz-se necessário um pensar em rede vegetal, ou melhor, em raiz (a própria base das plantas), ou seja, um pensar unificado com as plantas, com as florestas. Fortalece-se assim uma oralidade, uma escrita, uma leitura, vegetais: “[...] são as próprias plantas que têm algo a nos dizer, com suas vozes e escritas vegetais.” (NASCIMENTO, 2021, p. 21) Em vista disso, o simpósio Pensar com as plantas propõe colocar em discussão os principais representantes do novo cenário científico e filosófico acerca do reino vegetal e a produção literária feita com e sobre as plantas. O objetivo se volta a traçar possibilidades de pensar fora dos enquadramentos antropocêntricos que impediram por tantos anos o desenvolvimento de uma compreensão mais aprofundada do mundo vegetal (DOS SANTOS, 2023) e, por extensão, daquilo que se costuma chamar de “natureza”. Sendo assim, sugerimos algumas entradas de aproximação do mundo vegetal, sem estarmos restritos a elas. Demais ideias serão bem-vindas. - Novas narrativas vegetais: uma nova literatura que se faz com as plantas - Colaboração como estratégia de sobrevivência: aprender com os seres vegetais - Mobilidade x deslocamento: o que as plantas podem ensinar sobre movimento às artes e à literatura? - O tempo vegetal: a latência, a lentidão, a arborescência - O espaço vegetal: crescimento vertical, redes interrelacionais - Plantas e Antropoceno: saídas possíveis - Como ultrapassar a oposição entre natureza e humano? - Para além de uma visão utilitarista das plantas: outras formas de conviver com os vegetais
PALAVRAS-CHAVE: plantas; vegetal; não-antropocêntrico
POESIA LÍRICA E POESIA HAICAÍSTA: ORIENTE E OCIDENTE EM CONTEXTO
EIXO: TECENDO CONEXÕES INTERDISCIPLINARES
SIMPÓSIO: POESIA LÍRICA E POESIA HAICAÍSTA: ORIENTE E OCIDENTE EM CONTEXTO
COORDENADORES:
- Cacio José Ferreira (Universidade Federal do Amazonas) caciosan@ufam.edu.br
- Norival Bottos Júnior (Universidade Federal do Amazonas) norivalbottos@ufam.edu.br
- Kélio Júnior Santana Borges (IFG) kelio.borges@ifg.edu.br
RESUMO: Há um imperativo na arte que nos diz que a vida não é suficiente, embora a vida como obra de arte também não tenha dado, historicamente, bons resultados. A poesia é um constructo dos mais antigos e sua forma de representação tem sido bastante relevante como meio de reflexão sobre a vida, é seu devir que tudo seja mimetizado pela linguagem. A não ser que o mundo entre em estado de êxtase contínuo, haverá a linguagem artística para mediar essas duas partes do indefinido no homem, o indizível e o inaudito. Nós utilizamos a linguagem no cotidiano, mas seu uso não cessa de fazer calar na linguagem aquilo que há de essencial na experiência humana, mas a literatura e especialmente, a poesia lírica, como já disse o filósofo alemão Martin Heidegger, é uma forma de tornar imediato aquilo que não está presente na vida, a partir então da experiência da poesia, a linguagem pode se renovar em seu estar-aí no mundo. A literatura precisa lançar seu olhar para o mundo não como uma descoberta, mas como uma gratidão. Tal procedimento, se quisermos pensar a prática poética realmente efetiva, precisa ganhar forma na potência do ato criativo, que a poesia, a partir de suas imagens que a tradição nos outorga. A experiência poética surge das necessidades mais primitivas, como sugere Octávio Paz, em "O Arco e a Lira". Trata-se de uma experiência que funda sua própria singularidade. Daquilo que se pode chamar de experiência plural já não se pode mais chamar de prática poética, mas de pluralismo estético, que é a essência do novo, isto acontece porque não há prática que não seja fundada numa experiência radical do pensamento, por isso nào se sofre ao buscar o novo, não há ruptura e, na verdade, é bem provável que não haja sequer pluralismo no plural, como sugere Giorgio Agamben, quando refletindo sobre o que de fato é o contemporâneo, se encaminha para a poesia lírica contemporânea, para o filósofo italiano, a condição pós-moderna na poesia lírica, de um modo geral, instala e depois subverte aquilo que, não podendo assumir para si de modo conclusivo a autoria, torna-se o para-si de si-mesmo. O haiku ou haicai, como é conhecido no Brasil, é um estilo poético presente no Japão, tendo a aura de sua gênese desde os tempos clássicos. O conceito que o define geralmente debruça-se no instante poético que é cristalizado no poema. Octavio Paz, por exemplo, o destaca como a conversão de uma anotação rápida, ou seja, “verdadeira recriação – de um momento privilegiado: exclamação poética, caligrafia, pintura e meditação, tudo junto” (1995, p. 40). Curiosamente, até hoje, os poemas com teor ligado à natureza configuram-se como uma constante entre os japoneses praticantes do gênero poético. Tal herança aporta-se em terras brasileiras por meio da tradução francesa e da imigração japonesa. Concernente ao haiku, um dos critérios para classificá-lo na categoria de acordo com a construção tradução herdada de Matsuo Bashô e Masaoka Shiki é a presença de elementos da natureza que represente a estação do ano, denominada de kigô, ou seja, temporalidade pontuada por uma estação do ano. No Brasil, embora não haja esse mesmo desdobramento, os haiku produzidos pelos imigrantes e seus descendentes seguem o critério tradicional, mas adaptado à realidade do lugar. Na Amazônia, por exemplo, na cidade Tomé-Açu no estado no Pará, a produção de pimenta-do-reino representou o sucesso econômico nos anos 50, e os haiku produzidos pelos imigrantes descrevem a plantação de mudas de pimenta, a flor da pimenta, os pimentais, a vila de pimenta, o amadurecimento e a colheita de pimenta, a decadência da produção de pimenta, que associam temas sociais, econômicos, históricos e culturais, trazendo à tona as reminiscências de um tempo que marcou significativamente a colônia japonesa da região de Tomé-Açu. A paisagem do lugar torna-se singular na elaboração poética, evidenciando a necessidade de vivência para transpor para a poesia. Diante desse cenário, o presente simpósio tem como objetivo reunir trabalhos e pesquisas que abordem questões relacionadas ao estudo poético do haicai japonês ou suas ramificações pelo mundo, das relações entre imagens, paisagens e estética haicaísta na contemporaneidade, a poética do haicai como efeito imagético que tece a paisagem em camadas. Assim, as discussões propostas para o simpósio podem trazer à baila novas substâncias do real no campo da representação e na ressonância do haiku, que perpassa entre a imagem, a paisagem, a palavra como força imagética que produz nova substância.
PALAVRAS-CHAVE: poeisa lírica; Haiku; imagem; instante poético
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A PERSPECTIVA COMPARATISTA NA LITERATURA DE EXPRESSÃO PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA
- Mônica Maria Feitosa Braga Gentil (Universidade Estadual do Piauí) - monicagentil@pcs.uespi.br
- Maria Luísa de Castro Soares (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) - lsoares@utad.pt
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MACHADO DE ASSIS: FONTES PRIMÁRIAS E RELAÇÕES INTERTEXTUAIS
- GERMANA MARIA ARAÚJO SALES (UFPA/CNPq) - gmaa.sales@gmail.com
- Juracy Ignez Assmann Saraiva (Universidade Feevale) - juracy@feevale.br
- VALDINEY VALENTE LOBATO DE CASTRO (UERJ) - valdineyvalente@hotmail.com
A PERSPECTIVA COMPARATISTA NA LITERATURA DE EXPRESSÃO PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA
EIXO: DESVENDANDO TEORIAS E MÉTODOS
SIMPÓSIO: A PERSPECTIVA COMPARATISTA NA LITERATURA DE EXPRESSÃO PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA
COORDENADORES:
- Mônica Maria Feitosa Braga Gentil (Universidade Estadual do Piauí) monicagentil@pcs.uespi.br
- Maria Luísa de Castro Soares (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) lsoares@utad.pt
RESUMO: Este simpósio inscreve-se na proposta do XIX Encontro ABRALIC. Encontros, reescrituras, traduções, paródias, convergências e contingência traçaram inéditos percursos transoceânicos pela literatura e pela arte contemporânea luso – afro - brasileira. Como se sabe no século XX, assim como na primeira parte do XXI, o conceito de experiência tem sido retomado e revisitado mais de uma vez, abrindo-se para novas leituras. Nessa perspectiva, no âmbito de uma tradição plurissecular de trocas culturais e fluxos literários entre Portugal, Brasil e África, o simpósio quer abrir para reflexões sobre a elaboração de textualidades novas, inevitavelmente excêntricas em relação aos cânones nacionais, derivadas do encontro (mais ou menos direto) e do amálgama fruto das intersecções entre culturas, agregar estudos teóricos e analíticos que estejam debruçados sobre narrativas da contemporaneidade, desenhando um amplo espectro da diversidade e da multiplicidade de obras, tendências e abordagens, além de receber trabalhos para comunicação que tratem de temas e estratégias recorrentes nas obras literárias produzidas em Portugal e/ou países de língua portuguesa no final do século XX ao XXI quer sejam: a releitura da tradição, a consciência crítica sobre o estatuto do fazer artístico, a hibridização entre os gêneros tradicionais, o lugar ocupado pelo artista. Na verdade, percebe-se que o comparatista fixa, no cruzamento e transgressão das fronteiras, a difícil tarefa de pensar as relações que ora se confrontam neste momento extremamente instável e impreciso da contemporaneidade, no qual se modificam não apenas o perfil cartográfico dos países, mas, também, as relações sociais, econômicas e afetivas. Quanto ao texto, a literatura faz-se lugar de transformações na figura da personagem, do narrador, do tempo e do espaço enquanto elementos essenciais da narrativa permeada pela intertextualidade, de acordo com Reis (2006), e graças à expressão fabuladora do artista que experimenta sua própria inserção na obra literária. A análise comparada permite assim identificar diferenças e traçar peculiaridades, alertando para que se evitem os paralelismos falseados que aproximam mais do que distinguem. A confrontação textual, como prática indispensável, ajuda ao crítico compreender que a osmose dos gêneros, de obras ou de atitudes mentais pode ser mais frequente entre literaturas não necessariamente fronteiriças, mas a outras, mais distantes mas de influxo mais efetivo e prolongado. O estudo comparado recupera, no duplo movimento de agregação e de desagregação, o drama mesmo das nacionalidades de língua portuguesa. É, enfim, na análise da constituição das fronteiras que ele percebe as modalidades através das quais os dois povos peninsulares se afastam um do outro. Na era da velocidade e dos inúmeros deslocamentos (de sentidos, valores, identidades), a fabulação de episódios descontínuos, heterogêneos e fragmentados aponta para a ultrapassagem do tempo das grandes narrativas norteadas pela abrangência da totalidade. Leyla Perrone-Moisés (2016) observa que a literatura contemporânea é um olhar para o passado que se configura como ?citação, reescritura, fragmentação, colagem, metaliteratura, não podendo, nesta perspectiva, ser concebida como de vanguarda, mas, sim, ao modo de narrativa tardia. Dentro dessa pauta, vê-se que o próprio ato de “diluição e cruzamento” de fronteiras promove a ampliação dos horizontes da Literatura Comparada de forma a questionar os limites disciplinares, teóricos e metodológicos. Essa ampliação, que corresponde a mudança de paradigmas e que provocou diversas alterações metodológicas na disciplina, pode ser observada, principalmente na diluição das fronteiras disciplinares, reforçando a ideia segundo a qual, a Literatura Comparada tem, na interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, sua marca registrada. Neste sentido, no Simpósio “A perspectiva comparatista na literatura de expressão portuguesa contemporânea” serão aceitos trabalhos que visem à discussão da atualização de temas nas obras do período delimitado sob os pontos de vistas da intertextualidade, do cânone, da experimentação e do comparatismo, de onde possam advir contribuições que fomentem a discussão a partir dos múltiplos olhares dos pesquisadores envolvidos, além de agregar e entrecruzar experiências brasileiras e estrangeiras em que pese à possibilidade de divulgar os estudos culturais e literários no âmbito dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). A proposta deste Simpósio versa sobre estudos direcionados ao campo de da pesquisa em Literatura Comparada por esta oferecer liberdade de interpretação, considerando-se seus múltiplos potenciais (artístico, simbólico e histórico), mediante o contato com o texto, que a precede. Porém, ao lado dessa liberdade, existem riscos pelos quais o crítico passa, munido de experiências anteriores de leitura em um território desconhecido: o texto literário. Nesse sentido, a Literatura Comparada é uma forma específica de interrogar os textos literários em interação com outros textos, em uma perspectiva de dialogicidade, em busca de alcançar os objetivos a que se sugere. Segundo Nitrini (2015), ela emerge com o próprio surgimento da literatura, pois, ao existirem duas literaturas, começa-se a comparação entre as mesmas. Longe de desejar demarcar novos limites para um debate conceitual ainda bastante divergente, fragmentado e provisório, opta-se pelo uso do qualificativo ? contemporâneo para se referir à produção ficcional dos séculos XX e XXI.
PALAVRAS-CHAVE: Estudos Comparatistas. Literatura Contemporânea. Literaturas de Língua Portuguesa. Intertextualidades.
MACHADO DE ASSIS: FONTES PRIMÁRIAS E RELAÇÕES INTERTEXTUAIS
EIXO: DESVENDANDO TEORIAS E MÉTODOS
SIMPÓSIO: MACHADO DE ASSIS: FONTES PRIMÁRIAS E RELAÇÕES INTERTEXTUAIS
COORDENADORES:
- GERMANA MARIA ARAÚJO SALES (UFPA/CNPq) gmaa.sales@gmail.com
- Juracy Ignez Assmann Saraiva (Universidade Feevale) juracy@feevale.br
- VALDINEY VALENTE LOBATO DE CASTRO (UERJ) valdineyvalente@hotmail.com
RESUMO: O simpósio insere-se no eixo “Desvendando teorias e métodos” e enfoca fontes primárias referentes à produção literária de Machado de Assis, visualizando-as como manifestação da reflexão crítica do escritor ou materialidades que circundam seu fazer literário. A diversidade de fontes passíveis de análise e sua expressão em variados discursos promovem a convergência de saberes e métodos e definem a necessidade do estabelecimento de conexões interdisciplinares, sem ignorar a natureza do objeto deste simpósio: estudo de fontes primárias. Essa valorização de fontes primárias revela-se como um conceito operatório para a leitura de autores do passado ou do presente, processo que se beneficia dos recursos digitais da atualidade, pela facilidade que oferecem para a reunião de acervos e para seu inventário. No âmbito das Letras, fontes primárias são vestígios que apontam para eventos que circundam a institucionalização da literatura. São traços da vida de um escritor, da vida de sujeitos históricos, um leitor, um crítico, relacionados a eventos literários. São, também, rastros do processo da produção e da recepção de uma obra, deixados por escritores, editores e livreiros, jornalistas, críticos e professores. Dessa forma, abrangem todos os agentes e objetos ligados à gênese e ao destino da literatura, numa dimensão em que passado e presente tanto se afastam como se misturam. Uma condição, entretanto, agrega essa multiplicidade de aspectos e de agentes. Trata-se, segundo Maria da Glória Bordini (2004), da primeiridade, ou seja, as fontes primárias devem ser de primeira mão, produto da ação de uma das esferas envolvidas no sistema, de modo que possam testemunhar o momento e o espaço de um determinado evento, de modo fidedigno. A singularidade da fonte não exige que ela seja única, tampouco que ela seja espontânea. Ela pode ter versões múltiplas, como vários exemplares da primeira edição de uma obra, cópias de um mesmo negativo fotográfico, reproduções fotográficas ou fônicas ou digitais os quais constituem fontes primárias, atuando como indícios do fato que materializam. Além disso, como objetos ou produtos humanos podem ser não-intencionais ou planejados, encomendados ou produzidos a força, visto que a espontaneidade não é uma exigência concernente às fontes primárias. Na pesquisa literária, a primeiridade das fontes pode conjugar-se a uma corrente de dados, de elos associativos, que, dispersando-se como constelações que se movem no espaço-tempo, fornecem informações e abrem novas sendas de leitura (Bordini, 2004). Nessa corrente de elementos associativos, a fonte primária relaciona-se com as linguagens e faz emergir a força dos cruzamentos de textos, o processo da intertextualidade. Entretanto, essa abertura ao diverso e, muitas vezes, divergente, não torna os acervos caóticos, pois, em sua organização sistêmica, um documento chama o outro sem que exista necessariamente uma relação direta ou hierárquica entre eles, e os resultados do objeto de estudo ganham em precisão e abrangência (BORDINI, 2004, p.2). Esses pressupostos orientam a concepção do presente simpósio que acolhe comunicações que tenham fontes primárias referentes a Machado de Assis como corpus, com o intuito de melhor conhecer a obra do escritor brasileiro e o contexto cultural de sua produção e recepção. A temática justifica-se, pois, segundo Lúcia Granja, “apesar de a obra de Machado de Assis ter inspirado as mais variadas leituras críticas em sua longa e vasta recepção, o saber produzido sobre o escritor e sua obra está longe de conhecer satisfatoriamente as interpretações decorrentes da materialidade da inscrição e da transmissão de seus textos (Granja, 2023, p. 104). Diante do exposto, as comunicações podem optar pela análise de romances e contos, cuja reescrita permite o confronto com a obra original; pela exposição de poemas, de crônicas, de textos críticos, ainda não integrados à fortuna crítica do escritor; pela elucidação de documentos e de correspondências inéditas. Publicações em jornais, fotos, comentários sobre Machado, que preservem a singularidade, também são acolhidos como corpus do simpósio, salientando-se, ainda, o cruzamento dessas fontes com outros textos, por meio da prática intertextual. Portanto, o simpósio também sublinha o uso que Machado de Assis faz da intertextualidade, procedimento que atribui ao leitor uma atuação importante na compreensão das obras, seja pelo estabelecimento dos vínculos significativos com outros textos, vistos com fontes, seja pela análise crítico-interpretativa das reflexões que o escritor inclui em sua produção. Em síntese, o simpósio divulga estudos que exploram fontes primárias, contribuindo para a representação da imagem do escritor, sublinhando a importância teórica do enfoque e ressaltando a possível renovação das temáticas voltadas para as obras de Machado e para o sistema da literatura brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; fontes primárias; enfoque teórico-crítico; renovação temática.
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A NOVA LITERATURA: CULTURA, SOBERANIA NACIONAL E MULTIPOLARIDADE
- Luis Eustáquio Soares (Universidade Federal do Espírito Santo) - luis.soares@ufes.br
- Luis Alberto Alves (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - aalves@uol.com.br
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ESCRITAS E VIDAS CONTEMPORÂNEAS: INCURSÕES, AVALIAÇÕES E DESAFIOS AO COMPARATIVISMO
- Adeítalo Manoel Pinho (Universidade Estadual de Feira de Santana) - adeitalopinho@gmail.com
- MARIA DE FÁTIMA GONÇALVES LIMA (PUC-Goiás) - fatimma@terra.com.br
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MODERNIDADE, PROGRESSO E DESAFIOS SOCIAIS NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA AMAZÔNICA: MANAUS NA VANGUARDA
- FRANCISCO DOS SANTOS NOGUEIRA (Perfor/Ufam) - francisnogueira2013@gmail.com
- Hydelvidia Calvalcante (UFAM) - hydelvidia@bol.com.br
- OSMANDO JESUS BRASILEIRO (Universidade do Estado do Amapá (UEAP)) - osmando.brasileiro2016@gmail.com
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RASTROS DO PASSADO RECENTE NO TEMPO DO AGORA
- Edu Teruki Otsuka (Universidade de São Paulo) - eduotsuka@usp.br
- ACAUAM SILVÉRIO DE OLIVEIRA (Universidade de Pernambuco) - acauam@gmail.com
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TEMAS, FORMAS E OBSESSÕES DO ROMANCE PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
- Pedro Fernandes de Oliveira Neto (UFRN) - pedro.letras@yahoo.com.br
- Jonas Jefferson de Souza Leite (Universidade Federal de Pernambuco) - jonasleite@hotmail.com
A NOVA LITERATURA: CULTURA, SOBERANIA NACIONAL E MULTIPOLARIDADE
EIXO: ENFRENTANDO DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
SIMPÓSIO: A NOVA LITERATURA: CULTURA, SOBERANIA NACIONAL E MULTIPOLARIDADE
COORDENADORES:
- Luis Eustáquio Soares (Universidade Federal do Espírito Santo) luis.soares@ufes.br
- Luis Alberto Alves (Universidade Federal do Rio de Janeiro) aalves@uol.com.br
RESUMO: Para Félix Guattari e Suely Rolnik, em Micropolítica: cartografia do desejo (1986, p. 15), “o conceito de cultura é profundamente reacionário (1986, p.15), se pensado e vivido como esfera autônoma, inclusive sob o ponto de vista das diferentes formas de cultura, como alma de um povo, como cultura erudita, como cultura de massa, com exceção da cultura de resistência, potencialmente transversal. Terry Eagleton, em seu livro A ideia de cultura (2011), analisou a dimensão cultural como instância separada, própria à sociedade civil, finalizando a obra alegando que a cultura, aquilo pelo qual se vive, tornou-se, no contemporâneo, espaçosa e presunçosa demais, sendo incapaz de contribuir para a resolução dos imensos problemas que vive a humanidade. Edward Said, em Cultura e imperialismo (1993), argumentou que, embora o colonialismo direto tenha se extinguido, na fase imperialista do capital, transformou-se “numa espécie cultural geral (SAID, ‘995, p. 39). Octavio Ianni, em Imperialismo e cultura (1976), asseverou que a cultura imperialista, ao priorizar relações militaristas de produção, é fundamentalmente uma cultura da violência, para além e aquém de sua expressão soft power. Lendo Palavras-chave (2011), de Raymond Williams, é possível depreender que a palavra cultura se tornou disponível no período da fase imperialista do capitalismo, quando um substantivo independente, no sentido artístico, intelectual e antropológico, fez-se familiar. Por sua vez, em seu livro Marxismo y literatura, defendeu que a cultura se constitui como um modo de produção próprio, logo material, criador de estilos de vida. Alfredo Bosi, inicia seu livro Dialética da colonização com uma referência ao poema “O lutador”, de Carlos Drummond de Andrade, sugerindo que a cultura seja uma categoria em disputa para logo demarcar a sua origem etimológica: “verbo latino colo, cujo particípio passado é cultus e o particípio futuro é culturus” (BOSI, 1992, p. 11),realizando uma verdadeira dialética entre cultus, culto, que pode ser dos mortos; e culturus, aqui perspectivada como cultura de vida. No final da obra, como um princípio de esperança, sugeriu a emergência, no interior da dialética da civilização, de uma cultura de resistência, com suas palavras e atos emancipadoras. Em Literatura e vida nacional (1950) Antonio Gramsci defendeu o argumento de que a história da literatura (ou da arte) não pode ser constituída efetivamente no interior da série literária (ou da séria artística), para fazer uma referência negativa à teoria formalista. “A literatura não gera literatura” (1978, p. 10). O artista e sua criação não existem fora da cultura pela qual se luta e, ao fazê-lo, refaz-se no processo como uma nova pessoa, potenciando novas relações culturais de produção, renovando, ao menos como possibilidade, a produção literária, com a emergência de novo artista. Se existe a cultura como cultura de vida (culturus) e como cultura de morte (cultus); e se a primeira, em resumo, pode ser interpretada como a cultura da luta e da resistência, por qual cultura vale a pena lutar, sob o ponto de vista de uma cultura brasileira? A cultura brasileira, compreendida como cultus, no período colonial, não foi basicamente a cultura/culto das metrópoles coloniais europeias? E, na fase imperialista do capital, não será a cultura da violência a regra, com seus golpes de Estado, militarismo, ditaduras, racismo estrutural, violência de gênero, superexploração da classe trabalhadora? Como definir a cultura unipolar do chamado Ocidente coletivo? Haverá a mínima chance de uma cultura viva brasileira sem soberania nacional plena, a ser constituída lucidamente com palavras e atos, em luta? É possível uma cultura viva brasileira sem a presença real de um multiculturalismo dos povos soberanos, em um mundo efetivamente multipolar? Por meio de um exercício de imaginação de alteridade, como se expressará a nova arte, com o novo artista da era multipolar? Disponíveis em PDF, obras como Por una nueva civilizacion: el proyecto multipolar (2021) e La Perestroika en Estados Unidos: réquiem para la civilización occidental (2021), de Walter Formento e Wim Dierckxsens, podem fornecer importantes subsídios para uma consequente reflexão sobre a última questão formulada, pois realizaram uma análise de longa data da formação do mundo unipolar ocidental, contrapondo-o, na atualidade, à importância de um complexo estratégico cultural, tendo como base a relação dialética entre soberania nacional e multipolaridade. O Simpósio Cultura, multipolaridade e soberania nacional propõe, enfim e em começo, ruminar antropofagicamente essas questões.
PALAVRAS-CHAVE: Cultura; nova literatura; soberania nacional; multipolaridade
ESCRITAS E VIDAS CONTEMPORÂNEAS: INCURSÕES, AVALIAÇÕES E DESAFIOS AO COMPARATIVISMO
EIXO: ENFRENTANDO DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
SIMPÓSIO: ESCRITAS E VIDAS CONTEMPORÂNEAS: INCURSÕES, AVALIAÇÕES E DESAFIOS AO COMPARATIVISMO
COORDENADORES:
- Adeítalo Manoel Pinho (Universidade Estadual de Feira de Santana) adeitalopinho@gmail.com
- MARIA DE FÁTIMA GONÇALVES LIMA (PUC-Goiás) fatimma@terra.com.br
RESUMO: Esta proposta é a continuação de simpósio realizado nos Congressos Abralic de 2015, Belém- PA, a 2022, em Salvador. Dado o êxito das apresentações e discussões naquelas oportunidades e por ser do âmbito do Projeto Procad/Capes PUC-Rio/UNEB/Salvador/UEFS-Bahia/PUC-Goiás, consideramos esta proposta decisiva para as atividades do projeto. A continuação da proposta e realização do simpósio expressam a consolidação de um grupo de trabalho multi-institucional e em instância nacional. Para delinear os desafios presentes no título deste Simpósio, e aqui propostos para seguir como um convite instigador a pesquisadores interessados na atualidade das práticas culturais, artísticas, ecocríticas e teórico-críticas, elegemos, no pequeno e exitoso ensaio de Giorgio Agamben, uma das postulações a O que é o contemporâneo: "Contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro." A imagem potente de um "escuro" do tempo delineia metaforicamente a problemática a ser compartilhada pelos pesquisadores, em vertentes ou perspectivas compatíveis com seus objetos de investigação. Tal imagem se impõe quando se constata que, nas últimas décadas, na área dos estudos literários como nas ciências humanas, ocorreram alterações que reconfiguraram os pilares do território disciplinar, abalando o domínio de objetos previsto, o elenco de instrumentos, métodos e o corpo das proposições aceitas como horizonte teórico dos estudos de literatura, outras artes e da cultura. E em vista das últimas decisões sanitárias, políticas, ideológicas e tecnológicas, em escala mundial, tudo pode estar prestes a mudar novamente. Tais alterações repercutiram predominantemente na diluição de fronteiras entre as disciplinas, na multiplicação inovadora das questões e temas de investigação plausíveis para cada uma delas e na ampliação dos instrumentos conceituais e técnicas que as singularizam. Em paralelo às alterações no plano epistemológico, são expressivas também, nas últimas décadas, as alterações que ocorrem no âmbito da cultura e no campo artístico, especialmente no domínio do literário. No primeiro caso, a noção de "cultura" alargou-se, extrapolando a legitimidade que lhe atribuíram – igualmente, mas em circunstâncias diversas – o empreendimento civilizacional iluminista, o Estado nacional moderno e as elites cultas na alta modernidade estética, tornando a cultura e, principalmente, o valor cultural focos de instabilidade, conflito e disputa, por forças que saíram dos bastidores e passaram a disputar a significação cultural. Os dois eixos da significação e valor que atravessaram a área de Letras, afetando o âmbito dos estudos comparados: por um lado, problematiza-se a ligação mutuamente legitimadora entre literatura e nacionalidade, parte do processo de constituição dos estados modernos e matriz de toda a historiografia que por um século pautou os estudos da literatura; por outro, dá-se a contestação ao confinamento do valor cultural à esfera erudita, às artes canônicas e, consequentemente, à separação entre arte, cultura e o que pensadores como Edward Said e Stuart Hall designaram como a "mundanidade".Em grande parte, emanam deste cenário de mudanças epistemológicas e culturais o "escuro do tempo" ou os desafios do contemporâneo, que constituem o campo temático do debate aqui proposto, que deverá confrontar-se com o caráter intempestivo, insurgente da contemporaneidade, sistematizando e provendo instrumental teórico e crítico para lidar com as suas diversas dimensões ou concreções. O deslocamento ou a recusa de hierarquias instituídas tanto na dimensão epistemológica quanto na dimensão artísticocriativa geram a oportunidade para que estejam sob o foco deste Simpósio – como desafios que emergem das zonas de sombras do contemporâneo – as formas, expressões e domínios de experiência resistentes, tais como: (a) o corpo, em sua materialidade e enquanto superfície de inscrição e energia ético-estética; (b) os afetos, enquanto força disruptora a dar ensejo a outras formas de representação das vivências; (c) o comum e o cotidiano enquanto categorias transversais da cultura, a mobilizar uma rede de significados que remetem a espaços periféricos, tanto no cenário político e sociocultural quanto nos cenários textuais e artísticos; (d) a violência, a exclusão e a cidade como figurações do presente que convulsionam os limites da representação ao instaurarem, em diversas linguagens artísticas; (e) a lógica do testemunho, do biográfico e do documental, em flagrante desafio à compreensão estabilizada do que seria próprio do domínio ficcional. Ao acolher as perspectivas dos estudos de literatura e de outras linguagens artísticas, bem como dos estudos de produções, práticas e políticas da cultura, incorporando as dimensões de materialidade, de performatividade e de insurgência, próprias das estratégias criativas da atualidade, este Simpósio ambiciona empreender não apenas uma discussão estética e política que possibilite a acolhida analítica das forças e das formas artísticas e culturais do presente, mas – e principalmente – acentuar uma potência inovadora e transformadora que possa afetar práticas investigativas, formativas e educacionais na sociedade brasileira contemporânea, que tanto carece de combater as forças de desinformação e políticas de ódio.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Contemporaneidade. História. Identidade. Memória. Multidisciplinaridade.
MODERNIDADE, PROGRESSO E DESAFIOS SOCIAIS NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA AMAZÔNICA: MANAUS NA VANGUARDA
EIXO: ENFRENTANDO DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
SIMPÓSIO: MODERNIDADE, PROGRESSO E DESAFIOS SOCIAIS NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA AMAZÔNICA: MANAUS NA VANGUARDA
COORDENADORES:
- FRANCISCO DOS SANTOS NOGUEIRA (Perfor/Ufam) francisnogueira2013@gmail.com
- Hydelvidia Calvalcante (UFAM) hydelvidia@bol.com.br
- OSMANDO JESUS BRASILEIRO (Universidade do Estado do Amapá (UEAP)) osmando.brasileiro2016@gmail.com
RESUMO: A literatura amazônica contemporânea tem emergido como uma voz vibrante e multifacetada que reflete não apenas as diferenças imagéticas das paisagens exuberantes com as multissemioses da biodiversidade única da região, mas também as complexidades históricas, sociais, culturais e políticas que a definem. A capital do Estado do Amazonas, como epicentro cultural e econômico da Amazônia, desempenha um papel crucial na representação desses temas na literatura contemporânea. Por meio de uma análise interdisciplinar que combina literatura, sociologia, história e ecologia, o tema Modernidade, progresso e desafios sociais na Literatura Contemporânea Amazônica: Manaus na vanguarda, inserido no Eixo Temático X, Enfrentando desafios contemporâneos, tem como proposta examinar o posicionamento dos autores amazônicos em relação a Manaus, uma cidade vista como um microcosmo das tensões entre desenvolvimento e preservação, tradição e inovação, globalização e localismo, incluindo a devida intensidade imagética que incorpora esses aspectos na contemporaneidade. Como suporte teórico, a proposta concebe o pensamento de Giorgio Agamben, 2019 (O que é contemporaneidade? E outros ensaios). “ Assim a contemporaneidade referida é uma articulação na relação do indivíduo com o tempo, e o contemporâneo é por natureza um sujeito intempestivo, inconformado com aquilo que há de doentio em sua época. A pessoa contemporânea busca promover práticas de justiça e reparação, não confunde a ânsia do indivíduo singular com o histórico coletivo. Vai contra setores conservadores que estrangulados por um passado ilusório lutam por sua hegemonia ameaçada. A insatisfação exposta é o impulso que desencadeia a transformação, que tira o ser humano do estado de adormecimento e aceitação e dá um uso prático ao passado. Pode-se dizer que a contemporaneidade não é um estatuto fixo no tempo, não se trata de uma ação ou um estado ordinário, vai além, a contemporaneidade é e reside no vácuo entre o inatual e o atual”. Segundo Giorgio Agamben Enxergar o não-vivido e dissociar o tempo cronológico, significa em parte perceber em eventos e fenômenos da atualidade, elementos do passado [...]. Sem deixar de considerar autores com relevância para o tema enunciado, como: Edinea Mascarenhas Dias, 2019 (A ilusão do fausto: Manaus, 1819-1920), Lúcia Maria Flecha de Frota (O verbo e a luz: Modernidade e Desencanto na Literatura Amazônica Contemporânea), Luiz Arnaldo Campos de Oliveira, 2003 (Manaus e a Modernidade: ensaios de antropologia urbana) e Mílton Assi Hatoum, 2005 (Cinzas do Norte).Conforme Paulo Arantes, o livro de Antônio Cândido ( formação da literatura), vem encorpar um debate em curso/ seminários/ congressos em cursos nas Ciências Sociais e na História, desde pelo menos aos anos 30, que procura “(…) na forma de grandes esquemas interpretativos em que se registrem tendências reais na sociedade” conceber uma genealogia de traços e fatores que condicionem a formação de caráter nacional.(Arantes, P; Arantes. O.,1997.P.11). No caso específico dos estudos de literatura, desponta o interesse de conceber um aparato crítico que concilie a análise estético estilística de textos literários regional/nacional com uma concepção de literatura como fator social e histórico inerente a todo o processo evolutivo de uma sociedade. Uma visada analítica que vê a forma literária não em movimento especular em relação à história e ao social, mas como fruto de um processo intrincado de engendramento entre fatores externos à obra e os internos ou constitutivos da mesma. A intenção, de forma objetiva é: aliar o estudo de cada obra específica, que convoca para si um método analítico específico, a uma visão panorâmica do conjunto dessas obras que permita conceber uma linha estrutural evolutiva na formação da entidade regional/amazônica e nacional. Trazendo a definição do sistema literário empregada por Antônio Cândido no livro de 1959 ( a formação da literatura brasileira), assenta-se, ainda, sobre importante pressupostos teórico: a concepção de que a “(…) literatura brasileira deve ser estudada como síntese de tendências universalistas e particularistas”. (Cândido, 1997. V, 1, P. 23). Pode-se depreender disso uma metodologia de análise que torna todo e qualquer esforço crítico de compreensão da produção literária regional/nacional em um estudo comparatista. Ou seja, compreender a formação literária brasileira envolveria sempre a análise do processo histórico de assimilação de modelos europeus e de adaptação deles a um novo contexto que poderá reescrevê-los e conferir-lhes nova forma. As apresentações dos Simpósios podem articular subtemas diferenciados, como: a representatividade da urbanização acelerada de Manaus, de outras cidades e até mesmo de outros estados da Região Norte; os impactos do crescimento econômico nas comunidades locais, as lutas pela preservação da cultura indígena, da cultura tradicional e as narrativas de resistência e de esperança em face dos desafios socioambientais. Com as discussões travadas, o destaque à riqueza e à relevância da literatura contemporânea amazônica, enaltecerá insights valiosos sobre as dinâmicas complexas representativas da Região Norte e de suas comunidades.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Amazônica. Contemporaneidade. Manaus, epicentro cultural da Amazônia. Valorações imagéticas e multissemióticas da identidade amazônica.
RASTROS DO PASSADO RECENTE NO TEMPO DO AGORA
EIXO: ENFRENTANDO DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
SIMPÓSIO: RASTROS DO PASSADO RECENTE NO TEMPO DO AGORA
COORDENADORES:
- Edu Teruki Otsuka (Universidade de São Paulo) eduotsuka@usp.br
- ACAUAM SILVÉRIO DE OLIVEIRA (Universidade de Pernambuco) acauam@gmail.com
RESUMO: O tempo do agora, que tende a suprimir perspectivas construtivas de futuro e esconde os rastros do passado recente que o originaram, produz o achatamento de expectativas que permitam entrever possibilidades de transformação radical da sociedade, de caráter universalista. Nossa era caracteriza-se por um novo regime de historicidade em que o assim chamado “presentismo”, isto é, um regime em que o futuro deixa de ser vivenciado no modo da promessa e a urgência se converte na categoria central da experiência contemporânea, no âmbito público e privado. O domínio absoluto do presente acaba por intensificar o sofrimento social, seja numa espera sem horizonte, seja num engajamento compulsório. É nesse quadro que demandas particularistas (identitárias, territoriais, ecológicas, entre outras), cuja legitimidade é inquestionável, têm ocupado a opinião pública e a produção cultural. Nem sempre, porém, tais demandas se articulam com mudanças na ordem sistêmica global. Os terrenos de luta, desse modo, tendem a se fragmentar em campos específicos, muitas vezes restritos à perspectiva de integração, sem romper com a lógica concorrencial. A situação contemporânea é decorrência de transformações econômicas, políticas e sociais, cujo marco situa-se na reestruturação produtiva e na imposição de medidas neoliberais. Desse modo, a partir de meados do século XX, extinguiram-se as grandes expectativas de transformações sociais, de maneira que se abriu um “novo tempo do mundo”: o horizonte de expectativas se encolhe e apenas se gestionam os destroços do presente, numa conjuntura permanente de urgência. Nosso tempo presente é o da plena germinação do triunfo do mercado e do Estado de exceção, com consequências para a sociedade como um todo e especialmente para os trabalhadores e as populações excedentes que, na dinâmica atual do capitalismo, já não podem mais ser integradas conforme os vínculos tradicionais da sociedade salarial agora em decomposição. Nesse contexto, em que antigos modelos de organização social de caráter mais universalista (sindicatos, organizações camponesas) perderam a centralidade na luta para fazer frente à barbárie, emergem novos campos de conflito e tensionamento. Numa tentativa justificada de conquistar direitos – ou, ao menos, salvaguardá-los – as lutas identitárias, notadamente as de caráter liberal, têm ocupado o centro das discussões, a partir de obras que tratam de questões consideradas de minorias, de modo a se afirmar a sua autonomia simbólica, ou que buscam ainda o reconhecimento social (e, portanto, a integração), como se o processo econômico pudesse sustentar essa possibilidade. Assim, nessa temporalidade vivenciada em regime de urgência, o preço a se pagar parece ser o relativo abandono de projetos estruturais, que apontem para resultados sistêmicos. É nesse sentido que a proposição deste simpósio tem como objetivo a reflexão sobre a experiência contemporânea, tal como figurada nas formas artísticas. Nos marcos do que foi derrotado quanto às promessas de um futuro igualitário, no Brasil e no mundo, a investigação sobre a imaginação artística (não apenas literária, mas em diálogo com outras artes, tais como música popular, cinema e teatro) é condição indispensável para se refletir sobre o presente. Tal reflexão busca compreendê-lo como resultado de derrotas histórico-políticas a que a imaginação artística e a imaginação teórico-crítica buscam responder. Trata-se de imaginar o ainda não imaginado, de maneira a enfrentar uma conjuntura em que ao presente prolongado em que vivemos se sobreponha um outro regime de urgência que recupere a possibilidade de outro futuro. É dessa perspectiva que este simpósio convida a investigar duas questões centrais. • A primeira delas se concentra na investigação do tempo presente como resultado das transformações radicais ocorridas nas últimas décadas. No caso do Brasil, trata-se do período inaugurado com a ditadura civil-militar, a qual determinou os rumos do novo surto modernizador brasileiro, e cujo término efetivo ainda não ocorreu. No cenário global, destacam-se a vitória do capitalismo e a supressão das alternativas socialistas que determinaram uma nova era de expectativas decrescentes, em que parece, como disse Fredric Jameson, “mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”; • A segunda questão dedica-se a analisar a figuração da contemporaneidade nas artes. A recente produção cultural tem apresentado, sob diferentes registros técnico-formais, temas relevantes que nucleiam a sociabilidade e a psique contemporâneas: as consequências do fim da sociedade salarial, os efeitos deletérios da produção industrial, as fantasias distópicas e apocalípticas, as reivindicações particularistas. Quase nunca, porém, esses temas estão lastreados por uma compreensão dos rastros históricos que determinaram o presente tal como o vivenciamos hoje. Por isso, investigar o alcance dessas obras implica investigar também a concepção nelas formalizada da experiência histórica que não se limite ao presentismo.
PALAVRAS-CHAVE: Cultura contemporânea; imaginação artística e político-social; era da emergência; estado de exceção
TEMAS, FORMAS E OBSESSÕES DO ROMANCE PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
EIXO: ENFRENTANDO DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
SIMPÓSIO: TEMAS, FORMAS E OBSESSÕES DO ROMANCE PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
COORDENADORES:
- Pedro Fernandes de Oliveira Neto (UFRN) pedro.letras@yahoo.com.br
- Jonas Jefferson de Souza Leite (Universidade Federal de Pernambuco) jonasleite@hotmail.com
RESUMO: A literatura portuguesa pós-Revolução dos Cravos se revestiu de uma variabilidade de formas, expressões, estéticas, temas e obsessões e, entre as águas da ficção de viés ou teor mais social advindas do que foram as produções do chamado Neorrealismo (e mais distante, do Realismo) e as da ficção mais preocupadas com o trato estético, eivadas dos resquícios das vanguardas, tem assumido uma nova feição, mais aberta, plural e ingressada no que poderíamos designar como uma literatura de corte universal ou cosmopolita, para citar um termo de Barrento (2016). Isto é, tal literatura desplega os localismos ao se mostrar interessada pelas transformações e variações comuns a toda comunidade humana; trata-se isso ora como uma força marcadamente típica do post-modernismo (cf. Arnaut, 2002), ora como fluxo comum dado a uma época de dinamizações e integrações, afinal toda literatura é sempre um “modelo orgânico, vivo” (cf. Real, 2012). Nesse caso específico, as circunstâncias históricas que parecem influenciar os escritores advêm, dentre outras, do reconhecimento de Portugal numa dinâmica político-geográfica da Europa e das contínuas trocas culturais favorecidas em momentos pouco depois do fim das obstruções ditatoriais impostas ao largo de mais de quatro décadas e a possibilidade de integração do país para as correntezas das globalizações, que, positiva ou negativamente têm assumido o protagonismo de novos valores contrários aos estilemas da opressão. Independente de qual perspectiva teórica nasça uma compreensão sobre as modificações no âmbito do literário, o fato é que se cobra dos investigadores maneiras de pensarmos sobre e com intuito de construir detalhadamente suas implicâncias seja para com o cânone, a forma, seja para com as questões sociais, culturais e políticas, estéticas porque, no fim de tudo, o que todas as mudanças favorecem, numa dialética, são também novas formas de ser e estar no mundo (cf. Seixo, 1984). O produto das transformações por que passa a ficção, sabemos, se faz de motivações de ordem diversa e a principal delas responde pela presença de como os sujeitos se relacionam com as novas posições assumidas nos contextos pelos quais transitam; ao mesmo tempo, a literatura tece uma participação na variabilidade das forças reinauguradas no mundo fora do tecido textual. O que marca este período, então, no romance português, é o desenvolvimento de novas práticas e experiências com a narrativa, a proliferação das inquietações tornadas em matérias temáticas dos novos ficcionistas — ora afastando-se do conteúdo histórico-social e de uma reflexão sobre os modos de ser e estar português para se aproximar de preocupações a um só tempo interior e exterior ao indivíduo do seu país (nativo ou ingresso) ora reinventando os mananciais de criação, tais como a guerra colonial, os transes da imigração, outros episódios da história dos povos (as conflitos, os regimes despóticos, as violências explícitas ou encobertas), as crises do sujeito, a diversidade das relações humanas desencadeadas no extenso e complexo jogo social etc. No caso da ficção romanesca, do ponto vista estético-formal, cite-se a diversidade da composição, acentuada na valorização da escrita e suas implicações na tessitura textual (das quais as intersemioses, o ready-made e os procedimentos metaficcionais são apenas alguns exemplos), nas relações entre os modos escriturais e orais, no uso de novos recursos estilísticos, de criação, recriação e interpenetração das formas discursivas, na diversidade de registro e conformação da narrativa seja decorrentes das constantes infiltrações dos tons subjetivos (cf. Cerdeira, 2020), marcados pelo recurso de intromissão lírica seja o desenvolvimento da reflexão sobre o cotidiano, a rotina íntima dos sujeitos agora olhada como mundividências de interesse ao literato. Ainda, o que seduz a escrita é um tipo de interesse por formas ficcionais diversas — tais como uso recorrente das chamadas narrativas marginais (em desordem, cf. Barrento, 2016), os gêneros de primeira pessoa, os relatos, os diários, as crônicas etc. Os rumos, portanto, são muitos e vastos; “o romance português sofreu, no seu todo, uma profunda rutura” (REAL, 2012, p. 22). No interesse de apontar, descrever, discutir, relacionar, construir diálogos com a pluralidade de eventos situados no âmbito da ficção romanesca, sua dinâmica geral, ora reafirmando essa tendência à dispersividade, ora estabelecendo uma busca por uma unidade dialética que possa compreender sujeitos e mundos na sua pluralidade, é que se constitui este simpósio — também em continuidade às discussões levantadas noutras ocasiões de encontros da ABRALIC (2021 e 2023). Vinculadas às discussões desenvolvidas no âmbito do Grupo Estudos Sobre o Romance, nosso intuito é, a partir da leitura de romances publicados em Portugal a partir dos anos 1950, abrir algumas coordenadas úteis crítica, teórica e metodologicamente para pensar sobre o que é, no fim de tudo, um afã da literatura portuguesa pela universalidade.
PALAVRAS-CHAVE: Estudos sobre o romance; Literatura portuguesa; Romance português contemporâneo.