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"SUJEITOS EM (DES)LOCAMENTO E LITERATURAS DO MUNDO: TENSÕES TRANSCULTURAIS, CONVIVÊNCIA E IDENTIDADE"
- Gerson Roberto Neumann (UFRGS) - gerson.neumann@gmail.com
- Fernanda Boarin Boechat (UFPA) - fernandaboechat@gmail.com
- Ricardo Postal (UFPE) - ricardo.postal@ufpe.br
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(DES)SEMELHANÇAS E ESTRANHAMENTOS: ENCONTROS, DESENCONTROS E RELEITURAS COMPARATISTAS NAS LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-DIASPÓRICAS
- Roberta Maria Ferreira Alves (UFVM) - roberta.alves@ufvjm.edu.br
- Lílian Paula Serra e Deus (UNILAB) - liliandeus@unilab.edu.br
- Luciana Brandão Leal (UFV) - luciana.brandao@ufv.br
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A INVENÇÃO DE UM MUNDO COMUM: VIAGENS, MIGRAÇÕES E DIÁSPORAS JUDAICAS
- lyslei de souza nascimento (UFMG) - lyslei@ufmg.br
- nancy rozenchan (Universidade de São Paulo) - nrozenchan@usp.br
- Alessandra Fabrícia Conde da Silva (Universidade Federal do Pará) - afcondesilva@gmail.com
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GEOPOESIA DAS VIAGENS E DEMIGRAÇÕES: PASSAGENS, POLIFONIAS E RAIZAMAS EM LITERATURAS DE CAMPO
- AUGUSTO RODRIGUES DA SILVA JUNIOR (Universidade de Brasília) - augustorodriguesdr@gmail.com
- Willi Bolle (Universidade de São Paulo) - willibolle@yahoo.com
- Ana Clara Magalhães de Medeiros (Universidade Federal de Alagoas) - a.claramagalhaes@gmail.com
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INTERTEXTUALIDADE EM MACHADO DE ASSIS: RUPTURA DE LIMITES DA LITERATURA E MANIFESTAÇÃO CRÍTICA DA ARTE E DA SOCIEDADE
- Juracy Ignez Assmann Saraiva (Universidade Feevale) - juracy@feevale.br
- Marinês Andrea Kunz (Universidade Federal da Paraíba) - marinesak5@gmail.com
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LITERATURA CARIBENHA E GUIANENSE ESCRITA POR MULHERES
- Juliana Pimenta Attie (Universidade Federal de Alfenas) - juliana.attie@unifal-mg.edu.br
- Natali Fabiana da Costa e Silva (Universidade Federal do Amapá) - natali_costa@hotmail.com
- Viviane Ramos de Freitas (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) - viviane.defreitas@ufrb.edu.br
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LITERATURAS DA/NA AMAZÔNIA E SEUS DIÁLOGOS COM A LITERATURA MUNDIAL
- MIRELLA MIRANDA DE BRITO SILVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA) - mirellampb@gmail.com
- ADRIANA HELENA DE OLIVEIRA ALBANO (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA) - adriana.albano@ufrr.br
- Emerson Carvalho de Souza (Universidade Federal de Jataí) - cs.emerson@gmail.com

"SUJEITOS EM (DES)LOCAMENTO E LITERATURAS DO MUNDO: TENSÕES TRANSCULTURAIS, CONVIVÊNCIA E IDENTIDADE"
EIXO: EIXO 1 - CONTATOS INTERCULTURAIS: DIÁSPORAS, VIAGENS, MIGRAÇÕES
SIMPÓSIO: "SUJEITOS EM (DES)LOCAMENTO E LITERATURAS DO MUNDO: TENSÕES TRANSCULTURAIS, CONVIVÊNCIA E IDENTIDADE"
COORDENADORES:
- Gerson Roberto Neumann (UFRGS) gerson.neumann@gmail.com
- Fernanda Boarin Boechat (UFPA) fernandaboechat@gmail.com
- Ricardo Postal (UFPE) ricardo.postal@ufpe.br
RESUMO: A literatura, considerada aqui como espaço de relações entre saberes interdependentes vertidos em linguagem, fundamenta-se nas negociações com a diferença que atravessam o processo da escritura, desde a produção até a recepção. Assim, faz-se necessário compreender como, desde o comparatismo literário, é possível alçar as análises críticas de autores e obras a um conjunto amplo de diálogos que favorece a relevância da tessitura textual mais do que de um valor estético formulado por absolutos universalistas. Considerar a localização e a historicidade, bem como as imbricações do poder e das colonialidades na literatura fornece condições de tensionar a teoria literária numa época em que as mobilidades populacionais e a consequente apresentação dessas trajetórias em obras narrativas e poéticas demanda abordagens e conceitualizações diversas. Isto “[p]orque a época atual é uma época da rede. Ela demanda concepções de ciência móveis e relacionais, transdisciplinares e transareais e uma terminologia orientada pelo movimento. (ETTE, apud CAPAVERDE, 2021, p. 299). Portanto, propomos as discussões deste simpósio a partir da amplitude de possibilidades do conceito de “Literaturas do Mundo” como elaborado pelo teórico romanista e comparatista alemão Ottmar Ette (2016, p. 13), em que se “mostra que as formas de produção, de recepção e de distribuição da literatura, em escala planetária, não se alimentam de uma única ‘fonte’, não são reduzíveis a uma única linha de tradição como à tradição ocidental, por exemplo." Tal perspectiva está aliada, aqui, aos projetos decoloniais do Grupo Modernidade/Colonialidade a partir da qual se realiza um reposicionamento epistemológico em que “[a] crítica à modernidade da perspectiva decolonial concebe que a emancipação [...] só será possível uma vez que a subalternização de experiências e de epistemologias instituídas pela modernidade seja suplantada." (BALTAR, 2020, p. 38), o que só é possível acontecer através de “um outro estatuto de alteridade, estabelecido pela transmodernidade” (Idem), conceito este desenvolvido por Mignolo e Walsh (2018) e por Enrique Dussel, que o define como: “todos os aspectos que se situam ‘além’ (e [...] ‘anteriores’) das estruturas valorizadas pela cultura euro-americana moderna, e que atualmente estão em vigor nas grandes culturas universais não europeias e foram se movendo em direção a uma utopia pluriversal.” (DUSSEL, 2016, p. 63). Esses movimentos podem ser mapeados pelos modos como se apresentam (e são apresentadas) populações em (des)locamento, em obras cuja temática, perspectivas narrativas e linguagem elaborem a migração, a viagem, o exílio e o refúgio. Nesse sentido, no presente simpósio tem-se também o interesse em observar a participação social e o direito à voz das pessoas migradas por meio de sua produção literária, a saber, considerando-as tradutoras culturais por meio da autoria literária. A compreensão da produção literária existente, dessa forma, é também de um medium privilegiado de integração, que mobiliza a articulação entre a cultura de origem e a de acolhida. Recebe nossa atenção a reflexão e simbolização intercultural do deslocamento que vai além das limitações de uma lógica nacional. Narrativas e poéticas (des)locadas podem sinalizar para conexões interculturais que ultrapassam a noção baseada e/ou limitada a aspectos históricos, político-econômicos ou territoriais, como é o caso de sujeitos indígenas do Brasil e que migram para outras Regiões e Municípios do mesmo país por razões diversas. A autoria literária, nesse sentido, abre-se como um caminho de inserção intercultural para além da dimensão de um multiculturalismo funcional, cujo objetivo assenta-se exclusivamente na promoção de uma integração dos sujeitos migrantes na lógica do sistema econômico, sem abertura para questões próprias à sua bagagem cultural (Walsh, 2009). Por meio de narrativas e poéticas de sujeitos (des)locados é possível vislumbrar uma dimensão da interculturalidade que impulsione a chegada a universos culturais ricos em processos de alteridade e que sejam capazes de ressignificar o olhar sobre os migrantes, exilados, refugiados, bem como sobre a cultura de acolhida. A proposta deste simpósio temático está, por fim, em consonância com os Estudos Transareais de Ottmar Ette, uma vez que os caminhos tornam-se mais relevantes que as localidades, o deslocamento se sobressai à demarcação e a comunicação, por meio da produção literária e em si mesma como ambiente, atravessa e conecta elementos diversos que compõem os espaços no globo. Portanto, são convidados a enviarem comunicações, pesquisadores e pesquisadoras que promovam discussões teóricas sobre os conceitos previamente elencados, bem como análises de obras literárias articuladas comparativamente no âmbito das Literaturas do Mundo, das perspectivas decoloniais e dos deslocamentos culturais (literatura migrante, sem morada fixa etc).
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas do mundo; migrações; convivência; transculturalidade; decolonialidade.

(DES)SEMELHANÇAS E ESTRANHAMENTOS: ENCONTROS, DESENCONTROS E RELEITURAS COMPARATISTAS NAS LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-DIASPÓRICAS
EIXO: EIXO 1 - CONTATOS INTERCULTURAIS: DIÁSPORAS, VIAGENS, MIGRAÇÕES
SIMPÓSIO: (DES)SEMELHANÇAS E ESTRANHAMENTOS: ENCONTROS, DESENCONTROS E RELEITURAS COMPARATISTAS NAS LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-DIASPÓRICAS
COORDENADORES:
- Roberta Maria Ferreira Alves (UFVM) roberta.alves@ufvjm.edu.br
- Lílian Paula Serra e Deus (UNILAB) liliandeus@unilab.edu.br
- Luciana Brandão Leal (UFV) luciana.brandao@ufv.br
RESUMO: (Des)semelhanças e estranhamentos: encontros, desencontros e releituras comparatistas nas literaturas africanas e afro-diaspóricas Desde sempre, a temática comparatista é alvo de questionamentos, e se analisarmos o momento no qual vivemos, ele não se distancia disso, principalmente, por ser delineado pelas desconstruções e ressignificações em territórios marcados pela informatização, globalização e pela desvalorização do capital humano. Acreditamos que nesse cenário ainda há um espaço profícuo para refletirmos sobre os rumos que a Literatura Comparada estabelece ao colocar textos literários em diálogo com diversas áreas do conhecimento humano. Assim, nossa proposta de discussão volta-se à Literatura Comparada, revendo as suas feições mais antigas até as que, na época atual, consideram os espaços de compartilhamento, as zonas de contato e vizinhança, as contiguidades acidentais, encontros éticos e os delineados por outras ciências, inclusive. Diante disso, este simpósio delineia seu interesse voltado à investigação da produção literária dos países africanos de língua portuguesa, acolhendo outras narrativas como as africanas publicadas em línguas francesa e inglesa e experiências literárias advindas de diferentes áreas do conhecimento, postas em diálogo, como por exemplo, os tensionamentos estabelecidos entre a literatura, o discurso histórico e o espaço geográfico. Pretendemos discutir estratégias textuais e recursos de criação literária que possam ser consideradas feições de “estéticas diaspóricas”, a partir de textos que nos permitam realçar marcas de identidade, presentes nos projetos literários desses países, discutindo como tais aspectos corroboram para a formação de sistemas próprios. Inocência Mata, em seu texto “O pós-colonial nas literaturas africanas”, afirma que apesar das similaridades, as literaturas dos CINCO possuem suas singularidades. A postura anticolonial e nacionalista, por exemplo, está presente em muitas vozes poéticas do período pré-independência, mas essas leituras não devem ser impostas a todos os espaços, reduzindo a percepção de que cada país possui um sistema literário próprio. Uma característica importante que traz marcas tanto de semelhança como de ruptura, como observa essa pesquisadora, diz respeito ao lugar e ao modo como o escritor africano trabalha e se posiciona na língua portuguesa. Segundo Inocência Mata: Sendo uma das marcas das culturas pós-coloniais a sua hibridez, resultado de uma situação de semiose cultural ou de relação dialéctica entre matrizes civilizacionais diversas, nunca antes como em Mia Couto a expressão literária revela a sua mestiça existência e vivência, do seu criador e suas criaturas: mestiços de cultura, de espaços, de saberes e de sabores. Esse trabalho consiste num processo de recriação de desenredos verbais a que se segue a incorporação de saberes não apenas lingüísticos mas, também, de vozes tradicionais, do saber gnómico que o autor vai recolhendo e assimilando nas margens da nação – o campo, o mundo rural – para revitalizar a nação que se tem manifestado apenas pelo saber da letra. Essa revitalização segue pela via da levedação em português de signos multiculturais transpostos para a fala narrativa em labirintos idiomáticos como forma de resistência ao aniquilamento da memória e da tradição. (MATA, 2000) Nesse empenho, este simpósio propõe discussões sobre leituras comparatistas de textos literários dos países africanos de língua portuguesa, com análises de produções africanas e afro-diaspóricas nos séculos XX e XXI. Como se sabe, no Brasil, a Lei Federal 10639/03 determina o estudo sobre a história e sobre as culturas africanas para todos os níveis de ensino; entretanto, a abordagem das literaturas africanas de língua portuguesa e afro-diaspóricas, nas Universidades, ainda é muito restrita, o que impacta na formação de professores e pesquisadores atuantes nessa área e, consequentemente, no público leitor do ensino básico. O estudo das (des)semelhanças e estranhamentos, dos encontros e das rupturas focando-se o olhar para as estéticas diaspóricas em perspectiva dialógica, permitindo fortalecer o compromisso de ampliação do campo da pesquisa em consonância com o que dispõe a lei 10639, fortalecendo-se, assim, pelo viés comparatista, essa área de estudos, que muitas vezes é invisibilizada nas academias brasileiras pelo escopo do racismo estrutural que intenciona o apagamento de diálogos e encontros com heranças culturais africanas e afro-diaspóricas. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 10 jan. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm>. Acesso em: 18 nov. 2022. MATA, Inocência. O pós-colonial nas literaturas africanas de língua portuguesa. Texto apresentado no X Congresso Internacional da ALADAA (Associação Latino- Americana de Estudos de Ásia e África) sobre CULTURA, PODER E TECNOLOGIA: África e Ásia face à Globalização – Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro – 26 a 29 de outubro de 2000. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4033274/mod_resource/content/1/MATA%2C%20Inoc%C3%AAncia%20-%20O%20p%C3%B3s-colonial%20nas%20literaturas%20africanas.pdf Acesso em 18 nov. 2022. Palavras-chave: Literatura Comparada; Literaturas Africanas; Literaturas Afro-diaspóricas Contato das coordenadoras: Roberta Maria Ferreira Alves roberta.alves@ufvjm.edu.br Lilian Paula Serra e Deus liliandeus@unilab.edu.br Luciana Brandão Leal luciana.brandao@ufv.br
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Comparada; Literaturas Africanas; Literaturas Afro-diaspóricas

A INVENÇÃO DE UM MUNDO COMUM: VIAGENS, MIGRAÇÕES E DIÁSPORAS JUDAICAS
EIXO: EIXO 1 - CONTATOS INTERCULTURAIS: DIÁSPORAS, VIAGENS, MIGRAÇÕES
SIMPÓSIO: A INVENÇÃO DE UM MUNDO COMUM: VIAGENS, MIGRAÇÕES E DIÁSPORAS JUDAICAS
COORDENADORES:
- lyslei de souza nascimento (UFMG) lyslei@ufmg.br
- nancy rozenchan (Universidade de São Paulo) nrozenchan@usp.br
- Alessandra Fabrícia Conde da Silva (Universidade Federal do Pará) afcondesilva@gmail.com
RESUMO: Este simpósio receberá propostas de comunicações que elaborem reflexões críticas sobre as invenções de um mundo comum a partir da análise de viagens, migrações e diásporas judaicas na literatura em diálogo com as artes, a filosofia, a história e outras disciplinas . Os múltiplos mundos judaicos – culturais, artísticos, literários – entendidos como acervos que são atravessados por deslocamentos tanto nos espaços físicos quanto nos territórios da arte oferecem especial oportunidade para se pensar nas estratégias de resistência da memória e da identidade na contemporaneidade. A cultura judaica em sua diversidade de constituição e de expressão, fazem falar os males e os benefícios do exílio, as trocas culturais, bem como o exercício, muitas vezes precário, da coexistência, como afirma Maria José de Queiroz em Os males da ausência ou A literatura do exílio (1998). A literatura, em todas as suas manifestações, em diálogo com o cinema, a fotografia, as artes visuais e gráficas, das tábuas da Lei às telas do computador, como refletem Regina Zilberman e Marisa Lajolo (2009), deixam vislumbrar os contatos interculturais dos judeus com outros grupos étnicos de forma excepcional. Amós Oz e Fania Oz-Salzberger em Os judeus e as palavras (2015) distinguem a controvérsia, a ironia, o autoexame, os muitos exílios, as diásporas e a Shoah, além de uma particular relação com a memória, como estratégias discursivas em que esse grupo, em sua diversidade, fazem falar vozes, exibem lugares de pertencimento e de adoção que evidenciam estratégias põem em relevo uma tradição literária criativa e criadora em movimento e em metamorfose. As interatividades decorrentes desses encontros e, por vezes, desencontros, evidenciam identidades, memórias e realidades que ressignificam não só a escrita e a arte, mas o corpo, como adverte Silviano Santiago em A fisiologia da composição – diante do objeto- livro, por exemplo, ao criar contatos e ao promover a coexistência. Ricardo Foster, em A ficção marrana: uma antecipação das estéticas pós-modernas (2009), compreende a figura “ex-cêntrica” do marrano – o judeu convertido ao cristianismo que, ocultamente, mantém sua fé e sua prática religiosa – como uma espécie de paradigma altamente proveitoso no estudo das imposturas, simulações e deslocamentos da contemporaneidade, não só do marrano, no tempo histórico em que ele está inscrito, mas também do sujeito contemporâneo que, entre as dobras do discurso, é atravessado pela nova história, pela antropologia, pela filosofia, pela psicanálise. Outras estratégias de aproximação e afastamento, como a recriação de mitos e lendas tal qual a do Golem, deixam vislumbrar reflexões sobre o estranho, o familiar, de acordo com Sigmund Freud (2019), e sobre o estranhamento, o estrangeiro, o incômodo diante do desconhecido e a longa história do medo no Ocidente, segundo avalia Jean Delumeau (1991). A tradição judaica migra para outras tradições e concepções do estar no mundo, como o mito de Lilith e as questões de gênero, que revelam o estranhamento diante do feminino, a reelaboração de mitos da criação e a relação com a escrita e outros tantos temas caros à reflexão presente na ficção que se perpetuam no contexto judaico e migram para outros espaços revelam a vitalidade e abrangência desse acervo viajante. Os textos se configuram como uma pré-história contemporânea, como vestígios de um passado que se filtram no presente a partir de uma concepção de leitura e escrita cada vez mais ampla e difusa, atravessando cartografias, mapas e atlas, fazendo convergir, confluir e combinar mundos, línguas e memórias como pode ser confirmado em Aventuras de uma língua errante, fundamental livro de Jacó Guinsburg sobre o ídiche (1996). A errância, nesse sentido, estabelece a ambiguidade do vocábulo. Errar, no sentido de equivocar e no sentido de vagar. Ambas as concepções estão presentes, para o estudioso, como estratégia de inscrição e sobrevivência judaica em espaços e tempos muitas vezes adversos. Nesse sentido, tentar criar “um mundo comum” é, a cada dia, um desafio e uma condição de sobrevivência. A noção de compartilhamento de bens culturais e práticas discursivas que instauram enunciados como acontecimentos híbridos, continuamente reorganizados, traduzidos e revisados é, assim, paradigmática nos estudos judaicos, em geral, e na literatura e arte judaicas, em particular. O modo de ação do escritor e do artista, nesse contexto, lendo e relendo o acervo judaico, um arquivo, portanto, que o antecede, implica estabelecer estratégias para entrar e sair da tradição, para propor ao leitor um jogo de transmissões, de retomadas, de citações como é possível apreender, por exemplo, na relação da imigração com a literatura no Brasil, em Imigrantes judeus/escritores brasileiros, de Regina Igel (1997). Constituídos por vestígios de cultura, de onde se retiram fragmentos dispersos, esses mundos compartilhados podem alcançar desfechos não previstos. Nesse contexto, o que se acessa não é mais uma tradição imaginada como coesa e fechada, mas um rastro, um recorte, vários recortes, que se inscrevem na contemporaneidade de forma negociada.
PALAVRAS-CHAVE: Diásporas; Viagens; Migrações; Exílios

GEOPOESIA DAS VIAGENS E DEMIGRAÇÕES: PASSAGENS, POLIFONIAS E RAIZAMAS EM LITERATURAS DE CAMPO
EIXO: EIXO 1 - CONTATOS INTERCULTURAIS: DIÁSPORAS, VIAGENS, MIGRAÇÕES
SIMPÓSIO: GEOPOESIA DAS VIAGENS E DEMIGRAÇÕES: PASSAGENS, POLIFONIAS E RAIZAMAS EM LITERATURAS DE CAMPO
COORDENADORES:
- AUGUSTO RODRIGUES DA SILVA JUNIOR (Universidade de Brasília) augustorodriguesdr@gmail.com
- Willi Bolle (Universidade de São Paulo) willibolle@yahoo.com
- Ana Clara Magalhães de Medeiros (Universidade Federal de Alagoas) a.claramagalhaes@gmail.com
RESUMO: A geopoesia é uma teoria e uma prática que não tem medo de ser feliz. Apresenta-se como um quilombo pensamental da teoria da literatura comparada. Surge como uma aldeia onde se reúnem pensares originários e vozes do literário. Geopoesia é prática, é trabalho, é o seguir do caminho: travessias geopoéticas de cidades, campos, passagens. Do exercício de crítica polifônica, vamos compondo as camadas de raizamas e passagens. No ato de fazer literatura de campo, traçamos trânsitos e transes, etnoflâneries e flâneries. Na “Encontraria” (Silva Junior, 2022), há sempre preparativos para a partida, experiências coletivas da viagem. No centro da peregrinação, comportamentos e impressões, reside uma vontade de permanecer. A sequência de dramas e campos movimenta a certeza da partida – encontrar para ouvir, voltar para contar: etnoflanar para rexistir. Assim, os enfronteiramentos revelam raizamas (raízes e rizomas): vozes, textos e corpos chamados, na língua do dominante, de sertanejos e caipiras, indígenas e afrodescendentes, quilombolas e centroestinos, nortistas e nordestinos, moradores de rua e de orla, povos “da floresta”, caboclos, ribeirinhos, nômades e retirantes. O conceito-chave da raizama não surge por acaso. Ela agrega o raizame, aquilo que foi colhido, ajuntado, enfeixado. Movimenta o verbo “amar” e é também um conjunto de raízes de uma mesma planta, embaixo da terra ou já coletadas, ou, ainda, de plantas diferentes que se emaranham no solo. As raízes culturais que figuram nas tradições e “bases” que se religam a determinada coisa, pessoa ou grupo também têm uma força rizomática, quando pensamos no deslocamento do indivíduo entre lugares, entre memórias, por-entre territorialidades. A raizama movimenta rituais, com seus bulbos estruturais, localizáveis e invisíveis, eles expandem manifestações ancestrais: raízes dos brasis liminares e reverberações rizomáticas nos modos de fazer e de saber, modos de cuidar e de dizer. Nas forças submersas que demovem, as águas-palavras de tropos e graphias revelam-se um conjunto de cenários-flúvios, liminaridades-fauna, ações-flora num arquipélago existencial enformado por páginas arvoreais (em celulose, reciclados e algoritmos). Entre habitus, técnicas corporais e gerais (Mauss), a sintaxe dos rios e a semântica das margens, chãs, confluem nas tramas tecidas pelos pensadores da geopoesia. O habitat, natural, neste campo de estudo, é sempre de onde se vem. Seguimos rotas de andarilhos e navegantes, ambulantes e flâneurs sertanejos, estradeiros e flâneuses revolucionárias, foliões e mascarados. Os geopoetas, com suas vozes múltiplas, recusam a palavra autoritária e o discurso monológico – conforme Bakhtin (2010) e Paulo Bezerra (2005). A geopoesia comparada migra entre campo e metrópole, vãos e vaus, sob o signo do “grandesertão.br”, preconizado por Willi Bolle (2004). Este ST movimenta pesquisas que abordem as seguintes manifestações: oralidade, prosa, teatro, cordel, performance, cinema literário, literatura de viagens, cyberflânerie e vocalidades. Entre a etnografia e a etnoflânerie, o geopoeta (Der Erzähler; Walter Benjamin) busca formas dialógicas de pensar o nosso milênio. A despeito da transitoriedade da vida (FREUD, 2017), o desassossego (que estabelece conexão com o conceito freudiano Das Unheimliche), pleno de migrações e diásporas, viagens e enfronteiramentos, desloca contatos plurivocais com a matéria literária que move e demove um painel de brasis liminares, marcados por movimentos demigrantes multilaterais. Assim, evocamos sempre a palavra do outro, em relações de alteridade. Dos contatos interculturais redimensionados pelas tecnologias da informação e o cenário globalizado, atuando na pedagogia da autonomia digital, a teoria da geopoesia desponta como cartografia de poéticas e estéticas, diásporas e migrações, Passagens e navegações. Do encontro de topografias, discutir caminhos geoculturais e geopolíticos da vida. Territorialidades, vocalidades, corporalidades advindas do Sertão, da Amazônia, do Cerrado, da Caatinga, do Pantanal e dos Pampas compõem paisagens polifônicas que convocam o olhar responsivo e responsável dos estudiosos deste Simpósio, ocupados em viajar, observar, anotar e comunicar. Em um país de dimensões continentais, retratos de movimentos diaspóricos que tracejam as “fisiognomias” (BOLLE, 2022) das culturas brasileiras. O direito ao literário e o direito à literatura (CANDIDO, 1998) facultaram a constituição da crítica polifônica (conforme MEDEIROS; SILVA JR, 2018). Enquanto campo e ferramenta, trabalhar com a geopoesia implica enfrentar o preconceito literário, renovar cânones e apresentar autores esquecidos ou não estudados. Ao mesmo tempo, refletimos sobre os contatos entre corpos, vozes e performances e suas reverberações – em diálogo com a geopoética, ecocrítica, geocrítica e estudos decoloniais. Para tal, o espaço e a experiência urbana também se apresentam como paradigmas de vidas em obras, de obras em vida (e na morte). Enfim, neste Simpósio, abrimos uma moldura teórica que questiona a tradição e o patrimônio cultural literário, para provocar inquietações no seio das literaturas e críticas comparadas, agregando diversas áreas do conhecimento. Diante de nosso desejo insaciável por viagens e encontrarias, convidamos ao potente exercício da etnoflânerie – sempre atenta às raizamas e aos enfronteiramentos polifônicos.
PALAVRAS-CHAVE: Geopoesia; Literaturas de viagens; Passagens; Etnoflânerie; Crítica polifônica

INTERTEXTUALIDADE EM MACHADO DE ASSIS: RUPTURA DE LIMITES DA LITERATURA E MANIFESTAÇÃO CRÍTICA DA ARTE E DA SOCIEDADE
EIXO: EIXO 1 - CONTATOS INTERCULTURAIS: DIÁSPORAS, VIAGENS, MIGRAÇÕES
SIMPÓSIO: INTERTEXTUALIDADE EM MACHADO DE ASSIS: RUPTURA DE LIMITES DA LITERATURA E MANIFESTAÇÃO CRÍTICA DA ARTE E DA SOCIEDADE
COORDENADORES:
- Juracy Ignez Assmann Saraiva (Universidade Feevale) juracy@feevale.br
- Marinês Andrea Kunz (Universidade Federal da Paraíba) marinesak5@gmail.com
RESUMO: O presente simpósio dialoga com o eixo “Contatos interculturais: diásporas, viagens, migrações” e visualiza a produção literária de Machado de Assis como um exercício de reflexão que, por um lado, expande-se no campo artístico e, por outro, se direciona para o contexto social. Sob essa perspectiva, concebe que a biografia do escritor e aspectos do contexto sociocultural do Rio de Janeiro se conciliam, instituindo fontes que alimentam sua memória e se revelam na composição de suas obras. Leitor contumaz, crítico literário e teatral, apreciador de espetáculos líricos e musicais, Machado transfere suas experiências para a produção ficcional, correlacionando vida e literatura, compreendidos como universos sêmicos justapostos e permeáveis. Paralelamente, estende a ideia de convergência à própria concepção de arte: endossando sua natureza sistêmica, ele anula, no ato da produção, a distinção entre linguagens e a sucessão cronológica de obras, para sublinhar a importância de suas significações e de seus elos de simultaneidade. Consequentemente, a menção a autores e obras, fatos e figuras históricas, não aleatória, funciona ora como metonímia ora como metáfora dos acontecimentos e das figuras ficcionais, caracterizando personagens, explicitando a natureza de suas ações, manifestações e posicionamentos do narrador. As menções intertextuais possibilitam a compreensão de significações do texto, a apreensão do contexto sociocultural em que Machado circulava, bem como seu posicionamento crítico em face deste contexto. Portanto o exercício da intertextualidade praticado provoca uma atitude autorreflexiva nos leitores, instalando uma compreensão renovada da sociedade carioca da segunda metade do século XIX. Esses aspectos retiram do passado a sociedade em que Machado viveu e contribuem para elucidar suas apreciações valorativas em relação à arte. Ao valorizar a convergência de textos presentes na obra machadiana e nas reflexões sobre sua produção, o Simpósio fundamenta-se em estudos de diferentes autores: Culler, defende que nenhuma obra literária é totalmente original, pois “são feitas a partir de outras obras: tornadas possíveis pelas obras anteriores que elas retomam, repetem, contestam, transformam” (1999, p. 40); Lodge (2010) endossa esse posicionamento ao afirmar que texto algum é inédito, pois, mesmo que a intertextualidade não seja evidente, “todos os textos são tecidos com os fios de outros textos, independentemente de seus autores estarem ou não cientes” (p. 106). Genette (2010) refere-se à relação de um texto com outro definindo-a com o termo “transtextualidade”, que é “grosso modo, [...] tudo que coloca [o texto] em relação, manifesta ou secreta com outros textos” (p. 11). Integrando-se a esses estudos pelo ângulo da autorreferencialidade, Waugh refere que o exercício de reflexão crítica de um texto sobre seu próprio ato de criação é um exercício de metaficção, que “é um termo dado para a escrita ficcional que, consciente e sistematicamente, chama a atenção para seu estatuto de artefato, de forma a propor questões sobre o relacionamento entre ficção e realidade” (1984, p. 02). Por sua vez, Hutcheon (1991) privilegia a metaficção historiográfica, que diz respeito à ficção que se apropria de personagens ou eventos históricos, fim de problematizá-los e questioná-los quanto à sua veracidade. Portanto, o Simpósio sublinha o uso que Machado de Assis faz da intertextualidade e da metaficção, procedimentos que atribuem ao leitor uma atuação importante na compreensão das obras, seja pelo estabelecimento dos vínculos significativos com outros textos, seja pela análise crítico-interpretativa das reflexões metaficcionais que o escritor inclui em sua produção. Diante do exposto, as comunicações podem optar, como corpus de análise, pelo romance, pelo conto, pelo teatro, pela poesia, pela crônica, pela crítica, pela ensaística e pela correspondência machadianas, orientando-se pelos estudos literários ou por uma perspectiva interdisciplinar. Entre outros aspectos, podem restabelecer diálogos de textos machadianos com outros textos e com elementos do teatro, da música e da dança, das artes visuais, que o escritor incorpora às suas criações; podem deter-se na ficcionalização de eventos históricos, na crítica que se inscreve nos textos e a partir da qual Machado compõe a ficcionalização de uma teoria do fazer poético. Em síntese, o simpósio contribui para a divulgação de estudos que exploram a obra de machadiana em seu diálogo com outras artes e com seu contexto cultural e que ressaltam a importância de sua obra e a necessidade de sua atualização no âmbito acadêmico e no sistema educacional brasileiro. Referências: CULLER, Jonathan. Teoria Literária: uma introdução. São Paulo: Beca Produções Culturais Ltda, 1999. GENETTE, Gerard. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Belo Horizonte: Edições Viva Voz, 2010. HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1991. LODGE, David. A arte da ficção. Porto Alegre, L&PM, 2010. WAUGH, Patrícia. Metafiction: The theory and practice of self-concious fiction. London; New York: Methuen, 1984.
PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; Intertextualidade; Autorreferencialidade; Crítica estética; Crítica social; Leitor.

LITERATURA CARIBENHA E GUIANENSE ESCRITA POR MULHERES
EIXO: EIXO 1 - CONTATOS INTERCULTURAIS: DIÁSPORAS, VIAGENS, MIGRAÇÕES
SIMPÓSIO: LITERATURA CARIBENHA E GUIANENSE ESCRITA POR MULHERES
COORDENADORES:
- Juliana Pimenta Attie (Universidade Federal de Alfenas) juliana.attie@unifal-mg.edu.br
- Natali Fabiana da Costa e Silva (Universidade Federal do Amapá) natali_costa@hotmail.com
- Viviane Ramos de Freitas (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) viviane.defreitas@ufrb.edu.br
RESUMO: Esse simpósio dirige o olhar para textos que colocam em evidência a experiência vivida no Caribe e região das Guianas e sua relação com o corpo, a linguagem, e suas especificidades geográficas e geopolíticas. Ao mesmo tempo, o simpósio busca fomentar o debate em torno de reflexões críticas e elaborações teóricas que apontem vias alternativas ao influente estudo de Paul Gilroy, O Atlântico Negro [The Black Atlantic], de 1993, que dirigiu o foco do interesse para o ponto de vista, predominantemente masculino, do migrante e para os debates críticos centrados no estudo de movimentos e fluxos em detrimento de experiências situadas. Conforme endossa Donnell (2006), o modelo teórico do Atlântico Negro, e os discursos da diáspora sob a sua influência, colaboraram para a ênfase na migração e no exílio como as áreas de investigação mais gratificantes, gerando um desinvestimento na região do Caribe como um local de possibilidades. Esse simpósio convida olhar para o Caribe e para as Guianas levando em consideração toda a sua complexidade e diversidade regional. Com narrativas nacionais muito envolvidas com as diásporas da África e do Sul da Ásia, bem como com a migração colonial europeia, o Caribe é um local particularmente interessante para discussões sobre as identidades diaspóricas e os escritos que se relacionam com ela. Os processos transculturais e interculturais, que Gilroy contrapõe à ideia de nação, são constitutivos das próprias formações nacionais caribenhas e podem ser localizados nas diversas dimensões da vida e da experiência cotidiana da vida caribenha. Esse movimento não significa desconsiderar a extraordinária mistura que constitui a região do Caribe, nem tampouco as muitas comunidades da diáspora caribenha que se estendem globalmente. No entanto, desconfiamos que os silêncios e os espaços marginais, que marcam essas produções literárias, ainda têm muito a dizer sobre essa região ainda tão desconhecida. Um mergulho nesses textos nos convida a identificar novas áreas de recurso imaginativo na cultura, tendo por foco a integração da vida humana à vida da paisagem caribenha e crioula, assim como a desbravar caminhos para repensarmos maneiras de teorizar sobre as identidades diaspóricas e os escritos que se relacionam com elas. Finalmente, é também nosso objetivo fomentar um debate sobre os contatos interculturais através da interlocução dessas produções literárias em conversa com outros espaços de experiência e pensamento negro, a partir de uma perspectiva relacional e reflexiva. A ideia é olhar para esses trabalhos como contextos relevantes e locais estratégicos de possibilidades de conhecimento situado e de produção de conhecimento a respeito dos espaços interculturais que se articulam de forma relevante à herança africana. Além disso, pretendemos abordar esses textos literários como expressões da multiplicidade da diáspora africana, que estão bem posicionados para contribuir para abrir caminhos metodológicos, teóricos e conceituais para os Estudos comparados de literatura, assim como para as discussões sobre o os contatos interculturais que gestam novas interações e expressões culturais, reinventando noções de limite e fronteira. Vale lembrar que, para o martinicano Édouard Glissant (2021), tais noções são rasuradas. Desde as primeiras travessias oceânicas com intuito colonizador, a fricção entre as diferentes matrizes culturais oriundas do período do tráfico de escravizados ampliam a produção de saberes e de estratégias de resistência apesar de todo o sofrimento infligido aos povos originários e às pessoas escravizadas. Nesse sentido, em que pese a experiência do trauma, fomos (e somos) capazes de atualizar saberes e modos de existir. Esse movimento é o que caracteriza a Poética da Relação (GLISSANT, 2021) que, avessa à fixidez, é atrito, deslocamento, e se sustenta em uma estrutura rizomática, movediça, imprevisível e em constante transformação. A Relação glissantiana dialoga com a proposta da Tidalectics (dialética das marés), de Edward Kamau Brathwaite (1973), pois o poeta barbadiano observa em nossas práticas sociais, culturais e atravessamentos subjetivos os movimentos de maré e de ondulação que se contrapõem à dialética de Hegel. Ancorada na fluidez rítmica, nos movimentos cíclicos da água, a Tidalectics também enceta uma abertura oriunda do atrito histórico, cultural, social e subjetivo provocado pelo período da colonização e do tráfico de escravizados. A aproximação de universos distintos resulta na produção de novos campos de significados e possibilidades de existência. Em outras palavras, trata-se da recusa ao encerramento em uma ideia, um modo de existir, uma perspectiva, uma História. É a renúncia ao impermeável, ao redutível, à imobilidade. O simpósio Literatura caribenha e guianense escrita por mulheres é um convite para dirigir o olhar ao trabalho de escritoras do Caribe e das Guianas comprometidas com uma escrita situada. As interlocuções com essas mulheres permitem explorar de que forma as questões morais, políticas, religiosas, espirituais encenadas por seus textos são capazes de ampliar, contestar, deslocar, ou propor novas travessias de fronteiras raciais, sexuais e culturais.
PALAVRAS-CHAVE: Caribe; Guiana; Literatura escrita por mulheres

LITERATURAS DA/NA AMAZÔNIA E SEUS DIÁLOGOS COM A LITERATURA MUNDIAL
EIXO: EIXO 1 - CONTATOS INTERCULTURAIS: DIÁSPORAS, VIAGENS, MIGRAÇÕES
SIMPÓSIO: LITERATURAS DA/NA AMAZÔNIA E SEUS DIÁLOGOS COM A LITERATURA MUNDIAL
COORDENADORES:
- MIRELLA MIRANDA DE BRITO SILVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA) mirellampb@gmail.com
- ADRIANA HELENA DE OLIVEIRA ALBANO (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA) adriana.albano@ufrr.br
- Emerson Carvalho de Souza (Universidade Federal de Jataí) cs.emerson@gmail.com
RESUMO: O debate sobre a Amazônia se intensificou ao longo do último século, período em que os discursos midiático e científico se debruçaram sistematicamente sobre a região. Termo cercado de exotismo, equívocos e inexatidões, mesmo do ponto de vista físico-geográfico, a Amazônia é geralmente enunciada como sinônimo da Região Norte do Brasil, mas abrange outras regiões, se fazendo presente em Estados do Centro-oeste e Nordeste brasileiro, para além dos países fronteiriços, que concentram parte considerável de sua área. A porção brasileira da Amazônia chamou a atenção do mundo inicialmente durante a Revolução Industrial, funcionando como a maior fonte de matéria-prima de borracha, que supria as demandas das fábricas inglesas, que então começavam a operar. Com incentivo do governo brasileiro, uma grande massa de estrangeiros e brasileiros de outros Estados, sobretudo na região Nordeste, migrou para o Norte. Mas foi no governo de Getúlio Vargas que a chamada “colonização da floresta” passou a ser vista como estratégica para os interesses nacionais, na chamada Marcha para o Oeste. Desde então, em busca de diferentes eldorados, a região enfrentou vários boons migratórios, com impactos diversos na paisagem e na vida do homem amazônida. Entretanto, apesar de todo o tempo transcorrido, a Amazônia ainda é um espaço cujos limites e definição permanecem em constante litígio, obnubilando-se no imaginário nacional como o céu da floresta, via de regra encoberto pelas densas nuvens que sacodem os aviões que a sobrevoam ou envolta na escura fumaça das queimadas, Vítima dos factoides propagados nas redes sociais e do criminoso descaso governamental, a Amazônia brasileira voltou à berlinda e às manchetes dos noticiários do mundo inteiro. Nesse contexto, a percepção deste espaço, que sempre suscitou as mais variadas imagens e significados no imaginário nacional e internacional, se torna ainda mais complexa. Euclides da Cunha já declarara que a Amazônia esteve por muito tempo à margem da história, ressaltando que os interesses nacionais e internacionais estavam muito mais voltados para as potencialidades naturais da biodiversidade da fauna e flora amazônicas do que para o homem da região e sua cultura. Nesse sentido, estamos de acordo com Pizarro (2006), que afirma que “A Amazônia não é somente um reservatório ecológico, guardião da biodiversidade e necessário para a sobrevivência do planeta [...] é um reservatório cultural, berço de parte das formas de seu imaginário, esfera de uma densidade histórica em que não se pensa com frequência [...] é um centro de importância ecológica, mas, além disso, é um centro de elaboração cotidiana de cultura de densidade histórica e de imaginários.” (PIZARRO, 2006). Evidentemente, a literatura também funciona como discurso construtor/problematizador dessas imagens formadas acerca do que é a Amazônia (ou Amazônias) e de suas relações com o resto do continente, como sugeriu Pizarro. Na miscelânia dos discursos sobre a Amazônia se entrecruzam e se entrechocam duas percepções fundamentais, intensificadas pelos litígios atuais: de um lado, uma Amazônia risonha, que acena com a possibilidade do achamento dos Eldorados de riquezas infindáveis (visada que justificou diversos fluxos migratórios do último século em direção às Amazônias); de outro, o terrificante do “inferno verde”, a selva que destrói corpos e ânimos de quem tentava dela tirar seu sustento. A primeira perspectiva, nascida dos relatos dos viajantes, ganhou corpo na propaganda institucional dos governos militares, sobretudo a partir do programa de interiorização getulista, que afirmava “O destino brasileiro no Amazonas”, plasmando em definitivo no imaginário nacional a ideia de que a apropriação capitalista mais intensiva e predatória da floresta é o passo que faltava para alçar o Brasil à condição de nação superdesenvolvida. É a Amazônia de eldorados e muiraquitãs, largamente representada pelas expressões literárias locais e nacionais, em obras clássicas ou contemporâneas, como também na poética oral das inúmeras comunidades indígenas da região. A segunda visada, frequentemente nascida da experiência do migrante, se solidifica nas obras que tratam da vida na região amazônica e que elaboram a expressão poética mais conhecida do que é a Amazônia e o que significa viver ali (vide A Selva, de Ferreira de Castro, e Inferno Verde, de Alberto Rangel). As duas perspectivas se concatenam com a atualidade, contexto em que de práticas que prescindem de qualquer projeto de desenvolvimento sustentável para a região e em que o desrespeito aos direitos mais fundamentais dos povos indígenas e das comunidades tradicionais se multiplicam. É, pois, diante desse complexo cenário histórico – assim como teórico e crítico – que propomos, para este Simpósio, pensar a literatura produzida na(s) e sobre a(s) Amazônia(s), com ênfase especial às propostas que focalizem nas confluências entre a Literatura da Amazônia e o diálogo com o cânone nacional. Serão acolhidos trabalhos na seara da teoria da literatura, estudos culturais, ecocrítica, história da literatura, literatura e cinema, ensino de literatura no contexto da Amazônia, poéticas indígenas e áreas/temas afins.
PALAVRAS-CHAVE: AMAZÔNIA - RORAIMA - ECOCRÍTICA - LITERATURA NA/DA AMAZÕNIA
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COMPARAR PARA DESCOMPARAR PARA RE-COMPARAR – NEM UM REPOSITÓRIO DE CONCEITOS E NEM UM ESVAZIAMENTO DO CÉREBRO: UMA RE-INVENÇÃO DO OUTRO
- EDGAR CÉZAR NOLASCO (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL) - ecnolasco@uol.com.br
- FÁBIO DO VALE (FACULDADE INSTED) - professorfabioletras@gmail.com
- LUIZ LOPES (CEFET MG) - luigilopes@gmail.com
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ENTRE O CÂNONE E O ESQUECIMENTO: PROCESSOS DE (NÃO) CANONIZAÇÃO DE AUTORES E OBRAS
- VALDINEY VALENTE LOBATO DE CASTRO (UERJ) - valdineyvalente@hotmail.com
- ALAN VICTOR FLOR DA SILVA (UFPA) - alan.flor@hotmail.com
- YURGEL PANTOJA CALDAS (UNIFAP) - yurgel@uol.com.br
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EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS: MATERIAIS ORAIS E DECOLONIALIDADE
- Mauren Pavao Przybylski da Hora Vidal (PPGLit/UFSC - LANMO/ UNAM) - mauren.pavao@lanmo.unam.mx
- Rafaella Contente Pereira da Costa (Universidade Federal Rural da Amazonia) - rafaellacontente@gmail.com
- Aline Venturini (Instituto Federal do Parana) - alineventurini260780@gmail.com
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ESCRITAS ESQUECIDAS E VIDAS EXCLUÍDAS NAS RELAÇÕES LITERÁRIAS INTERAMERICANAS
- Andre Rezende Benatti (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) - andre_benatti29@hotmail.com
- Livia Reis (Universidade Federal Fluminense) - liviar33@gmail.com
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FABULAR CRITICAMENTE O BRASIL: INVENÇÃO E CONTRAVENÇÃO NAS ESTÉTICAS NEGRAS CONTEMPORÂNEAS
- Fabiana Carneiro da Silva (Universidade Federal da Paraiba) - fabicarneirodasilva@yahoo.com.br
- Assunção de Maria Sousa e Silva (Universidade Estadual do Piauí) - asmaria1@outlook.com
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LITERATURA E OUTRAS ARTES: TRANSIÇÕES PERFORMÁTICAS E CULTURAIS
- Wagner Corsino Enedino (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)) - wagner.corsino@ufms.br
- Ricardo Magalhães Bulhões (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)) - ricardoufms1@gmail.com
- Francisco Claudio Alves Marques (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP)) - fransclau@gmail.com
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LITERATURA E RELIGIOSIDADE
- João Cesário Leonel Ferreira (Universidade Presbiteriana Mackenzie) - joao.leonel@uol.com.br
- Marcos Aparecido Lopes (UNICAMP) - mlopes1789@gmail.com
- Rafaela Câmara Simões da Silva (Universidade Portucalense Infante D. Henrique / Instituto de Filosofia - U. Porto) - rafaelasilva84@hotmail.com
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LITERATURAS INSUBMISSAS E SABERES INDISCIPLINADOS: CONSTRUINDO FUTUROS ANCESTRAIS
- Fernanda Vieira (Universidade do Estado de Minas Gerais - Unidade de Divinópolis) - fernandavsantanna@gmail.com
- Edimara Ferreira Santos (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) - edimara@unifesspa.edu.br
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NATURALISMO/NATURALISMOS, DO SÉCULO XIX AO XXI - QUESTÕES DE FORMA, CLASSE, RAÇA E GÊNERO NA LITERATURA
- Leonardo Mendes (UERJ) - leonardomendes@utexas.edu
- Haroldo Ceravolo Sereza (UFSCAR) - hsereza@gmail.com
- Claudia Barbieri (UFRRJ) - barbiericlaudia.cb@gmail.com
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REVISÃO DA HISTORIOGRAFIA TEATRAL: LER E RELER FONTES PRIMÁRIAS, VISÕES CRÍTICAS E JUÍZOS ESTÉTICOS NA DRAMATURGIA
- Maria Clara Gonçalves (UFES/DLL) - maria.claire.gon@gmail.com
- Elizabeth Ferreira Cardoso Ribeiro Azevedo (USP/ECA) - bethazevedo@usp.br
- Carlos Gontijo Rosa (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) - carlosgontijo@gmail.com
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TRANSMODERNIDADE E ESCRITAS DECOLONIAS NA LITERATURA E NO CINEMA LATINO-AMERICANO
- Amanda Ramalho de Freitas Brito (Universidade Federal da Paraíba - UFPB) - amanda.ramalho@academico.ufpb.br
- Leyla Thays Brito da Silva (Universidade Federal da Paraíba - UFPB) - leyla.brito@academico.ufpb.br
- Maria Betânia da Rocha de Oliveira (Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL) - mariabetania.oliveira@uneal.edu.br

COMPARAR PARA DESCOMPARAR PARA RE-COMPARAR – NEM UM REPOSITÓRIO DE CONCEITOS E NEM UM ESVAZIAMENTO DO CÉREBRO: UMA RE-INVENÇÃO DO OUTRO
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: COMPARAR PARA DESCOMPARAR PARA RE-COMPARAR – NEM UM REPOSITÓRIO DE CONCEITOS E NEM UM ESVAZIAMENTO DO CÉREBRO: UMA RE-INVENÇÃO DO OUTRO
COORDENADORES:
- EDGAR CÉZAR NOLASCO (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL) ecnolasco@uol.com.br
- FÁBIO DO VALE (FACULDADE INSTED) professorfabioletras@gmail.com
- LUIZ LOPES (CEFET MG) luigilopes@gmail.com
RESUMO: Talvez não tenha sido suficientemente demonstrado que o colonialismo não se contenta de simplesmente impor seu domínio ao presente e ao futuro de um país dominado. Ao colonialismo não basta encerrar o povo entre suas malhas, esvaziar o cérebro colonizado de toda forma e todo conteúdo. Por uma espécie de perversão da lógica, ele se orienta para o passado do povo oprimido, deforma-o, desfigura-o, aniquila-o. Frantz Fanon. Os condenados da terra, p. 175. O desprendimento conduz a teorias críticas descoloniais e à pluriversalidade não eurocentrada de um paradigma-outro. Os paradigmas de conhecimentos eurocêntricos (em suas teopolítica e egopolítica) chegaram a um ponto em que suas próprias premissas deveriam ser aplicadas a si mesmos, desde o repositório de conceitos, visões e energias que foram silenciados ou sequer reconhecidos, durante a marcha triunfal do aparato conceitual ocidental. MIGNOLO. Desobediencia epistémica, p. 96-97) A proposta do simpósio centra-se em, e tendo como base a expressão “aprender a desaprender, para así re-aprender” desenvolvida a exaustão por Walter Mignolo, pensar acerca de uma teorização específica (e de base comparatista) e de ordem descolonial, cuja réplica pode ser assim formulada: aprender a comparar para descomparar para re-comparar. Considerando que nesta proposta vamos priorizar uma guinada descolonial, aqui vamos manter apenas o re-comparar, compreendendo-o como pertencente ao campo da teorização crítica fronteiriça/descolonial por excelência. Como já assinala o título desta proposta de simpósio, vamos tomar a teorização como uma formulação que se dá a partir de um paradigma-outro, como propõe Mignolo em seu texto “Un paradigma otro” (MIGNOLO, 2020, P. 19-60). Considerando que a palavra de ordem para a teorização entendida como um paradigma-outro é o desprendimento, retomaremos as duas passagens apostas como epígrafes, visando justificar nossa proposição do simpósio. Da primeira, de autoria de F. Fanon e presente no livro Os condenados da terra (2022), nos interessa tão somente a expressão “esvaziar o cérebro”; da segunda epígrafe, de Walter Mignolo e constante do livro Desobediencia epistémica (2010), interessa-nos a expressão “repositório de conceitos”. Reiteramos que as duas expressões destacadas são tomadas como leitmotiv para ilustrar e encenar o campo da teorização proposta. Teorização essa que resulta a partir de um fazer, ou uma prática que implica a presença do re-comparar. A passagem de Fanon abre o livro Desobediencia epistémica de Mignolo como epígrafe e, por todo o livro, Mignolo faz referência direta a ela pelo menos duas vezes. O contexto no qual aparece referência à passagem de Fanon dá-se quando Mignolo reitera que o fundamento por excelência do mundo moderno/colonial na América está caracterizado pelo feito de “esvaziar o cérebro”, promovendo, por conseguinte, verdadeiras lobotomias teológicas-cristãs e grego-romanas (MIGNOLO, 2010, P.43. Aqui chamamos a atenção para o “desprendimento epistêmico” por entender que sua problematização e compreensão conceitual são determinantes para a discussão proposta a partir da expressão “esvaziar o cérebro”, como esperamos que a proposta do simpósio como um todo contemple. Esperamos, sinceramente, que o simpósio oportunize essa discussão por meio dos trabalhos apresentados. Vejamos, agora, em que contexto do livro Desobediencia epistémica (2010) aparece a segunda expressão “repositório de conceitos”. É interessante observar que a expressão de Mignolo “repositório de conceitos” aparece dentro da mesma fundamentação teórico-conceitual em que aparece a de Fanon, qual seja senão a do desprendimento. A passagem de Mignolo em epígrafe convoca, além do já destacado conceito de desprendimento, o de “paradigma-outro”. Paradigma-outro se contrapõe a “paradigma hegemônico”, na medida em que ele alimentou seu “repositório de conceitos” para fortalecer-se a si mesmo. Estamos adiantando nossa discussão almejada pelo simpósio, mas com o objetivo de destacar que seria contra esse “repositório de conceitos” que a teorização vai se irromper definitivamente, posto que ela não ignora a plêiade de poder conceitual advindo desse repositório de conceitos modernos. Nesse sentido, “esvaziar o cérebro” pode ter sido uma estratégia moderna deliberadamente criada pelas teorias modernas para levar o “outro” fronteiriço a encher seu pensamento (teorização) de conceitos migrados do repositório colonial formado pela mente brilhante do pensamento moderno ocidental, como deixa entrever Mignolo no final da referida passagem aposta como epígrafe. Afinal, “ também a de que só temos esse mundo e [...] é necessário um grande esforço de nossa parte para opormos resistência aos que agem em favor da exclusão”, afirma a Gestão da ABRALIC 2022-2023.
PALAVRAS-CHAVE: Teorização fronteiriça; Literatura comparada; Estudos descolonais

ENTRE O CÂNONE E O ESQUECIMENTO: PROCESSOS DE (NÃO) CANONIZAÇÃO DE AUTORES E OBRAS
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: ENTRE O CÂNONE E O ESQUECIMENTO: PROCESSOS DE (NÃO) CANONIZAÇÃO DE AUTORES E OBRAS
COORDENADORES:
- VALDINEY VALENTE LOBATO DE CASTRO (UERJ) valdineyvalente@hotmail.com
- ALAN VICTOR FLOR DA SILVA (UFPA) alan.flor@hotmail.com
- YURGEL PANTOJA CALDAS (UNIFAP) yurgel@uol.com.br
RESUMO: Segundo Robert Darnton (2010), os autores constituem um segmento de um circuito de comunicação associado a muitos outros elementos, como os editores, os tipógrafos, os livreiros, os leitores, entre outros. Esse circuito demonstra que os escritores não são os únicos envolvidos nos processos de produção e circulação de impressos. Muito pelo contrário, são completamente dependentes dos demais agentes do circuito de comunicação e estão à mercê das influências intelectuais, da conjuntura econômica e social e das sanções políticas e legais. Do mesmo modo, Roger Chartier (1999) afirma que os autores também estão constantemente sujeitos a uma série de tensões que delimitam a atividade da escrita, pois quase sempre são obrigados a atender as exigências implícitas ou explícitas impostas pelos editores, pelo suporte material onde se materializam os textos, por uma ou várias comunidades de leitores e, de um modo bem mais geral, por um mercado de circulação de impressos. Sendo assim, a compreensão acerca do cenário literário construído na entronização de um escritor expande-se como um processo de aceitação para além da mera relação entre autor e público: Bourdieu (1996) destaca afinidade do escritor com seus pares como elemento singular no processo de canonização. Nesse sentido, todos esses segmentos do circuito de comunicação interferem diretamente não apenas na atividade de produção literária, como também no estatuto do qual desfruta um escritor na sociedade na qual está inserido. Em razão do papel que esses agentes desempenham, alguns autores desfrutam de um espaço privilegiado no meio artístico-literário, enquanto outros são relegados ao esquecimento. Reconstruir, portanto, o processo de canonização de um determinado escritor é remontar todos os seus passos percorridos ao longo dos anos para alcançar um lugar de relevo no cânone literário, o lugar ao qual pertence o grupo seleto dos autores mais representativos de uma determinada nacionalidade. Segundo Marisa Lajolo (2001) e Márcia Abreu (2004), um escritor, para alcançar esse lugar de prestígio, deve passar pelo número máximo de instâncias de legitimação ou consagração, a exemplo das universidades, dos suplementos culturais dos grandes jornais, das revistas especializadas, dos livros didáticos, das histórias literárias, entre outros. Essas instâncias, de modo geral, apresentam a tarefa de julgar e hierarquizar o conjunto de textos que circulam em meio a uma determinada sociedade e, consequentemente, são as responsáveis pelo estatuto social atribuído aos autores, pois têm o poder institucional de declarar escritores e obras como pertencentes ao cânone literário. A (não) canonização implica, além da avaliação da qualidade estética e literária das obras, diversas consequências mais concretas. Os autores canonizados, por exemplo, desfrutam de um espaço muito mais privilegiado no cenário literário, pois são estudados por diversos críticos e especialistas e apresentam uma extensa fortuna crítica, assim como também as obras desses literatos possuem várias e diferentes edições (para todos os gostos e, sobretudo, para todos os bolsos) e, por conseguinte, podem ser lidas por um público leitor muito mais amplo e diversificado. Os não canonizados, em contrapartida, possuem pouco espaço no cenário literário, pois carecem de críticos e especialistas, de referências bibliográficas, de fortuna crítica, de edições para suas obras e, principalmente, de leitores. Em alguns casos não muito raros, até mesmo informações biográficas a respeito de escritores que ficaram à margem do cânone são difíceis encontradas, a exemplo do ano de nascimento e morte, naturalidade, bibliografia, entre outras. As pesquisas em periódicos, por exemplo, revelam uma série de escritores brasileiros que produziram durante os séculos XIX e XX, mas hoje são completamente desconhecidos dos leitores deste século, isso porque os impressos desenharam a imagem da leitura: periodicidade, diversidade de temas, atualidade e propagação mudaram as práticas de produção e leitura do texto literário, o que produziu uma democratização da leitura devido o acesso fácil tanto no que concerne ao barateamento dos custos quanto às condições de manuseio do suporte. Com isso as folhas públicas passam, então, a desenhar a imagem da leitura e as relações que por ela se estabelecem entre os sujeitos que cooperam para a circulação do texto literário. Desse modo, a proposta deste simpósio temático é congregar trabalhos que procurem traçar aspectos da trajetória de consagração ou de esquecimento de autores e obras de qualquer nacionalidade e de qualquer século. Para tanto, esses trabalhos devem considerar o papel da crítica literária, das história literárias, das universidades, das editoras, das livrarias, dos jornais, entre tantos outros.
PALAVRAS-CHAVE: Cânone literário; Processo de canonização; Instâncias de legitimação; Autores; Obras.

EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS: MATERIAIS ORAIS E DECOLONIALIDADE
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS: MATERIAIS ORAIS E DECOLONIALIDADE
COORDENADORES:
- Mauren Pavao Przybylski da Hora Vidal (PPGLit/UFSC - LANMO/ UNAM) mauren.pavao@lanmo.unam.mx
- Rafaella Contente Pereira da Costa (Universidade Federal Rural da Amazonia) rafaellacontente@gmail.com
- Aline Venturini (Instituto Federal do Parana) alineventurini260780@gmail.com
RESUMO: Epistemologias plurais, saberes comuns: materiais orais e decolonialidade Mauren Pavao Przybylski da Hora Vidal (PPGLit/UFSC - LANMO- UNAM mauren.pavao@lanmo.unam.mx) Rafaella Contente Pereira da Costa (UFRA- rafaella.contente@lanmo.unam.mx ) Aline Venturini (IFPR - (alineventurini260780@gmail.com) Na última década os estudos literários vêm sendo repaginados, sobretudo quando se pensa na perspectiva das oralidades. Pensar a literatura a partir de epistemes outras e buscar a valorização e mediação das vozes e da memória de sujeitos outros se tornou necessário para dar conta da complexidade social em que vivemos, uma vez que tratar sobre oralidades é considerar as especificidades de cada povo, cada lugar e grupos distintos, como os ribeirinhos, de matrizes africanas, indígenas, todos, a partir da escuta de narrativas e fora de uma perspectiva estanque de análise do que se compreende como literatura oral. Segundo Paul Sebillot (1846-1918), no seu Littérature Orale de la Haute Bretagne (1881), o termo (...) reúne miscelânea de narrativas e de manifestações culturais de fundo literário, transmitidas oralmente, i. é, por processos não-gráficos. Essa miscelânea é constituída de contos, lendas, mitos, adivinhações, provérbios, parlendas, cantos, orações, frases-feitas tornadas populares, estórias … (Câmara Cascudo). (E-DICIONARIO DE TERMOS LITERÁRIOS) Todavia, não é mais possível querer atrelar essas histórias unicamente a manifestações culturais de fundo literário e que esse literário dependa de um autor canônico. Se as narrativas contadas no dia-a-dia, em volta da fogueira, na beira dos rios dizem muito mais sobre as sociabilidades do que possuem um caráter literário, quer dizer, então, que não cabem no que se entende por manifestações orais? Outrossim, ao se pensar na recepção de tais narrativas por parte de intelectuais ainda conservadores percebe-se uma grande presença de cânone ocidental (aos moldes de Bloom) que quer excluir tudo o que não faça parte de modelos pré-estabelecidos, remetendo-nos a colonialidade do saber e do ser, de que trata Anibal Quijano (2009), e que está no cerne da formação colonial de muitos dos sujeitos socialmente à margem. Por seu lado, o termo poética oral, cunhado por Paul Zumthor, dá conta de produções de caráter sonoro, em voz, corpo, performance e de que modo isso é recebido pela sociedade importam.nAssim, sistematizar narrativas que unem letra e voz, que pensam em diferentes tipos de público receptor e estarão muito mais próximas dos sujeitos contadores, valorizando seus espaços de enunciação é muito mais coerente e urgente do fixar-se na letra. Para essa sistematização, apostamos na linha metodológica dos materiais orais. Segundo Hernández e Vázquez: Los materiales orales pueden definirse como todas aquellas producciones de discurso que se generan en actos comunicativos en los que están presentes el emisor y el receptor en un mismo tiempo-espacio y que tienen como soporte la voz, el cuerpo y la memoria. El significado de estos materiales de naturaleza efímera depende no solo de las emisiones lingüísticas, sino también de la interacción entre lo verbal, lo no verbal y los factores contextuales. Consideramos que se trata de un término flexible que nos permite abordar un objeto de estudio concreto desde la multidisciplina. (Hernández e Vázquez, 2020, p.36) Falar de um mesmo espaço-tempo e da voz, corpo e memória como suporte, ao mesmo tempo que diferencia as narrativas daquelas registradas pelo cânone, valoriza e legitima outras histórias, que apesar de não terem sido “aprovadas” pelos que se consideram aptos a julgar, não deixam de possuir elementos que as colocam em um patamar literário e valorizado. É através do diálogo que as narrativas ganham corpo, acontecem; não se pode mais pensar em registros de narrativas orais que se detém apenas na escrita sem levar em conta a voz do narrador. Fator de extrema importância e que muitas vezes é esquecido é o retorno às comunidades. O mesmo caminho percorrido até os sujeitos para a escuta das histórias tem que ser feito para a entrega do produto advindo de tal escuta, porque ele é da comunidade e não do documentador. Investigações que façam o deslocamento centro-periferia, seja na pesquisa de campo ou no processamento ou análise de materiais orais, que valorizem a voz dos sujeitos pesquisados, entendendo a necessidade de se despir de investiduras acadêmicas e tentar cada vez mais a aproximação com as comunidades serão bem-vindas neste simpósio. Referências BLOOM, Harold. O Cânone Ocidental. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001. E-dicionario de termos literarios - https://edtl.fcsh.unl.pt/ Acesso em 21 nov. 2022 HERNÁNDEZ, S., VÁZQUEZ, B. El Laboratorio Nacional de Materiales Orales, Conceptos, Antecedentes, Código de Ética Y Protocolo de Documentación. BOITATÁ, Londrina, n. 29,jan.-jun. 2020 QUIJANO, Anibal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina.En: Cuestiones y horizontes : de la dependencia histórico-estructural a la colonialidad/descolonialidad del poder. Buenos Aires : CLACSO, 2014. ZUMTHOR, Paul. Introdução à Poesia Oral. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.
PALAVRAS-CHAVE: Epistemologias plurais, Materiais Orais, Decolonialidade

ESCRITAS ESQUECIDAS E VIDAS EXCLUÍDAS NAS RELAÇÕES LITERÁRIAS INTERAMERICANAS
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: ESCRITAS ESQUECIDAS E VIDAS EXCLUÍDAS NAS RELAÇÕES LITERÁRIAS INTERAMERICANAS
COORDENADORES:
- Andre Rezende Benatti (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) andre_benatti29@hotmail.com
- Livia Reis (Universidade Federal Fluminense) liviar33@gmail.com
RESUMO: Ao olhar para a tradição e para a ruptura na América, em Os Filhos do Barro (2013), Octavio Paz reflete sobre os pensamentos de diferentes culturas, em diversas linhas de tempo, para ponderar que apenas na modernidade a mudança foi vista como positiva, todavia, ela sempre aconteceu. O modelo moderno, de Paz, não busca a eternidade, pois esta é uma maneira de negação da mudança, a perfeição moderna seria alcançada por meio da História, na qual a mudança é o que abre as portas para o futuro. Mudar, modernizar torna-se, portanto, necessário. Critica-se a tradição para que assim se avance. Desse modo, a época moderna critica a tradição, contudo, de maneira paradoxal, pois esta mesma época que foi de ruptura, está fadada a tornar-se uma nova tradição. Daí a ambiguidade que perdura na modernidade. Pensar no modelo de criação das Américas é pensar em relações modernas cruzada por trânsitos culturais, contudo, é também, pensar em um processo violento e excludente, que relega ao esquecimento proposital tudo aquilo que não reflete sua própria “tradição”. Todo o processo de "ocidentalização" das Américas foi um procedimento violento, excludente, que apagou de seus registros oficiais tudo e todos os que eram “diferentes”. No ensaio "A escrita e os excluídos", presente em Literatura e Resistência (2002), Alfredo Bosi propõe que para compreendermos as relações estabelecidas entre a Literatura e os sujeitos excluídos ou que estão à margem da sociedade, os negligenciados, precisamos percebê-los a partir de dois prismas distintos, porém relacionados. Primeiramente Bosi se refere aos historiadores da literatura que percebem os excluídos, os marginalizados ou negligenciados como objeto da escrita literária. São estes sujeitos, suas vivências e experiências empíricas que darão base para que os escritores construam suas personagens, seus enredos e as temáticas escolhidas, dando a estes sujeitos, que por determinados motivos foram excluídos, marginalizados ou negligenciados pela sociedade, o protagonismo nos textos literários. Já a segunda relação apontada por Bosi entre o sujeito excluído e a escrita literária aponta para o homem sem letras, o ensaísta versa sobre o excluído enquanto sujeito do processo simbólico. Jacques Rancière em As margens da ficção (2021, p.14), ao introduzir questões acerca da representação da realidade na literatura, afirma que as “margens da ficção acolhem o mundo dos seres e das situações que estavam anteriormente nas suas beiradas: os acontecimentos insignificantes da existência cotidiana ou a brutalidade de um real que não se deixa incluir”. Assim, buscamos identificar a atualidade dos debates acerca das diversas camadas das sociedades das Américas que passam pela problemática da exclusão e da marginalização de determinados sujeitos, que podem ser de gênero, raça, classe, política, cultural, social, etc., provocada pelos mais variados fatores e manifestadas das mais variadas formas. Aventamos as Literaturas americanas como espaços nos quais tais sociedades são permeadas por uma violência visceral, que oprime e exclui diversos sujeitos desde sua criação e que, de tal forma, influem na construção estética destas narrativas. Há uma violência sistemática ocorrendo na literatura produzida na América ao longo de sua história e que perdura até a contemporaneidade. Apesar de ponderarmos que a sociedade representada na obra não é e jamais será a mesma sociedade que existe fora dela, pois, se há um objetivo da literatura, este não é representar a realidade empírica, o que há na obra literária é a e sim a construção um novo mundo, capaz de refletir parcial e opacamente a sociedade externa, porém seguindo seus próprios padrões e estruturas narrativas. E é desta sociedade, que desempenha algum papel na estrutura textual, que nos ateremos ao analisar as literaturas nas Américas e como esta literatura internaliza e elege como estética a representação de sujeitos excluídos pertencentes à sociedade externa ao objeto literário. Em suma, o simpósio busca acolher diversas abordagens crítico-literárias, histórico-sociais e culturais que entendem as relações literárias interamericanas como um processo edificado por sujeitos que foram esquecidos e/ou excluídos dos registros “oficiais”. Propomos uma estudo leitura dos imaginários literários acerca da, desde e sobre a América como diversidade. São contemplados os debates que desde as produções literárias e culturais interamericanas apontem para: o alcance e as complexidades do que se chama “literatura interamericana” e/ou Interamericanismo; os discursos em torno dos e/ou sobre os excluídos interamericanos e da América; as problematizações e/ou (re)afirmações de elementos nacionais e identitários; as relações sujeito, identidade e construção da memória; as proposições transnacionais e (des)identitárias, fronteiriças e/ou em trânsito; as estéticas (como as realistas) em uso em produções relacionadas ao tema. Referências BOSI, Alfredo. A escrita e os excluídos. In.: BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Cia. Das Letras, 2002. RANCIÈRE, Jacques. As margens da ficção. Tradução de Fernando Scheibe. São Paulo: Editora 34, 2021. PAZ, Octavio. Os filhos do barro. Tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht. São Paulo: Cosac & Naify, 2013.
PALAVRAS-CHAVE: Esquecidos; Excluídos ; Literatura e exclusão; Relações Literárias Interamericanas.

FABULAR CRITICAMENTE O BRASIL: INVENÇÃO E CONTRAVENÇÃO NAS ESTÉTICAS NEGRAS CONTEMPORÂNEAS
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: FABULAR CRITICAMENTE O BRASIL: INVENÇÃO E CONTRAVENÇÃO NAS ESTÉTICAS NEGRAS CONTEMPORÂNEAS
COORDENADORES:
- Fabiana Carneiro da Silva (Universidade Federal da Paraiba) fabicarneirodasilva@yahoo.com.br
- Assunção de Maria Sousa e Silva (Universidade Estadual do Piauí) asmaria1@outlook.com
RESUMO: Parte significativa da literatura de autoria negra produzida contemporaneamente no Brasil, isto é, publicada desde últimas décadas do século XX até os dias atuais, parece assumir a literatura como espaço legítimo para que a história nacional, desde uma mirada comprometida com a perspectiva negra, seja contada e, mais do que isso, reelaborada. Recupera-se, desse modo, uma memória e experiência coletiva que, a despeito das formas precárias de textualização e das ações concretas para o seu apagamento, sobreviveram a violentos mecanismos hegemônicos de supressão e permaneceram vivas, sendo transmitidas entre as gerações. Essa produção contrapõe-se ao que Maria Aparecida Silva Bento conceituou como “pacto da branquitude” (2022) e, em gesto de invenção e contravenção, rasura os arquivos textuais da História hegemônica. Além disso, ela tensiona as delimitações ocidentais da categoria de literário ao incorporar os elementos que Leda Maria Martins (1997) entende como performáticos, isto é, aqueles que, mesmo quando atravessados pelas palavras, “nos remetem a outras fontes possíveis de inscrição, resguardo, transmissão e transcriação de conhecimento, práticas, procedimentos, ancorados no e pelo corpo, em performance”. Para Martins essas Oralituras atuam como suplemento “que recobre os muitos hiatos e vazios criados pelas diásporas oceânicas e territoriais dos negros, algo que se coloca em lugar de alguma coisa inexoravelmente submersa nas travessias, mas perenemente transcriada, reincorporada e restituída em sua alteridade, sob o signo da reminiscência” (MARTINS, 2003). Tem-se, assim, distintos projetos estéticos postos em cena, os quais por meio da linguagem literária em diálogo com a historiografia contemporânea engendram um campo de produtivo trânsito entre os discursos que conformam o que se entende como Brasil e (re)afirmam o reconhecimento da ascendência africana na construção desse espaço. A análise e interpretação dos procedimentos estético-políticos, bem como as problematizações éticas que circunscrevem a referida produção do arquivo literário negro-brasileiro, ganharam novo vigor com a recepção pela crítica local da categoria de “fabulação crítica” da intelectual afro-estadunidense Saidya Hartman (2020). A “fabulação crítica” compreende um movimento imaginativo desde e contra a História. No contexto da discussão que Hartman propõe, ela é lida como o exercício de lidar narrativamente com a irrecuperabilidade das subjetividades das pessoas que tiveram sua vida subordinada ao terrível passado escravista e de cuja existência temos notícias sobretudo, segundo Hartman, por meio dos arquivos que operaram a interdição e subtração dessas existências. Para Hartman, a única narrativa razoável sobre essas trajetórias é aquela enunciada desde o subjuntivo, a história do que poderia ter sido, e, ainda assim, uma narração enredada pela aporia que implica não apenas na impossibilidade de transcender os limites do arquivo, mas sobretudo, em reiterar, ao atualizá-lo como referência, a sua violência. Desde um lugar politicamente comprometido com a interrupção do silenciamento das comunidades negras na história do país, concebe-se a narrativa histórica, em acordo com Hayden White (1994), como artefato verbal que, nessa condição, é reeditado. Desse modo, os textos literários lançam sobre um determinado evento histórico novas possibilidades de sentido e criam condições para uma experiência sensível dessas narrativas. No mesmo contínuo, tais escritos realizam ainda aquilo que White descreve como um pré-requisito à escrita da história de uma disciplina, a saber, a capacidade de “formular sobre ela um tipo de pergunta que não deve ser formulado no exercício dela”. Sublinhando a potência de tais proposições alinhavadas à pertinência e genialidade das categorias analíticas formuladas por Leda Maria Martins para a leitura da produção estética negro-brasileira, esse simpósio convida pesquisadores e pesquisadoras que tenham se debruçado no exercício de análise de tal produção para partilha de suas pesquisas. Parece-nos necessário e produtivo mapear e discutir essas transfigurações literárias e pela análise comparativa apreender seus projetos estéticos e as relações que eles podem vir a estabelecer com as obras que lhes antecederam, considerando o histórico de mobilizações e articulações negras que busca(ra)m a alteração da ordem de subordinação da população negra e criaram novos horizontes imaginativos e formais para as autoras(es) contemporâneas(os). A necessidade e simultânea (im)possibilidade de resgatar o passado é um dos fatores que impulsionam a elaboração dessa proposta. Como narrar o abominável da escravidão? Como transfigurar esteticamente a violência e opressão de classe, de raça e de gênero? O que pode a literatura diante disso? São essas questões basilares que emergem quando nos debruçamos analiticamente sobre parte da produção literária negro-brasileira contemporânea e que nos propomos a adensar por meio do simpósio. Para além das literaturas e oralituras negro-brasileiras, serão bem-vindas comunicações que mobilizem essa discussão teórica a partir de obras de autoria negra em linguagens diversas. De forma coletiva e dinâmica almejamos aprimorar nossas reflexões e análises de tais poéticas dando a ver sua capacidade de produção de conhecimento e de uma experiência do sensível contra-hegemônica
PALAVRAS-CHAVE: fabulação crítica, estéticas negras, oralituras, literaturas.

LITERATURA E OUTRAS ARTES: TRANSIÇÕES PERFORMÁTICAS E CULTURAIS
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: LITERATURA E OUTRAS ARTES: TRANSIÇÕES PERFORMÁTICAS E CULTURAIS
COORDENADORES:
- Wagner Corsino Enedino (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)) wagner.corsino@ufms.br
- Ricardo Magalhães Bulhões (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)) ricardoufms1@gmail.com
- Francisco Claudio Alves Marques (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP)) fransclau@gmail.com
RESUMO: Este simpósio tem o propósito de reunir estudos, esboços, pesquisas a respeito da Literatura Brasileira em geral e da cultura popular nordestina, tendo como ponto de partida a análise da obra de cordelistas, músicos, xilógrafos, dramaturgos, artistas contemporâneos que, de certa maneira, dialogam com um espaço cultural amplo, estético e sociopolítico, ligado a uma tradição agropastoril que se renova tanto nas formas, quanto nos temas e reveste-se de implicações semânticas fundamentais a serem aqui apreciadas; espaço este sedimentado há muito tempo por artistas, dentre os quais Leandro Gomes de Barros (1865-1918); Ariano Suassuna (1927-2014), um dos “criadores” do Movimento Armorial; Vitalino Pereira dos Santos (1909-1963), o “mestre vitalino” com suas cerâmicas; o sanfoneiro Luiz Gonzaga (1912-1989), “o rei do baião”, e tantas outras figuras basilares que despertaram no Brasil e no mundo o interesse dos ouvintes, dos leitores, da crítica e do mercado da arte. Vale destacar que autores diversos do chamado movimento Modernista, como José Lins do Rego, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto e outros, produziram obras que revelam um grau de “parentesco” com a cultura popular nordestina. Nesse cenário, numa perspectiva epistemológica, a Literatura Comparada surge como espaço reflexivo privilegiado para a tomada de consciência da natureza múltipla (histórica, teórica e cultural) do fenômeno literário-artístico, à medida que se posta como multidisciplinar, interdiscursiva e intersemiótica, situando-se na área particularmente sensível da “fronteira” entre nações, línguas, discursos, práticas artísticas, problemas e conformações culturais. Embora com raízes no entendimento tradicional do comparatismo, as relações entre Literatura e outras Artes têm sido abordadas de modo interdisciplinar ou intersemiótico, buscando menos as diferenças e mais as correspondências que lhes seriam subjacentes. Assim, o presente simpósio visa discutir aspectos que circunscrevem as produções contemporâneas de cordéis, xilogravuras, cinema, dramas (teatro), músicas e textos narrativos. A perspectiva adotada mantém, como fio condutor, a abordagem da materialidade textual; procurando compreendê-la a partir de sua configuração interna e dos parâmetros construtivos adotados, sem desprestigiar as condições de produção das obras analisadas. Vale a pena relembrar algumas reflexões de Paul Zumthor de que “[...] nossos textos só nos oferecem uma forma vazia e, sem dúvida, profundamente alterada, do que, em outro contexto sensório-motor, foi a palavra viva” (ZUMTHOR,1993, p.221). Cumpre ressaltar, pois, que “[...] esforçamo-nos para sugerir um acontecimento: o acontecimento-texto; representar o texto-em-ato, integrar essa representação no prazer que se sente na leitura” (ZUMTHOR, 2000, p. 221). A estrutura da literatura de cordel, por exemplo, quase sempre pressupõe o entrelaçamento de diversos códigos, já que visa à interatividade, à relação estreita entre cordelista e interlocutores, aquele performativa seus textos ao encontro da expectativa deste. Zumthor observa, ainda, como relevante aspecto na elaboração do ato performático o lugar, a “realidade topográfica”, elemento essencial para incrementar essa possível reciprocidade. “O lugar da performance é o espaço aberto ao desenrolar da obra: um espaço, enquanto realidade topográfica, é sempre uma construção sociocultural” (ZUMTHOR, 2000, p. 254). O ato performático incorre também em ações multifacetadas, desvinculadas de regras específicas dos manuais de tradição teatral, todavia “A performance associa [...] ideias, artes visuais, teatro, dança, música, vídeo, poesia e cinema” (PAVIS, 1999, p. 284). Com efeito, diante de um propósito que envolve o linguístico e o literário, o histórico-cultural e até mesmo o antropológico e o sociológico, este simpósio inscreve-se no quadro de estudos interdisciplinares que visam uma compreensão mais abrangente sobre questões literárias e culturais. Nesse segmento, leitores/as e espectadores/as acolhem uma obra (seja cordel, xilogravura, filme, drama, música ou narrativa) de acordo com sua subjetividade; é, pois, pela aproximação entre personagem e leitores/as e espectadores/as que se constrói a plurissignificação. Destaca-se, neste simpósio, a ideia de que a Literatura Comparada é um processo e não um produto e, por extensão, cabe-nos ter em mente também que trabalhar com adaptações significa, antes de tudo, “[...] pensá-las como obras inerentemente ‘palimpsestuosas’ [...] assombradas a todo instante pelos textos adaptados.” (HUTCHEON, 2011, p.27). Notadamente, compreendemos, no âmbito dos estudos comparados, que a comparação não é um fim, mas um meio. Sem desvincular a obra da história social e política sobre a qual se pronuncia, sem esquecer o diálogo que mantêm com seu contexto de produção e, pois, com sua autoria, procura-se analisá-la e interpretá-la segundo o projeto estético de cada produtor/a.
PALAVRAS-CHAVE: Comparativismo. Performance. Adaptação. Literatura Brasileira. Artes

LITERATURA E RELIGIOSIDADE
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: LITERATURA E RELIGIOSIDADE
COORDENADORES:
- João Cesário Leonel Ferreira (Universidade Presbiteriana Mackenzie) joao.leonel@uol.com.br
- Marcos Aparecido Lopes (UNICAMP) mlopes1789@gmail.com
- Rafaela Câmara Simões da Silva (Universidade Portucalense Infante D. Henrique / Instituto de Filosofia - U. Porto) rafaelasilva84@hotmail.com
RESUMO: No Ocidente contemporâneo, a religião é um fenômeno que constantemente suscita debates acalorados por sua expansão e diversidade nas principais esferas da vida social. Sensíveis ao impacto moral, político e, mais precisamente, às formas de produção das subjetividades modernas e das identidades pessoais e coletivas, as áreas de humanidades (a antropologia, a sociologia, a história em seus diversos matizes, a psicologia, as artes em suas múltiplas linguagens, além da própria ciência da religião) fazem da religiosidade um dos seus focos de pesquisa, construindo no ambiente acadêmico certa acumulação crítica, que se traduz na constância de alguns núcleos temáticos e na estabilidade de um aparato conceitual para a análise do fenômeno (NOGUEIRA, 2015). No século 20, com a suposta autonomia de um campo específico dos estudos literários, alguns críticos e intelectuais se dedicaram à compreensão do fenômeno religioso na sua interface com os diversos gêneros literários (KUSCHEL, 1999; JASPER, 2009; VILLAS BOAS, 2016). Mas, em geral, a regra tem sido um silêncio obsequioso ou, paradoxalmente, uma tolerância à diferença sem a pesquisa vigorosa do que é irredutível e comum aos dois “objetos”. No entanto, é fato que a religião e suas expressões ocupam espaço relevante, tanto na literatura mundial (FRYE, 2004, p. 9-10), quanto nas literaturas de língua portuguesa (GUIMARÃES; LEONEL, 2018; AGUIAR; LEONEL, 2021). Tal fato encontra testemunho na produção de cinco dossiês em revistas acadêmicas relativos ao tema no ano de 2020 (REVISTA CERRADOS, 53, v. I e v. II; TEOLITERÁRIA, v. 10, n. 20 e v. 10, n. 22; ESTUDOS DE RELIGIÃO, v. 34, n. 3; REVISTA CAMINHOS, v. 18). As raízes da própria ideia de literatura, tal como a conhecemos hoje, se encontram interligadas com o sagrado e a religiosidade. Assim, a mélica e a épica gregas, por exemplo, não podem ser plenamente compreendidas, se não considerarmos suas relações com o imaginário religioso em seus contextos originais de produção. Momentos importantes da história da literatura ocidental estabelecem conexões com a religiosidade: os poemas barrocos de Quevedo e Gôngora; o teatro de Shakespeare; a épica tardia de Camões, em Os Lusíadas; a prosa extraordinária de James Joyce; o universo mítico africano recriado por Mia Couto ou os contos sedutores de Jorge Luis Borges são alguns dos exemplos possíveis dessa relação instigante. No caso específico da literatura brasileira, é possível percebermos o diálogo fecundo entre poesia, representação ficcional e religiosidade, que já se inicia entre nós, por exemplo, nas práticas letradas de José de Anchieta e de Gregório de Matos, perpassa o arcadismo, o romantismo (CANDIDO, 2009, p. 227-229) e o realismo, com especial destaque, neste último, para a obra de Machado de Assis (QUEIROZ, 2008). Ao longo dos séculos XX e XXI, a literatura brasileira continuará esse diálogo nas obras de escritores como Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Cecília Meireles, João Guimarães Rosa, Jorge Amado, Ariano Suassuna, Milton Hatoum, Adélia Prado, Hilda Hilst, Conceição Evaristo, entre tantos outros que poderiam ser citados. Considerando, pois, o desafio teórico e crítico para a constituição de um campo interdisciplinar nas relações entre literatura e religião, ou entre literatura e espiritualidade, este Simpósio discutirá as seguintes questões: (1) de que modo se manifesta e como é representada a experiência religiosa nas obras literárias; (2) como se estabelecem as relações intertextuais entre poesia, romance, conto, drama e textos religiosos; (3) como se estabelecem as relações intertextuais entre textos literários de diferentes tradições; (4) em que medida as manifestações poéticas do sagrado são uma reserva semântica para a crítica à modernidade; (5) as políticas de identidade, que discutem raça e gênero, estabelecem que pactos hermenêuticos com a religião e a literatura, (6) que questões teóricas devem ser repensadas para abarcar o estudo desses objetos; (7) como elementos advindos do campo literário, externos às obras, modificam ou condicionam a publicação dessas obras e, por fim, (8) qual o estatuto da memória em textos religiosos e literários. A abordagem proposta não se inscreve diretamente nas áreas de estudos que tratam da religião, seja a teologia ou as ciências da religião, uma vez que elege o tema da religiosidade e investiga sua presença na literatura a partir de teorias e análises próprias ao campo. Todavia, o alcance crítico e especulativo desse campo se amplia e se consolida no diálogo vigoroso com as humanidades. O simpósio Literatura e Religiosidade, que esteve presente nos cinco últimos congressos da ABRALIC, tem participado efetivamente da identificação e aplicação de referenciais teóricos relevantes para os estudos vinculados a seu campo de pesquisa em contexto nacional. A apresentação de comunicações e o contato entre pesquisadores e pós-graduandos se constituem em fórum estimulante para o desenvolvimento da área.
PALAVRAS-CHAVE: Religiosidade; Valor Literário; Teorias Literárias; Interdisciplinaridade; Intertextualidade.

LITERATURAS INSUBMISSAS E SABERES INDISCIPLINADOS: CONSTRUINDO FUTUROS ANCESTRAIS
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: LITERATURAS INSUBMISSAS E SABERES INDISCIPLINADOS: CONSTRUINDO FUTUROS ANCESTRAIS
COORDENADORES:
- Fernanda Vieira (Universidade do Estado de Minas Gerais - Unidade de Divinópolis) fernandavsantanna@gmail.com
- Edimara Ferreira Santos (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) edimara@unifesspa.edu.br
RESUMO: Uma prática decolonial cotidiana passa pela retomada e (re/des)construção de saberes enraizados na ancestralidade. Saberes capazes de desmantelar a (i)lógica da monocultura de existir ocidental e suas categorias binárias de classificação do ser. As ciências ocidentais e seus fazeres acadêmicos civilizatórios, apoiam e alimentam não apenas sistemas de opressão e exclusão seculares, mas também as emergências da contemporaneidade que empurram a todos e todas para um colapso total da Terra. O progresso prometido pelo ocidente nos empurrou para o genocídio de povos “minorizados”, para o epistemicídio de saberes insubmissos, para um estado de injustiça social e ambiental insustentável e para a hecatombe ambiental em que nos encontramos. O único futuro possível é ancestral. Por isso é necessário permanecer em revolta contra a monocultura de existir ocidental, para deixar florescer epistemologias plurais capazes de suspender o céu e adiar o fim do mundo. Sistemas de conhecimento capazes de promover o bem viver entre os viventes. Nessa caminhada, as literaturas produzidas por populações historicamente marginalizadas pelo ocidente - como os Povos de Abya Yala, Povos de África e Afrodiaspóricos, por exemplo - extrapolam o papel de meio de autoexpressão e agem como ferramenta na reimaginação radical de mundos possíveis e na (re/des)construção de memória social e coletiva. Escrevemos, tecemos, contamos, cantamos e pintamos para não morrer e, em não morrendo, fazer florescer futuros possíveis. Porque falar, custe o que custar, é empoderar-se (HARJO, 1997). Assim, rompemos com entendimentos coloniais que condicionam literatura às belles lettres e abrimos espaços de escuta para o reverberar das literaturas Indígenas, Afrodiaspóricas, de África, literaturas não-ocidentais e desocidentalizadoras. Dando seguimento ao trabalho iniciado na primeira realização deste simpósio no XVIII Encontro ABRALIC de 2022, nos debruçamos nos movimentos contemporâneos de (re/des)construção de epistemologias não-ocidentais/desocidentadas no debate teórico literário, de de(s)colonização do cânone literário e da pluralidade de vozes, pensando uma possível ruptura para com a tradição literária enquanto belles lettres, bem como apontando para a (re)existência de literaturas historicamente silenciadas e invisibilizadas. Reafirmamos nosso entendimento de que as literaturas plurais rompem com o papel colonizador das belles lettres e apresentam-se como espaço de multiplicidade, criando espaços transfronteiriços decoloniais e (re)inscrevendo a pluralidade de expressões, confrontando diretamente o sistema-mundo patriarcal / capitalista / colonial / moderno. Nos interessa discutir neste Simpósio Temático, a partir da diversidade de expressões de escritoras, pesquisadoras, professoras e intelectuais do Sul Global, os movimentos de (re)formulação de entendimentos de literatura e crítica literária, podendo-se incluir análises dos movimentos históricos, sociais, políticos, culturais e geográficos de (r)existência pelas literaturas de tradição oral e tradição escrita, produzidas a partir de marcadores de gênero, raça, etnia, classe, sexualidade, identidades, (des)territorialidade, linguagem e posicionalidade. Através das discussões ocorridas no âmbito deste simpósio, objetivamos caminhar para a construção coletiva de epistemologias plurais que contribuam diretamente para a (re)escrita de futuros não-apocalípticos, não apenas dentro da academia, mas em nosso organismo-mundo, nossa casa-comum, Pachamama. Assim, nos voltamos para os estudos das Literaturas Indígenas, Afro-Brasileiras, dos Feminismos não-civilizatórios - como o comunitário e o camponês -, dos Futurismos Afro e Indígena, das Epistemologias do Sul e de Saberes Indisciplinados e Insubmissos. Nos voltamos para as literaturas da palavra escrita, da palavra falada, da palavra silêncio e sonho, da palavra maracá, da palavra tambor, da palavra do corpo, do gesto, da cestaria e do grafismo. Também nos interessa dialogar sobre processos de apropriação e ressignificação das línguas e saberes dos colonizadores na construção de artes e sistemas de conhecimentos revolucionários plurais. Nosso aporte teórico inclui Alvez (2011), Carvajal (2010, 2020), Evaristo (2020), Graúna (2013), Harjo (2021), Justice (2018), Kambeba (2020), Maracle (1996), Mignolo (2011), Quijano (2010), Tuhiwai Smith (2012) e Vergès (2020, 2021). Mais ainda, o Simpósio Temático se propõe a acolher pesquisadoras/pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, como Antropologia, Ciências Sociais, Educação, Geografia, História e Letras, para a construção de saberes comuns, que atravessam os limites das disciplinas. Essa pluralidade, diversidade e interdisciplinaridade de conhecimentos e afetos atravessam os nossos olhares e fazeres teóricos, epistêmicos e literários, no intuito de incentivar a continuarmos a debater sobre literaturas que chacoalham as margens da História oficial e do cânone literário ocidental. Acrescentamos que o chacoalhar da margem não objetiva transformar o ex-cêntrico no novo centro, mas em explodir / implodir a lógica colonial que estabeleceu centro e margens e as relações hierárquicas de sistemas de conhecimento e modos de viver / ser. É urgente que caminhemos em uma práxis decolonial, anticolonial, antirracista e anticapitalista para a produção de futuros ancestrais.
PALAVRAS-CHAVE: Palavras-chave: Literaturas Insubmissas. Saberes Indisciplinados. Futuros Ancestrais. Epistemologias do Sul.

NATURALISMO/NATURALISMOS, DO SÉCULO XIX AO XXI - QUESTÕES DE FORMA, CLASSE, RAÇA E GÊNERO NA LITERATURA
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: NATURALISMO/NATURALISMOS, DO SÉCULO XIX AO XXI - QUESTÕES DE FORMA, CLASSE, RAÇA E GÊNERO NA LITERATURA
COORDENADORES:
- Leonardo Mendes (UERJ) leonardomendes@utexas.edu
- Haroldo Ceravolo Sereza (UFSCAR) hsereza@gmail.com
- Claudia Barbieri (UFRRJ) barbiericlaudia.cb@gmail.com
RESUMO: Este simpósio se propõe a discutir os princípios da estética naturalista e debater suas principais manifestações literárias, de qualquer nacionalidade, tanto no século XIX, quanto nos séculos XX e XXI. As propostas deste movimento estético democrático, que ousava nos temas e apresentava novos procedimentos discursivos, garantiu sua difusão pelo mundo (Becker & Dufief, 2018), atraindo escritores de diversos países que adotavam o naturalismo como forma de se alinhar à modernidade industrial, numa geografia que não cabe nas fronteiras das literaturas nacionais. Tal força de representação ultrapassou seu tempo histórico e sobrevive até hoje, mostrando que a temporalidade literária obedece a regras específicas dos campos literários (Casanova, 1999). Tendo como princípio fundamental retratar “a vida como ela é”, o naturalismo estuda personagens de diversas classes sociais em seus cotidianos, mesmo quando desprezíveis ou abjetos. Este método de observação e de criação deu origem a críticas tanto à brutalidade e à imoralidade do naturalismo quanto à pretensão ingênua de representar fielmente a realidade. Entretanto, em vários textos-chave da estética, como o prefácio da segunda edição de Thérèse Raquin (1868) e o ensaio “O romance experimental” (1880), fala-se que o objetivo era criar uma “ilusão” da realidade, pois se o romance naturalista adotava procedimentos científicos como reação a um romantismo gasto, cabia a cada artista em seu “temperamento” individual o ato da criação. Daí que não se deva falar de “escola naturalista” e em “mestres” e “discípulos”, pois cada escritor tomou e moldou os princípios da estética à sua maneira – o que nos permite hoje falar de “naturalismos” (Becker & Dufief, 2017). Destacamos esse mal-entendido como um entre vários reducionismos impingidos ao naturalismo, retratado pela historiografia tradicional brasileira como uma estética menor, falsa e ingenuamente científica, muitas vezes reduzida a uma caricatura. Estudos recentes vêm desvendando um quadro mais sofisticado e complexo, capaz de acomodar uma gama variada de vertentes naturalistas nos séculos XIX e XX, em suas relações com o gótico, a prosa decadente, o romance popular e a literatura licenciosa, privilegiando ora uma visão trágica da existência, ora uma perspectiva “cômica” e desiludida (Baguley, 1995). Na literatura brasileira oitocentista esses desdobramentos parecem capazes de abarcar uma gama maior de autores e textos do que a historiografia tradicional conseguiu identificar. A voga naturalista do século XIX deu origem a métodos de pesquisa e criação, bem como a formas de expressão que foram retomadas por escritores nos séculos XX e XXI. A forma de abordar a realidade como elemento constitutivo da obra servirá a pintores, fotógrafos, cineastas e autores de novela, que nela verão um modo contundente de se falar sobre o mundo e as sociedades. Flora Süssekind, ao analisar o romance brasileiro do século XX, refere-se às vogas naturalistas nos anos 1930 e 1970. Também aponta, nos temas tratados na obra de Ferréz, Dráuzio Varella e Paulo Lins, nos anos 2000, para uma retomada dos postulados centrais do naturalismo. O desejo de expressar dimensões pouco atraentes da realidade, a primazia dada à descrição de conflitos sociais, os temas do preconceito racial e da diversidade sexual, assim como o desejo de documentar situações de opressão e exclusão de sujeitos subalternizados constituem elementos do pacto naturalista de leitura que se renova e se reproduz na contemporaneidade. São obras que se posicionam como retratos do real, dialogam com o tempo imediato e sugerem tomadas de posição sobre situações quotidianas de opressão e violência. O elemento extraliterário é um componente central da obra, e a busca por verossimilhança decorre tanto do discurso da experiência pessoal quanto da pesquisa científica ou jornalística. Rancière (2009) aponta que, ao abolir hierarquias e criar obras que não respeitavam a organização até então vigente, o naturalismo do século XIX criou, por meio do “efeito de realidade”, o “efeito de igualdade”, que está diretamente ligado, para ele, à possibilidade de associação livre de imagens. Rancière dirá ainda que a literatura que privilegia o descrever sobre o narrar permite que o “aristocrático emprego da ação” seja “bloqueado pela democrática coleção desordenada de imagens”. Com a perspectiva renovada de um naturalismo democrático, múltiplo e desordenado, reconhecível nos séculos XIX, XX e XXI, convidamos pesquisadores a enviar propostas de trabalho que incorporem novas questões de pesquisa e estudos de caso ao debate sobre o naturalismo.
PALAVRAS-CHAVE: Naturalismo: Realismo; Ciência; Democracia

REVISÃO DA HISTORIOGRAFIA TEATRAL: LER E RELER FONTES PRIMÁRIAS, VISÕES CRÍTICAS E JUÍZOS ESTÉTICOS NA DRAMATURGIA
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: REVISÃO DA HISTORIOGRAFIA TEATRAL: LER E RELER FONTES PRIMÁRIAS, VISÕES CRÍTICAS E JUÍZOS ESTÉTICOS NA DRAMATURGIA
COORDENADORES:
- Maria Clara Gonçalves (UFES/DLL) maria.claire.gon@gmail.com
- Elizabeth Ferreira Cardoso Ribeiro Azevedo (USP/ECA) bethazevedo@usp.br
- Carlos Gontijo Rosa (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) carlosgontijo@gmail.com
RESUMO: O simpósio de “Revisão da historiografia teatral: ler e reler fontes primárias, visões críticas e juízos estéticos” foi idealizado pelo grupo Estudos do Teatro Ex-Cêntrico (ETEx - CNPq/ ECA) e, pelo quarto ano, vem se consolidando como um espaço de debate importante sobre teatro na ABRALIC. O objetivo do simpósio é discutir peças, autores, gêneros, repertórios e/ou círculos teatrais de pouca visibilidade na historiografia teatral. Os textos dramáticos são uma parte importante do teatro, apresentando-se como expressão estética que, assim como na literatura, utilizam-se das palavras para contribuir à concepção da experiência humana. Os pesquisadores que se debruçam sobre o teatro devem compreender que “a peça teatral, considerada literatura, é um dos elementos mais importantes do teatro; todavia, não o constitui, não lhe é condição indispensável” (ROSENFELD, 2008, p. 35). Devido à sua natureza multifacetada, o teatro tornou-se um objeto de análise complexo, sendo necessário levar em consideração outros fatores além do material textual. Essa “dificuldade” pode ser um dos motivos pelos quais os textos dramáticos tenham obtido um espaço menor nos estudos literários de maior relevância. Deve-se ressaltar, ainda, que as obras teatrais receberam (e ainda recebem) leituras ligadas a critérios estéticos pautados em interesses históricos do momento de concepção da crítica. Em geral, “ao observarmos as premissas estéticas e culturais que impulsionaram as criações artísticas, constatamos que as reflexões construídas sobre as mesmas foram elaboradas a partir de ideias que, ao serem, sistematicamente, defendidas, tornaram-se referências para as práticas teatrais transformadas em marcos ordenadores da temporalidade que conhecemos como História do Teatro Brasileiro” (GUINSBURG; PATRIOTA, 2012, p. 23). Torna-se necessário, assim, questionar a cristalização de determinadas apreciações nos estudos historiográficos, responsáveis pelo “apagamento” de uma parcela do universo teatral, resultando em uma linha temporal histórica fragmentada e construída a partir de critérios que, nos dias atuais, devem ser revisitados. Há de se repensar, ainda, o juízo de “valor” estético, já que determinadas peças, autores, gêneros, repertórios e/ou círculos teatrais tiveram mais relevância junto à crítica justamente por conta desse fator. As questões que atribuem essa ideia valorativa às obras de arte, em geral, sempre incorrem em julgamentos que diferenciam quais devem ocupar um lugar expressivo e quais serão colocados à margem nos estudos críticos. Os critérios norteadores da posição dessas partes constituintes do universo teatral nos estudos sobre teatro poderão ser discutidos a partir dos interesses críticos que mobilizam os pesquisadores de hoje. Ou seja, novos interesses mobilizarão novas avaliações, que fomentarão novas informações sobre a cena teatral como um todo. Contudo, não se trata de desconsiderar a relevância estética das produções, autores ou movimentos teatrais já consagrados pelos estudiosos, mas sim de fazer um exercício reflexivo que permita questionar determinados lugares-comuns da crítica, realizados em outros tempos e em outras circunstâncias. Tal movimento reflexivo permite que aos estudos sejam incorporados textos, autores e movimentos teatrais variados, que possuem relevância estética, mas que, por diversos fatores, foram postos de lado na historiografia teatral. Obviamente esse movimento já está ocorrendo e, por isso, esse simpósio busca reunir esses trabalhos e criar uma rede ativa entre os pesquisadores. Se o juízo dos críticos está ligado às ideias estéticas valorizadas no momento em que suas análises foram feitas, então “o valor é uma atribuição historicamente construída. Frases como ‘esta obra tem densidade’ não são objetivas, e evocam primariamente os interesses dos sujeitos que as enunciam” (GUINZBURG, 2008, p. 103). Para que sejam construídas análises que ampliem o entendimento sobre o teatro nos estudos críticos, torna-se relevante avaliar as concepções estéticas que orientam as apreciações estilísticas das dramaturgias; a importância de determinados autores para o entendimento da cena teatral no qual estavam inseridos; o olhar valorativo da crítica pautado na hierarquização dos gêneros; e os círculos teatrais de menos prestígio - que permitem ampliar as informações sobre o movimento teatral e as relações entre o repertório de companhias/teatros e o gosto de uma época. Por fim, a investigação de fontes primárias ilumina aspectos da cena que ultrapassem a dramaturgia, podendo ser realizada em fontes como anúncios de espetáculos; programas de peças; no ambiente histórico das encenações (destacando atores, diretores e cenógrafos); e documentos utilizados em processos de criação. Trabalhos que busquem empreender uma leitura que explore outros textos e não apenas os canonicamente evocados pela crítica estabelecida de autores consagrados, ou que busquem um novo olhar sobre os já desgastados lugares-comuns da historiografia teatral, contribuirão sobremaneira à discussão proposta neste simpósio.
PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia; Crítica Teatral; Fontes Primárias; Historiografia Teatral; Juízos Estéticos.

TRANSMODERNIDADE E ESCRITAS DECOLONIAS NA LITERATURA E NO CINEMA LATINO-AMERICANO
EIXO: EIXO 2 - EPISTEMOLOGIAS PLURAIS, SABERES COMUNS
SIMPÓSIO: TRANSMODERNIDADE E ESCRITAS DECOLONIAS NA LITERATURA E NO CINEMA LATINO-AMERICANO
COORDENADORES:
- Amanda Ramalho de Freitas Brito (Universidade Federal da Paraíba - UFPB) amanda.ramalho@academico.ufpb.br
- Leyla Thays Brito da Silva (Universidade Federal da Paraíba - UFPB) leyla.brito@academico.ufpb.br
- Maria Betânia da Rocha de Oliveira (Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL) mariabetania.oliveira@uneal.edu.br
RESUMO: A literatura latino-americana move-se criticamente pelo que Josefina Ludmer (2013) nomeia de palavra-corpo-tempo, cujo sentido estende-se à subjetivação do tempo, ou da construção do tempo a partir do sujeito. “O tempo parece ser um desses universos simbólicos que negam a separação entre o social e o individual, movendo-se na história. Ele tem a particularidade de que suas manifestações não apenas existem fora, no mundo exterior, mas são também marcas estruturais do sujeito”. (LUDMER, 2013, p.13). Nisso consiste a ética transmoderna da libertação, preceito de uma filosofia decolonial descrita por Enrique Dussel (2012) para emancipar culturalmente os povos latino-americanos, considerados a partir de uma ética in(e)scrita no corpo. “O conceito estrito de transmoderno indica essa novidade radical que significa o surgimento da alteridade, do sempre distinto, de culturas universais em desenvolvimento, que assumem os desafios da Modernidade, mas que respondem a partir de outro lugar, do ponto de sua própria experiência cultural.”. (DUSSEL, 2016, p.63). Com efeito, a cultura não pode estar separada da corporalidade carnal, pois as vidas sociais e naturais estariam em uma relação de reciprocidade. Assim, abdica-se da compreensão abstrata do sujeito moderno para um sujeito concreto, intersubjetivo, atuante que tece o devir ético crítico da comunidade das vítimas (da exploração colonial, da globalização moderna e do neoliberalismo). Efetivamente, “a ética deve dar importância aos processos auto-organizados ou autorregulados da vida, já que um certo consciencialismo moderno exagerado e unilateral faz perder o sentido da corporalidade orgânica da existência ética.” (DUSSEL, 2012, p.72). Ieda Magri (2018) convoca-nos a pensar as contradições que escritores, críticos e tradutores latino-americanos encontram no processo de acesso, diálogo e divulgação da cultura literária do continente, ainda, em decorrência das restrições impostas pelo cânone ocidental e pelo desprestígio que a literatura tem assumido como forma de compreensão do mundo na era da internet e por que não dizer do metaverso. Todavia, a literatura como função comunicativa tem se apropriado de diferentes linguagens para marcar a consciência reflexiva que assinala a presentificação das poéticas tecidas no contexto latino-americano. Deste modo, o conceito-chave da corporalidade carnal como marca da diferença e da subjetividade, pode ser investigado em diferentes movimentos poéticos e artísticos na América Latina: Arte Postal, Poesia Slam, Acción Poética, Cinema Novo; e em diferentes narrativas poéticas (fílmicas, prosas e poesia). A crítica transmoderna é precisa para o estudo intrínseco e comparativo das poéticas e narrativas latino-americanas contemporâneas, que se inscrevem da periferia ao centro, considerando-se o ethos de autenticidade ou o locus de enunciação, uma vez que partilham a mesma história de exclusão e dominação a partir de configurações semânticas singulares. Cabe chamar atenção para o debate de que a subjetivação, no contexto latino-americano, perpassa a intersecção de três identidades indispensáveis: a de gênero, de etnia e de classe social, cuja consciência discursiva reverbera a relação entre o ser singular e coletivo, como ressalta Heleieth Saffioti em Violência de gênero: o lugar da práxis na construção da subjetividade. Como se pode perceber, por exemplo, nas narrativas de escrevivências de Conceição Evaristo, Lívia Natália (autoras negras) Graça Graúna (autora indígena) e, também, pela inscrição da vida-pulsante no corpo e na voz refletida na palavra-verbo, na palavra-performance e na palavra-imagem. Escrevivência é uma palavra-conceitual e categórica criada por Evaristo que reflete justamente a intersecção entre identidades, discutida no texto Gênero e etnia:uma escre (vivência) de dupla face. A escrevivência coloca em debate as literaturas de mulheres e homens negros que consideram, no processo criativo, a relação entre estória e experiência, ou entre memória, corpo, ancestralidade e autoria. Nisso, as tensões poéticas atravessam a experiência subjetiva do corpo. Cabe ainda pensar, com a feminista chicana Glória Anzaldúa, sobre a mestiza, latino-americana, enquanto “sacerdotisa-mor das encruzilhadas” (ANZALDÚA, p. 327, 2019). O corpo-pensamento da mestiza, em sua condição de fronteira, poderá elaborar uma consciência mestiza contra o dualismo moderno sujeito-objeto, que configura o colonialismo e o antagonismo entre as culturas. O projeto intelectual latino-americano de Anzaldúa, compreende que a categoria mestiza, em sua condição de fronteira, atua como elemento de interlocução intercultural, levando as ideias de uma cultura a outra e, acima de tudo, numa nova consciência mestiza, lança as reivindicações de sua porção vitimada pela violência colonial, ao branco, rompendo com o silenciamento e acanhamento. Anzadúa encoraja a mestiza, a “mulher de cor” a escrever ancorada em seu corpo marrom, ambivalente, como ato maior da escrita mestiça latino-americana. (ANZALDÚA, 2000). Sobre isso, a ética transmoderna enquanto metodologia de saberes plurais, só pode ser apreendida tanto na crítica quanto na arte quando se considera o corpo como espaço que inaugura a experiência subjetiva e de alteridade. Assim, o Simpósio Transmodernidade e Escritas Decolonias na Literatura e no Cinema Latino-Americano pretende abrigar pesquisas que discutam o ethos da subjetividade, seja por meio de narrativas literárias, poéticas, fílmicas e performáticas (Slam) em obras de autorias negras, indígenas, femininas, LGBTQIA+ e periféricas.
PALAVRAS-CHAVE: Transmodernidade. Decolonialidade. Poéticas Latino-Americanas.
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ABOLIENDO EL TRATADO DE TORDESILLAS: PROPUESTAS PARA UN LATINOAMERICANISMO EN EL SIGLO XXI
- André Cabral de Almeida Cardoso (Universidade Federal Fluminense) - andrecac@id.uff.br
- Horst Rolf Nitschack (Universidade do Chile) - hnitschack@u.uchile.cl
- Natalia López Rico (Universidade Diego Portales) - nlopezrico@gmail.com
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COMO VIVER JUNTO... COM ROLAND BARTHES
- Laura Taddei Brandini (Universidade Estadual de Londrina) - laura@uel.br
- Claudia Amigo Pino (Universidade de São Paulo) - hadazul@usp.br
- Márcio Venício Barbosa (UFRN) - marcio.barbosa@ufrn.br
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ESTUDOS DE LITERATURA E OUTRAS ARTES PELO VIÉS DA CRÍTICA PSICANALÍTICA
- Gabriela Bruschini Grecca (Universidade do Estado de Minas Gerais) - gabriela.grecca@uemg.br
- José Lucas Zaffani dos Santos (Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP/FCLAr)) - zaffanilucas@gmail.com
- Marisa Corrêa Silva (Universidade Estadual de Maringá) - mcsilva5@uem.br
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HISTÓRIA DA LITERATURA: UMA NARRATIVA EM MUTAÇÃO?
- REGINA KOHLRAUSCH (Pontificia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS) - regina.kohlrausch@pucrs.br
- Márcia Rios da Silva (UNEB) - marciarios885@gmail.com
- Thiago Martins Caldas Prado (UNEB) - tprado@uneb.br
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LITERATURA-MUNDO: FRONTEIRAS EM MOVIMENTO
- Érica Luciana de Souza Silva (Instituto Federal Fluminense) - ericavascoprof@gmail.com
- Adriano Carlos Moura (Instituto Federal Fluminense) - adriano.moura@iff.edu.br
- EDMON NETO DE OLIVEIRA (UFPA) - edmoneto@gmail.com
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LITERATURAS DE AUTORIA NEGRA FEMININA NAS AMÉRICAS E CARIBE: INTERLOCUÇÕES E COMPARATIVISMOS
- CRISTIAN SOUZA DE SALES (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA) - crissaliessouza@gmail.com
- Franciane Conceição Silva (Universidade Federal da Paraíba) - francyebano14@hotmail.com
- Margarete Nascimento dos Santos (Universidade do Estado da Bahia) - mnsantos@uneb.br
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LITERATURAS EM ABISMO: A PERSPECTIVA INTERSEMIÓTICA EM DEBATE
- Mariângela Alonso (Universidade de São Paulo) - malonso924@gmail.com
- Fernando de Mendonça (Universidade Federal de Sergipe) - nandodijesus@gmail.com
- MARIA DO CARMO SIQUEIRA NINO (Universidade Federal de Pernambuco) - carmonino@gmail.com
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MUNDOS RIZOMÁTICOS, CIRCUNVIZINHAS TRANSCULTURAIS: A LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE FRICÇÃO NAS AMÉRICAS, ÁFRICAS E AMAZÔNIAS
- Amilton José Freire de Queiroz (Universidade Federal do Acre) - amiltqueiroz@hotmail.com
- Ezilda Maciel da Silva (Universidade Federal do Pará) - ezilda.silva@hotmail.com
- Henrique Silvestre Soares (Universidade Federal do Acre) - henrique. Soares@gmail.com
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MUNDOS VIZINHOS? LITERATURAS DE EXPRESSÃO RUSSA E O LESTE DA EUROPA
- RODRIGO ALVES DO NASCIMENTO (UFBA) - alvesr@ufba.br
- BRUNO BARRETTO GOMIDE (USP) - bgomide@usp.br
- PRISCILA NASCIMENTO MARQUES (UFRJ) - priscilamarques@letras.ufrj.br
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NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS: PAISAGENS IDENTITÁRIAS E PERTENCIMENTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA
- Charles Borges Casemiro (IFSP) - charlescasemiro@ifsp.edu.br
- Mauro Dunder (UFRN) - mauro.dunder@ufrn.br
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REDES COMO DISPOSITIVO TEÓRICO-CRÍTICO DA LITERATURA COMPARADA
- Isabel Cristina Jasinski (Universidade Federal do Paraná (UFPR)) - belisabel.kisa@gmail.com
- Maria Cândida Ferreira de Almeida (Universidad de los Andes (UNIANDES)) - mferreir@uniandes.edu.co
- Larissa Costa da Mata (Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)) - larissa.mata@ufersa.edu.br
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TEMAS, FORMAS E OBSESSÕES DO ROMANCE PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
- Pedro Fernandes de Oliveira Neto (UFRN) - pedro.letras@yahoo.com.br
- Maria Aparecida da Costa (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte) - cidaminas@hotmail.com
- Jonas Jefferson de Souza Leite (Universidade Federal de Pernambuco) - jonasleite@hotmail.com
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VIRGINIA WOOLF EM TRÂNSITO
- Maria Rita Drumond Viana (Universidade Federal de Ouro Preto) - m.rita.viana@ufop.edu.br
- Ana Carolina de Carvalho Mesquita (Faculdade Santa Marcelina) - carol.mesquita@gmail.com
- Victor Santiago Sousa (Universidade Federal do Acre) - victor.santiago@ufac.br

ABOLIENDO EL TRATADO DE TORDESILLAS: PROPUESTAS PARA UN LATINOAMERICANISMO EN EL SIGLO XXI
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: ABOLIENDO EL TRATADO DE TORDESILLAS: PROPUESTAS PARA UN LATINOAMERICANISMO EN EL SIGLO XXI
COORDENADORES:
- André Cabral de Almeida Cardoso (Universidade Federal Fluminense) andrecac@id.uff.br
- Horst Rolf Nitschack (Universidade do Chile) hnitschack@u.uchile.cl
- Natalia López Rico (Universidade Diego Portales) nlopezrico@gmail.com
RESUMO: Em 1494, apenas dois anos depois da chegada de Cristóvão Colombo àquilo que se tornaria o continente americano, as coroas de Espanha e Portugal assinaram o tratado que estabeleceu a partilha e os limites de suas colônias no ultramar, e cujos efeitos perduram até os dias de hoje. No nível simbólico, o projeto de colonização das Américas se funda, portanto, numa divisão que se impôs como um ato arbitrário sobre a geografia e a história do continente, sobre suas etnias e suas culturas. De fato, a delimitação de uma barreira administrativa, política, linguística e cultural no território destruiu vínculos de longa duração e erigiu um obstáculo e, ao mesmo tempo, um desafio para pensar formas de integração e diálogo regional em que a discussão das diferenças e semelhanças intrínsecas permita estabelecer o latino-americanismo como um horizonte comum de possibilidades, pensamento e resistência. No entanto, ainda que o Tratado de Tordesilhas se constituísse como um primeiro ato de delimitação e distribuição de poder entre as duas metrópoles ibéricas, suas fronteiras acabaram se mostrando porosas, gerando tensões sociais, políticas e culturais em torno de oposições como distanciamento e proximidade, separação e integração, expansão e preservação de territórios, autonomia e dependência, e semelhança e diferença. Nesse sentido, os centros e departamentos de Estudos Latino-Americanos vêm apresentando, nas últimas décadas, propostas significativas com vistas a um latino-americanismo de grande alcance internacional: entre eles, incluem-se os estudos culturais promovidos por acadêmicos como Abril Trigo e Eduardo Restrepo, a crítica literária e cultural de Mabel Moraña, os estudos subalternos desenvolvidos por John Beverly ou o pensamento decolonial de Aníbal Quijano, Walter Mignolo e Santiago Castro-Gómez. Ainda assim, essas propostas tendem a identificar a América Latina com a América Hispânica, isto é, há uma certa lacuna nessas reflexões sobre o papel constitutivo que o Brasil deveria assumir na formação de uma América Latina que suprima o Tratado de Tordesilhas. Trata-se de uma deficiência que os trabalhos de Raúl Antelo, Eduardo Viveros de Castro, Beatriz Colombi, Florencia Garramuño, Octavio Ianni, Josefina Ludmer, Ana Pizarro, Grínor Rojo e Silviano Santiago entre outros, tentam superar. São aportes muito diferentes entre si, mas a partir dos quais é possível encarar e pensar os desafios que a região enfrenta nas primeiras décadas do século XXI, anos marcados por diversas crises envolvendo o meio ambiente, a política, a migração e a desigualdade social. Apesar da urgência dessas questões, que exigem respostas dialogadas, ainda é problemática a consolidação de uma consciência latino-americana coletiva que abarque não só o conjunto das experiências compartilhadas, mas também as especificidades das diversas culturas locais. A criação de alianças políticas regionais se mostrou inconstante, e ainda há fortes obstáculos à plena circulação de bens culturais entre os vários países da América Latina, em particular entre o Brasil e a América Hispânica. A sombra de Tordesilhas ainda se projeta em linha com a separação linguística, em um processo de desenvolvimento cultural em que muitas vezes é mais comum o contato com as antigas metrópoles do que entre as diferentes nações latino-americanas. O simpósio “Abolindo o Tratado de Tordesilhas: propostas para um latino-americanismo no século XXI” pretende tensionar e desafiar os limites de Tordesilhas com pesquisas que, a partir dos estudos culturais e da literatura comparada, analisem e submetam a uma interpretação crítica contribuições que desenvolvem ideias sobre o latino-americanismo neste primeiro quarto do século XXI ou que arrisquem um diálogo que permita a interconexão e a interação na região fraturada pelo tratado, seja a partir da análise literária (estudos comparatistas de obras e gêneros hispano-americanos, caribenhos e brasileiros), das formas de circulação da produção literária, acadêmica e cultural (políticas editoriais e de tradução), das viagens, ou dos movimentos de migração e exílio. Será também importante investigar em que medida os diversos problemas enfrentados pela América Latina atualmente podem ser entendidos como aportes para um latino-americanismo renovado e configurar um ponto de partida para formas de integração inusitadas. Desse modo, este simpósio se propõe não só a discutir as diferentes contribuições oriundas da própria América Latina para um debate sobre o latino-americanismo, mas também estimular e intensificar uma discussão que se faz urgente. Acima de tudo, busca-se investigar as possibilidades e os limites de uma efetiva identidade latino-americana e de suas expressões sociais e culturais.
PALAVRAS-CHAVE: latino-americanismo; Brasil e América Hispânica; América Latina; integração regional

COMO VIVER JUNTO... COM ROLAND BARTHES
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: COMO VIVER JUNTO... COM ROLAND BARTHES
COORDENADORES:
- Laura Taddei Brandini (Universidade Estadual de Londrina) laura@uel.br
- Claudia Amigo Pino (Universidade de São Paulo) hadazul@usp.br
- Márcio Venício Barbosa (UFRN) marcio.barbosa@ufrn.br
RESUMO: Após um longo período de confinamento provocado pela pandemia de COVID-19 em que as relações sociais se reconfiguraram, migrando para espaços distantes e/ou virtuais, em que aprendemos a conversar por meio de telas, a trabalhar cercados por barreiras de vidro e plástico, a falar cobrindo a boca com máscaras, a nos inquietar ao ouvir um mero espirro, é possível retomarmos os velhos hábitos de apertos de mão, tapinhas nas costas, beijos e abraços, os gestos espontâneos da convivialidade despreocupada? Esta é uma das grandes perguntas deste momento não só de readaptação, mas principalmente de reconstrução das relações, passado o auge da pandemia e relativamente normalizado nosso convívio com o vírus e suas variantes. No campo literário, também será necessário repensar os modos de convívio, para além das relações de vizinhança, e para tanto nos voltamos para as reflexões de Roland Barthes desenvolvidas no curso e nos seminários que ministrou no Collège de France, entre 1976 e 1977, intitulados Como Viver junto. Simulações romanescas de alguns espaços cotidianos (2003). Barthes se detém sobre palavras que ele nomeia “traços”, sínteses de situações de um “viver junto” examinadas aula após aula, em uma busca pelo método, pelos lugares, pelas pessoas com quem se pode almejar conviver, ou não conviver. A figura da “Fantasia” de uma “idiorritmia”, a descoberta de um ritmo próprio, expresso pela criação dessa palavra, oferece caminhos possíveis para a exploração do tema. De início, Barthes coloca “A fantasia como origem da cultura (como engendramento de formas, de diferenças)” (2003, p. 08), o que nos oferece um rol de possibilidades interpretativas tendo o “Viver-Junto” como ponto de partida que se metamorfoseia com o tempo, adquirindo as mais variadas formas. Estas não são inertes, menos ainda fixas, mas móveis e dinâmicas, regidas por seus ritmos e, portanto, distintas entre si e em si mesmas, pois sujeitas aos efeitos do tempo. Ao colocar o “Viver-Junto” sob a tutela da fantasia da palavra “idiorritmia”, Barthes abre novas opções de convivência por meio de desejos, imagens, palavras, lugares e tempos (2003). Mais precisamente, o escritor explica: “A título de excursão fantasiosa, isto: certamente tomaremos o Viver-Junto como fato essencialmente espacial (viver num mesmo lugar). Mas, em estado bruto, o Viver-Junto é também temporal, e é necessário marcar aqui esta casa: ‘viver ao mesmo tempo em que...’, ‘viver no mesmo tempo em que...’ = a contemporaneidade” (2003, p. 11). “Viver-Junto”, então, também implica em pertencer ao mesmo tempo, permitindo-nos explorar modos, formas e estéticas de se viver junto com Roland Barthes, evocando tanto a vivência empírica de Leyla Perrone-Moisés com o mestre, expressa em sua obra Com Roland Barthes (2012), de onde emprestamos parte do título deste simpósio, quanto as vivências imaginadas com o escritor, sob as plumas de, por exemplo, Thomas Clerc na novela L’homme qui tua Roland Barthes [O homem que matou Roland Barthes] (2010), Samir Meserani na história infantil Confusão maior no reino de Tânger Menor (1995), onde Barthes é personagem, ou as tabelas de Gonçalo Tavares, em “Roland Barthes e Robert Musil” (2004). Esses escritores, assim como a crítica, e muitos outros, cada um a seu modo, com seu próprio ritmo, viveu junto com Barthes tendo a literatura como mediadora. Este simpósio, pelo já explicitado, tem por ponto de partida a concepção barthesiana de “Viver-Junto” e busca discuti-la sob as formas como ela pode se apresentar, tanto nestes tempos pós-pandêmicos, quanto a mesma se apresentou em tempos passados, com o propósito de incitar reflexões sobre o papel do convívio na literatura, diluindo as fronteiras que estabelecem vizinhanças e, portanto, espaços distintos. Esperamos receber propostas de comunicações que se debrucem sobre possibilidades de um “Viver-Junto” com Barthes, nas mais variadas formas que o tema propicia, a saber: discussões sobre o próprio “Viver-Junto” na obra de Barthes e/ou na obra de outros autores; o “Viver-Junto” de textos e ideias de Barthes com os de outros escritores; o “Viver-Junto” com Barthes e outras artes que não só a literária; o “Viver-Junto” com Barthes e outros saberes; o convívio entre diferentes, alteridades e identidades no campo político à luz do “Viver-Junto” barthesiano; os espaços e os tempos do “Viver-Junto”; formas e ritmos para se “Viver-Junto” em tempos pós-pandêmicos na literatura e/ou nas artes; as dificuldades do “Viver-Junto” de teorias que circulam de um contexto para outro; possíveis opostos do “Viver-Junto”, seus conflitos e processos pacificatórios.
PALAVRAS-CHAVE: Roland Barthes; Viver-Junto; Literatura; Convivialidade; Literatura Comparada

ESTUDOS DE LITERATURA E OUTRAS ARTES PELO VIÉS DA CRÍTICA PSICANALÍTICA
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: ESTUDOS DE LITERATURA E OUTRAS ARTES PELO VIÉS DA CRÍTICA PSICANALÍTICA
COORDENADORES:
- Gabriela Bruschini Grecca (Universidade do Estado de Minas Gerais) gabriela.grecca@uemg.br
- José Lucas Zaffani dos Santos (Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP/FCLAr)) zaffanilucas@gmail.com
- Marisa Corrêa Silva (Universidade Estadual de Maringá) mcsilva5@uem.br
RESUMO: Reconhecer na psicanálise uma chave de leitura de processos culturais é um dos passos fundamentais para desmistificar a ideia de “psicologizar a sociedade”, permitindo que novas experiências intelectuais venham à tona. Para Vladimir Safatle (2020, p. 9-10), é importante negar a psicanálise como prática solidária a formas de “psicologização do campo político, de redução de sua gramática e dinâmica à dimensão psicológica”, que tentem encaixar rigidamente conceitos fechados em dinâmicas cotidianas e/ou confrontos diretos. Em outra chave, se a psicanálise precisa afirmar que não está na consciência a centralidade das decisões do sujeito, uma vez que, dentro deste, existe outra dimensão, subversiva e que não se pode mensurar - o inconsciente -, então, entender o sujeito (que, além de indivíduo, é também ator da práxis política) é buscar os sentidos de suas movimentações sociais, comunicativas e/ou estéticas, públicas e privadas. Assim, trabalhos de análise comparada que perpassam a crítica psicanalítica renovam e são renovados por esta teoria, ao considerar, em suas leituras, formas de acessar experiências de espraiamento e dissolução dos sujeitos ficcionais individuais e coletivos, bem como tentam nomear as angústias e mediações relacionais oriundas da zona de contato. São estes os trabalhos que buscamos para compor nosso simpósio, seja entre obras literárias, seja por meio de estudos intersemióticos e de intermidialidades. A recorrência à psicanálise para descrever e interpretar fenômenos ocorridos em zonas de contato, “espaços sociais onde culturas díspares se encontram, se chocam, se entrelaçam uma com a outra” (PRATT, 1999, p. 27), é prática já relatada há algum tempo. Bill Ashcroft (2007) nos lembra, por exemplo, da relevância da diferenciação, realizada por Jacques Lacan, entre outro (petit autre) e Outro (grand Autre),em relação ao sujeito que os interpela e por eles é interpelado. Nas análises pós-freudianas e também pós-coloniais da formação da subjetividade, o petit autre de Lacan é lembrado como um elemento de contraponto para uma suposta ideia de normalidade social, que, ao cair em uma hierarquização em relação a um modelo único de sujeito, pode recair em formações de imagens sedimentadas e estereotipadas ou até na noção ficcional do Inimigo. Os termos proporcionados para que isso ocorra encontram centralização na figura do grand Autre, isto é, o discurso que fabrica aquilo que se diferencia e, por sua vez, precisa ser demarcado na marginalização em relação ao centro. Na zona de contato, os marginalizados passam a selecionar e inventar novas formas de relação a partir dos materiais transmitidos a eles, em relação de subordinação, pelos grupos e pelas culturas dominantes (ASHCROFT, 2007, p. 233). Ainda nessa perspectiva, a constituição dos sujeitos numa relação de dependência do Outro, que, apesar disso, é inexistente ou inconsistente (SILVA, 2017, p. 117-118), cria aberturas para a discussão dos processos ideológicos decorrentes da construção do sujeito em torno de uma falta, de uma ausência fundamental. Se a obra literária e/ou a obra de arte coloca(m) o sujeito em xeque, para que tal se dê de maneira consistente e autêntica, é preciso que ela aceite o estatuto de vaso comunicante, de membrana porosa, cuja função não é a de pacificar o sujeito em relação às demandas do Outro, mas, ao contrário, a de denunciar a existência problemática e sempre-já ideológica dos constructos do “eu” e do Outro. Desta maneira, são diversas as perspectivas para a literatura comparada no que diz respeito ao diálogo com a psicanálise e, por meio dela, com os cenários criados pelas dinâmicas entre culturas, do questionamento à ideia de normalidade socialmente imposta aos procedimentos imaginativos que buscam por novas formas de mediar a experiência. Essa busca de sentido nos remete à própria concepção de linguagem de Lacan (1998, p. 86), para quem “a linguagem, antes de significar alguma coisa, significa para alguém [...] ela se exprime, mas sem ser compreendida pelo sujeito, naquilo que o discurso relata sobre o vivido, na medida em que o sujeito assume o anonimato moral da expressão: é a forma do simbolismo”. Logo, nota-se a inclinação da prática psicanalítica para os usos e as manifestações da linguagem, fato que permite aos pesquisadores estreitar os caminhos por meio dos quais seria possível utilizar os fundamentos metodológicos desta área do conhecimento para aprofundar as veredas estéticas que determinados autores elegem, bem como o efeito causado nos receptores. À luz do exposto, os diálogos entre literatura, artes e psicanálise serão aceitos em trabalhos que lidem com quaisquer vertentes desta última (junguiana, lacaniana, freudiana etc.) ou mesmo pela apropriação materialista lacaniana da psicanálise via Alain Badiou (2002) e Slavoj Žižek (1992, 2010), efetuando-se entre textos distintos ou no entrecruzamento de visadas teóricas que desafiem as fronteiras tradicionalmente estabelecidas.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Comparada. Crítica Psicanalítica. Literatura e intermidialidade. Literatura e outras artes. Zona de contato.

HISTÓRIA DA LITERATURA: UMA NARRATIVA EM MUTAÇÃO?
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: HISTÓRIA DA LITERATURA: UMA NARRATIVA EM MUTAÇÃO?
COORDENADORES:
- REGINA KOHLRAUSCH (Pontificia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS) regina.kohlrausch@pucrs.br
- Márcia Rios da Silva (UNEB) marciarios885@gmail.com
- Thiago Martins Caldas Prado (UNEB) tprado@uneb.br
RESUMO: Em tempos atuais, a história da literatura, entendida como escrita e campo disciplinar, não está assentada sobre um discurso unívoco em torno de uma unidade nacional. Nos últimos anos, vem sendo tecida na escuta de diferentes vozes, provenientes de estratos sociais variados, que emergem na produção literária, em particular, na literatura brasileira. Trata-se agora de uma história que documenta a literatura como a invenção “de um povo que falta”, no sentido dado por Gilles Deleuze (2011). Revitalizada por um impulso revisionista e pelas instigantes reflexões e orientações teóricas e metodológicas do campo dos estudos comparados, sempre aberto à renovação do diálogo, a história da literatura brasileira passa a incluir em sua escrita sujeitos de segmentos diversos, dentre os quais, as minorias étnicas, raciais e sexuais, bem como os discursos e as textualidades de natureza vária, vindos de espaços geopolíticos e culturais diferenciados. Nesse novo campo historiográfico, as pesquisas sobre autores e obras que ficaram à margem do cânone, o papel das histórias regionais ou locais, as novas geografias literárias e a importância desses sistemas para a história da literatura estimulam o movimento, promissor, de descoberta de acervos ainda pouco explorados. Constata-se agora, da parte de estudiosos, um interesse acentuado, embora não seja exclusivo, pela interpretação de produções literárias e culturais contemporâneas marcadas pela heterogeneidade autoral, diversidade de temas e de arranjos formais, tornando-se urgente e imperativa a necessidade de se escrever, no “calor dos acontecimentos”, a história imediata, a história do presente (OLINTO, 2004), sem pretensões de completude, com vistas ao entendimento das inquietações, aspirações e modos distintos de engajamento dos novos sujeitos da história. Nessa orquestração de vozes, afloram o apelo e o direito à partilha do sensível, como pensado pelo filósofo francês Jacques Rancière (2005) em suas reflexões sobre arte e política na contemporaneidade. Frente a esse cenário e movimento, a historiografia literária é instigada a levantar uma série de questões sobre o campo literário instituído, as quais dizem respeito não apenas ao narrador da história, aos critérios que a movimentam, mas envolve indagações que comprovam a fertilidade das reflexões teóricas sobre a literatura, atingindo a formação do cânone, entre outros tópicos. Nessa direção, questionam-se a periodologia, os gêneros literários, até mesmo o conceito de literatura (MOREIRA, 2002, OLINTO, 2002) e a história única com pretensões universalizantes pelos perigos que acarreta (CHIMAMANDA, 2019). Quando se trata da história da literatura e especialmente sobre a história da literatura no Brasil, esse discurso incide sobre conceitos como história, literatura, gêneros, cânone, sobre a intervenção ou a ausência das instâncias de recepção que provocam efeitos no discurso historiográfico e sobre o papel dos sujeitos responsáveis pela escrita do discurso da história da literatura. Entende-se, portanto, que estamos em um terreno sujeito a alterações, em mutação e passível de múltiplas leituras, provocado por narrativas literárias singulares que expõem desigualdades, utopias, reivindicam o bem comum, evidenciando, desse modo, formas de imaginação de outros mundos que fazem frente à cultura hegemônica e ao capital, como defende o pensador equatoriano Alberto Acosta (2016). A partir desses pressupostos, propomos este Simpósio com o objetivo de criar um espaço para a discussão dos critérios de exclusão e revisão na constituição da história literária brasileira, contemplando a contribuição das literaturas das novas comunidades – locais, regionais, transnacionais – nesse movimento renovador. Para além desse objetivo, o Simpósio também acolhe discussões sobre temas recorrentes da historiografia literária, alguns deles, revisitados: a) formação de literaturas locais, regionais, transnacionais e de acervos de escritores; b) constituição do cânone, considerando obras e autores excluídos; c) conceitos teóricos sobre regionalismo, cânone, fontes primárias; d) reflexões sobre história da literatura, narrador, periodologia, recepção (ou suas lacunas). Esse elenco de proposições amplia as possibilidades de se fazer historiografia literária, se pensado em perspectiva comparada, conjugando sincronia e diacronia em seus métodos e abordagens, problematizando objetos de estudo a partir do confronto entre o comum e o singular. Em tempos contemporâneos, as lutas e movimentos sociais distintos ecoam e ampliam a malha textual, como se pode constatar na vigorosa e diversa produção literária e artística em circulação e consumo, estimulando os pesquisadores a elaborarem criativas e surpreendentes analogias e contrastes em seus procedimentos metodológicos. Nesse sentido, só é possível hoje a escrita de histórias de literatura, no plural, destaque-se, o que culmina, de modo salutar, no declínio da história literária única.
PALAVRAS-CHAVE: Historiografia literária; Escritas da literatura; Comparativismo.; Recepção

LITERATURA-MUNDO: FRONTEIRAS EM MOVIMENTO
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: LITERATURA-MUNDO: FRONTEIRAS EM MOVIMENTO
COORDENADORES:
- Érica Luciana de Souza Silva (Instituto Federal Fluminense) ericavascoprof@gmail.com
- Adriano Carlos Moura (Instituto Federal Fluminense) adriano.moura@iff.edu.br
- EDMON NETO DE OLIVEIRA (UFPA) edmoneto@gmail.com
RESUMO: O termo literatura-mundo foi empregado pela primeira vez por Johann Wolfgan von Goethe. De acordo com Izabela Maria Furtado Kestler (UFRJ), Goethe propôs a ideia de Weltliteratur em 1827, ou seja, numa época que precede a existência da nação alemã, com um Romantismo já em sua fase final e forte censura às publicações. O crítico estadunidense David Damrosch (2003), em seu trabalho What is world literature?, apresenta além de outras, a seguinte definição: “Tomo a literatura-mundo para abranger todas as obras literárias que circulam além da cultura de origem, seja em tradução ou em seu idioma original (Virgílio era muito lido em latim na Europa)”. (DAMROSCH, 2003, p. 4). O autor se refere à capacidade que algumas obras possuem de circular fora das fronteiras literárias de origem, ou seja, em outro sistema literário, sendo traduzidas ou não, considerando também as diferentes formas de leitura e recepção. Damrosch (2003) leva em conta os diferentes modos de leitura e de circulação que vão desde as obras já consideradas clássicas ou não. A literatura-mundo é expressão da universalização do nacional, do local em diálogo extrafronteiriço, repudiando o modelo nacionalista, a universalização dos escritores, o modo único de leitura e interpretação de obras, além da consideração de termos como “grandes títulos” ou “obras referenciais” que atuam como filtro ou molde qualitativo. Contudo, faz-se necessário considerar que as chamadas “literaturas centrais” persistem em ditar um molde a ser seguido. A esse respeito, Inocência da Mata, em “Literatura-mundo em Português: encruzilhadas em África (2013) afirma que: “ o espaço das “literaturas centrais” continua a ditar o ponto de partida da perspectiva (isto é, continua a ser o diálogo com as “grandes figuras” a iluminar as “figuras menores”), pois o que conta é o “eco” internacional de uma obra. (MATA, 2013, p. 111). No romance Correntes (Editora Todavia, 2021), a escritora Olga Tokarczuk reflete sobre o fenômeno do nomadismo moderno: nos tempos atuais, as pessoas encontram-se em constante movimento e, portanto, deixam de pertencer a lugares ou países concretos. Além disso, o semioticista Iúri Lotman, ao formular o conceito de semiosfera, isto é, a esfera dos sentidos, atentou para o papel fundamental desempenhado pelas fronteiras da semiosfera. De acordo com ele, os processos vitais para a sobrevivência de uma semiosfera acontecem nas zonas fronteiriças onde ocorre o contato com o outro (outra semiosfera e/ou cultura). É a partir desse contato que nasce o novo: novos sentidos, novas linguagens culturais e novos textos (LOTMAN, 2016). Pensar a superação do nacional é entender as obras da literatura-mundo também como transnacionais. Sem que isso signifique ignorar os problemas e características internas. Mas é preciso aprender a olhar a nação como estrangeiro, sentir a hostilidade muitas vezes devotada a quem é visto como invasor. Mergulhar na unidade fragmentada, fraturada que é toda nação, para que a literatura não resulte só numa declaração de amor apologética e acrítica, como são os hinos nacionais, pretensos espelhos de uma unidade imaginada. Outro fator importante: a literatura-mundo depende do mercado editorial internacional. Embora muitas obras sejam lidas nos idiomas originais, é pela tradução que se internacionalizam. Os processos de tradução são muito enfatizados por Damrosch (2003), entendidos por ele como a continuidade das palavras que começaram no idioma original. O trabalho do tradutor não deixa de implicar, portanto, um exercício de interpretação e criação. Para Umberto Eco (2014), a tradução precisa ir ao encontro das intenções do texto, daquilo que ele “diz ou sugere em relação à língua em que é expresso e ao contexto cultural em que nasceu” (ECO, 2014, p.17). O texto traduzido deve produzir no leitor efeitos nos planos semânticos, sintáticos, estilísticos, fônicos, simbólicos e passionais análogos ao original, sem que seja uma tradução literal deste. Uma literatura-mundo não é a que se inscreve noutro sistema linguístico apenas, mas também noutro universo cultural, e há uma série de fatores extraliterários que podem interferir ou comprometer essa inscrição, como as condições de edição e publicação, educação e formação de público leitor, mercado editorial, política. Convidamos a participar do simpósio aqueles cujas pesquisas enfocam a literatura como questionadora dos limites, domínios, e cânones, bem como a circulação e a tradução literária extrafronteiriça. Bibliografia: DAMROSCH, David. What is world literature. New Jersey. Translation, 2003. ECO, Umberto. Quase a mesma coisa. São Paulo: Record, 2014. LOTMAN, Iúri. O conceito de fronteira na semiótica de Iúri Lotman. In: O espaço literário. Tradução: Ekaterina Vólkova Américo. Textos teóricos. (Org. Ozíris Borges Filho). Uberaba: Ribeirão Gráfica, 2016, p. 243-258. MATA, Inocência. “Literatura-mundo em Português: encruzilhadas em África”. Anuário de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 107-122. TOKARCZUK, Olga. Correntes. Tradução de Olga Bagi?ska-Shinzato. São Paulo: Editora Todavia, 2021.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura-mundo; literaturas transnacionais; fronteiras; desenraizamento; universalização; tradução.

LITERATURAS DE AUTORIA NEGRA FEMININA NAS AMÉRICAS E CARIBE: INTERLOCUÇÕES E COMPARATIVISMOS
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: LITERATURAS DE AUTORIA NEGRA FEMININA NAS AMÉRICAS E CARIBE: INTERLOCUÇÕES E COMPARATIVISMOS
COORDENADORES:
- CRISTIAN SOUZA DE SALES (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA) crissaliessouza@gmail.com
- Franciane Conceição Silva (Universidade Federal da Paraíba) francyebano14@hotmail.com
- Margarete Nascimento dos Santos (Universidade do Estado da Bahia) mnsantos@uneb.br
RESUMO: O presente Simpósio apresenta-se como um espaço para reflexão, discussão e divulgação de estudos crítico-analíticos e/ou teóricos que se debruçam sobre as literaturas da diáspora de autoria negra feminina produzidas nas Américas e Caribes. Trata-se de estimular o diálogo e aprofundar os debates em torno de escritas literárias afrodiaspóricas tecidas por mulheres (artistas, ativistas, escritoras, feministas e intelectuais), nas quais se observam as diversas interfaces entre literatura, história e memória para compreensão mais abrangente dos contextos e mecanismos de resistência negra, reescrita da história da escravização colonial e ressignificação identitária em diferentes países e línguas, tais como: Antígua e Barbuda, Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Estados Unidos, Guadalupe, Jamaica, Haiti, Uruguai, Venezuela, Panamá, Peru, Porto Rico, República Dominicana, entre outros. Nesse múltiplo cenário, Doris Sommer (2018, p.375) assevera que, a literatura de autoria negra produzida na América Latina, ancorada em uma variabilidade de temas, linguagens e estéticas –, foi e continua a ser uma inspiração para “sonhar, pensar, refletir e relembrar” trajetórias distintas de certas lutas raciais e formas de resistência, cujos sinais e os traços estão por toda a parte. De outra maneira, Saidiya Hartman (2020) com o foco no conceito de “fabulação crítica” propõe revisitar os arquivos da escravidão com outra gramática e formas alternativas de expressão. Na mesma linha de argumentação, cruzando tempos distintos, espaços e narrativas, é através do discurso literário de autoria negra que as questões relativas à ancestralidade, à identidade, à história e às culturas dos povos afrodiaspóricos e seus descendentes se manifestam e garantem o direito à memória de um povo/grupo. Centrado nestas preocupações, o Simpósio alinha-se às questões epistêmicas desenhadas por Édouard Glissant (1990) acerca da “poética da relação”, assim como busca ancoragem na categoria político-cultural da Amefricanidade proposta por Lélia Gonzalez (1988a). Em consonância com os pensamentos críticos de Stuart Hall (2003) e Carole Boyce-Davies (2010), o Simpósio busca impulsionar um debate radical acerca das identidades afrodiaspóricas -, evidenciando como estão constantemente em negociação – “produzindo-se e reproduzindo-se novas, através da transformação e da diferença.” (HALL, 2003, p. 75). Nesse sentido, ao destacar a temática da alteridade e identidade, transita pelos estudos afro-latinos-americanos preconizados por George Reid Andrews e Alejandro de la Fuente (2018), e, além disso, promove uma articulação sobre as noções “colonialidade de poder, saber e ser” (QUIJANO, 2000; MALDONADO-TORRES, 2016), bem como relativos à “insurgência negra epistêmica” (SALES, 2020). Por essa razão, o Simpósio pretende potencializar uma crítica ao processo do colonialismo e sua herança colonial com vistas a contribuir para uma produção de conhecimento, cuja força pode ressoar nos estudos literários e analítico-críticos. Assim sendo, dialoga com epistemologias geradas por intelectuais como Yuderkys Espinosa-Miñoso (2019) assentando uma concepção acerca das maneiras de exploração e de opressão experimentadas pelas populações afro-latino-americanas e caribenhas. Nesse quadro de articulação e descolonização do pensamento, destacamos algumas vozes literárias insurgentes: Alice Walker, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Miriam Alves, Geni Guimarães, Lia Vieira, Ana Maria Gonçalves, Eliana Alves Cruz, Cristiane Sobral, Taylane Cruz, Lívia Natália, Jarrid Arraes, Jenyffer Nascimento, Luciany Aparecida, Lubi Prates, Georgina Herrera, Jamaica Kincaid, Maryse Condé, Maria Firmina dos Reis, Nancy Morejón, Lucrecia Panchano, Luz Argentina Chiriboga, Mayra Santos-Febres, Mary Grueso Romero, Shirley Campbell, Victoria Santa Cruz, Teresa Cárdenas, Toni Morrison, LF Yanick Lahens, Kettly Mars, Octavia Butler, entre outras. Por conseguinte, ao ultrapassar fronteiras geográficas para conectar “escrevivências” (EVARISTO, 1995) e “experiências históricas comuns” (AUGUSTO, 2016), formando vizinhanças muitas vezes silenciadas para expandir cada vez mais o seu raio de ação-reação, o Simpósio ainda se converte em um território epistêmico para alargar as possibilidades de interlocução e comparativismos sobre assuntos relacionados à afrodescendência e africanidades, os quais podem enriquecer os estudos literários, os estudos de tradução e os estudos de linguagem. Nesse sentido, e seguindo a provocação de Geri Augusto (2017) de que “a língua não deve nos separar”, movimentar e organizar zonas de contato por afinidades para salvaguardar a memória afro-atlântica, saberes, comunidades, modos de vida e pertencimentos etc. A partir dos pontos levantados, propondo rupturas com os cânones literário e o historiográfico, o Simpósio deseja cotejar trabalhos que tenham interesse em divulgar resultados de pesquisas já concluídas ou em andamento com foco naquelas que abordem os seguintes campos temáticos: diáspora, ancestralidade, memória, história, resistência, negritude, raça, gênero, feminismo negro, racismo, lutas antirracistas, corpo e identidade.
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas afrodiaspóricas; autoria negra feminina; Américas; Caribes

LITERATURAS EM ABISMO: A PERSPECTIVA INTERSEMIÓTICA EM DEBATE
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: LITERATURAS EM ABISMO: A PERSPECTIVA INTERSEMIÓTICA EM DEBATE
COORDENADORES:
- Mariângela Alonso (Universidade de São Paulo) malonso924@gmail.com
- Fernando de Mendonça (Universidade Federal de Sergipe) nandodijesus@gmail.com
- MARIA DO CARMO SIQUEIRA NINO (Universidade Federal de Pernambuco) carmonino@gmail.com
RESUMO: Retomando discussões iniciadas em edições anteriores da ABRALIC, este simpósio se organiza como um espaço para o debate de reflexões críticas voltadas à relação da literatura com as outras artes (cinema, fotografia, música, pintura, teatro etc.), baseando-se numa perspectiva de análise intersemiótica (PLAZA, 2013) e tendo como propósito ampliar e aprofundar os estudos advindos deste ramo da literatura comparada. Adotar a Intersemiose como postura de observação, continua sendo uma oportunidade para discutir as experiências literárias nas textualidades contemporâneas, notadamente marcadas pelo diálogo de linguagens e a hibridez de formas e mídias. Com o objetivo de melhor delimitar este complexo âmbito de pesquisa, multifacetado por natureza, propomos a aplicação do conceito de mise en abyme como uma âncora teórica, um denominador e ponto de interseção para as leituras que aqui possam emergir. Advinda de uma técnica romanesca explorada por André Gide, a partir dos últimos anos do século XIX, a expressão deriva de um termo que, na heráldica, vem se referir ao ponto em que diversas figuras e formas se relacionam, dentro de escudos e medalhões, compondo em abismo o fundo de uma imagem sem, necessariamente, se tocarem. Posteriormente teorizada por Lucien Dällenbach (1977; 1979; 2001), que aprofundou o caráter especular e destacou a presença desta ideia de composição narrativa como uma constante passível de identificação, da Antiguidade aos tempos modernos, esta consciência nos surge como um método de investigação para melhor uniformizar o heterogêneo cenário aberto pela relação das artes. Assim, importa não somente verificar a maneira como variadas obras podem se relacionar, mais do que isso, torna-se relevante perceber a influência destas relações no gesto criativo, em si mesmo. Uma obra que se constrói em abismo, segundo Dällenbach, vem também se desdobrar numa ‘autotextualidade’, em outras palavras, numa ‘intertextualidade autárquica’, passando a depender intrinsecamente do diálogo com outros textos e linguagens para subsistir como forma autônoma e original. Para Jean Verrier, o procedimento narrativo da mise en abyme reflete os problemas da gênese do romance, trazendo ao leitor um caminho sempre aberto e convidativo à leitura, rompendo com os meios e com o totalitarismo das narrativas tradicionais, uma vez que “l’oeuvre est une création où la lucidité joue un role majeur” (VERRIER, 1972, p. 60). Resultam dessa lucidez autoconsciente do escritor as reflexões em torno do processo de criação e da própria ficção. Nesse sentido, o processo de escrita instaura a investigação sobre o próprio ato criador que envolve a literatura. Espécie de construto artístico e crítico, a narrativa torna-se um caleidoscópio, que, por meio do reflexo da luz exterior em pequenos espelhos, apresenta, a cada movimento, combinações variadas e agradáveis de efeitos visuais ou sentidos. Essa sobreposição de camadas de significação logo se percebe como um modus operandi muito expressivo e recorrente na literatura contemporânea, seja em obras que ultrapassem o verbo escrito para alcançar novos domínios de visualidade e, até mesmo, sonoridade; ou literaturas que vêm encontrar nas tecnologias eletrônicas, na cibernética e na rede virtual, novos horizontes de possibilidades textuais. O conceito de mise en abyme, desde os romances e apontamentos ensaísticos de André Gide, presta-se como instrumento de análise comparatista, pois instaura numa obra a reflexividade direta por outra(s) obra(s), seja através de semelhança ou de contraste. Jogo de reflexos a ser resgatado por Dällenbach, ao definir uma narrativa em abismo como obrigatoriamente estruturada por meio de um ‘relato espelhado’, assim como determina Umberto Eco (1989) em sua teoria de espelhamentos, ampliando o caráter vertiginoso das artes que se alimentam ininterruptamente. Diante disso, o simpósio propõe uma ampla discussão de obras que recorram a caminhos em composição especular, seja no direcionamento de textos que apontem para outros textos (obras dentro de obras), mas especialmente, no caso de linguagens que se voltem para outras linguagens, desafiando a percepção e inovando as estéticas contemporâneas. Acompanhando uma tendência dos estudos mundiais em literatura comparada, como se pode constatar pela organização de periódicos internacionais da Università degli Studi di Verona (2014) e da Université du Luxembourg (2019), integralmente voltados para pesquisas que contemplem a mise en abyme como escopo principal de análise crítica, espera-se contribuir aqui para a discussão e divulgação do tema. Diante da alta procura por esta proposta em edições anteriores da ABRALIC, a renovação do simpósio visa oportunizar um maior contato entre pesquisadores brasileiros que já se dediquem ao assunto.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Comparada; Intersemiose; Mise en Abyme; Especularidade.

MUNDOS RIZOMÁTICOS, CIRCUNVIZINHAS TRANSCULTURAIS: A LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE FRICÇÃO NAS AMÉRICAS, ÁFRICAS E AMAZÔNIAS
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: MUNDOS RIZOMÁTICOS, CIRCUNVIZINHAS TRANSCULTURAIS: A LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE FRICÇÃO NAS AMÉRICAS, ÁFRICAS E AMAZÔNIAS
COORDENADORES:
- Amilton José Freire de Queiroz (Universidade Federal do Acre) amiltqueiroz@hotmail.com
- Ezilda Maciel da Silva (Universidade Federal do Pará) ezilda.silva@hotmail.com
- Henrique Silvestre Soares (Universidade Federal do Acre) henrique. Soares@gmail.com
RESUMO: O simpósio pretende estabelecer diálogos sobre a literatura comparada como zona de fricção das/nas Américas, Áfricas e Amazônias, mapeando seus mundos rizomáticos e suas circunvizinhas transculturais tanto na produção artística quanto epistemológica de arquipélagos culturais onde se configura a invenção de lugares comuns marcadamente diversos. Parte, assim, das reflexões sobre as “histórias locais, projetos globais (MIGNOLO, 2003), as “rotas, trânsitos, migrações” (HERRERA, HOISEL, TELLES, 2018) e as narrativas impuras (SOUZA, 2021). Mas também procura dialogar com a transversalidade da Teoria Literária, Estudos Culturais e Pós-coloniais, Decoloniais e Geografia Cultural, acolhendo a perspectiva crítico-teórica de Ivete Walty (2012), Homi Bhabha (1998), Edward Said (2005), Stuart Hall (2013), Benjamim Abdala Junior (2012), Tania Carvalhal (2003), Zilá Bernd (2013), Eurídice Figueiredo (2013), Angel Rama (2001), Cornejo Polar (2000), Hugo Achugar (2006), Aníbal Quijano (2000) e Zulma Palermo (2022). O simpósio acolherá trabalhos que enfoquem as interlocuções da literatura com outros saberes, tais como História, Antropologia, Sociologia, Geografia Cultural, Filosofia, Artes Plásticas, Jornalismo, Cinema, Educação, Ensino, Relações Internacionais, Direito e Tecnologias. Estudar, pesquisar e discutir as humanidades é aprofundar, expandir a visão do “fim do império cognitivo”, dimensionar as “epistemologias do Sul” (SANTOS, 2019) e desenvolver hipóteses sobre “Comparar? Aproximar? Dialogar? Friccionar” (CASA NOVA, 2008). O simpósio coloca-se, assim, como parte de um processo, sempre aberto, como é da natureza da literatura comparada. Não à toa, procura elaborar reflexões sobre “raízes e labirinto” (SANTIAGO, 2006), “vestígios memoriais” (BERND, 2014), “Paralelas e tangentes” (SANTILLI, 2003), uma “geocrítica do eurocentrismo” (MATA, 2012), as formulações pós-coloniais (LEITE, 2013) e “os paradigmas críticos e representações em contraponto” (BRUGIONI, 2019) e as pedagogias decoloniais (WALSH, 2013). A diligência crítica proposta aqui quer pensar as obras literárias, em diálogo com outras esferas do conhecimento. Parte, para tanto, das seguintes questões: como os narradores africanos, latino-americanos, brasileiros e amazônicos configuram o diálogo entre culturas, literaturas, linguagens e humanidades nos séculos XX e XXI? Que papel exercem as estéticas do deslocamento nas trocas e transferências culturais, linguísticas, éticas? Como os conhecimentos da teoria, crítica e comparatismo podem ser articulados às correntes teóricas como os estudos culturais, pós-coloniais, decoloniais e geoculturais? Como interpretar textualidades que têm representado alteridades desviantes e suscitado novas formas de compreensão da literatura, sociedade e cultura? Como abordar romances, contos, crônicas, produções cinematográficas, artes plásticas que, em certa medida, vão na contramão da busca da identidade nacional, bem como interpretar textualidades rizomáticas marcadas por nomadismo, errância, diáspora? Ou, ainda, quem são os novos ficcionistas africanos, latino-americanos, brasileiros e amazônicos que estariam promovendo novas leituras dos contatos coloniais, pós-coloniais e decoloniais? Que espaços as textualidades rizomáticas têm ocupado na cena crítico-teórico-comparatista? Que visões do espaço urbano e rural têm sido apresentadas nestas produções artísticas? Como tais ficcionistas, intelectuais e tradutores têm vivido e representado a tensão entre o local e o global e que ocupam a era da globalização? Que posicionamentos a crítica pode adotar diante destes textos que elegem a montagem, o recorte, as imagens e a citação como formas discursivas tão díspares? Silviano Santiago (2002) desenvolve também a linha de raciocínio sobre a relação entre viagem, sociedade e literatura. Para o crítico, “os europeus viajam por que são insensíveis aos seus, porque não tem o alto senso de justiça” (p. 225). A interface entre cultura, sociedade e imaginário está ali, porém não é vista, reconhecida e vivida, sendo negada para dar lugar a construção do espelho da Europa no Novo Mundo, a propagar a fé do Império como instrumento de negação dos valores do outro, indígena, negro, feminino, sequestrar o código linguístico deste último e instituir uma prática etnocêntrica para falar pelo outro e em nome dele. Nesse sentido, pretende-se, neste simpósio, dialogar com a “Literatura brasileira contemporânea” (DALCASTAGNÈ, 2012), estudar “A literatura afro-brasileira: abordagens em sala de aula” (DUARTE, 2019), investigar as “Poéticas indígenas: lugar, identidade e memória” (GRAÚNA, 2015), discutir a leitura da “Literatura como arquivo da ditadura brasileira” (FIGUEIREDO, 2017) e ampliar as lições de “Literatura Comparada e Literatura Brasileira: circulações e representações” (JOBIM, 2020). Eis alguns dos horizontes de interesse que orientam, portanto, a concepção, proposição e concreção deste simpósio, para o qual convidamos pesquisadores e estudantes de pós-graduação a refletir sobre a literatura comparada como zona de fricção das/nas Américas, Amazônias e Áfricas. Assim, o simpósio pretende ser um espaço para reconhecer que “a literatura comparada sempre teve como objeto produtos literários, e por extensão culturais, distintos, caracterizando-se como o estudo dos contatos, trocas, intercâmbios e embates entre tais produtos”, para irmos na direção de Eduardo Coutinho (2006, p. 218). Enfim, esperamos tecer uma rede de reflexão que permita cartografar, topografar e trans-friccionar a sinergia labiríntica, caleidoscópica e rizomática da literatura comparada, adotando, por conseguinte, “miradas estrábicas”, “entre-lugares”, “solidariedades” e “espaços nômades do saber” das/nas Américas, Áfricas e Amazônias neste Congresso da Abralic, sediado na Universidade Federal da Bahia.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Epistemologia; Comparatismo; Circunvizinhas; Fricções.

MUNDOS VIZINHOS? LITERATURAS DE EXPRESSÃO RUSSA E O LESTE DA EUROPA
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: MUNDOS VIZINHOS? LITERATURAS DE EXPRESSÃO RUSSA E O LESTE DA EUROPA
COORDENADORES:
- RODRIGO ALVES DO NASCIMENTO (UFBA) alvesr@ufba.br
- BRUNO BARRETTO GOMIDE (USP) bgomide@usp.br
- PRISCILA NASCIMENTO MARQUES (UFRJ) priscilamarques@letras.ufrj.br
RESUMO: Ainda que nos últimos vinte anos tenha se acentuado a presença da literatura russa na vida cultural brasileira, fenômeno que se mostra evidente não só pelo número crescente de edições e de traduções feitas diretamente do russo, mas também na expressiva realização de eventos e de publicações acadêmicas, tal presença já é longeva entre nós. Desde o final do século XIX, críticos brasileiros mencionavam – com mais frequência por intermédio de traduções e intérpretes franceses – a novidade do “romance russo”; do mesmo modo, no início do século XX, a Revolução Russa se tornou foco de atenção, tendo gerado um grande volume de comentários não só das produções de cunho histórico e político, mas também daquelas de críticos literários e ficcionistas. Na mesma esteira, a partir dos anos 20 e 30 do século passado, uma geração de ensaístas exploraria possibilidades para a compreensão de nossa condição cultural a partir de paralelos entre Brasil e Rússia. Nos anos 1950 e 1960, chegavam cada vez mais notícias sobre o “novo drama” russo e as transformações da linguagem teatral impulsionadas por Konstantin Stanislávski e Vsiévolod Meyerhold, que funcionavam como fermento tardio para a reflexão sobre a modernização do nosso próprio teatro. Muito desse interesse acompanhava a novidade que a literatura russa representava também na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, ele se originava não só do arejamento fora dos esquadros que os russos promoviam nas formas do romance, do conto e do drama, mas também do fato de que o conjunto de sua literatura, bem como das reflexões vigorosas no campo da nascente Teoria da Literatura, punha em xeque as tradicionais noções de regional e de universal, de centro e de periferia, e mesmo das teleologias do moderno que sempre pautaram a compreensão de nossa própria condição. Esse “outro” russo, ao mesmo tempo distante e próximo, continua a ser foco de vivo interesse, ampliando seu alcance inclusive dentro dos estudos acadêmicos, os quais a partir dos anos 1960 ganharam fôlego decisivo com a atuação do professor Boris Schnaiderman nas esferas da tradução, docência e crítica. Este simpósio, que ocorre com regularidade desde 2006, visa a dar continuidade a esta tradição e, nesta edição da Abralic, ampliar o escopo de discussão abrangendo não só os estudos russos, mas como também a tradição cultural e literária dos espaços do Leste da Europa. Como um espaço de discussão permanente, acolhemos não só trabalhos no campo dos estudos eslavos, balcânicos, bálticos e da Eurásia, mas também trabalhos no campo dos estudos comparados e da teoria da literatura. Pesquisas de diferentes áreas, como história, ciências sociais, linguística, semiótica, jornalismo, filosofia e artes são bem-vindas, sobretudo porque partimos do princípio de que o comparativismo e a interdisciplinaridade foram vetores particularmente afins à cultura russa, que sempre refletiu sobre si própria a partir do cruzamento de questões históricas, sociais, éticas, filosóficas e estéticas. O simpósio pretende acolher, ainda, trabalhos que discutam as questões históricas e literárias ligadas ao imperialismo e ao colonialismo. Esse tema é particularmente relevante, tendo em vista a recente invasão russa à Ucrânia. Tem ganhado destaque nos últimos tempos a produção literária que combina história oral, testemunho e crítica social e historiográfica. Esse é o caso de autores como Varlam Chalámov, recentemente traduzido para o português, e a obra de Svetlana Aleksiévitch, laureada com o Prêmio Nobel de Literatura de 2015. São igualmente bem-vindas pesquisas e discussões que passem pelo tema da dissidência e da resistência política nesses espaços nacionais historicamente complexos e atravessados por tensões, como é o caso do Leste Europeu. No espírito da tradição interdisciplinar das outras edições deste Grupo de Trabalho na Abralic, convidamos ao envio de contribuições nas seguintes áreas: 1) História e crítica da literatura de expressão russa; 2) Teoria da literatura de expressão russa (e possíveis diálogos com outras tradições da Teoria); 3) Problemas de tradução de textos literários e teóricos; 4) Comparatismo estrito entre autores brasileiros e de expressão russa, relativo a literaturas nacionais da Rússia e do Leste Europeu; 5) Transposição da literatura para outras formas artísticas (teatro, cinema e outras modalidades de audiovisual); 6) Estudos histórico-literários sobre questões geopolíticas relativas ao Leste Europeu; 7) O problema da literatura documental, ou “literatura do fato”, em autores de expressão russa; 8) Demais contribuições interdisciplinares.
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas e culturas russófonas; Tradução; Estudos comparados russo-brasileiros; Eslavística; Estudos sobre o Leste Europeu.

NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS: PAISAGENS IDENTITÁRIAS E PERTENCIMENTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS: PAISAGENS IDENTITÁRIAS E PERTENCIMENTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA
COORDENADORES:
- Charles Borges Casemiro (IFSP) charlescasemiro@ifsp.edu.br
- Mauro Dunder (UFRN) mauro.dunder@ufrn.br
RESUMO: A questão contemporânea do pertencimento a diferentes paisagens identitárias permeia a produção literária do último século de maneira inconteste. O século XX foi palco de mudanças geopolíticas, movimentos migratórios e de questionamento das relações coloniais, o que se refletiu, obviamente, no fazer literário não apenas daquele momento, mas, de modo prolongado, também nestas primeiras décadas do século XXI. Um exemplo desse fenômeno, no âmbito da produção literária de língua portuguesa, é o difícil enquadramento de nomes como Isabela Figueiredo, Valter Hugo Mãe e Djaimilia Pereira de Almeida, que, tendo nascido e vivido parte de suas vidas em território africano de língua portuguesa, hoje desenvolvem em Portugal sua carreira literária. Suas obras são ou não consideradas “literatura portuguesa”? Faz sentido, em um mundo globalizado, esse tipo de classificação? E, por fim, que marcas dessa mobilidade espacial e de paisagens aparecem nos escritos desses autores? Da mesma forma, autores como Conceição Evaristo e Milton Hatoun trazem, por meio de sua escrita, possibilidades de discussão a respeito da relação ambígua entre pertencimento e não-pertencimento, no que concerne a pessoas-personagens que se caracterizam como “herdeiros” de tradições diferentes das luso-brasileiras. Desse modo, o Simpósio se propõe à divulgação de estudos a respeito da Narrativa contemporânea da Língua Portuguesa – o romance, o conto, a crônica, etc, de autores portugueses, brasileiros e africanos, especialmente, do tempo pós-colonial da colonialidade (séculos XIX, XX e XXI) –, em que se possam compreender processos discursivos de construção, de desconstrução e de reconstrução identitária e de pertencimento das comunidades lusófonas, sobretudo, consideradas as influências recíprocas entre as sociedades de Língua Portuguesa, pautadas em sua situação histórica de colonialidade e de cultura fronteiriça (WALLERSTEIN, 1983; SANTOS, 1993; QUIJANO, 2002; BRAUDEL, 2009; GROSFOGUEL, 2008). É propósito deste Simpósio, portanto, promover análises de Discursos da ordem econômica, política, social, cultural e ideológica das nações lusófonas que, todavia, estejam materializados na Forma da Narrativa Estética contemporânea de Língua Portuguesa e que, a seu turno, possam contribuir para uma maior compreensão e para uma maior aproximação identitária e de pertencimentos entre as comunidades de Língua Portuguesa, ainda que, paradoxalmente, sejam estes mesmos Discursos específicos, justamente, os que conformam as autonomias, as identidades e os pertencimentos peculiares de cada uma destas comunidades. Para problematizar, assim, a Forma peculiar desta Narrativa contemporânea em Língua Portuguesa, como Discurso, e, portanto, como uma Forma dinâmica particularizante da Narrativa humana (HEGEL, 2003/1. ed. 1835; BAKHTIN, 2006; LUKÁCS, 2011/ 1. ed. 1955; GOLDMANN, 1972; JAMESON, 2007; WATT, 2010), nas sociedades da lusofonia, recorre-se, pois, a três premissas filosóficas e estéticas do século XIX e a seus desdobramentos na ciência e na filosofia estética do século XX e XXI: primeiro, à ideia da Forma como uma estrutura constitutiva do comportamento humano; segundo, à ideia da Forma como uma construção e manifestação, inequivocamente, histórica e contraditória; e, terceiro, à ideia da narrativa estética como uma Forma dialética, particularizante da história humana (GOLDMANN, 1972). Esta abordagem permite apresentar a Narrativa contemporânea de Língua Portuguesa a partir de dois de seus eixos construtivos: de um lado, o da mobilização e da significação e ressignificação de determinados recursos discursivos estéticos, no decorrer dos séculos XIX, XX e XXI e, de outro lado, o da vocação ideológica para a problematização das identidades e dos pertencimentos, como particularidade do Discurso Estético das diversas comunidades lusófonas contemporâneas (Séculos XIX, XX e XXI). Nesse sentido, o Simpósio Narrativas Contemporâneas: Paisagens Identitárias e Pertencimentos em Língua Portuguesa se propõe a problematizar a Narrativa contemporânea de Língua Portuguesa, no sentido de se pensar questões estéticas, identitárias e de pertencimentos, encontradas no diálogo que se estabelece entre o texto literário e outras formas de discurso. Serão bem-vindas, portanto, comunicações que discutam a representação literária das relações sociopolíticas e econômicas derivadas do processo de ressignificação da noção de “pertencimento”, no contexto das culturas de língua portuguesa. REFERÊNCIAS: BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich.. Estética da Criação Verbal. Tradução de Paulo Bezerra. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e Capitalismo, Séculos XV-XVIII. v. 1, 2 e 3. São Paulo: Martins Fontes, 1996. GOLDMANN, Lucien. Dialéctica e Ciências Humanas I. Tradução de João Arsênio Nunes. São Paulo: Presença, 1972. GROSFOGUEL, Ramón. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos póscoloniais: Transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. In: Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 80, março de 2008, pp. 115-147. HEGEL, G.W.F. Cursos de estética I. Tradução de Marco Aurélio Werle. 2.ed. rev. São Paulo: EDUSP, 2001 (Original em Alemão, publicado em 1.ed. 1835). IMBERT, Enrique Anderson. Teoría y Técnica del Cuento. 4. ed. Barcelona: Ariel, 2007 (1.ed. 1979). JAMESON, Fredric. O romance histórico ainda é possível? In: Novos Estudos CEBRAP, n. 77, p. 185-203, março de 2007. LUKÁCS, Györg. O romance histórico. Tradução de Rubens Enderle. Apresentação de Arlenice Almeida da Silva. São Paulo: Boitempo, 2011. (1.ed. 1955). QUIJANO, Aníbal. Colonialidade, Poder, Globalização e Democracia. Tradução de Dina Lida Kinoshita. In: Revista Novos Rumos, ano 17, n. 17, Maio, 2002. SANTOS, Boaventura de Sousa. Modernidade, Identidade e a Cultura de Fronteira. In: Tempo Social. Revista de Sociologia da USP. São Paulo, 5 (1-2), nov. de 1993/1994, p. 31-52. WALLERSTEIN, Immanuel. The Capitalist World-economy. Cambridge: Cambridge University Press, 1983. WATT, Ian. A Ascensão do romance: Estudos Sobre Defoe, Richardson e Fielding. Tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Cia. Das Letras, 2010
PALAVRAS-CHAVE: Narrativas Contemporâneas; Paisagens Identitárias; Pertencimentos; Colonialidade; Língua Portuguesa.

REDES COMO DISPOSITIVO TEÓRICO-CRÍTICO DA LITERATURA COMPARADA
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: REDES COMO DISPOSITIVO TEÓRICO-CRÍTICO DA LITERATURA COMPARADA
COORDENADORES:
- Isabel Cristina Jasinski (Universidade Federal do Paraná (UFPR)) belisabel.kisa@gmail.com
- Maria Cândida Ferreira de Almeida (Universidad de los Andes (UNIANDES)) mferreir@uniandes.edu.co
- Larissa Costa da Mata (Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)) larissa.mata@ufersa.edu.br
RESUMO: A metáfora da rede, utilizada primeiramente por Leonard Euler (1736), ganhou força para abordar as relações entre sujeitos, favorecidas pela comunicação e pelo deslocamento. A internet potencializou formas de interação e expressão individual, promovendo uma aproximação dos atores da relação com distanciamento espacial. Porém, antes mesmo de criada a web na década de 1990, a “teoria das redes” de Albert-László Barabási já focava as suas propriedades dinâmicas, que identificava em diversos fenômenos (RECUERO, 2009). Surgido nos campos da matemática e da física, o conceito propiciou uma abordagem da história do pensamento e da literatura na América Latina (JASINSKI, 2022). A aplicação do estudo sobre redes em múltiplos campos demonstrou sua versatilidade conceitual e metodológica, aliada à capacidade de articulação e rearticulação permanente, característica que define uma rede (ENNE 2004). As práticas da mobilidade territorial e de comunicação no contexto latino-americano contribuíram para a criação de redes intelectuais no século XX, estabelecendo relações que suplantaram os limites da nação, como observou Devés Valdés (2007) e estão na sustentação da literatura comparada. (FERREIRA DE ALMEIDA, 2012) Segundo Haesbaerth da Costa, na atualidade, os processos de deslocamento transnacional e das tecnologias de informação e comunicação se intensificaram, e, como consequência, vivenciamos uma superposição espacial equivalente a uma experiência “multiterritorial” da existência, “possível somente se estivermos articulados (em rede) através de múltiplas escalas, que muitas vezes se estendem do local ao global”, ao defender uma perspectiva relacional de território (COSTA, 2019, p.79). Viver em redes, que caracteriza a novidade da experiência espaço-temporal contemporânea, significa também, “construir e/ou controlar fluxos/redes e criar referências simbólicas num espaço em movimento, no e pelo movimento'' (COSTA, 2019, p. 280). Tal concepção de territorialidade como ritmo, fluxo e rede possui manifestações variadas que ajudam a pensar sobre as relações de sentido próprias à arte e à literatura contemporâneas, visto que propõem uma trama entre esses discursos que ultrapasse as categorias de pertencimento e de especificidade. Para Florencia Garramuño, o entrecruzamento de meios e disciplinas, anula aquilo que é “próprio” da literatura, produzindo fronteiras maleáveis entre os campos, os quais se reconstituem para além da origem, do meio, do gênero e desmontam, dessa maneira, a “tradição nacional e a opressiva relação entre literatura e território” (GARRAMUÑO, 2014, n. p.). As redes propiciam um dispositivo teórico-crítico que abarca um problema mais amplo, e serve para avaliar práticas artísticas e literárias próprias ao campo da literatura comparada. Parte-se do princípio de que as redes literárias se constituíram ao longo do século XX, porém se intensificaram mediante dinâmicas de transnacionalização e comunicação a partir dos anos 1990, marcando os modos de relação e produção de sentido no começo do século XXI, como é considerado por inúmeros críticos literários que destacam a importância desses fatores para entender a literatura contemporânea na América Latina, como Hugo Achúgar (1996), Eneida Maria de Souza (2002), Ana Pizarro (2004), Josefina Ludmer (2010), Álvaro Fernández Bravo (2011), Cristina Rivera Garza (2013), Florencia Garramuño (2014). A coordenação do simpósio convoca trabalhos relacionados à literatura e a redes artísticas, culturais, intelectuais e sociais da América Latina, que explorem a trama entre literatura e outras linguagens, meios e suportes, comunidades expandidas e coletividades artísticas, editoras independentes, revistas, eventos e produções literárias, além de modos de gestão cultural que enfatizem a mobilidade tanto espacial como cultural e simbólica, propondo uma formulação teórico-crítica para a literatura comparada. Bibliografia ACHÚGAR, Hugo (2006). Planetas sem boca. Trad. Lisley Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG. DEVÉS-VALDÉS, Eduardo. Redes intelectuales en América Latina. Hacia la constitución de una comunidad intelectual. Santiago de Chile: Universidad de Santiago de Chile, 2007. ENNE, Ana Lúcia S. “Conceito de rede e as sociedades contemporâneas”. Revista Comunicação e Informação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, v.7, n. 2, jul./dez.2004, p. 264 - 273. FERNÁNDEZ BRAVO, Álvaro. Discusión bibliográfica: Nuevas contribuciones para una teoría de las redes culturales. Cuardernos del CILHA, Mendoza, v. 12, n. 1, p. 209-215, 2011. Disponível em: http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1852-96152011000100012. FERREIRA DE ALMEIDA, Maria Cândida. Transmissão e relação: pensando um sistema para os muitos métodos da Literatura Comparada. Ângulo, v. 1, n. 130, p. 13-22, 2012. Disponível em: https://web.archive.org/web/20180414015154id_/http://publicacoes.fatea.br/index.php/angulo/article/viewFile/1008/788 GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Trad. Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. [Versão e-book]. JASINSKI, Isabel. "Redes literárias singulares e Escritas nômades". Cordiviola, Olmos, Palmero González, Gárate (orgs.) Temas para uma história da literatura hispano-americana I. Porto Alegre, Letra 1, 2022. LUDMER, Josefina. Aquí América Latina. Una especulación. Buenos Aires: Eterna Cadencia, 2010. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. RIVERA GARZA, Cristina. ¿Sueñan las máquinas con el lenguaje del nosotros? Una curadoría. Los muertos indóciles. Necroescritura y desapropiación. México: Tusquets, 2013. SOUZA, Eneida Maria de. Crítica cult. Belo Horizonte: UFMG, 2002.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Comparada; redes; teoria crítica.

TEMAS, FORMAS E OBSESSÕES DO ROMANCE PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: TEMAS, FORMAS E OBSESSÕES DO ROMANCE PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
COORDENADORES:
- Pedro Fernandes de Oliveira Neto (UFRN) pedro.letras@yahoo.com.br
- Maria Aparecida da Costa (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte) cidaminas@hotmail.com
- Jonas Jefferson de Souza Leite (Universidade Federal de Pernambuco) jonasleite@hotmail.com
RESUMO: A literatura portuguesa nos últimos sessenta anos se revestiu de uma variabilidade de formas, expressões, estéticas, temas e obsessões que, entre as águas da ficção de viés ou teor mais social advindas do que foram as produções do chamado Neorrealismo (e mais distante, do Realismo) e as da ficção mais preocupadas com o trato estético, eivadas dos resquícios das vanguardas, tem assumido uma nova face, mais aberta, plural e ingressada no que poderíamos designar como uma literatura de corte universal. Isto é, tal literatura desplega os localismos ao se mostrar interessada pelas transformações e variações comuns a toda comunidade humana; trata-se isso ora como uma força marcadamente típica do post-modernismo (cf. Arnaut, 2002), ora como fluxo comum dado a uma época de dinamizações e integrações, afinal toda literatura é sempre um “modelo orgânico, vivo” (cf. Real, 2012). Nesse caso específico, as circunstâncias históricas que parecem influenciar os escritores advêm, dentre outras, do reconhecimento de Portugal numa dinâmica político-geográfica da Europa e das contínuas trocas culturais favorecidas em momentos pouco depois do fim das obstruções ditatoriais impostas ao largo de mais de quatro décadas e a possibilidade de integração do país para as correntezas das globalizações, que, positiva ou negativamente têm assumido o protagonismo de novos valores contrários aos estilemas da opressão. Independente de qual perspectiva teórica nasça uma compreensão sobre as modificações no âmbito do literário, o fato é que se cobra dos investigadores maneiras de pensarmos sobre e com intuito de construir detalhadamente suas implicâncias seja para com o cânone, a forma, seja para com as questões sociais, culturais e políticas, porque, no fim de tudo, o que todas as mudanças favorecem, numa dialética, são também novas formas de ser e estar no mundo (cf. Seixo, 1984). O produto das transformações por que passa a ficção, sabemos, se faz de motivações de ordem diversa e a principal delas responde pela presença de como os sujeitos se relacionam com as novas posições assumidas nos contextos pelos quais transitam; ao mesmo tempo, a literatura tece uma participação na variabilidade das forças reinauguradas no mundo fora do tecido textual. O que marca este período, então, no romance português, é o desenvolvimento de novas práticas e experiências com a narrativa, a proliferação das inquietações tornadas em matérias temáticas dos novos ficcionistas — ora afastando-se do conteúdo histórico-social e de uma reflexão sobre os modos de ser e estar português para se aproximar de preocupações a um só tempo interior e exterior ao indivíduo do seu país (nativo ou ingresso) ora reinventando os mananciais de criação, tais como a guerra colonial, os transes da imigração, outros episódios da história dos povos (as guerras, os regimes despóticos, as violências explícitas ou encobertas), as crises do sujeito, a diversidade das relações humanas desencadeadas no extenso e complexo jogo social etc. No caso da ficção romanesca, do ponto vista estético-formal, cite-se a diversidade da composição, acentuada na valorização da escrita e suas implicações na tessitura textual (das quais as intersemioses, o ready-made e os procedimentos metaficcionais são apenas alguns exemplos), nas relações entre os modos escriturais e orais, no uso de novos recursos estilísticos, de criação, recriação e interpenetração das formas discursivas, na diversidade de registro e conformação da narrativa seja decorrentes das constantes infiltrações dos tons subjetivos (cf. Cerdeira, 2020), marcados pelo recurso de intromissão lírica seja o desenvolvimento da reflexão sobre o cotidiano, a rotina íntima dos sujeitos agora olhada como mundividências de interesse ao literato. Ainda, o que seduz a escrita é um tipo de interesse por formas ficcionais diversas — tais como uso recorrente das chamadas narrativas marginais (em desordem, cf. Barrento, 2016), os gêneros de primeira pessoa, os relatos, os diários, as crônicas etc. Os rumos, portanto, são muitos e vastos; “o romance português sofreu, no seu todo, uma profunda rutura” (REAL, 2012, p. 22). No interesse de apontar, descrever, discutir, relacionar, construir diálogos com a pluralidade de eventos situados no âmbito da ficção romanesca, sua dinâmica geral, ora reafirmando essa tendência à dispersividade, ora estabelecendo uma busca por uma unidade dialética que possa compreender sujeitos e mundos na sua pluralidade, é que se constitui este simpósio — também em continuidade às discussões levantadas na ABRALIC 2021. Vinculadas às discussões desenvolvidas no âmbito do Grupo Estudos Sobre o Romance, nosso intuito é, a partir da leitura de romances publicados em Portugal a partir dos anos 1950, abrir algumas coordenadas úteis crítica, teórica e metodologicamente para pensar sobre o que é, no fim de tudo, um afã da literatura portuguesa pela universalidade.
PALAVRAS-CHAVE: Estudos sobre o romance; Literatura Portuguesa; Literatura Comparada; Romance português contemporâneo.

VIRGINIA WOOLF EM TRÂNSITO
EIXO: EIXO 3 - LITERATURA COMPARADA COMO ZONA DE VIZINHANÇA
SIMPÓSIO: VIRGINIA WOOLF EM TRÂNSITO
COORDENADORES:
- Maria Rita Drumond Viana (Universidade Federal de Ouro Preto) m.rita.viana@ufop.edu.br
- Ana Carolina de Carvalho Mesquita (Faculdade Santa Marcelina) carol.mesquita@gmail.com
- Victor Santiago Sousa (Universidade Federal do Acre) victor.santiago@ufac.br
RESUMO: No verão de 1927, Virginia e Leonard Woolf conseguem comprar seu primeiro carro, um Singer usado, que apelidaram de “Guarda-Chuva”. Em seu diário, Woolf descreve suas primeiras viagens no automóvel: “O que eu gosto, ou uma das coisas de que gosto, em andar de carro é a sensação de iluminar por acaso, como um viajante que toca outro planeta com a ponta do pé, cenas que teriam seguido, sempre seguiram, & irão seguir sem registro, a não ser por esse vislumbre inesperado. Então é como se eu recebesse autorização para ver o coração do mundo descoberto por um instante. Ocorre-me que o hino entoado nos baixios se passou exatamente no tempo de Cromwell” (WOOLF, 1980/2023, no prelo). A entrada ressalta algumas das possibilidades do deslocamento em um carro: diferentemente do trem que segue o caminho pré-determinado dos trilhos e os horários estabelecidos pela companhia e afixados em tabelas nas estações, as paradas não-planejadas do carro podem levar ao desconhecido, hiperbolicamente longe em termos espaciais (“outro planeta”) e temporais (“na época de Cromwell”). Não apenas em seus romances mais conhecidos, como Mrs. Dalloway (1925/1946) e Orlando (1928/1948) vemos carros, ônibus, aviões, trens e o metrô, mas também em contos como “Um romance não escrito” (1921/2005) e ensaios como o “Sr. Bennett e Sra. Brown” (1924/2021). Se em seu primeiro romance, A viagem (1915/2007), a protagonista Rachel Vinrace embarca em uma jornada literal para a América do Sul, outras personagens ao longo de sua obra se veem em trânsitos mais ou menos metafóricos. A expressão maior desse transitar é, certamente, Orlando: em constante movimento, o jovem aristocrata não só abandona o interior do condado de Kent para a corte elisabetana em Londres e para seu posto diplomático em Constantinopla mas também o faz atravessando (pelo menos) trezentos anos e tornando-se mulher, sem, no entanto, deixar de transitar pelos espaços de socialização então ainda dominados por homens. Para além do fluxo, tão comumente associado à técnica de Woolf e de modernistas em geral, propomos para este simpósio temático uma reflexão sobre o trânsito em Woolf e sobre a própria Woolf em trânsito: em movimento entre lugares, temporalidades, estéticas, artes, culturas, saberes, gerações, identidades e línguas. Como interpretar, traduzir e encenar o trânsito de Virginia Woolf no Brasil e no mundo de hoje? Como manter nosso próprio pensamento em trânsito? Em Um esboço do passado (1974/2020) Woolf arrisca chamar o seu método experimental de escrita de uma filosofia, que seria a sua habilidade de fazer confluir aquilo que antes a machucava expressando-o em palavras: “sinto, talvez porque ao fazer isso eu extraia a dor, um prazer de unir as partes desconectadas” (2020, p. 27). Esse desejo de reconectar mundos estilhaçados pelo ódio pode nos levar a percorrer novos caminhos e traduzir novos olhares e sensações, pondo em cheque fronteiras linguísticas, nacionais, sociais, de raça e gênero que tornam certos corpos mais vulneráveis do que outros. Pensando com Walter Benjamin (1923/1985), e entendendo a tradução como deslocamento – e, portanto, como uma ação potencialmente vanguardista e criativa (CAMPOS, 1962) – a tarefa-renúncia (Aufgabe) tradutória diz respeito a uma forma especial de comunicabilidade que vai além da comunicação puramente verbal. Ou seja, o ato de traduzir pode ser entendido como um trânsito entre as diferenças, um exercício de alteridade por excelência, que visa a estabelecer uma relação íntima, ética, artística ou política entre culturas e povos, capaz de superar embarreiramentos não apenas das línguas e das fronteiras entre nações, mas os limites entre o eu e o outro e, assim, produzir vizinhos próximos. Ao traduzir, transitamos pela diferença e renunciamos ao encapsulamento na nossa identidade, possibilitando o encontro: “Paradoxalmente, não é possível, como agentes éticos, imaginar a outridade ou a alteridade máximas. Precisamos transformar o outro em algo semelhante ao eu, a fim de sermos éticos. Render-se na tradução se aproxima mais do erótico do que do ético.” (SPIVAK, 1993, trad. e grifos nossos). Traduzir, nessa acepção ampliada, é uma forma de colocar o pensamento em movimento criativo e crítico, em transição e em trânsito – um passeio por novos caminhos, tempos e espaços. Convidamos, portanto, propostas de comunicação sobre os seguintes temas na obra, vida e recepção de Virginia Woolf: -- Woolf transnacional, transcultural, transtemporal, transgêneros; -- Life writing como trânsito entre ficção e não-ficção; -- Woolf em outras cenas históricas: questionamentos, atravessamentos, rupturas e continuidades; -- Woolf e os estudos pós-humanos e/ou transumamos; -- Woolf e o neomaterialismo, as coisas, e os objetos; -- Woolf e os estudos feministas interseccionais, queer e/ou transfeministas; -- Os Woolf e os trânsitos entre campo e cidade, dentro do Império Britânico e entre outros países; -- Woolf e seu círculo transitando por artes vizinhas, como o cinema, teatro, artes plásticas, a performance, o design; -- Woolf e/m tradução e adaptação; -- Representações de Woolf em outras autorias.
PALAVRAS-CHAVE: Virginia Woolf; tradução, edição e recepção; performance; escritas de si.
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ESCRITAS DO CORPO FEMININO NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
- Luana Antunes Costa (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira) - luanaantunes@unilab.edu.br
- Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - teresalg@letras.ufrj.br
- Claudia Fabiana de Oliveira Cardoso (Fundação de Apoio à Escola Técnica) - claubiacardoso@gmail.com
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ESCRITAS FEMININAS EM ÁFRICA
- Kleyton Ricardo Wanderley Pereira (UFRPE) - kleyton.pereira@ufrpe.br
- Francisca Zuleide Duarte de Souza (UEPB) - zuleide.duarte@hotmail.com
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IDENTIDADES EM DISPUTAS: DAS MEMÓRIAS E DAS CENAS ARTÍSTICAS, O QUE TEMOS A FALAR?
- Paulo César Souza García (Universidade do Estado da Bahia) - pcsgarcia31@gmail.com
- Rafael M. Mérida Jiménez (Universidad de Lleida (Espanha)) - rmmerida@yahoo.es
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INTERSECCIONALIDADE NAS LITERATURAS EM PORTUGUÊS: GÊNERO E NAÇÃO
- Andreia Alves Monteiro de Castro (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - andreiaacastro@gmail.com
- Mário César Lugarinho (USP - Universidade de São Paulo) - lugarinho@usp.br
- Carlos Eduardo Soares da Cruz (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - eduardodacruz@gmail.com
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MULHERES NEGRAS DAS LETRAS: RECONFIGURAÇÃO DAS HIERARQUIAS DE RAÇA, CLASSE, GÊNERO E SEXUALIDADE
- CELIOMAR PORFIRIO RAMOS (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) - celiomarramoss@hotmail.com
- Marinei Almeida (Universidade do Estado de Mato Grosso) - marinei.almeida@unemat.br
- Larissa da Silva Lisboa Souza (Universidade Federal de Lavras) - lari.lisboa@gmail.com
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POLÍTICAS LITERÁRIAS E ESCRITAS AFETIVAS: O LUGAR DOS SUJEITOS INVISÍVEIS
- Flávio Adriano Nantes (UFMS) - fa.nantes@gmail.com
- Cláudia Nigro (UNESP) - cmcnigro@gmail.com
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POR QUE ESCREVEM AS MULHERES? REPRESENTAÇÕES DO CORPO-MULHER, INTERSECCIONALIDADES, ALTERIDADES E SUBVERSÕES
- Tiago Barbosa da Silva (Universidade Federal da Bahia) - tiagob_s@yahoo.com.br
- Jocelaine Oliveira dos Santos (IFS) - jocelaine.santos@ifs.edu.br
- Rafaella Teotônio (Universidade de Pernambuco) - rafaella.cristina@upe.br

ESCRITAS DO CORPO FEMININO NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
EIXO: EIXO 4 - INTERSECCIONALIDADE: RAÇA, GÊNERO, SEXUALIDADE E CLASSE NOS ESTUDOS COMPARADOS
SIMPÓSIO: ESCRITAS DO CORPO FEMININO NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
COORDENADORES:
- Luana Antunes Costa (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira) luanaantunes@unilab.edu.br
- Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro) teresalg@letras.ufrj.br
- Claudia Fabiana de Oliveira Cardoso (Fundação de Apoio à Escola Técnica) claubiacardoso@gmail.com
RESUMO: A partir da perspectiva dos estudos comparados das literaturas em língua portuguesa, esse simpósio propõe acolher trabalhos acadêmicos, performativos e pedagógicos do campo das literaturas em língua portuguesa, com destaque para as literaturas africanas e afro-brasileira/negro-brasileira e suas relações com outros campos dos saberes artísticos e das Ciências Humanas, priorizando perspectivas dos feminismos contra-hegemônicos e outros movimentos emancipatórios protagonizados por mulheres. Compreendendo a noção de “escritas do corpo feminino” como “textos literários e outras texturas performativas produzidos por escritoras-intelectuais que apresentam, tanto na cena pública de seus países de origem, quanto na internacional, uma práxis intelectual, ao revitalizarem o corpo da mulher e suas identidades, não deixando de questionar e convocar, em suas obras, o corpo social de seus países, sua historicidade e suas identidades sociais” (COSTA, 2018, p. 129), o simpósio será espaço para a elaboração de debates e construção de redes de colaboração, investigação em rede, agência política de mulheres e tessitura de afetos, como estratégia de subversão da subalternidade feminina direcionadas à perspectiva de políticas de futuro. Em relação às questões relacionadas à autoria, compreende-se a autora como intelectual a partir de sua intervenção efetiva na esfera pública e seu comprometimento ao alinhar-se na oposição à lógica mantenedoras do status quo na esfera social. Portanto, a consciência intelectual articula-se com a posição empenhada e o comprometimento com o risco, inerentes à exposição pública e à defesa de ideias. Cientes das dificuldades da inserção da mulher como escritora e intelectual na cena pública da informação, da força das assimetrias de poderes que atingem o protagonismo da voz feminina, da invisibilidade da mulher como escritora e cidadã, no Brasil, no Continente Africano e alhures, cremos que o corpo da escritora, percebido socialmente como feminino, seja o primeiro campo de embates e de afirmações, reivindicações, em envolvimento direto com as construções estéticas de suas obras literárias, sobretudo com as representações dos corpos femininos pela palavra artístico-verbal. Afirmando a necessidade da construção de políticas educacionais e ações pedagógicas para a implementação da lei 10.639/03 (11.645) - Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional – que determina a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e africana no currículo escolar nos componentes pedagógicos de História, Artes e Literatura, o simpósio abre espaço para a apresentação de trabalhos elaborados por profissionais da educação, de todos os níveis, que abordem a relação entre corporeidade, autoria feminina, educação para as relações étnico-raciais, em diálogo com a perspectiva lançada por Alex Ratts (2019) ao destacar o pensamento da poeta e historiadora Beatriz Nascimento: “É da corporeidade como uma construção social – cor, traços e voz, também lugares e percursos, posições e posicionamentos – dimensões vistas em correlação, que emanam as palavras ditas e escritas sobre negritude e raça, que têm uma história e uma geografia, marcadas pelas relações raciais e pelo racismo”. Articulando questões que abarcam problemáticas sobre território, corpo, poder, abre-se espaço para debates que abordem a escrita literária como criação performática, práxis de cidadania e ação política. O corpo protagonista, seja ele o das autora, quanto aquele encenado por suas produções artísticas, problematiza e ilumina estratégias de subversão de antigas estruturas de poder arraigadas em diferentes sociedades ao longo do tempo, no continente africano, no Brasil e em outros territórios da diáspora. Destacam-se, assim, os saberes produzidos por escritoras-intelectuais do chamado Sul-Global (CONNELL, 2012), cujas obras e engajamento, na cena pública da circulação de ideias, também contribuem para a construção de um contra-olhar sobre a teoria social produzida e reconhecida pelos centros hegemônicos, a exemplo do trabalho teórico produzido por intelectuais afro-diaspóricas, como Sueli Carneiro, Conceição Evaristo, Lelia González, Beatriz Nascimento, Miriam Alves, Livia Natalia, Jurema Werneck, Paulina Chiziane, Dina Salústio, Conceição Lima, Patricia Godinho, entre outras: “Se a teoria é o trabalho que o centro faz, então a mudança revolucionária é possível. Caso esse outro trabalho seja feito em outros lugares, o centro será fatalmente (re)localizado” (CONNELL, 2012, p. 10). Assumindo a perspectiva revolucionária proposta por bell hooks (2013), ao nos ensinar a celebrar “[...] um ensino que permita as transgressões – um movimento contra as fronteiras e para além delas” (idem, p. 24), o simpósio se quer como território ancorado na pluralidade de propostas para a construção de práticas político-pedagógicas e artísticas comprometidas com a “educação como prática da liberdade”.
PALAVRAS-CHAVE: corpo feminino, literaturas africanas de língua portuguesa, literatura afro-brasileira, feminismos contra-hegemônicos, lei 10.639/03

ESCRITAS FEMININAS EM ÁFRICA
EIXO: EIXO 4 - INTERSECCIONALIDADE: RAÇA, GÊNERO, SEXUALIDADE E CLASSE NOS ESTUDOS COMPARADOS
SIMPÓSIO: ESCRITAS FEMININAS EM ÁFRICA
COORDENADORES:
- Kleyton Ricardo Wanderley Pereira (UFRPE) kleyton.pereira@ufrpe.br
- Francisca Zuleide Duarte de Souza (UEPB) zuleide.duarte@hotmail.com
RESUMO: É fato que as literaturas africanas de autoria feminina guardam semelhanças com aquelas publicadas em culturas onde a mulher continua à margem, definida pelos padrões que a sociedade legitima. De acordo com Maria Nazareth Soares Fonseca (2004, p. 283), em África, muitos são os fatores que explicam a chegada tardia das mulheres à literatura. Dificuldades de acesso à instrução, funções relacionadas à maternidade e aos cuidados com a prole, os critérios de seleção utilizados pelas editoras são alguns dos obstáculos enfrentados pelas escritoras no sistema de publicação e circulação de suas obras. Apesar disso, a emergência das literaturas africanas escritas por mulheres é um fenômeno recente e pesquisas sobre a produção literária de mulheres africanas têm colaborado cada vez mais para a visibilidade das contradições existentes nas convenções sócio-histórico-culturais e, como consequência disso, representam uma reação dos sujeitos antes silenciados não só pelo discurso colonialista, mas também pelo poder do patriarcado. De acordo com Rachel DuPlessis (1985, p.46, tradução nossa), há uma estreita relação entre os Estudos Pós-Coloniais e o Feminismo uma vez que, nas sociedades coloniais, “uma mulher da colônia é uma metáfora da mulher como colônia”. Para a intelectual estadunidense Kimberlé Crenshaw (1989), um importante paradigma teórico-metodológico da tradição feminista negra é o conceito de interseccionalidade, que compreende a discriminação da mulher negra não apenas como vítima do patriarcado e do colonialismo, mas também de outras formas de violência correlatas, como o racismo, o sexismo, a opressão de classes e outros sistemas que estruturam as desigualdades. Nessa perspectiva, o feminismo não só põe em xeque a literatura canônica e o valor estético do texto, da teoria e da crítica literária, como construções históricas e culturais, desafiando não só a hegemonia patriarcal e suas as estruturas de dominação, mas também o lugar da crítica essencialista da intelectualidade ocidental (BONNICI, 2012). Consequentemente, se faz necessário ponderar que o uso acrítico de certas teorias e metodologias produziu a noção de mulher universal colaborando para um conceito homogêneo da opressão da mulher pós-colonial. Reconhecer a diversidade das experiências das mulheres significa não aceitar soluções fáceis, únicas e universais. Distintos do feminismo ocidental, conceitos como o de Africana Womanism (HUDSON-WEEMS, 2020) estão centrados nas experiências das mulheres africanas como uma alternativa viável de luta coletiva e, por isso, de acordo com a socióloga nigeriana Oyèrónké Oy?wùmí (2022, p.17), “para entender as estruturas de gênero e relações de gênero, devemos começar com a África”, contrariando as dicotomias ocidentais entre os sexos e a busca de uma cooperação não hierárquica. Outra característica importante encontrada nos estudos de feministas africanas é a busca de equilíbrio com a tradição pré-colonial, resgatando a figura da mãe-comunitária como uma mulher que é reconhecida como transmissora de cultura, centro de organização social, que traz vida ao mundo e é responsável pela regeneração espiritual dos anciãos. No dizer de Catherine Acholonu (1995, p.3, tradução nossa): “Qualquer que seja o papel da África na perspectiva global, nunca poderá ser apartado de sua posição por excelência como o Continente-Mãe da humanidade, nem é por coincidência que a maternidade permanece como o foco da arte africana, da literatura africana (especialmente escrita por mulheres) cultura africana (...). A alternativa da África para o feminismo ocidental é MOTHERISMO e Motherismo denota maternidade (...)”. Nessa linha de pensamento, a ótica da escrita feminina contribui não só para a ruptura com as estruturas de dominação masculina, mas também para o questionamento sobre as formas e modos literários e o desmascaramento dos fundamentos do cânone. “Escritoras negras distinguem o mulherismo do feminismo, assim como sua percepção crítica do patriarcado negro e sua preocupação particular com as mulheres negras distinguem os temas de suas obras da aceitação de preconceitos masculinos detestáveis contra as mulheres, frequentemente encontrados em escritos de homens negros” (OGUNYEMI, 1985, p.72, tradução nossa). A escrita das mulheres africanas tem encontrado cada vez mais espaços para narrar suas próprias experiências num dinâmico processo de “escrevivências” que evidenciam uma ótica particular através da dicção feminina. Através de sua literatura, as autoras africanas retratam o papel da mulher na sociedade ancestral e os conflitos na adaptação a uma nova realidade, advindos com os processos de descolonização. Este simpósio tem por objetivo reunir pesquisas concluídas e em andamento sobre a produção literária de escritoras africanas das línguas portuguesa, inglesa, francesa e espanhola, ampliando o debate e abrindo um espaço de diálogo sob a orientação de várias propostas teóricas que fundamentam questões sobre linguagem, memória, identidades, gênero, experiências diaspóricas ou demais temas próprios das culturas africanas tradicionais.
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas africanas de autoria feminina. Feminismo africana. Mulherismo.

IDENTIDADES EM DISPUTAS: DAS MEMÓRIAS E DAS CENAS ARTÍSTICAS, O QUE TEMOS A FALAR?
EIXO: EIXO 4 - INTERSECCIONALIDADE: RAÇA, GÊNERO, SEXUALIDADE E CLASSE NOS ESTUDOS COMPARADOS
SIMPÓSIO: IDENTIDADES EM DISPUTAS: DAS MEMÓRIAS E DAS CENAS ARTÍSTICAS, O QUE TEMOS A FALAR?
COORDENADORES:
- Paulo César Souza García (Universidade do Estado da Bahia) pcsgarcia31@gmail.com
- Rafael M. Mérida Jiménez (Universidad de Lleida (Espanha)) rmmerida@yahoo.es
RESUMO: A matéria publicada “Gay macho: uma nova tragédia americana?”, veiculada pelo periódico brasileiro “Lampião da esquina”, em seu nº8, de abril de 1979 revela a experiência do estranhamento em Clubes gays dos Estados Unidos onde a masculinidade tinha um grau de supremacia protagonizada pelos frequentadores do local. Posterior à manchete brasileira, Dennis Altman, em “The Homosexualization of America, The Americanization of the Homosexual” (1982), adentra na proposição do comportamento hipermasculinizado dos sujeitos da comunidade gay dos EUA. A reportagem do Lampião culminou com grandes números de cartas de seus leitores à redação do tabloide ao longo de sua existência, alcançando, inclusive o seu último número, de junho de 1981. Nelas, expressões de surpresa, concordância, discordância, e sobretudo, estranhamento por não se reconhecer naquela forma identitária que se manifestava através de índices masculinos e que “ocultavam” a sua condição dissidente. Em anos subsequentes, puseram em evidência reflexões acerca de necessárias formulações identitárias que viriam a animar a disputa social e política das minorias até uma “estabilização” na década de 1990. E, com aporte da teoria queer no Brasil, podemos compreender que a disputa de representações é nada menos que uma disputa acerca de políticas representacionais que definiram uma “verdade” a respeito da dissidência sexual e legitimaria determinados sujeitos como homossexuais. O processo impõe uma reflexão mais aguda acerca de seus ecos por aqui, na medida em que experimentávamos um período de transição política e cultural, entre um regime autoritário e a democracia. Naqueles anos, as representações identitárias assumiam radicalmente a sua função política e, por isso, a sua força normatizadora (BUTLER, 2003, p. 18-19). Daí, o crítico brasileiro Silviano Santiago considerar que o desbunde nessa época não pode “ser definido como se fosse um conceito e muito menos como se fosse uma regra de comportamento. É antes um espetáculo em que se irmanam uma atitude artística de vida e uma atividade existencial de arte, confundindo-se” (SANTIAGO, 1979, p. 149). O sentido que Santiago nos aponta sobre desbunde pode ser visto como prenúncio do que seria o queer, quando visado este na espetacularização da vida e do corpo do/da artista que, junto a sua obra, torna-o foco das atenções, visto que a transgressão que ambos representavam tanto indicavam uma forma deliberada de alienação, quanto de um engajamento radical na resistência ao regime. Quem encarnaria o “desbunde” ou viria a partilhar do mesmo “comportamento” em suas inúmeras manifestações da Literatura e das Artes, em geral, no cenário cultural das Nações de língua portuguesa, espanhola e da América Latina? Se em anos anteriores à atualidade do século XXI, as cenas de o sujeito se colocar a respeito da política representacional ganhavam fórum de questionamentos, atualmente, como a dissidência sexual e de gênero ocupa espaços desafiadores para falar de si, como encenam as subjetividades e os corpos sem os encalços da disputa de cunhar verdades ou em buscar legitimações sobre as sexualidades vistas enquanto disfuncionais? Claro que não podemos perder de vista os retratos históricos das nações de língua portuguesa e espanhola, cujos discursos não podem ser esquecidos ao apresentar “sujeito homossexual” desafiando a representação do “sujeito nacional”, imanente ao Estado e ao sistema heteronormativo, reivindicando para si autonomia e autodefinição através não apenas da contestação destas forças formativas, mas da oposição a outras sexualidades possíveis engendradas. Portanto, nossa proposta para o Simpósio é de conhecer estudos que debatam acerca das identidades dissidentes e interseccionalizadas, a partir da vasta produção cultural que marca o tempo das representatividades dos sujeitos em torno da sexualidade e de gênero no Brasil, em nações da América Latina, em comunidades das nações de língua portuguesa e espanhola que apresentem também questões que atravessam a história de si e a memória cultural, tendo em vista aspectos ligados à contestação de pessoas LGBTQIA+, quando identificadas por patologias, conceitos naturalizados aos corpos estabelecidos pelo discurso médico-científico e que ainda opera fortemente e é pautado de modo assustador. Sejam em produções artísticas e literárias ou em textualidades da cultura das referidas comunidades, existem cenas do vivido que devem ser resgatas, analisadas e não silenciadas. Considerando que a Literatura Comparada “é hoje uma área efervescente do saber” (COUTINHO, 2017, p. 18), como pensar as performances queer manifestadas na periferia; como as conexões entre sujeitos pretos, índios e demais raças e etnias das comunidades de língua portuguesa e espanhola proporcionam campos de conhecimento, intermediando espaços geoculturais que de outro modo não se compreendem facilmente com os enfoques do sistema logocêntrico e conservador? Nosso objetivo é direcionar para quem fala, onde, sobre quais questões estão sendo tratadas, quem e como produzem estudos e referências que expressem uma linha de pensamento no foco da abordagem.
PALAVRAS-CHAVE: Corpos dissidentes, histórias de si, performances literárias e artísticas, crítica cultural

INTERSECCIONALIDADE NAS LITERATURAS EM PORTUGUÊS: GÊNERO E NAÇÃO
EIXO: EIXO 4 - INTERSECCIONALIDADE: RAÇA, GÊNERO, SEXUALIDADE E CLASSE NOS ESTUDOS COMPARADOS
SIMPÓSIO: INTERSECCIONALIDADE NAS LITERATURAS EM PORTUGUÊS: GÊNERO E NAÇÃO
COORDENADORES:
- Andreia Alves Monteiro de Castro (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) andreiaacastro@gmail.com
- Mário César Lugarinho (USP - Universidade de São Paulo) lugarinho@usp.br
- Carlos Eduardo Soares da Cruz (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) eduardodacruz@gmail.com
RESUMO: Segundo Chartier (1990), o conceito de representação se pauta em duas realidades distintas, mas que se interpenetram. Uma diz respeito às identidades coletivas, aos ritos, aos modos que fundamentam as instituições sociais. A outra se refere à identidade do sujeito, às formas de exibição individual e à avaliação desse indivíduo pelo grupo. Ainda de acordo com o historiador, por meio da representação, fundam-se padrões, crenças e valores, muitos deles marcados pela transitoriedade, pela instabilidade, pela fluidez, mas todos relacionados a questões estéticas, morais, religiosas, filosóficas, políticas e econômicas, sustentando relações de poder, de dominação e de resistência. Se representar significa dar visibilidade ao outro, historicamente, também significou silenciar outros. Indivíduos ou grupos dominantes, legitimados por instâncias sociais, como classe, raça e gênero, desqualificavam, desautorizavam ou inviabilizavam discursos das minorias marginalizadas, sobretudo se fossem dissonantes. A literatura como instrumento de construção, de interpretação, de disseminação e de questionamento das representações dominantes, obviamente, também projetava, mantinha e subvertia identidades individuais e coletivas. As mulheres, por exemplo, historicamente silenciadas, tiveram a representação e a difusão de sua imagem continuamente empregada como instrumento de dominação e de propaganda ideológica. Duby e Michele Perrot (1992), em Imagem da mulher, comprovam que, ao longo dos séculos, muitas representações do feminino foram afirmadas e questionadas por uma avalanche de imagens, literárias ou plásticas, que, na maioria das vezes, eram produzidas por homens. Essa abundância revela as alterações e as permanências da representação da figura feminina e das ações determinadas às mulheres, mas, praticamente, até o século XIX, ignorava-se, quase sempre, como elas se viam ou se sentiam, como viam e viviam suas imagens, se as aceitavam ou as recusavam, se se aproveitavam delas ou as amaldiçoavam, se as subvertiam ou se eram dominadas. Para a análise das dinâmicas da interação entre os diversos eixos da subordinação, é fundamental o conceito de interseccionalidade, sistematizado pela feminista norte-americana Kimberlé Crenshaw, que trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam, por gêneros, raças, etnias, classes etc., as posições relativas dos indivíduos no corpo social. Além disso, a interseccionalidade trata da forma como ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos da opressão. (CRENSHAW, 2002, p.177). Essa perspectiva descreve bem a forma como o estado nacional burguês se organizou política e juridicamente durante o século XIX, definindo discursos que impunham uma identidade nacional homogênea (GUIBERNAU, 1997, p. 58), baseada numa suposta memória coletiva compartilhada por seus súditos. Michel Pollak (1989), por sua vez, já considerara que as narrativas, incluindo as literárias, foram e ainda são elementos fundamentais nos processos tanto de dominação como de contestação e subversão de diferentes versões e memórias, e que elas evidenciam a clivagem entre a memória oficial e dominante, emanada do estado, e as “memórias subterrâneas”, marcadas pelo silêncio, pelo não dito, depositada nos indivíduos. Deste modo, parece ser incontornável a análise da participação da literatura na manutenção, na reprodução ou no questionamento da construção identitária de projetos de nação idealizados por políticos, intelectuais e artistas, considerando os seus desdobramentos históricos e sociais e a sua permanência na atualidade. Dessa maneira, a cartografia dessas “nações imaginadas”, como conceitua Benedict Anderson (2008), deve considerar livros, revistas ou periódicos impressos, produzidos em larga escala, na criação e difusão de “comunidades imaginadas” dotadas de uma nacionalidade homogênea. Este simpósio busca, portanto, reunir trabalhos e pesquisas de diferentes reflexões críticas e teóricas e de múltiplas áreas do conhecimento que dialogam com esses temas e conceitos a partir. Destacam-se, sobretudo, análises sobre como, desde o romantismo, quando o estado nacional se estabilizava como modelo jurídico e político, as literaturas em português representaram nacionalidades frente à colonização, à escravização, à imigração, à descolonização em relação com gênero e outras interseccionalidades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. DUBY, Georges; PERROT, Michelle. (org.). Imagens da Mulher. Porto: Edições Afrontamento, 1992. CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. In: Estudos Feministas, vol. 10, núm. 1, p. 171-188, jan. 2002. CHARTIER, Roger. A História Cultural entre práticas e representações. Col. Memória e sociedade. Trad. Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990. GUIBERNAU, Montserrat. Nacionalismos – O estado nacional e o nacionalismo no século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. POLLACK, Michael. Memória, Esquecimento, Silencio; In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.
PALAVRAS-CHAVE: Gênero; Nação; Interseccionalidades

MULHERES NEGRAS DAS LETRAS: RECONFIGURAÇÃO DAS HIERARQUIAS DE RAÇA, CLASSE, GÊNERO E SEXUALIDADE
EIXO: EIXO 4 - INTERSECCIONALIDADE: RAÇA, GÊNERO, SEXUALIDADE E CLASSE NOS ESTUDOS COMPARADOS
SIMPÓSIO: MULHERES NEGRAS DAS LETRAS: RECONFIGURAÇÃO DAS HIERARQUIAS DE RAÇA, CLASSE, GÊNERO E SEXUALIDADE
COORDENADORES:
- CELIOMAR PORFIRIO RAMOS (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) celiomarramoss@hotmail.com
- Marinei Almeida (Universidade do Estado de Mato Grosso) marinei.almeida@unemat.br
- Larissa da Silva Lisboa Souza (Universidade Federal de Lavras) lari.lisboa@gmail.com
RESUMO: “O perigo da história única” (CHIMAMANDA, 2018) nos levou adentrar em águas ainda pouco navegadas, num navio conduzido por mulheres negras que velejam na contramão da concepção hegemônica, rumo à uma perspectiva feminista negra afrocentrada, num ato de autonomeação, de (re)contar a história, a partir de uma ótica gendrada, racializada e marcada por categorias que constituem esse grupo, reconhecendo a multiplicidade que o compõe. Talvez esta seja uma das principais motivações que têm nos guiado à produção literária de mulheres negras: entender que a história oficial, por conseguinte, tudo que a circunscreve, inclusive a arte, foi concebida a partir da visão de homens brancos cisheterossexuais oriundos das classes mais favorecidas da sociedade (DALCASTAGNÈ, 2008), salvo as raras exceções que conseguiram driblar o apagamento sistêmico. É necessário ressaltar que, mesmo que as mulheres negras estejam rompendo o silenciamento imposto, tendo certa visibilidade (inter)nacional, há elementos que ainda obliteram esse grupo. Resta-nos, como pesquisadora e pesquisador, contribuir para que esses elementos sejam (re)conhecidos, portanto, nomeados, a fim de descortinarmos o lado “marginal” que a produção esteve relegada. Pode haver inúmeras formas de (re)conhecer tais elementos, contudo, uma das mais coerentes é ouvir o que essas mulheres têm a dizer, seja no campo científico, na arte, na literatura, na crítica literária e em outros âmbitos da sociedade, pressupondo que ninguém é mais capaz de identificar as dores que as próprias vítimas. A necessidade de ouvir/ler, refletir, discutir e analisar produções daquelas que tiveram as vozes silenciadas por sistemas opressores, tais como o racismo, o machismo e o sexismo, faz-se urgente, sobretudo em um país que tem sua base fincada em um sistema neocolonialista. Apesar de tímida, nos últimos anos tem sido notória a conquista de espaço das mulheres negras no mercado editorial e, além disso, tem aumentado de forma significativa o interesse de pesquisadoras e pesquisadores em refletir sobre essa produção literária na academia. A visibilidade da escrita dessas mulheres é importante, entre outros fatores, por apresentar uma nova perspectiva social permitindo, assim, que elas se autorrepresentem, representem suas semelhantes e, consequentemente, rasurem os estereótipos atribuídos a esse grupo na literatura hegemônica. A autoria feminina negra é, então, uma grande conquista, visto que, ao “assenhorar-se da pena”, essas mulheres deixam de ser “objeto” nos textos literários, tornando-se sujeito da/na literatura, apresentando “escrevivências”, permitindo que a subjetividade e a memória se apresentem, contudo, sem um centramento em si, evidenciando a memória coletiva da população racializada. Tais literaturas podem ser consideradas metonímias da história dos países, portanto, consideradas textos memórias. Dado o exposto, nosso objetivo é reunir trabalhos que discutam a produção literária de autoras negras em diferentes gêneros literários, com os seguintes objetivos: (1) debater a importância da autoria feminina negra; (2) refletir sobre como se dá a representação de mulheres negras na literatura produzida por autoras negras; (3) abordar a relevância das produções literárias de mulheres negras no cenário africano, afro-brasileiro e afrodiaspórico; (4) discutir em que medida essas produções contribuem para desconstruir os estereótipos atribuídos aos negros, em especial, às mulheres negras. Baseando-nos nos pressupostos defendidos por Patrícia Hill Collins (2017), de que é preciso se munir de estudos que intervém sobre a questão da intersecção das desigualdades, na reconfiguração das hierarquias de raça, classe, gênero e sexualidade. Ademais, considerando a proposição de Judith Butler (2017), ao assegurar que se alguém “é” uma mulher isso não é tudo, pois o gênero, por não se representar de maneira coerente no que diz respeito ao contexto histórico, estabelece diálogo com outros aspectos, dentre eles os raciais, classicistas, étnicos, sexuais e regionais, uma vez que “se tornou impossível separar a noção de ‘gênero’ de interseções políticas e culturais em que invariavelmente ela é produzida e mantida” (p. 21), dentre outros estudos críticos e teóricos que centrem nessas questões, as propostas apresentadas deverão considerar tais pressupostos, uma vez que eles são suma relevância para pensar o lugar outorgado à mulher negra em uma sociedade. Isto posto, serão bem-vindas comunicações centradas nos estudos comparados, não somente entre textos literários, mas, destes com outras artes (cinema, teatro, pintura, etc), incluindo o diálogo com outras áreas de conhecimento (antropologia, sociologia, história e etc). ADICHIE, C. O perigo de uma história única. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras. 2018. BUTLER, Judith. Problemas de Gênero. Feminismo e Subversão de identidade. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2017. COLLINS, Patrícia Hill. Se perdeu na tradução? Feminismo negro, interseccionalidade e política emancipatória. Parágrafo: Revista Científica de Comunicação Social da FIAM-FAAM, v. 5, n. 1, p. 6–17, 29 jun. 2017 DALCASTANGÉ, Regina. Entre silêncios e estereótipos: relações raciais na literatura brasileira contemporânea. Estudos de literatura brasileira contemporânea. Brasília, n. 31, p. 87-110, jan./jun. 2008.
PALAVRAS-CHAVE: Autorrepresentação; Mulheres negras; Autoria feminina negra.

POLÍTICAS LITERÁRIAS E ESCRITAS AFETIVAS: O LUGAR DOS SUJEITOS INVISÍVEIS
EIXO: EIXO 4 - INTERSECCIONALIDADE: RAÇA, GÊNERO, SEXUALIDADE E CLASSE NOS ESTUDOS COMPARADOS
SIMPÓSIO: POLÍTICAS LITERÁRIAS E ESCRITAS AFETIVAS: O LUGAR DOS SUJEITOS INVISÍVEIS
COORDENADORES:
- Flávio Adriano Nantes (UFMS) fa.nantes@gmail.com
- Cláudia Nigro (UNESP) cmcnigro@gmail.com
RESUMO: Pensar a literatura como um gesto político sugere, entre tantas possibilidades, determinadas demandas da ordem da urgência, da outridade, da salvação, das resistências, dos combates. Gesto, este, propiciador de uma profunda reflexão sobre o lugar (espaço de enunciação) de onde o texto emerge e/ou da temática proposta. Neste sentido, o leitor poderá inteirar-se, por intermédio do ficcional, de como se dão os engendramentos sociais nos limites do mundo factual. Determinados corpos, sobretudo os subalternizados/minorizados, em diversas sociedades ao redor do mundo, sofrem atrocidades – injúrias, assédios, violência física e/ou letal – que podem ser transmutadas para o texto literário, tal como fazem, entre outros escritores, uma Patrícia Melo (“Mulheres empilhadas”); uma Conceição Evaristo (“Olhos d’água”); um Marcelino Freire (“Angu de sangue”); um Bernardo Kucinski (“A nova ordem”); uma Bernardine Evaristo (“Garota, mulher, outras”). E nisto, na articulação poética entre o factual para o ficcional, está centrada a possibilidade de reflexão. O leitor consegue inferir, a partir das obras exemplificadas ou em tantas outras, que nos dois mundo – no empírico e no literário – há uma política de morte, a necropolítica proposta pelo filósofo camaronês Achille Mbembe (2018), em que o Estado-nação é responsável pela eliminação letal daqueles corpos acima elencados. É de responsabilidade estatal a criação e a efetivação de políticas que protejam, sem exceção, todos os cidadãos; e quando não o faz torna-se o responsável pela política de morte. Na esteira das palavras de Mbembe, a filósofa norte-americana Judith Butler (2022), em “A reivindicação de Antígona”, é categórica ao demonstrar que há vidas que são passíveis ao luto e vidas que não merecem o luto. Há vidas que são socialmente choradas e lamentadas, ainda que a sociedade não tenha aproximação e/ou convivência com o sujeito cuja vida foi extinta, e, por outro lado, há aquelas que não merecem o choro ou o lamento públicos. Existe, portanto, uma dicotomia social entre aqueles cidadãos que são pranteados e aqueles que não o são. A razão pela qual este fenômeno ocorre tem a ver com quem são esses dois tipos de sujeitos: o merecedor do luto é geralmente o homem branco, médio, cis-hetéro, urbano, sem deficiência; o outro é, quase sempre, o homem negro, indígena, LGBT, empobrecido/subalternizado. Pensemos nas mulheres trans brasileiras assassinadas sistematicamente – o Brasil, de acordo com a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), ocupa o primeiro lugar há treze anos consecutivos no ranking em assassinatos a essas mulheres; nas mulheres indígenas estupradas nas proximidades das aldeias e nos homens indígenas, sobretudo lideranças, assassinados; nos homens, mulheres e crianças negros mortos por policiais nas favelas. Embora a literatura seja sempre um gesto político porque a linguagem é sempre estruturada a partir de um posicionamento, ela não tem compromisso com as instâncias sociais que articulam o mundo factual; não tem compromisso com os fatos sociais; não é tributária de nenhum outro discurso, seja filosófico, social, antropológico, histórico, psicanalítico, etc. Por outro lado, este simpósio visa a pensar numa prática literária dos afetos – uma-escritura-dos-afetos ou uma-escrita-da-outridade – com o claro intuito de trazer à discussão essas vidas silenciadas, invisibilizadas, postas à margem pela sociedade, sem direito ao luto/choro social. Uma escritura dos afetos reivindica, por assim dizer, um lugar para os sujeitos invisíveis – um lugar social; um lugar de direito; um lugar para além do texto literário. “[...] ‘o que representa ou pensa a poesia?’ A própria literatura e a teoria literária ou da arte, de um modo geral, tem realizado essa pergunta com frequência e respondido de diversas formas. Em uma perspectiva, responderam afirmando a função representacional, por vezes generalizando-a (como na tradição filológica de Erich Auerbach, para quem a literatura ocidental pensa o mundo, isto é, representa a realidade), outras especificando-a (tal livro ou tal literatura pensam o problema de tal ou qual grupo social, como parecem sugerir os estudos culturais. [...] em toda mimesis, o que está em jogo é uma produção, uma poiesis, ou seja, uma representação como um “dar forma” à matéria bruta, aos fatos da realidade, no qual o artista recorta, fragmenta, monta, modela; concepção que podemos percorrer desde Aristóteles até Antonio Candido” (LEONE, 2016, p. 65-66). Aqui, pensar-se-á no recorte de sujeitos e sujeitas historicamente invisibilizado/a/s, por intermédio da literatura, nas mais diferentes sociedades ao redor do mundo. Convidamos, então, pesquisadoras e pesquisadores cujos trabalhos dialoguem com a temática da escritura dos afetos na literatura ou em outras linguagens artísticas, objetivando pensar a negação daqueles que ao longo da história de sua existência e de seus iguais foram obliterados socialmente
PALAVRAS-CHAVE: Escritas afetivas; Políticas literárias; Sujeitos invisíveis; Outridades.

POR QUE ESCREVEM AS MULHERES? REPRESENTAÇÕES DO CORPO-MULHER, INTERSECCIONALIDADES, ALTERIDADES E SUBVERSÕES
EIXO: EIXO 4 - INTERSECCIONALIDADE: RAÇA, GÊNERO, SEXUALIDADE E CLASSE NOS ESTUDOS COMPARADOS
SIMPÓSIO: POR QUE ESCREVEM AS MULHERES? REPRESENTAÇÕES DO CORPO-MULHER, INTERSECCIONALIDADES, ALTERIDADES E SUBVERSÕES
COORDENADORES:
- Tiago Barbosa da Silva (Universidade Federal da Bahia) tiagob_s@yahoo.com.br
- Jocelaine Oliveira dos Santos (IFS) jocelaine.santos@ifs.edu.br
- Rafaella Teotônio (Universidade de Pernambuco) rafaella.cristina@upe.br
RESUMO: A representação do corpo feminino não é um tema exatamente novo. Se remontarmos à literatura clássica, por exemplo, iremos nos deparar com Medeia de Eurípedes e toda uma tradição masculina de representar e falar da mulher enquanto continuum universal, eco e oco do masculino hegemônico. Estes autores gastaram suas penas para construir, a partir de idealizações e do escrutínio do corpo-mulher, um outro, um estrangeiro, imagem de um espécime passível de catalogação e observação curiosa, posicionando este corpo-outro num lugar de subalternidade que insiste em perdurar até os dias de hoje. As representações construídas a partir das perspectivas masculinas, muitas vezes, funcionam enquanto tecnologia de gênero e de opressão das experiências de mulheres e de reafirmação da centralidade cultural do Homem (LAURETIS, 1994). Porém, vozes de mulheres, outrora silenciadas, reivindicaram e reivindicam o direito de representarem a si mesmas nas literaturas, trazendo para o cerne do debate e da crítica o que chamamos hoje de autoria feminina. No início do século XX, Virginia Woolf (1882-1941) denunciava em “Um teto todo seu” a ideia da representação da mulher como objeto alheio, espelho do outro e alienação ao discurso masculino amplamente amparado no hegemônico-literário da época. Mais recentemente, nos anos 80, Gloria Anzaldúa, em suas “Cartas às Mulheres escritoras do 3º mundo”, aprofunda o debate e, interseccionando-o a um gesto decolonial, também nos auxilia a pensar sobre o direito feminino de escrever sobre si, de si e para si interditado, sobretudo, às negras, latinas, chicanas, africanas, nordestinas, indígenas, ditas de Terceiro Mundo. Nesse sentido, Anzaldúa provoca-nos a reflexionar sobre a escrita como urgência, substantivo feminino, apontando para o ato de escrever enquanto ferramenta de complementação, organização e expansão da experiência de ser mulher no mundo já que, como afirma: “No escrever coloco ordem no mundo, coloco nele uma alça para poder segurá-lo. Escrevo porque a vida não aplaca meus apetites e minha fome. Escrevo para registrar o que os outros apagam quando falo, para reescrever as histórias mal escritas sobre mim, sobre você” (ANZALDÚA, 2021, p. 53). Para Zolin (2021, p. 297), as literaturas de autoria feminina “Configuram-se como importante instrumento de resistência à opressão secular da mulher que, embora já bastante contestada, ainda persiste escamoteada por entre práticas e discursos naturalizados da nossa cultura”, funcionando, assim, enquanto um importante espaço de resistência e ressignificação de suas vivências e imaginários, podendo contribuir para processos de emancipação e apropriação da própria história. Desta forma, neste simpósio propomos pensar as plurais representações do corpo-mulher, corpos múltiplos (XAVIER, 2021), cis e trans, a partir das interseccionalidades que marcam os estudos de raça-classe-gênero, cartografando alteridades e apontando subversões possíveis a partir do gesto de tomar para si a própria história, elemento tão caro à escritura de mulheres, que se contrapõe à colonialidade e ao imperialismo de gênero, componentes inerentes ao mecanismo de funcionamento do sistema de produção capitalista. A produção literária de autoria de mulheres, de alguma forma, afeta, contagia os já dados sistemas representacionais ocidentais erguidos a partir da fabricação que sustenta o privilégio da centralidade de um sujeito único-universal, cis, heteronormativo, branco e cristão, promovendo deslocamentos e fissuras na rede simbólica da qual a literatura faz parte. É pela via desse entendimento que buscamos discutir este sentido excedente, retomando a pergunta que nomeia este simpósio, “Por que escrevem as mulheres?”. Entendemos que os fios de suas narrativas tecem a capacidade de dessacralizar e descristalizar as imagens de sujeitos mulheres no mundo da escrita, produzindo saberes localizados. É isso que pretendemos analisar e discutir neste congresso a partir de trabalhos que, na esteira do que diz, Grada Kilomba (2019, p.28), reafirmem o compromisso das mulheres com sua escrita, uma vez que “Escrever, portanto, emerge como um ato político. [...]enquanto escrevo, eu me torno a narradora e a escritora da minha própria realidade, a autora e a autoridade da minha própria história.” Intentamos, portanto, neste simpósio, acolher trabalhos sobre escritoras que se debrucem em representações de corpos, urgências, violências, disputas, apagamentos e marcas, em ampla denúncia ao colonialismo e ao sistema hetero-patriacal que insiste em legislar sobre suas existências. Os seguintes temas podem ser abordados pelos proponentes de comunicações: violência de gênero, violência epistêmica, memória, pós memória, trauma, estupro, maternidade, corporeidades contra hegemônicas e trans-inter-culturais, temáticas que engendram fissuras e colapsos na representação hegemônica a partir da perspectiva sociocultural das mulheres nas literaturas.
PALAVRAS-CHAVE: Representação, corpo, escrita de mulheres.
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CULTURAS (OU ESTÉTICAS) SEMPRE VIVAS: RESIDUALIDADE NOS ESTUDOS LITERÁRIOS
- Mary Nascimento da Silva Leitão (UECE) - maryepoesia@gmail.com
- Cássia Maria Bezerra do Nascimento (UFAM) - cassiambnascimento@ufam.edu.br
- Cássia Alves da Silva (IFCE) - casilvana@yahoo.com.br
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ENCRUZILHANDO A ESCRITA LITERÁRIA: A CABAÇA-ÚTERO, O CANTAR DAS FOLHAS E A TERRA TRADICIONAL APRESENTANDO COSMOPERCEPÇÕES DE UM FUTURO-ANCESTRAL
- Natália Regina Rocha Serpa (IFMA) - nataliaserpa@ifma.edu.br
- Denis Moura de Quadros (FURG) - denisdpbg10@gmail.com
- Cristiane Viana da Silva Fronza (Universidade Federal do Piauí - UFPI) - cristianevyanna@yahoo.com.br
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REFLEXÕES EM TORNO DA POESIA PERFORMÁTICA
- John Milton (Universidade de São Paulo) - jmilton@usp.br
- Gisele Giandoni Wolkoff (UFF) - gwolkoff@gmail.com

CULTURAS (OU ESTÉTICAS) SEMPRE VIVAS: RESIDUALIDADE NOS ESTUDOS LITERÁRIOS
EIXO: EIXO 5 - ESTÉTICAS DO BEM-VIVER: ANCESTRALIDADES, COSMOPERCEPÇÕES E COLETIVIDADES
SIMPÓSIO: CULTURAS (OU ESTÉTICAS) SEMPRE VIVAS: RESIDUALIDADE NOS ESTUDOS LITERÁRIOS
COORDENADORES:
- Mary Nascimento da Silva Leitão (UECE) maryepoesia@gmail.com
- Cássia Maria Bezerra do Nascimento (UFAM) cassiambnascimento@ufam.edu.br
- Cássia Alves da Silva (IFCE) casilvana@yahoo.com.br
RESUMO: Cada vez mais a universidade reconhece a importância de estudos, leituras e práticas acadêmicas que (e)levem a Literatura a seu lugar artístico, à arte que transborda das mãos de mulheres e de homens, não como criação individual, mas com a força da vida, da história coletiva de seus antepassados, da arte e da cultura hibridizada de/com outros povos, de outros espaços e de outros tempos. Não cabe à Literatura a leitura cartesiana, é preciso, cada vez mais, mover e realizar estudos literários que permitam a fruição da arte literária em sua complexidade. É neste sentido que trazemos a Teoria da Residualidade Literária e Cultural. Sistematizada por Roberto Pontes, a teoria tem o seguinte preceito: “na cultura e na literatura, nada há de original; tudo remanesce; logo, tudo é residual”. Alguns aspectos de comportamento e cultura vivos, tidos como pertencentes a um dado período, são dados passíveis de serem retomados por uma pessoa ou por um determinado grupo de forma consciente ou inconsciente em outra época. A identificação dos vestígios de outra época faz sentido ao se compreender o caminho seguido por esses vestígios e a maneira como eles atravessaram o tempo e o espaço para adentrar e construir a forma de pensar de povos de diferentes lugares e culturas. Isto mostra a complexidade dos modos de ser de uma determinada sociedade, mas também concorre para melhor entendimento das características de um povo, contribuindo para a compreensão das diversidades identitárias. Reconhecer essa maneira híbrida de constituição das culturas é uma forma de exercício de alteridade a ser realizado a partir de uma leitura literária que reconheça as contribuições dos nossos ancestrais para a formação da literatura do presente. Para compreender como certos resquícios transpõem os limites do espaço e do tempo em que residem inicialmente, Roberto Pontes (1999) aponta os conceitos norteadores da teoria: a mentalidade (FRANCO JÚNIOR, 2003), o resíduo (WILLIANS, 1979), a hibridação cultural (BURKE,2003) e a cristalização (FISCHER, 1987). Depois acrescenta os conceitos de imaginário (FRANCO JÚNIOR, 2003) e endoculturação (PONTES, 2006). O resíduo, embora tenha sido formado no passado, ele passa a ser, no presente, o núcleo de um novo imaginário. Sua presença é tão intensa que parece fazer parte do tempo presente e isso apenas comprova sua força atemporal, que o faz continuar vivo e nítido e ser sempre contemporâneo. Embora a residualidade utilize o imaginário para a especificação de figuras significativas de épocas distintas, é na mentalidade - atitudes mentais arraigadas durante um longo processo numa dada sociedade - que ela encontra o sentido. Com base nesta fundamentação, este simpósio acolhe trabalhos nos quais se discuta, em obras de autores do Brasil e do mundo: as remanescências do imaginário medieval, ou de outros períodos históricos, sobre a mulher, em prosa, a fim de compreender de que modo aquilo que remanesce do imaginário em questão afeta as personagens femininas e/ou masculinas das obras; a poesia residual em análises; os elementos culturais e os processos de endoculturação e hibridação cultural e de construção de identidade presentes; análises literárias com diálogos possíveis da residualidade com outras teorias literárias e/ou de outras áreas do conhecimento, em perspectiva complexa; resultados de práticas sistematizadas de leitura literária com interpretações sobre as mudanças no tempo; discussões sobre a contribuição dos antepassados, de culturas diversas, nas mentalidades do presente; a resistência da literatura e da cultura do indígena, do sertanejo, dos pescadores, do caboclo, do ribeirinho, dentre outras, apesar da imposição colonizadora. REFERÊNCIAS: BURKE, Peter. Hibridismo Cultural. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2003. FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. São Paulo: LTC, 1987. FRANCO JÚNIOR, H. O fogo de Prometeu e o escudo de Perseu. Reflexões sobre mentalidade e imaginário. Signum (São Paulo), v. 5, p. 73-116, 2003. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. PONTES, Roberto. Poesia insubmissa afrobrasilusa. Fortaleza: Edições UFC, Rio de Janeiro: Oficina do Autor, 1999. PONTES, Roberto. “Cultura, arte e linguagem”. Palestra proferida na mesa redonda “Cultura, arte e linguagem” na V semana de Letras. 2006. Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará. PONTES, Roberto. Cultura, arte e linguagem. Palestra proferida na mesa redonda de título homônimo, na V Semana de Letras. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, Curso de Letras, 2006a. WILLIAMS, Raymond. “Dominante, residual e emergente”. In: Marxismo e Literatura / Tradução de Waltemir Dutra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1979.
PALAVRAS-CHAVE: RESIDUALIDADE; CULTURAS ; HIBRIDAÇÃO CULTURAL

ENCRUZILHANDO A ESCRITA LITERÁRIA: A CABAÇA-ÚTERO, O CANTAR DAS FOLHAS E A TERRA TRADICIONAL APRESENTANDO COSMOPERCEPÇÕES DE UM FUTURO-ANCESTRAL
EIXO: EIXO 5 - ESTÉTICAS DO BEM-VIVER: ANCESTRALIDADES, COSMOPERCEPÇÕES E COLETIVIDADES
SIMPÓSIO: ENCRUZILHANDO A ESCRITA LITERÁRIA: A CABAÇA-ÚTERO, O CANTAR DAS FOLHAS E A TERRA TRADICIONAL APRESENTANDO COSMOPERCEPÇÕES DE UM FUTURO-ANCESTRAL
COORDENADORES:
- Natália Regina Rocha Serpa (IFMA) nataliaserpa@ifma.edu.br
- Denis Moura de Quadros (FURG) denisdpbg10@gmail.com
- Cristiane Viana da Silva Fronza (Universidade Federal do Piauí - UFPI) cristianevyanna@yahoo.com.br
RESUMO: Este simpósio temático tem por objetivo promover o debate acerca das experiências negras africanas, ameríndias e em diáspora, tendo a encruzilhada como ponto de partida epistêmico. Assim, pretendemos reunir trabalhos que discutam as inúmeras estratégias operadas por negros e ameríndios na construção de um bem viver, buscando, como disse Davi Kopenawa (2015) em sua obra “A queda do céu: patalavras de uma xamã yanomami”, é necessário a colaboração de todos para “suspender o céu”. Para isso, o presente Simpósio abrirá espaço para uma pluralidade de temas como o corpo-alvo dos negros; o corpo indígena genocidado; a fé herdada dos espíritos ancestrais; os corpos dissidentes dos gays; os corpos das mulheres cis e trans; e a linguagem insurgente de todos os grupos historicamente silenciados. De acordo com Luiz Antonio Simas (2013) o contrário da vida não é a morte, mas sim o desencantamento. Assim, este simpósio temático acredita que o fazer literário é condição de potência para o reencantamento do mundo. Nesse sentido, serão bem-vindos trabalhos com abordagens decoloniais, isto é, que considerem outros olhares e que se disponham a consolidar teoricamente a luta por um mundo melhor. Ao nos debruçarmos sobre a produção literária de autoria de mulheres e homens historicamente subalternizados, percebemos que as peculiaridades dessa escrita reivindicam espaços de fala/escuta, bem como “ferramentas” teóricas que permitam sua análise reflexiva. Audre Lorde (2019) afirma que: “as ferramentas do senhor nunca derrubarão a casa-grande. Elas podem possibilitar que os vençamos em seu próprio jogo durante certo tempo, mas nunca permitirão que provoquemos uma mudança autêntica.” (LORDE, 2019, p. 139-140). Logo, se faz necessário pensarmos em novas ferramentas que partam de uma lógica diferenciada, distinta da imposta pelo colonizador. Uma maneira encontrada é partir da “encruzilhada” já que segundo Leda Martins (1997): a cultura negra brasileira é: “(...) uma cultura das encruzilhadas” (MARTINS, 1997, p. 26). Pedindo licença à Exu/Bará, seguimos as estradas de Ogum e, ainda na encruzilhada, tomo emprestado o conceito de “afrorrizoma” (SANTOS; RISO, 2013; FREITAS, 2016) uma formulação que de alguma forma, nos permite ver de fora os braços da encruzilhada mantendo os princípios rizomáticos delleuzianos de heterogeneidade; multiplicidade como substantivo e não mais adjetivo; rupturas assignificantes; cartografia e decalcomania. Bas’Ilele Malomalo (2018) retoma os termos utilizados pelos povos da diáspora africana acerca dos termos Axé, Ntu e Mooyo chegando ao denominador comum de: “energia primordial e cósmica” (MALOMALO, 2018, p. 78). Assim, a partir da filosofia Ubuntu, operacionalizada por Magobe Ramose, Malomalo afirma que: “A filosofia ancestral revela que conectividade se explica a partir do princípio de participação cósmica ou solidariedade participativa. Tudo o que existe está em conexão e deve conviver harmoniosamente.” (MALOMALO, 2019, p. 85). Buscamos discutir uma Literatura que nasce na forja-útero é alimentada pelo sopro insubmisso de Oyá/Iansã, passando pelas águas de Oxum até chegar à lâmina-vida que essas inscrituras instauram. Mesmo que a língua em que se escreva seja a do colonizador, busca-se romper com essa estrutura dialogando, sobretudo, com a oralidade e com palavras que surgem desse “contar”. Os fios da memória são tecidos, costurados e trançados por cima das malhas da história que, (re)contada, transparece os nós de uma escrita de nós. Uma Literatura forjada por palavras pretas que encanta e também se deixa encantar, palavras que mesmo banhadas de sangue não se deixam ser tomadas pela dureza ou pela amargura, não perdem a magia e a afetividade. O presente simpósio aceitará trabalhos comparativos que analisem a escrita de mulheres negras, africanas e em diáspora; teoria e crítica literária negrobrasileira; transfeminismo; escrita de povos originários; afrofuturismo; e demais trabalhos comparativos na temática do simpósio. Referências FREITAS, Henrique. O arco e a arkhé: Ensaios sobre literatura e cultura. Salvador: Ogum’s toques negros, 2016. KOPENAWA, Davi; BRUCE, Albert. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami; Trad. Beatriz Perrone -Moisés; Prefácio de Eduardo Viveiros de Castro - 1ª ed. - São Paulo: Companhia da Letras, 2015. LORDE, Audre. As ferramentas do senhor nunca derrubarão a casa-grande. In: LORDE, Audre. Irmã outsider. Trad. Stephanie Borges. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. P. 137-141 MALOMALO, Bas’Ilele. Filosofia africana do Ntu e a defesa de direitos biocósmicos. Problemata: revista internacional de Filosofia. v. 10, n. 2, 2019. MARTINS, Leda Maria. Afrografias da memória: O reinado do Rosário no Jatobá. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte: Mazza edições, 1997. SANTOS, José Henrique de Freitas; RISO, Ricardo (Org). Afro-rizomas na diáspora negra: As literaturas africanas na encruzilhada brasileira. Rio de Janeiro: Kitabu, 2013.
PALAVRAS-CHAVE: Ecrevivência. Cosmopercepções. Decolonialidade

REFLEXÕES EM TORNO DA POESIA PERFORMÁTICA
EIXO: EIXO 5 - ESTÉTICAS DO BEM-VIVER: ANCESTRALIDADES, COSMOPERCEPÇÕES E COLETIVIDADES
SIMPÓSIO: REFLEXÕES EM TORNO DA POESIA PERFORMÁTICA
COORDENADORES:
- John Milton (Universidade de São Paulo) jmilton@usp.br
- Gisele Giandoni Wolkoff (UFF) gwolkoff@gmail.com
RESUMO: Reflexões em Torno da Poesia Performática Performance poetry ou Poesia performática é um termo amplo, abrangendo uma variedade de estilos e gêneros, com ligações com as artes performativas. Tem início com poemas orais em sociedades pré-letradas, transmitidos oralmente de intérprete a intérprete, de pai para filho, e usavam recursos como repetição, aliteração, e rima para facilitar a memorização. O intérprete "compunha" o poema de memória, usando a versão que aprendeu, talvez fazendo algumas mudanças e introduzindo algumas referências contemporâneas ou locais. Segundo Cornelia Gräbner em “The Poetics of Performance Poetry” de 2008 têm os poemas performativos uma carga apelativa não exclusivamente visual, mas oral e aural, com música, ritmo, imitações de sons não verbais, aromas e outros elementos significativos. Roland Barthes em Image, Music and Text (1977) já apontava à dinâmica das forças para além da imagem e do texto, convocando a musicalidade para a composição de discursos integrais e completos como a poesia ekphrastica, e a interdiscursiva. A introdução de tecnologias baratas de impressão acelerou a tendência lírica da poesia, tornando o fazer da poesia “confessional” ainda mais popular. Assim, de animador, o poeta tornou-se mais um escritor para leituras “particulares”, privadas do que para a voz pública de indignação ou de comoção social. A execução pública da poesia geralmente se viu restrita, pelo menos no contexto europeu, à encenação de peças em verso e textos para cantar, além da leitura em voz alta de livros impressos em famílias ou grupos de amigos. Porém, podemos ver desdobramentos recentes que redescobrem a poesia performática, ora com ênfase da visualizada, ora na oralidade e, sempre, enfocando a função social e comunicativa da literatura, conforme lemos em A poética do improviso: prática e habilidade no repente nordestino. (2009), de João Miguel Manzolillo Sautchuk.. Há muitas formas de poesia performativa. Alguns poetas beats, como Cid Corman e Allan Ginsberg improvisavam em frente à platéia. Na mesma época, Jerome Rothenberg baseava-se em sua pesquisa etnopoética para criar poemas para performances rituais como happenings. Podemos incluir os poemas musicados de Shakespeare dentro das peças, como “Full Fathom Five”, cantada por Ariel em A Tempestade, e “The Willow Song”, cantada por Desdêmona em Otelo, e versões musicadas dos Sonetos. O poeta escocês, Robert Burns (1759-1796), escreveu boa parte de sua obra para ser cantada. Outro exemplo é “The Lady of Shallot”, de Alfred Lord Tennyson, cantada por Loreena McKennitt. Entre as gerações mais jovens, o rap e o slam tem crescente popularidade. Mas o slam, a poesia enquanto luta, desafio, ou concurso, tem uma tradição longa e pode ser vista, por exemplo, no Martín Fierro, de José Hernández (1872). Para o poeta inglês Basil Bunting,o poema na página é como uma partitura musical e que não é totalmente inteligível até que se manifeste através do som, e o norte-americano Charles Olson vê na respiração humana o eixo do poema. Assim, a leitura em voz alta é necessária à realização do poema. Por fim, a poesia performática varia conforme o país e a região. No Nordeste do Brasil destacam-se os repentistas. O fato de ser oral, não escrita, possibilitou a poesia enquanto forma de resistência nos sistemas repressivos na Europa do Leste. O País de Gales e outras nações celtas ainda mantêm a tradição do escolher o Bardo no festival cultural, o Eisteddfod. E, a cada quatro anos, o mundo inteiro tem contato com a performance do/a poeta escolhido/a para o discurso de posse do presidente dos Estados Unidos. Todos se lembram da performance de “The Hill We Climb” de Amanda Gorman, em 2020. Mas pouco se fala ainda da poesia visual na rua e que interage com o público transeunte, nos barulhos das cidades. Trata-se também de uma poesia performativa, pois acontece no ritmo das rodas dos ônibus ou dos trilhos dos metrôs – em alguns lugares, o lirismo tradicional ainda é a ordem, em outros, um “mix” de haicai com poema em verso livre curto para o transeunte silenciosamente bradar a sua performance na senda dos ruídos urbanos. Assim, este simpósio aceita comunicações sobre tipos diferentes da poesia performativa, os seus aspectos, as suas traduções e as suas adaptações, tais como: Exemplos contemporâneos de poesia performativa; A influência da poesia performativa dos beats na poesia brasileira; Quais tipos poesia performativa destacam-se no Brasil?; Que mudanças a internet trouxe à poesia performática?; Como, por quem, onde, quando a poesia performativa e performática é traduzida e adaptada [exemplos são o aisling, poema visão/sonho na tradição irlandesa e os autos humanistas]? Como se compara poesia performática da poesia lírica? Poesia performativa brasileira em tradução; O caso da slam poetry no Brasil e/ou no mundo; O repente, o cordel e demais poesias performáticas regionais brasileiras; Experiências do ensino de poesia performática na sala de aula.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia performática; poesia performativa; performance poetry; poesia e música.
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A SOBREVIVÊNCIA DA NINFA NA ERA DAS REDES (NO CONTEXTO DA CULTURA E DA ARTE MODERNA E CONTEMPORÂNEA)
- Juliana Andrade Lacerda (CEFET MG) - lacerdandrade47@gmail.com
- Adolfo Cifuentes (UFMG) - adolfocifuentes27@gmail.com
- Maria Aparecida Oliveira de Carvalho (Universidade Estadual de Montes Claros) - tidac92@gmail.com
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ARQUIVO E INACABAMENTO: ESCRITAS LACUNARES E PENSADORES/AS CATADORES/AS.
- Aline Leal Fernandes Barbosa (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)) - alinelfbarbosa@gmail.com
- Natalie Souza de Araujo Lima (Universidade Federal Fluminense (UFF)) - nataliearaujolima@gmail.com
- Paloma Vidal (Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)) - pvidal@unifesp.br
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EXPERIMENTAÇÕES COM AS MATERIALIDADES PERFORMATIVAS/IMERSIVAS DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
- Patrícia Aparecida Beraldo Romano (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) - paromano@unifesspa.edu.br
- Luis Carlos Barroso de Sousa Girão (Universidade de São Paulo) - luis.changmin@gmail.com
- Juliana Pádua Silva Medeiros (Universidade Presbiteriana Mackenzie) - julianapadua81@gmail.com
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FORMAS DO HIBRIDISMO NO ROMANCE BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
- Paulo Alberto da Silva Sales (Instituto Federal Goiano/Universidade Estadual de Goiás) - paulo.alberto@ifgoiano.edu.br
- Zênia de Faria (Universidade Federal de Goiás/Université de Paris III - Sorbonne Nouvelle) - zefirff@gmail.com
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IMAGENS E LITERATURA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
- Paulo Eduardo Benites de Moraes (Universidade Federal de Rondônia (UNIR)) - paulo.moraes@unir.br
- Juliana Santini (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)) - juliana.santini@unesp.br
- Jaime Ginzburg (Universidade de São Paulo (USP)) - ginzburg@usp.br
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LITERATURA E MÚSICA: ESCRITAS, CANTOS E ACORDES DE UM MUNDO COMUM
- Rafael Eisinger Guimarães (Universidade de Santa Cruz do Sul) - guimaraes@unisc.br
- Gérson Luís Werlang (Universidade Federal de Santa Maria) - gerwer@rocketmail.com
- Roniere Silva Menezes (CEFET MG) - roniere.menezes@gmail.com
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LITERATURA E OUTRAS ARTES: PROCESSOS INTERMEDIAIS, INTERCULTURALIDADE E ÉTICA
- Catarina Amorim de Oliveira Andrade (UFPE) - cati.andrade@gmail.com
- Luiz Antonio Mousinho Magalhães (UFPB) - luizantoniomousinho@gmail.com
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LITERATURA EM CAMPO EXPANDIDO
- Maria Elisa Rodrigues Moreira (Universidade Presbiteriana Mackenzie) - maria.moreira@mackenzie.br
- Bruna Fontes Ferraz (CEFET MG) - bruna.fferraz@gmail.com
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LITERATURA INFANTIL E JUVENIL EM DIÁLOGO COM OUTRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS E TECNOLÓGICAS
- ELIANE APARECIDA GALVAO RIBEIRO FERREIRA (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP) - eliane@assis.unesp.br
- Thiago Alves Valente (Universidade Estadual do Norte do Paraná) - kantav2005@gmail.com
- Diana Navas (Pontifícia Universidade Católica) - diana.navas@hotmail.com
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O HORROR TOMA FORMAS: O INSÓLITO E A FANTASIA EM DIFERENTES MÍDIAS
- Claudia Cristina Ferreira (Universidade Estadual de Londrina) - claucrisfer@uel.br
- Sabrina Moura Aragão (Universidade Federal de Santa Catarina) - sabrina.aragao@ufsc.br
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RELAÇÕES INTERARTES: AMPLIAÇÕES, MONTAGENS E LINKS
- Breno Fernandes (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)) - brenofernandes@gmail.com
- Juan Ignacio Azpeitia (UFBA/UEFS) - inaciodabahia@yahoo.com.br

A SOBREVIVÊNCIA DA NINFA NA ERA DAS REDES (NO CONTEXTO DA CULTURA E DA ARTE MODERNA E CONTEMPORÂNEA)
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: A SOBREVIVÊNCIA DA NINFA NA ERA DAS REDES (NO CONTEXTO DA CULTURA E DA ARTE MODERNA E CONTEMPORÂNEA)
COORDENADORES:
- Juliana Andrade Lacerda (CEFET MG) lacerdandrade47@gmail.com
- Adolfo Cifuentes (UFMG) adolfocifuentes27@gmail.com
- Maria Aparecida Oliveira de Carvalho (Universidade Estadual de Montes Claros) tidac92@gmail.com
RESUMO: Titulo: A sobrevivência da Ninfa na era das redes (no contexto da cultura e da arte Moderna e Contemporânea) Autor: Juliana Andrade de Lacerda- E-mail: lacerdandrade47@gmail.com tel: 31-987465431/3732771343. No simpósio discutiremos sobre a figura grega da ninfa para investigar a produção e a circulação das imagens, a fim de verificar de que forma algumas imagens sobrevivem desde o mundo grego até a contemporaneidade. Em nossa análise, utilizaremos, principalmente, o recurso da fotografia para pesquisar nos espaços artísticos, midiáticos, virtuais, científicos, considerando as relações que as imagens estabelecem entre si e com outras imagens. Procuraremos refletir também sobre os regimes de exposição: formatos, distribuição, circulação, suporte, associações discursivas e performances, uma vez que a fotografia é um vetor de difusão de imagens. Ela é utilizada em uma ampla rede de objetos e conceitos, como atlas, mapas, territórios, dessa forma, articula-se com a subjetividade e age na cultura da coletividade e, assim, a fotografia aponta tanto para o passado quanto para o futuro no instante de sua existência. A partir daí, podemos analisar as imagens como forças mnemônicas, que se movimentam, migram de um lugar ao outro com muita rapidez. Esse movimento se intensificou, principalmente, a partir das redes digitais, via web. Conforme o pensamento de Deleuze, são como rizomas, não precisam de um caule, não possuem raiz, e cada ponto se liga a outro qualquer, sem a necessidade de um centro. A forma Atlas, ou seja, um “gaio saber visual”, conforme Didi-Huberman, poderá ser expandida para investigar as redes de tecnologia digital. Dessa forma, pode-se aproximar a montagem do Atlas ao hipertexto, já que imagens podem ser linkadas aos mais diferentes ambientes, pois Warburg criou seus painéis fotográficos aleatoriamente, da mesma forma que acessamos diversas imagens na web. Warburg, assim como Walter Benjamin, concebeu as imagens como vestígios, rastros da história. Warburg criou seus painéis (gráficos, fotográficos) aleatoriamente, da mesma forma que acessamos imagens na web de naturezas diversas, como reproduções fotográficas de obras clássicas. As redes digitais possuem certas semelhanças com o Atlas de Warburg, pois ambos trabalham por ramificações, rizomas, associações entre imagens, suas interfaces são feitas de diferentes camadas. Interessa aqui, porém, discutir como ocorre a sobrevida warbuguiana e, a partir daí, buscar os rastros da ninfa na contemporaneidade. Apresentaremos, dessa maneira, algumas pranchas do Atlas para estabelecer relações com obras de arte que se organizam nas redes e se expandem para diversos ambientes ou vice-versa, como nas obras das brasileiras Berna Reale, Adriana Varejão e Rosana Paulino. Na pesquisa, utilizamos diversas fontes e sites publicados na internet por artistas e autores aqui apresentados, dessa forma, demonstramos a sua importância na produção do conhecimento. REFERÊNCIAS AGAMBEN, Giorgio. Ninfas. Tradução de Renato Ambrósio. São Paulo: Hedra, Coleção Bienal, 2012. BARREIRO ON-LINE. Festa – Berna Reale chega ao Barreiro. Barreiro On-line, 12 ago. 2019. Disponível em: https://barreironline.com.br/cultura/festa-berna-reale-chega-ao-barreiro/. Acesso em: 11 ago. 2022. BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de História. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 222-232. (Obras Escolhidas, 1.) BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de Assembleia. Tradução de Fernando Siqueira Niguens. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. DELEUZE, Gilles. Conversações. Tradução de Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 2008. DIDI-HUBERMAN, Georges. Atlas. Cómo llevar el mundo a cuestas? Madrid: Reina Sofía, 2010. DIDI-HUBERMAN, Georges. Ninfa Fuida: Essai sur le drapé-desir. Paris: Éditions Gallimard, 2015a. DIDI-HUBERMAN, Georges. Ninfa moderna: Tradução de António Preto. Lisboa: KKYM, 2016a. DIDI-HUBERMAN, Georges. Levantes. Tradução de Edgard de Assis Carvalho, Eric R.R. Heneault, Jorge Bastos, Mariza Perassi Bosco, São Paulo: Edições Sesc, 2017a. HARDT, M. A sociedade mundial de controle. In: E. ALLIEZ (Org.). Gilles Deleuze: uma vida filosófica. São Paulo: Ed. 34, 2000. HARDT, M; NEGRI, A. Multidão. Rio de Janeiro: s.e., 2005. HARAWAY, Donna. Antropoceno, capitaloceno, Plantatioceno, Chthluceno: fazendo parentes. Environmental humanities, v. 6, 2015, p. 159-165, 2015. HERKENHOFF, Paulo. Mulheres do presente, a clareza entre sombras. Brasília: Ministério da Cultura, 2016. LEVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Editora 34, 2014. NEGRI, Antonio; HARDT, Michael. Multidão: guerra e democracia na era do império. Rio de Janeiro: Record, 2005. REALE BERNA. Reale Berna. [s.l.] [s. d.]. Disponível em https://bernareale.wordpress.com/. Acesso 3 set. 2020. WARBURG, Aby. A Renovação da Antiguidade pagã: Contribuições científico-culturais para a história do Renascimento europeu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013. WARBURG, Aby. A Ninfa: uma troca de cartas entre André Jolles e Aby Warburg. In: Warburg, Aby. A presença do antigo. Campinas: Editora da Unicamp, 2019. WARBURG, Aby. Atlas Mnemosyne. Tradução de Joaquín Chamorro Mielke. Madri: Akal, 2010.
PALAVRAS-CHAVE: sobrevivência; montagem; rizoma; ninfa; resistencia

ARQUIVO E INACABAMENTO: ESCRITAS LACUNARES E PENSADORES/AS CATADORES/AS.
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: ARQUIVO E INACABAMENTO: ESCRITAS LACUNARES E PENSADORES/AS CATADORES/AS.
COORDENADORES:
- Aline Leal Fernandes Barbosa (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)) alinelfbarbosa@gmail.com
- Natalie Souza de Araujo Lima (Universidade Federal Fluminense (UFF)) nataliearaujolima@gmail.com
- Paloma Vidal (Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)) pvidal@unifesp.br
RESUMO: A concepção da escrita como uma prática rumo ao inacabado, ao informe, ao processual e ao residual, e não como um produto acabado ou uma forma estabelecida, foi partilhada por diferentes teóricos e vem sendo desdobrada pela crítica e pela produção literária mais recentes. Em Crítica e clínica, Gilles Deleuze retomou a noção de devir a fim de liberar o texto literário de uma função representativa e aproximá-lo da ideia de processo. Décadas antes, Maurice Blanchot propôs um conceito de fragmentário que investiu contra a ideia do texto como unidade fechada e permitiu que o lacunar não fosse visto como a simples interrupção de um contínuo, mas como outra possibilidade relacional entre enunciados. Desde o final da década de 1960, e sobretudo em A preparação do romance, Roland Barthes passou a encenar-se como alguém cuja escrita estava ligada a uma produção desejante que precisava ser exibida em seus impasses e fracassos. Também Walter Benjamin teve um projeto inacabado, que a despeito disso tornou-se fundamental para a compreensão de diferentes aspectos de seu pensamento: o trabalho das Passagens, compilação de milhares de fragmentos pesquisados na Biblioteca Nacional da França cujo objetivo era recriar a Paris do XIX, foi uma empreitada arqueológica e arquivística interrompida pela morte de seu autor. Benjamin foi um pensador-catador que trouxe para dentro de sua obra uma prática do arquivo que nos interessa recuperar neste simpósio, na direção de uma reflexão sobre escritas lacunares e projetos inacabados. Cadernos, cartas, listas, notas, bilhetes, fotos – o material em torno de uma obra é múltiplo em suportes, processos e escritas. Pesquisar arquivos significa relacionar a obra publicada com os registros de sua elaboração, revelar a tensão entre arte e vida, a constituição da escrita literária como articulação de fragmentos de diferentes planos da memória coletiva e individual, as condições de produção e circulação dos textos. Destaca-se não somente a história do sucesso, daquilo que tradicionalmente se reconhece como objeto literário, mas também a história do que ficou no meio do caminho, e a interdependência entre essas duas esferas. Se o arquivo tem lugar no desfalecimento da memória – como diz Derrida, seu "substituto deformado" –, ele é sempre uma perda em relação ao que arquiva, uma subtração – deliberada ou involuntária – da sua origem. E será trabalho do/a pensador/a-catador/a inserir-se nessas lacunas e cavidades, traçar relações perdidas ou imaginadas, fazer desta subtração uma sobrevivência. Tal gesto ecoa o que diz Raúl Antelo em “O Arquivo e o presente”: os arquivos seriam espaços simbólicos sujeitos a metamorfoses e estas, por sua vez, resultariam da combinação entre acúmulo material e esquecimento. Surge assim o an-arquivista, que abre mão de buscar sincronias entre arquivo e obra e experimenta um desencontro temporal com ambos, numa anacronia que atinge seu presente, “hipertemporalizando-o”. Tal experiência temporal é verificável no contexto latino-americano quando notamos, via Josefina Ludmer, que a pós-autonomia na literatura e os “saltos modernizadores” promovidos na região fazem do arquivo um repositório de tempos não vividos, estancados em repetições e retornos cuja vida póstuma – a Nachleben de Aby Warburg – embaralha linguagens e discursos, referente e ficção. Tendo em vista que as práticas do arquivo podem ser deslocadas e torcidas para diferentes finalidades reflexivas e artísticas, referindo-se, inclusive, a produções não letradas, como apresentou Diana Taylor em Arquivo e repertório, receberemos propostas que abordem escritas num sentido amplo – poético, narrativo, teatral, plástico, vocal, em diferentes suportes – que se esquivam da ideia de totalidade, centro e reiteração, para indicar inacabamento, resíduo, devir, guiando-se pelos seguintes eixos propostos: – escritas lacunares, em que espaços não preenchidos de sentido, com a exibição do processo, dos impasses e até do fracasso da obra, permanecem como potência de leitura e de reescrita, como nas narrativas La novela luminosa, de Mario Levrero, Machado, de Silviano Santiago, no ensaio com imagens Cascas, de Georges Didi-Huberman, ou no livro de “projetos, roteiros, ensaios, memórias” Ensaio geral, de Nuno Ramos; – pensadores/as-catadores/as, em que compreendemos teóricos/as e artistas que trabalham a partir de usos inventivos de arquivos feitos de materiais heterogêneos, como Walter Benjamin, Carolina Maria de Jesus, Roland Barthes, Agnès Varda, Bispo do Rosário, Jorge Luis Borges, entre outros; – projetos inacabados, individuais ou coletivos, artísticos e críticos, que não chegaram a se realizar enquanto produtos, mas mobilizaram possibilidades de invenção e reflexão, como A preparação do romance, de Roland Barthes, o trabalho das Passagens, de Benjamin ou o Conglomerado newyorkaises, de Hélio Oiticica; – e encenações do arquivo, quando imagens, listas, diários, espaços e outros materiais, assim como sua busca, aparecem em certas escritas contemporâneas como uma espécie de coleção aberta e heterogênea, como acontece em Nove noites, de Bernardo Carvalho, Lorde, de João Gilberto Noll, Arquivo das crianças perdidas, de Valeria Luiselli; ou ainda de O arquivo universal e outros arquivos e de outros trabalhos de Rosangela Rennó.
PALAVRAS-CHAVE: Arquivo; Inacabamento; Escritas lacunares; Pensadores/as-catadores/as.

EXPERIMENTAÇÕES COM AS MATERIALIDADES PERFORMATIVAS/IMERSIVAS DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: EXPERIMENTAÇÕES COM AS MATERIALIDADES PERFORMATIVAS/IMERSIVAS DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
COORDENADORES:
- Patrícia Aparecida Beraldo Romano (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) paromano@unifesspa.edu.br
- Luis Carlos Barroso de Sousa Girão (Universidade de São Paulo) luis.changmin@gmail.com
- Juliana Pádua Silva Medeiros (Universidade Presbiteriana Mackenzie) julianapadua81@gmail.com
RESUMO: A produção literária do/no século XXI vem impondo grandes desafios conceituais e metodológicos aos pesquisadores, em especial, no que se refere às materialidades das obras — sejam elas em suportes impressos, digitais ou híbridos — e às suas interfaces, como aponta Medeiros (2022). Isso se dá não só pela entrada da literatura no metaverso, mas também pelo fato de que, cada vez mais, os projetos gráfico-editoriais têm explorado a tipografia, a cor, a textura, o som, o movimento, o formato, a montagem, o acabamento, a dobra, entre outros elementos constituintes, enquanto linguagens na construção dos sentidos. Esses complexos e inusitados arranjos sígnicos, que articulam palavra, imagem, design e realidade aumentada e/ou virtual de forma imbricada, ampliam as possibilidades de significação e de experimentação, bem como impactam as noções de livro, leitura, autor, leitor e mediação. Ulises Carrión — ao observar o quanto o formato códice pode ser ressignificado, subvertido e expandido nos processos criativos — escreve A nova arte de fazer livros em 1975. Por meio de uma espécie de manifesto poético-teórico, ele reflete sobre as potencialidades estruturais do objeto livro enquanto expressão artística, reverberando tal pensamento nas produções dos anos 1980, momento histórico em que diversos artistas da palavra, da imagem e da escultura experimentam com o conceito-coisa livro, como se pode encontrar nas pesquisas e nas criações de Julio Plaza. De lá para cá, ecoando o que Barthes (2004) já afirmava na década de 1960, tem se percebido que essas novas formas de produzir literatura abalam concepções sacralizadas, como as de autor e leitor, haja vista que: "Para ler a velha arte basta conhecer o alfabeto. Para ler a nova arte devemos apreender o livro como uma estrutura, identificar seus elementos e compreender sua função. [...] Na velha arte todos os livros são lidos da mesma maneira. Na nova arte cada livro requer uma leitura diferente. Na velha arte, ler a última página leva tanto tempo quanto ler a primeira. Na nova arte o ritmo da leitura muda, aumenta, acelera." (CARRIÓN, 2011: 61- 63). Vale destacar que — além das materialidades performativas que circundam o caráter gráfico-impresso do livro, como apontam Moraes (2008), Ribeiro (2018), Navas e Junqueira (2019 e 2021), Girão (2021), Medeiros (2022) — as experimentações literárias têm mobilizado formas outras de materializar suas propostas poéticas para esse novo leitor, que é também co-autor, conectado à rede digital (SANTAELLA, 2004 e 2005). Diferentemente dos livros digitalizados, a ciberliteratura (SANTAELLA, 2012), a literatura digital (KIRCHOF, 2021a), a literatura eletrônica (HAYLES, 2009; DRUCKER, 2013), mesmo os aplicativos literários (MENEGAZZI, 2020; FREDERICO, 2021), operam não apenas palavras, imagens e design, como também sons, ergonomia, mapeamento e jogabilidade de histórias que podem estar em dispositivos móveis (smartphones, tablets, laptops etc.) e na relação desses aparelhos a objetos do mundo real e a realidades aumentadas/virtualizadas (KIRCHOF, 2021b). Trata-se de um campo de proposições cujas estéticas são múltiplas e exigem compreensão e leitura/percepção ampliadas do leitor, que agora é também participante/jogador/interator (MURRAY, 2003). Tanto no plano material impresso quanto no plano "material" virtual, a literatura contemporânea, refletindo os anseios e desejos das experimentações estéticas na segunda metade do século XX e respondendo à hipermidiatização dos campos perceptivo e cognitivo do humano hoje, propõe experiências de linguagem que ampliam as noções clássicas de leitor e de leitura. Essa literatura coloca o sujeito que a lê numa posição outra, em que seus sentidos são estimulados para além do plano verbal escrito e auditivo, agregando agora o seu corpo como um todo sensível, tornando-o um "leitor interdisciplinar", nas palavras de Sheets-Johnstone (2009). Seja performando e/ou imergindo nas histórias e poesias materializadas em múltiplas linguagens, esse corpo leitor (SHEETS-JOHNSTONE, 2020) é protagonista de uma experiência leitora que um autor lhe propôs, mas de modo diferenciado e convidativo, de maneira a tornar esse corpo leitor, ele também, autor da experimentação poética no presente da leitura. Tendo em vista os aspectos acima apresentados e salientando nossa percepção de congregar tanto investigações acadêmicas quanto relatos de experiências, que circundam o universo das obras literárias produzidas a partir dos anos 2000, este simpósio convida pesquisadores: 1. a apresentarem trabalhos sobre as configurações estéticas dos livros contemporâneos (ilustrados, objetos, aplicativos, transmidiáticos, entre outros); 2. a refletirem sobre as diferentes experimentações da literatura em campos expandidos (instapoesias, instalações tecnológicas, poesia vocal mixada etc.); 3. a analisarem as materialidades como instâncias discursivas; 4. a explorarem os conceitos de autoria nas produções multissemióticas; 5. a discutirem sobre os perfis leitores do século XXI; 6. a refletirem sobre os processos de recepção dos livros interativos; 7. a apresentarem os obstáculos colocados ao mercado editorial e ao mediador de leitura ao lidar com essas novas textualidades, entre outros assuntos que dialoguem com as ideias acima expostas.
PALAVRAS-CHAVE: Materialidades; Literatura Contemporânea; Performance; Imersão; Experimentações Leitoras

FORMAS DO HIBRIDISMO NO ROMANCE BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: FORMAS DO HIBRIDISMO NO ROMANCE BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
COORDENADORES:
- Paulo Alberto da Silva Sales (Instituto Federal Goiano/Universidade Estadual de Goiás) paulo.alberto@ifgoiano.edu.br
- Zênia de Faria (Universidade Federal de Goiás/Université de Paris III - Sorbonne Nouvelle) zefirff@gmail.com
RESUMO: Contrariando a perspectiva da morte do romance anunciada não só em fins do século XX, como em momentos anteriores, esse gênero tem se reinventado e se expandido, sobretudo, no século XXI, ao se valer de discursos, formas e construções de outros gêneros literários e de campos não literários. Nessa transgressão das formas tradicionais e das fronteiras, os romances contemporâneos revelam um modo de estar, segundo Ana Kiffer (2014) sempre “fora de si”. A abordagem de uma literatura fora de si, como quer alguns teóricos, ou como “pós-autônoma”, segundo a perspectiva de Josefina Ludmer (2007) se refere à proliferação de narrativas altamente híbridas, ou seja, que se valem de outras formas e de outros meios composicionais. Essa perspectiva evidencia a dissolução de fronteiras entre discursos, ou essencialmente no reconhecimento de que elas nunca existiram senão como na ficção necessária para a sustentação de paradigmas que dividiam os binarismos ficção x realidade e/ou verdade x simulacro, o que configura, na contemporaneidade, em ficções híbridas e inespecíficas. As expansões dos campos relacionados à realidade cotidiana, nessa perspectiva da pós-autonomia, revelam hibridismos que negam os binarismos entre sujeito x realidade histórica, literatura x história e, sobretudo, ficção x realidade. Como destacou Miranda (2014), as diferentes dicções – sejam elas autobiográficas, etnográficas, diarísticas – atuam nas fronteiras entre realidade e ficção. Logo, os textos pós-autônomos são acontecimentos que reverberam elementos ficcionais e reais, sem contrapô-los. Daí a constatação do hibridismo característico dessas práticas, responsável pela criação de novas formas de representação literária. Nos romances contemporâneos, a hibridação, segundo a perspectiva de Vladimir Krysinski (2012), se aplica aos textos que rompem as fronteiras dos gêneros, transgridem as normas formais estabelecidas e se manifestam como fusões e/ou aglutinações de diferentes elementos. Embora essas ocorrências de entrecruzamentos existam desde a antiguidade, a presença progressiva e até mesmo a proliferação dessa prática seja associada à literatura contemporânea, a constatação desse crossover como marca da escrita ficcional de fins do século XX e do início do século XXI é uma prova incontornável da força do hibridismo. Interrelacionadas à intensa hibridação presente nas escritas literárias recentes, destacamos, como resultado, na inespecificidade que, segundo Florencia Garramuño (2014), são construções que questionam as especificidades dos meios por colocarem um modo de estarem sempre fora de si, ou melhor, são construções questionadoras que apostam no entrecruzamento de meios e na interdisciplinaridade. São textos que põem em xeque as marcas canônicas do romance, por exemplo, ao adotar estratégias, formas, imagens, discursos e elementos de outros campos artísticos ou não-artísticos, tornando-se híbridos. Por meio dessa apropriação de meios que, agora, passaram a se imbricar e a se reagrupar na matéria romanesca, esses “frutos estranhos” nos levam a nos interrogar sobre seu pertencimento a um domínio artístico específico. Aliás, como afirma Canclini (2016, p. 23): “A história contemporânea da arte é uma combinação paradoxal de condutas dedicadas a afiançar a independência de um campo próprio e outras obstinadas em derrubar os limites que o separam”. Nessa transgressão das formas tradicionais e das fronteiras genéricas, a arte contemporânea aposta, então, segundo Garramuño (2014, p. 16), no inespecífico, uma vez que as obras elaboram uma linguagem comum que partilham meios diversos do não pertencimento e nem à especificidade de uma arte ou a uma ideia. Por essa razão, trata-se de textos que exibem uma intensa porosidade de fronteiras. Nesse sentido, este simpósio temático tem o objetivo de reunir estudos de obras ficcionais brasileiras contemporâneas que contenham tais hibridismos, bem como aspectos teóricos que tratem dessas questões. Para tanto, aceitaremos trabalhos que examinem narrativas que apresentem multifacetadas configurações do romance contemporâneo, tais como autoficção, alterficção, metaficção, metaficção historiográfica, escritas de si, literatura e outros saberes e outras artes. Isto implica considerar o texto do ponto de vista das relações interdisciplinares, transdisciplinares, intersemióticas, intertextuais ou como literatura em campo expandido. Além disso, serão aceitas propostas que proponham reflexões teóricas sobre a relação do romance, nessa perspectiva inovadora e transgressora, com outros campos de conhecimentos e com outros fazeres artísticos. Referências bibliográficas CANCLINI, Néstor. A sociedade sem relato: antropologia e estética da iminência. Tradução Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2016. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Tradução Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. KIFFER, Ana. A escrita e o fora de si. In: KIFFER, Ana; GARRAMUÑO, Florencia. Expansões contemporâneas: literatura e outras formas. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014. p. 47-68. KRYSINSKI, Vladimir. Sobre algumas genealogias e formas de hibridismo nas literaturas do século XX. Tradução e apresentação Zênia de Faria. Revista Criação & Crítica, n. 9, p. 230-241, 2012. LUDMER, Josefina. Literaturas postautónomas. Ciberletras Revista de Crítica Literaria y de Cultura, n. 17, 2007. MIRANDA, Wander. Formas mutantes. In: KIFFER, Ana.; GARRAMUÑO, Florencia. (Org.). Expansões contemporâneas: literatura e outras formas. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014. p. 135-152.
PALAVRAS-CHAVE: Romance brasileiro contemporâneo; Hibridismo; Pós-autonomia.

IMAGENS E LITERATURA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: IMAGENS E LITERATURA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
COORDENADORES:
- Paulo Eduardo Benites de Moraes (Universidade Federal de Rondônia (UNIR)) paulo.moraes@unir.br
- Juliana Santini (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)) juliana.santini@unesp.br
- Jaime Ginzburg (Universidade de São Paulo (USP)) ginzburg@usp.br
RESUMO: Este simpósio propõe-se a pensar os processos de constituição de visualidade e de legibilidade da história a partir da variação de modos com que as imagens têm dialogado com a literatura e com as artes. O enfoque do simpósio recai sobre o caráter problemático da imagem e sua configuração conflitiva, sintomática e anacrônica. Conforme Karl Erik Scholhammer (2008), “o confronto entre imagem e texto oferece atualmente uma abordagem fértil para a compreensão da literatura numa sociedade cada vez mais dominada pela dinâmica da 'cultura da imagem'”. Uma das hipóteses teóricas para a abertura dos modos como pensar tais relações surge a partir da tese da “virada icônica”. Trata-se de uma proposta teórica de trazer para para o campo das teorias do conhecimento reflexões em torno de paradigmas de interpretação de imagens. Desde a década de 1990, autores como W. J. T. Mitchell, nos Estados Unidos, e Gottfried Boehm, na Alemanha, contribuíram para propor uma nova perspectiva para além da virada linguística, e pensar, agora, mudanças de paradigmas dos estudos visuais. O historiador e crítico de arte francês Georges Didi-Huberman reflete que a experiência de estar “diante das imagens” suscita questionamentos sobre condições de compreensão da história baseadas no processo de reconstrução das experiências a partir de suas condições de visibilidade. Nesse sentido, o conhecimento histórico articula-se a partir de um “agora”, isto é, a partir de uma experiência temporal presente de onde pode emergir, na confluência entre textos e imagens, um sintoma, um mal-estar. Pensar a imagem como sintoma significa estar diante de vestígios incompletos do tempo, de modo que apenas reconhecendo tais abismos lacunares, as zonas de sombras do tempo, se faz possível compreender que as imagens da história vivem ao ritmo de repressões e retornos, apagamentos e sobrevivências. Neste movimento dialético, aquilo que no presente nos volta de muito longe, nos toca no mais íntimo e, como um trabalho insistente de retorno, mas imprevisível, vem trazer o sinal ou seu sintoma. Aliado a esse processo de revisitação do estatuto das imagens a partir da “virada icônica”, pode ser observado um aumento significativo da inserção e fixação das imagens na produção literária contemporânea. Se antes a relação entre literatura e imagem era estudada, prioritariamente, a partir do conceito de imagem poética, o qual se dava por meio de tropos linguísticos ou mesmo pela convocação das imagens por meio da linguagem verbal, notamos, recentemente, uma expansão no modo como as imagens têm interagido com o texto literário e com as artes. Autores como Bernardo Carvalho, Luiz Ruffato, Ricardo Aleixo, Ricardo Lísias, Valêncio Xavier, Verônica Stigger, são exemplos de escritores que inserem as imagens em suas produções criativas e abrem o texto para operar sob outros processos de legibilidade. Levando em conta os tópicos apresentados, o presente simpósio tem como objetivo reunir trabalhos e pesquisas que abordem questões relacionadas a esses novos modos de perceber as imagens, sobretudo no que diz respeito às relações entre as chamadas artes da palavra e as artes ditas visuais ou plásticas. Diálogos motivadores e originais podem surgir em iniciativas de estudos de obras visuais e audiovisuais em articulação com conceitos empregados nos estudos literários. Em obras de artistas diversos como Laerte, Rosangela Rennó, Cildo Meireles e Kleber Mendonça Filho, entre outros, podem ser observadas especificidades em imagens que evoquem textos literários brasileiros. Estão no horizonte desta proposta perspectivas voltadas para discutir os diferentes modos a partir dos quais as imagens migram de uma arte para a outra, refletir sobre os procedimentos pelos quais a inserção da imagem se faz presente em diálogo com a literatura e quais são seus processos de significação, pensar como a imagem tem emergido na hibridização das linguagens das artes contemporâneas, bem como elaborar linhas de questionamento que possam derivar desse campo de estudo cada vez mais em expansão no cenário das letras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOEHM, Gottfried. Aquilo que se mostra. Sobre a diferença icônica. In: ALLOA, Emmanuel (org.). Pensar a Imagem. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. p. 23-38. DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. Trad. Paulo Neves. São Paulo: 34, 1998. MITCHELL, W. J. T. Picture /Theory. Chicago: Chicago University Press, 1994. _____. O que as imagens realmente querem?. In: ALLOA, Emmanuel (org.). Pensar a Imagem. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. p. 165-190. SCHOLLHAMMER, Karl Erik. A literatura e a cultura visual. In:___ & OLINTO, Heidrun. Literatura e cultura. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2008.
PALAVRAS-CHAVE: Imagem; Literatura; Relações interartes;

LITERATURA E MÚSICA: ESCRITAS, CANTOS E ACORDES DE UM MUNDO COMUM
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: LITERATURA E MÚSICA: ESCRITAS, CANTOS E ACORDES DE UM MUNDO COMUM
COORDENADORES:
- Rafael Eisinger Guimarães (Universidade de Santa Cruz do Sul) guimaraes@unisc.br
- Gérson Luís Werlang (Universidade Federal de Santa Maria) gerwer@rocketmail.com
- Roniere Silva Menezes (CEFET MG) roniere.menezes@gmail.com
RESUMO: Os estudos comparatistas vêm demonstrando, ao longo das últimas décadas, que os mundos da literatura, da música e da canção têm muito em comum. As investigações da área recuperam informações da História da Arte Antiga e abrem-se a novas descobertas e proposições reflexivas. As mais distintas leituras desse contato, realizadas por diferentes pesquisadoras e pesquisadores, vêm consolidando uma reflexão rica e instigante no âmbito acadêmico nacional e internacional. Seja a partir de aspectos convergentes, que provocam uma iluminação mútua das produções estudadas, seja a partir de contrastes que, quando postos em diálogo, possibilitam a emergência de sentidos até então silenciados, as relações entre as linguagens literária e musical – em diversos gêneros – configuram um campo amplo e frutífero para os estudos em literatura comparada. Dentre inúmeras possibilidades, alguns caminhos mostram-se bastante promissores, tais como os estudos acerca da musicalização de poemas, da presença de referências temáticas ou de elementos da linguagem musical em textos narrativos, dramáticos e poéticos, bem como as investigações sobre a relação intertextual entre produções literárias, obras audiovisuais, letras de canções e composições musicais eruditas. Nesse contexto, dando prosseguindo às discussões que têm sido realizadas desde o XVII Congresso Internacional da ABRALIC, sediado em Porto Alegre no ano de 2020, o Simpósio Temático “Literatura e música: escritas, cantos e acordes de um mundo comum” busca ampliar e aprofundar as reflexões sobre o mundo comum da literatura, da música instrumental, erudita,da canção, sobretudo tomando por base algumas construções teóricas fundamentais para esse campo de estudo, tais como as proposições de Adriana Cavarero (2011), Boaventura de Souza Santos e Paula Maria Menezes (2009), Florencia Garramuño (2009), João Camillo Penna (2013), José Miguel Wisnik (2003, 2004, 2017), Luiz Tatit (2002), Murray Schaffer (2011), Paul Zumthor (1993, 2007, 2010), Ruth Finnegan (2008), Sérgio Bairon (2005) e Solange Ribeiro de Oliveira (2002), dentre outros nomes. Nesse sentido, serão muito bem-vindas propostas que lancem olhares sobre os diálogos existentes entre a escrita, a sonoridade, os ritmos, os cantos, as performances, em especial os estudos que dão ênfase a temáticas decoloniais, a relações entre centro e margens, a identidades diaspóricas, a manifestações de matrizes ancestrais e a vozes postas em situações de subalternidade. Ressalta-se a acolhida de propostas voltadas a diálogos musicais existentes no romance, no conto e em gêneros híbridos, como a literatura de viagens, a biografia, a autobiografia, etc. No que concerne aos estudos sobre a canção, o simpósio está aberto a trabalhos que abordem os mais distintos movimentos e estilos, do samba ao rap, passando por Bossa Nova, MPB, Tropicalismo, Clube da Esquina, Jovem Guarda, rock, pop, manifestações folclóricas e demais expressões ligadas a identidades culturais contemporâneas. REFERÊNCIAS BAIRON, Sérgio. Texturas sonoras: áudio na hipermídia. São Paulo: Hacker, 2005. CAVARERO, Adriana. Vozes plurais: filosofia da expressão vocal. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2011. FINNEGAN, Ruth. O que vem primeiro: o texto, a música ou a performance? In: TRAVASSOS, Elizabeth; MATOS, Cláudia Neiva; MEDEIROS, Fernanda Teixeira de. Palavra Cantada: ensaios sobre poesia, música e voz. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008. GARRAMUÑO, Florencia. Modernidades primitivas: tango, samba e nação. Belo Horizonte: UFMG, 2009. OLIVEIRA, Solange Ribeiro de. Literatura e música. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2002. PENNA, João Camillo. Escritos da sobrevivência. Rio de Janeiro: Ed. 7 Letras, 2013, p. 161-181. SANTOS, Boaventura de Souza; MENEZES, Paula Maria (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina; Ces, 2009. SHAFFER, Murray. O ouvido pensante. 2a. ed. São Paulo: Ed. UNESP, 2011. TATIT, Luiz. O cancionista: composição de canções no Brasil. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2002. WISNIK, José Miguel. Machado Maxixe: o caso Pestana. Teresa Revista de Literatura Brasileira. Literatura e canção. Célia Euvaldo (Ilustrações). Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, n. 4 / 5, 2003. São Paulo: Editora 34, 2003, p. 13-79. WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. 3a. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. WISNIK, José Miguel. Sem receita: ensaios e canções. São Paulo: Publifolha, 2004. ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a “literatura” medieval. Tradução de Amálio Pinheiro, Jerusa Pires Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Trad.: Jerusa Pires Ferreira, Maria Lúcia Diniz Pochat, Maria Inês de Almeida. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2010 ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. Trad. Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. 2ª. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
PALAVRAS-CHAVE: literatura; música; canção; relações interartes; crítica comparada.

LITERATURA E OUTRAS ARTES: PROCESSOS INTERMEDIAIS, INTERCULTURALIDADE E ÉTICA
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: LITERATURA E OUTRAS ARTES: PROCESSOS INTERMEDIAIS, INTERCULTURALIDADE E ÉTICA
COORDENADORES:
- Catarina Amorim de Oliveira Andrade (UFPE) cati.andrade@gmail.com
- Luiz Antonio Mousinho Magalhães (UFPB) luizantoniomousinho@gmail.com
RESUMO: Este Simpósio tem como objetivo principal pensar e explorar a relação interartes num contexto em que os novos suportes digitais reconfiguram o campo de manifestação da literatura para além do tradicional suporte midial, da materialidade do livro e da experiência promovida pela leitura individual. Com o advento da modernidade artística, o cinema, o teatro e a música passam a servir novas paisagens conceituais para a reformulação do campo de pesquisa literária, promovendo um contexto de atravessamentos, hibridizações, metáforas e analogias que deslocam a experiência estética da literatura para outras formas e objetos de arte. Quando o poeta português Herberto Helder escreve que “qualquer poema é um filme”, perguntamos que ideia de cinema o autor traz consigo; quando Godard faz uso da poesia ou dos grafismos visuais em seus filmes, em função de um propósito cinematográfico, cabe perguntarmos que concepção de poesia o cineasta propõe realizar. Por outro lado, para melhor compreender as potências neste exercício de analogia artística, parece pertinente partir dos estudos sobre intermidialidade. O que essas analogias permitem perceber é a falácia de uma arte pura, ou da especificidade irredutível de uma forma artística (chamada cinema, literatura, teatro etc.). Jacques Rancière propõe o método da cena para um pensar filosófico que dispensa os limites e fronteiras entre os diferentes campos e domínios do saber e das humanidades. Como afirma ngela Marques, a “cena” de que fala Rancière só pode ser concebida como uma “operação narrativa antihierárquica” (MARQUES, 2021, p.24). Não se trata da representação de uma ação ou um acontecimento qualquer, mas o “processo de sua construção através de uma montagem feita com elementos assimétricos, mas passíveis de serem aproximados [...]: ela questiona a partilha policial do sensível e propõe uma redefinição das visibilidades e legibilidades que orientam as experiências subjetivas e coletivas” (idem, ibidem, p.25). Rancière define, assim, a cena como uma operação, ou ainda, uma “criação de encontros, choques e conexões possíveis entre registros discursivos e materiais diversos” (p.25). O que acontece na literatura de Maria Gabriella Llansol, com sua cena fulgor e a sua literatura musical, no poema-filme de Herberto Helder, nas experiências no entre literatura e cinema de Marguerite Duras, ou num filme de Jean- Luc Godard, são situações em que a palavra ou a imagem concebem a cena de um nó de intensidades baseada no encontro entre diferentes artes. Por isso, pensamos neste encontro interartes como uma cena, não como a representação de uma arte por outra, mas de um acontecimento que redefine as fronteiras conceituais de definição de uma arte pela outra. Por outro lado, A cena “intermidial” possibilita, assim, numa acepção primeira, a aparição da “midialidade” própria da literatura de tornar explícitas as suposições acerca de sua especificidade. Isto é, ela permite inquirir certa tendência das mídias de disfarçar, tornar transparente seu suporte, sua materialidade e suas convenções. Assim, o atravessamento entre as artes permite-nos aceder ao argumento de uma opacidade de um objeto de conhecimento. Dado que uma mídia qualquer tende ao seu desaparecimento, a tornar transparentes os seus meios (suporte, materialidade e convenções), as obras que fazem uso de uma interlocução profunda entre diferentes artes colocam em evidência e, nesta cena, dão a ver a não especificidade dos meios, a relação intermidial que sempre precede uma mídia que se quer pura. Assim, a defesa de um cinema “impuro” que Bazin fazia a sua época não pode se dar sem uma tomada de posição política e ética, pois, como afirma Rancière, "uma arte nunca é apenas uma arte; sempre é, ao mesmo tempo, uma proposta de mundo" (2012, p.49). É importante considerar que as relações que emergem da literatura com outras artes precisam ser vistas levando-se em conta questões estéticas e éticas. Para Robert Stam, as questões estéticas "estão intrinsecamente associadas às questões sociais que têm a ver com a estratificação social e a distribuição de poder” (2008, p.38). Diana Klinger, comentando a relação entre ética e literatura, afirma: “[a escrita] é um ato que reverbera na vida, na própria e na dos outros. Reverberar na vida significa aqui, talvez, adensá-la de sentido. E a pergunta pelo sentido é um lugar de confluência entre ética e estética" (2014, p.54). Pensar essas linguagens e suas articulações diz respeito, então, a pensar também processos históricos e sociais nelas implicados. Referências: BAZIN, Andre. O Cinema: Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991. HELDER, Herberto. Photomaton & Vox. Lisboa: Assírio & Alvim, 1995. KLINGER, Diana. Literatura e ética - da forma para a força. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. MARQUES, ngela. Apresentação da versão em portugês. In. RANCIÈRE, Jacques. O método da cena. Belo Horizonte, Quixote, 2021. RANCIÈRE, Jacques. As distâncias do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. STAM, Robert. A literatura através do cinema: realismo, magia e a arte da adaptação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; artes; intermidialidade; ética

LITERATURA EM CAMPO EXPANDIDO
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: LITERATURA EM CAMPO EXPANDIDO
COORDENADORES:
- Maria Elisa Rodrigues Moreira (Universidade Presbiteriana Mackenzie) maria.moreira@mackenzie.br
- Bruna Fontes Ferraz (CEFET MG) bruna.fferraz@gmail.com
RESUMO: As reflexões contemporâneas sobre a literatura têm aberto espaço para uma série de discussões pautadas em uma ideia que a ela associa a noção de “expansão”, estabelecendo assim um diálogo transversal com outros campos do conhecimento e, em especial, com outros campos artísticos. Pode-se dizer que essa noção começa a se desenvolver com a publicação, em 1970, do livro Expanded cinema, no qual o pesquisador de mídias audiovisuais Gene Youngblood apontava que estava ocorrendo, naquele momento, uma espécie de “alargamento” na concepção mais tradicional de cinema (YOUNGBLOOD, 1970), que havia deixado de ter como espaço específico de exibição as tradicionais salas escuras e passava tanto a ocupar outros ambientes quanto a incorporar distintas manifestações artísticas, como “[a]mbientes virtuais, vídeo-arte, sites specifcs, instalações, generative art” (SATT, 2009, p. 10). Em 1979, é publicado o hoje bastante conhecido artigo de Rosalind Krauss, “A escultura no campo ampliado”, no qual, ainda que recorrendo a distinta terminologia, a pesquisadora discute questões similares, afirmando que diante da diversidade de obras que, desde os anos 1960, passaram a ser identificadas como escultura, para que essa categoria continuasse a ser identificada como tal seria necessário que a própria categoria se transformasse em algo “infinitamente maleável” (KRAUSS, 1984, p. 129). O desenvolvimento tecnológico e as novas possibilidades de criação artística que desde então tem crescido vertiginosamente mobilizaram, assim, a expansão do próprio termo, sob cujo escopo passaram a se abrigar discussões que se orientam tanto pela expressão de Youngblood (“expansão”) quanto pela de Krauss (“ampliação”), mas também por outros termos de aproximação semântica, como “inespecificidade” e “impertinência” (GARRAMUÑO, 2014), “pós-autonomia” (LUDMER, 2010), “fora de si” (KIFFER, 2014) e “mutação” (MIRANDA, 2014). Em comum, todas essas expressões têm o fato de assentarem-se sobre a dificuldade de inserção de certas criações artísticas contemporâneas dentro dos limites de um determinado campo artístico: como afirmam Florencia Garramuño e Ana Kiffer na apresentação do livro Expansões contemporâneas: literatura e outras formas, por elas organizado, “A estética contemporânea está habitada por uma série de práticas e intervenções artísticas que evidenciam um estendido sentido de transbordamento de limites e expansões de campos e regiões” (KIFFER, GARRAMUÑO, 2014, p. 7), práticas essas que provocam não apenas “uma implosão do meio específico”, mas sobretudo “um profundo questionamento do ‘próprio’ enquanto definição estável e circunscrita de uma especificidade” (KIFFER, GARRAMUÑO, 2014, p.12), seja esta referente ao meio ou ao próprio conceito de arte. Ainda que a “expansão” não constitua um conceito unívoco, acreditamos que a ideia de se pensar a literatura como um “campo expandido” seja um caminho para que consigamos refletir sobre toda a diversidade de formas pelas quais o literário é hoje criado, posto em circulação e recepcionado pelos leitores, num processo em que se mostra cada vez mais relevante atentar à sua materialidade, o livro — mesmo que em suas formas menos convencionais. Afinal, se o texto impresso em formato de códex continua a ser o modelo predominante de circulação da literatura escrita desde o século III (BARBIER, 2008), num formato que já é resultado de um longo percurso de transformações, a partir de meados do século XX as discussões em torno do livro passam a ser atravessadas por uma “nova revolução”, a do livro eletrônico, como pontua Michel Melot em Livro: “Parece evidente que se deve atribuir à irrupção da eletrônica e, de modo particular, das telas, este novo interesse pela forma do livro e por sua história material. Enquanto o reino do papel não tinha concorrentes, era difícil ver o objeto sob o conceito.” (MELOT, 2012, p. 24, grifos do autor). Assim, a ascensão do livro eletrônico resgata, paradoxalmente, a atenção para a sua própria materialidade, cujo suporte expande a escrita: o livro como um território aberto a outros signos para além do alfabeto. Se a dobra é a forma elementar do livro, tal como advoga Melot, ele “será, dessa maneira, semelhante a um cofre, a uma casa, a uma tumba, ou ao próprio corpo humano” (MELOT, 2012, p. 50). Isso significa que o livro torna-se um espaço de arte, no qual podem ser arquivados, para além da coleção de textos e imagens, pequenos objetos, algumas memórias, como um museu. O espaço compacto da forma abriga, pois, uma potencialidade infinita de desdobramentos, levada às últimas consequências pela superfície eletrônica. Seja como dobra, seja como território, o cruzamento de diversas mídias aponta para a pluralidade e inespecificidade do objeto de arte, que ultrapassa fronteiras ao combinar uma série de elementos diversos. Este simpósio acolherá, nesse quadro, comunicações que reflitam sobre a expansão das linguagens artísticas e dos seus meios de produção, cujas abordagens contemplem, dentre outras possibilidades: 1) relação entre literatura e outras artes e mídias; 2) materialidades do livro: livros de artista, livros-objeto; 3) literatura digital, reconfiguração da leitura e do leitor e suas novas formas de recepção; 4) texto, hipertexto, hipermídia.
PALAVRAS-CHAVE: Expansão; Intermidialidade; Livro; Literatura digital

LITERATURA INFANTIL E JUVENIL EM DIÁLOGO COM OUTRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS E TECNOLÓGICAS
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: LITERATURA INFANTIL E JUVENIL EM DIÁLOGO COM OUTRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS E TECNOLÓGICAS
COORDENADORES:
- ELIANE APARECIDA GALVAO RIBEIRO FERREIRA (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP) eliane@assis.unesp.br
- Thiago Alves Valente (Universidade Estadual do Norte do Paraná) kantav2005@gmail.com
- Diana Navas (Pontifícia Universidade Católica) diana.navas@hotmail.com
RESUMO: Na contemporaneidade, a produção literária de potencial recepção infantil e juvenil define-se pela inventividade, a qual se manifesta nas interfaces e nos diálogos com outras manifestações artísticas e tecnológicas. Essa produção, pela dialogia com o cânone, as artes plásticas e seus suportes tecnológicos que resultam em inovações as quais modificam a relação com o leitor, tem angariado premiações no âmbito do campo literário (Bourdieu, 1996, 1998). A partir desse locus, a literatura infantil e juvenil configura-se como um subsistema literário, na acepção de Antonio Candido (1993), cuja origem recai no projeto editorial de Monteiro Lobato, na década de 1920, com a publicação da obra Reinações de Narizinho, direcionada inicialmente para o público escolar. A produção de Lobato, conforme Leonardo Arroyo (1968), caracteriza-se como rica em inventividade, pois utiliza-se da imaginação no enredo, na linguagem visual e verbal, no apelo ao efeito de humor, apresentando “toda uma soma de valores temáticos e linguísticos que renovava inteiramente o conceito de literatura infantil no Brasil, ainda preso a certos cânones pedagógicos decorrentes da enorme fase da literatura escolar. Fase essa expressa, geralmente, num português já de si divorciado do que se falava no Brasil” (p. 198). Seus sucessores, como Lygia Bojunga, Ana Maria Machado e Roger Mello, ajudaram a consolidar esse sistema, romperam fronteiras e foram reconhecidos com o Prêmio Hans Cristhian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil e juvenil. Nesse circuito literário ocorre uma efervescência de vozes que resulta numa polifonia (Bakthin, 1981), a qual confere sustentação a uma multiplicidade de experiências literárias, a partir dos diferentes aspectos em torno da criação e da recepção literárias. Isso implica em experimentações artísticas e tecnológicas sofisticadas, que desafiam tanto o autor no seu fazer literário quanto o leitor no ato da leitura. Por conseguinte, essa produção apresenta textualidades que rompem barreiras linguísticas, estilísticas, e temáticas em que: a) o continuum oralidade/escrita propicia o trânsito entre tais modalidades da língua; b) as experimentações linguísticas revelam diferentes estilos de composição poética e narrativa; c) não há mais assunto que não possa ser abordado, desde os mais corriqueiros aos mais polêmicos, pois tudo pode ser dialogado com o leitor infantil e juvenil; d) a experimentação também se realiza na materialidade da obra, por meio de investimentos que atingem tanto autores novos, quanto autores reconhecidos, cujas obras são reeditadas com recursos atraentes aos potenciais leitores. Dessa forma, peritextos e paratextos dão suportes móveis às possíveis atualizações do texto, permitindo que se estabeleça, segundo Chartier (1996), um comércio eficaz entre textos imóveis e leitores que se alteram, traduzindo no impresso as mutações do público e propondo novas significações além daquelas que o autor pretendia. Essa produção também explora a diversidade de linguagens (verbal, visual, sonora, entre outras) em suportes impressos e virtuais, que exigem do leitor um domínio de tais linguagens, visto que, em muitas obras, ocorre uma simultaneidade dessas modalidades de linguagem que desafiam a uma produção coerente de efeitos de sentidos por parte do receptor. Diante desse contexto, o presente simpósio pretende colocar em pauta uma discussão que envolva tanto o processo de criação quanto o de recepção, haja vista as experiências literárias marcadas por especificidades e particularidades engendradas pelo autor no seu fazer literário, em torno do qual articulam-se editores, revisores, tradutores e ilustradores, que, igualmente, interferem no produto final, o livro. No que tange à questão da autoria, tem-se uma situação em que esta não é definida apenas pelo trabalho do autor do texto verbal, mas também do autor do texto imagético e do tradutor, que nem sempre é a mesma pessoa, muito embora tenhamos exemplos de sujeitos que assumem a dupla autoria, como Roger Mello e André Neves. Essa múltipla autoria, conforme Roger Chartier (1999), é percebida na produção literária eletrônica, já que exige uma vasta infraestrutura tecnológica e humana para materializar o literário numa perspectiva virtual, logo a textualidade que essa literatura digital propicia é marcada pela hipertextualidade e pela hipermídia, a exemplo das criações digitais de Angela Lago e Sergio Capparelli. Além disso, acarreta mudanças no processo de recepção, que, inicialmente, segue um percurso linear, para, posteriormente, seguir um percurso não linear, quebrando, assim, a lógica tradicional da leitura do texto literário. É um convite a repensarmos o papel do leitor diante dessas novas textualidades, que exigem dele novas competências e habilidades para navegar por espaços movediços e virtuais, assumindo a posição de leitor imersivo, de acordo com Lúcia Santaella (2004).
PALAVRAS-CHAVE: Literatura infantil e juvenil; Produção contemporânea; Formação de leitores; Manifestações artísticas e tecnológicas; Inventividade.

O HORROR TOMA FORMAS: O INSÓLITO E A FANTASIA EM DIFERENTES MÍDIAS
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: O HORROR TOMA FORMAS: O INSÓLITO E A FANTASIA EM DIFERENTES MÍDIAS
COORDENADORES:
- Claudia Cristina Ferreira (Universidade Estadual de Londrina) claucrisfer@uel.br
- Sabrina Moura Aragão (Universidade Federal de Santa Catarina) sabrina.aragao@ufsc.br
RESUMO: O horror é um gênero presente nas mais variadas manifestações artísticas, dos quadrinhos à ópera, dos contos de fadas aos videogames, o fascínio pelo insólito e pela fantasia se faz presente nos mais variados contextos, da arte erudita à arte popular. Com este simpósio, pretendemos reunir trabalhos que discutam o insólito (BATALHA, 2013; GAMA-KHALIL, 2013, 2017; MATANGRANO; TAVARES, 2019; ROAS, 2014), o horror (CARROLL, 1999; FRANÇA, 2008; MARKENDORF; RIPOLL, 2017) e a fantasia (JACKSON, 1991) em diferentes mídias, seja por meio da análise da construção narrativa do horror no contexto de uma determinada mídia, como a literatura, o teatro ou os quadrinhos, seja por meio de adaptações de clássicos do gênero para diferentes linguagens, como o cinema ou jogos de videogame, tendo em vista as estruturas narrativas e os recursos semióticos próprios dessas linguagens para dar corpo ao insólito ao horror e à fantasia. Para Tzvetan Todorov (2013), a narrativa fantástica se constitui não apenas com base em um acontecimento estranho ou fora do comum, mas requer hesitação, tanto do personagem que vive o acontecimento, como do leitor: “O fantástico implica, pois, uma integração do leitor no mundo das personagens; define-se pela percepção ambígua que o leitor tem dos acontecimentos narrados; esse leitor se identifica com a personagem” (TODOROV, 2013, p. 150-151). Nesse jogo de esconde-esconde do insólito, somos envolvidos. Conclui-se, assim, que o discurso, a linguagem, a enunciação é que tornam uma narrativa fantástica. Além disso, o fato de o leitor – ou o espectador, se considerarmos um filme, ou o jogador, no caso de um videogame – identificar-se com o personagem, coloca-o no centro da história, o que, sem dúvida, evidencia um dos motivos pelos quais o horror e a fantasia serem gêneros tão populares, nas suas mais variadas formas. Nessa mesma direção, ao analisar os contos de fadas – gênero literário que frequentemente corporifica o horror por meio de bruxas, ogros, duendes e outros seres malignos – Bruno Bettelheim (1979, p. 15) afirma que “o mal não é isento de atrações”, o que pode ser entendido a partir da questão da onipresença do mal nessas narrativas e seu poder de sedução junto aos personagens, que serão testados moralmente, mas também na atração que essas narrativas exercem sobre o público em diferentes períodos e contextos. O apelo popular do horror e da fantasia também pode ser observado por meio dos diferentes tipos de adaptações, dentre as mais recorrentes, as de obras literárias para o cinema. No caso dos contos de fadas, os últimos anos produziram diversos filmes de terror baseados nessas narrativas, como Maria e João: o conto das bruxas (2020), baseado em João e Maria dos irmãos Grimm, e O quarto secreto (2018), baseado em O Barba Azul, de Charles Perrault. Linda Hutcheon & Siobhan O’Flynn (2013) refletem acerca do apelo popular e econômico no contexto da prática da adaptação, uma vez que, para as autoras, uma adaptação gera expectativas no público – e na indústria do entretenimento –, a partir de uma história conhecida contada de outra forma. Hutcheon & O’Flynn (2013) definem a adaptação como uma obra que mantém uma relação explícita com a sua fonte, fonte esta frequentemente literária, mas não exclusivamente. As autoras ainda apontam que a prática da adaptação pode ser discutida a partir de três perspectivas: produto, processo de criação e processo de recepção. Diante da diversidade de artistas, temáticas e nuances desse gênero, cujo elemento inusitado acarreta efeitos de ambiguidade, estranhamento ou inquietude, somos capturados e surpreendidos em narrativas que tanto fascinam e despertam o interesse, dando palco, voz e vez ao invisível, inexplicável e mágico. Nesse sentido, este simpósio pode oferecer um espaço de debate sobre o horror em suas diferentes formas, seja por meio da discussão de aspectos formais, criativos ou discursivos do gênero nas mais variadas formas de linguagem e mídias, seja por meio da adaptação de narrativas fantásticas e de horror.
PALAVRAS-CHAVE: Representações do insólito. Horror. Intermidialidades. Adaptação.

RELAÇÕES INTERARTES: AMPLIAÇÕES, MONTAGENS E LINKS
EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS
SIMPÓSIO: RELAÇÕES INTERARTES: AMPLIAÇÕES, MONTAGENS E LINKS
COORDENADORES:
- Breno Fernandes (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)) brenofernandes@gmail.com
- Juan Ignacio Azpeitia (UFBA/UEFS) inaciodabahia@yahoo.com.br
RESUMO:
PALAVRAS-CHAVE:
-
ÉTICAS-ESTÉTICAS DECOLONIAIS: ESTRATÉGIAS LITERÁRIAS DE RESISTÊNCIA CULTURAL
- Tania Maria de Araújo Lima (UFRN) - tanialimapoesia@yahoo.com.br
- ROLAND GERHARD MIKE WALTER (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) - walter_roland@hotmail.com
- ELIO FERREIRA DE SOUZA (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ (UESPI)) - professorelioferreira@yahoo.com.br
-
"AFRONTANDO A RESIGNAÇÃO DOS SERENOS" - POTENCIAIS DESESTABILIZADORES NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
- Lilian Reichert Coelho (Universidade Federal do Sul da Bahia) - lilireichert@gmail.com
- Rosana Nunes Alencar (Universidade Federal de Rondônia) - rosanaalencar@unir.br
- Milena Cláudia Magalhães Santos Guidio (Universidade Federal do Sul da Bahia) - milena@ufsb.edu.br
-
"ISTO NÃO É UM ROMANCE": POLÍTICA E RESISTÊNCIA À FORMA NO ROMANCE SETECENTISTA E OITOCENTISTA
- Andréa Sirihal Werkema (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - aswerkema@gmail.com
- Maria Juliana Gambogi Teixeira (Universidade Federal de Minas Gerais) - juliana.gambogi22@gmail.com
-
(EST)ÉTICAS PAN-AMAZÔNICAS: PLURIVERSOS CRÍTICOS E ARTISTÍCO-LITERÁRIOS NOS MECANISMOS DA INVENÇÃO DE UM MUNDO COMUM
- Maria de Fatima do Nascimento (Universidade Federal do Pará (UFPA)) - mafana@ufpa.br
- Hugo Lenes Menezes (IFPI) - hugomenezes@ifpi.edu.br
- Gerson Rodrigues de Albuquerque (Universidade Federal do Acre (UFAC)) - gerson.ufac@gmail.com
-
A LITERATURA E AS IMAGENS QUE RESTAM: HIPERMODERNIDADE, ESTADO DE EXCEÇÃO, O LABIRINTO DO SOBRENATURAL, EROTISMO E HAICAI
- Cacio José Ferreira (Universidade Federal do Amazonas) - caciosan@ufam.edu.br
- Kélio Júnior Santana Borges (IFG) - kelio.borges@ifg.edu.br
- Norival Bottos Júnior (Universidade Federal do Amazonas) - norivalbottos@ufam.edu.br
-
ANTONIO CANDIDO, POSSIBILIDADES DE ABORDAGEM TEÓRICA PARA A LITERATURA DO SÉCULO XXI
- Angela Teodoro Grillo (FALE-ILC/ UFPA) - angelagri@gmail.com
- Jader Vanderlei Muniz de Souza (Universidade Federal do Acre) - jader.souza@ufac.br
- Rafaela Cássia Procknov (IFSP) - procknov.rafaela@ifsp.edu.br
-
AQUÉM E ALÉM DO EXCESSO, A ESCRITA!
- Gabriela Lopes Vasconcellos de Andrade (Universidade Federal de Minas Gerais) - gabrielalvandrade@gmail.com
- Antonia Torreão Herrera (Universidade Federal da Bahia) - antoniatherrera@gmail.com
- Livia Laene Oliveira dos Santos Drummond (Universidade Federal da Bahia) - livialosd@gmail.com
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AS LITERATURAS E AS ARTES AFRICANAS ENQUANTO IMAGINÁRIO, RESISTÊNCIA, CONTESTAÇÃO E MEMÓRIA EM CONTEXTOS PÓS-NACIONALISMOS
- Adriana Cristina Aguiar Rodrigues (Universidade Federal do Amazonas) - adrianaaguiar@ufam.edu.br
- Providence Bampoky (Universidade Estadual de Campinas) - providence.bampoky@gmail.com
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AUTORITARISMO E PODER: A VIOLAÇÃO DOS CORPOS E A MEMÓRIA COMO RESISTÊNCIA
- Nicia Petreceli Zucolo (Universidade Federal do Amazonas - UFAM) - niciazucolo@ufam.edu.br
- Fernanda Valim Côrtes Miguel (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM) - fernanda.valim@ufvjm.edu.br
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EQUINÓCIOS DO SEXO: DO TOPOR DAS ALMAS ÀS FISSURAS PROLÁPTICAS DO CORPO
- Hermano de França Rodrigues (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB)) - hermanorgs@gmail.com
- Aristóteles de Almeida Lacerda Neto (IFMA) - aristotelesneto@gmail.com
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ESCRITA DE MULHERES: LUTAS, OLHARES E RESISTÊNCIAS
- Ana Maria Chiarini (UFMG) - anachiarini@gmail.com
- Anne Greice Soares La Regina (Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB) - annelareg@gmail.com
- Silvia La Regina (UFBA/UFSB) - silvialaregina@gmail.com
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ESCRITAS E VIDAS CONTEMPORÂNEAS: INCURSÕES, AVALIAÇÕES E DESAFIOS AO COMPARATIVISMO
- Adeítalo Manoel Pinho (Universidade Estadual de Feira de Santana) - adeitalopinho@gmail.com
- MARIA DE FÁTIMA GONÇALVES LIMA (PUC-Goiás) - fatimma@terra.com.br
-
ESPECTROS DE WALTER BENJAMIN NA POESIA BRASILEIRA DO SÉCULO XXI
- Helano Ribeiro (Universidade Federal da Paraíba) - hjcribeiro@gmail.com
- Gustavo Silveira Ribeiro (Universidade Federal de Minas Gerais) - gutosr1@yahoo.com.br
- PATRICIA GISSONI DE SANTIAGO LAVELLE (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) - patriciaglavelle@gmail.com
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ESTRATÉGIAS DO FEMININO: LITERATURA ESCRITA POR MULHERES E RESISTÊNCIA
- laura barbosa campos (UERJ) - laurabcampos9@hotmail.com
- anna faedrich (UFF) - anna.faedrich@gmail.com
- Silvina Carrizo (UFJF) - silvinalit@gmail.com
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FICÇÃO, HISTÓRIA E NOVOS CAPÍTULOS PARA DECOLONIZAR O SABER: RESSIGNIFICAÇÕES DO PASSADO A PARTIR DA LITERATURA
- Cristian Javier Lopez (Universidade Estadual do Maranhão) - cj_lopez2@hotmail.com
- Phelipe de Lima Cerdeira (Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ) - phelipecerdeira@gmail.com
- Gilmei Francisco Fleck (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) - chicofleck@gmail.com
-
FRONTEIRAS LITERÁRIAS : DISTOPIA E VIOLÊNCIA
- Denise Dias (IF Goiano/Amazonas) - denise.dias@ifgoiano.edu.br
- Lícia Soares de Souza (Universidade Estadual da Bahia) - liciasos@hotmail.com
-
INTERFACE ENTRE DIREITO, LITERATURA E ARTE
- Clarice Beatriz da Costa Söhngen (PUCRS) - clarice.sohngen@pucrs.br
- ROSALIA MARIA CARVALHO MOURÃO (UNIFSA) - RROSAPI@YAHOO.COM.BR
-
LITERATURA E DISSONÂNCIA
- André Dias (Universidade Federal Fluminense - UFF) - andredias@id.uff.br
- Rauer Ribeiro Rodrigues (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS) - rauer.rodrigues@ufms.br
- Felipe Gonçalves Figueira (Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES) - fgfigueira@gmail.com
-
LITERATURA E TESTEMUNHO: TEORIAS, LIMITES, EXEMPLOS
- Marcelo Ferraz de Paula (UFG/CNPq) - marcelo2867@gmail.com
- Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq) - mrclpvdsz@hotmail.com
- Wilberth Claython Ferreira Salgueiro (UFES/CNPq) - wilberthcfs@gmail.com
-
LITERATURA, PERIFERIA E EXPRESSÕES DA CULTURA NEGRA NO BRASIL
- Jorge Augusto de Jesus SIlva (UESB/IF Baiano) - jorge.jesus@uesb.edu.br
- Silvana Carvalho da Fonseca (UFRB) - silvanacarvalho@ufrb.edu.br
- Fernanda Felisberto da Silva (UFRRJ) - fefelisb@ufrrj.br
-
LITERATURAS E DISSIDÊNCIAS: ESCRITAS DE RESISTÊNCIA, INSISTÊNCIA E SOBREVIVÊNCIA
- KARINA LIMA SALES (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB) - ksales@uneb.br
- LILIAN LIMA GONÇALVES DOS PRAZERES (Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB) - lilian.lima@ufsb.edu.br
- CIBELE VERRANGIA CORREA DA SILVA (UFES - NETIR / FAPES) - cverrangia@yahoo.com.br
-
MEMÓRIA, TESTEMUNHO E NAÇÃO
- Ana Karla Carvalho Canarinos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - anakarla.canarinos@gmail.com
- Fábio Ávila Arcanjo (Universidade Estadual de Campinas) - fabioarcanjo1981@hotmail.com
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OUTRAS FRONTEIRAS DO COMUM: LITERATURAS, POLÍTICAS E RESISTÊNCIAS ANTICOLONIAIS E ANTICAPITALISTAS
- Noemi Alfieri (Africa Multiple Cluster - University of Bayreuth) - n.alfieri@yahoo.it
- Marta Banasiak (IEL-Unicamp/FAPESP) - mban@unicamp.br
- Stênio Soares (Africa Multiple Cluster - University of Bayreuth) - stenio.soares@ufba.br
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PENSAR O IMPENSADO: EDUARDO LOURENÇO E UMA GEOPOLÍTICA DO PENSAMENTO
- Roberto Vecchi (Universita di Bologna) - robbev@gmail.com
- SABRINA SEDLMAYER PINTO (UFMG) - sabrina.sedlmayer@gmail.com
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PONTES PARA VIABILIZAR A INVENÇÃO DE UM MUNDO (EM) COMUM: LITERATURAS E ORATURAS AFRICANAS EM DIÁLOGO
- João Pedro Wizniewsky Amaral (Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)) - shuaum@gmail.com
- Janice Inês Nodari (Universidade Federal do Paraná (UFPR)) - nodari.janicei@gmail.com
- Mônica Stefani (Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)) - monicastefani31@gmail.com
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REDE DE ESTUDOS ANDINOS: ARTES, LITERATURAS E CULTURAS ANDINAS EM PERSPECTIVA
- Carla Dameane Pereira de Souza (Universidade Federal da Bahia) - carladameane@gmail.com
- Betina Sandra Campuzano (Universidad Nacional de Salta) - betinacampuzano@gmail.com
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REDEMOINHOS ESTÉTICOS DE UMA CARTOGRAFIA DA DOR LATINO-AMERICANA EM REGIMES DITATORIAIS
- DANIELLE FERREIRA COSTA (IFMA) - danielle.costa@ifma.edu.br
- Naiane Vieira dos Reis (IFCE) - naianevieira@uft.edu.br
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SABERES SUBALTERNIZADOS: LITERATURA E (RE)EXISTÊNCIA, OUTROS(AS) SUJEITOS(AS) DE CRIAÇÃO
- Alvanita Almeida Santos (UFBA) - india.alva@gmail.com
- Jailma dos Santos Pedreira Moreira (Universidade do Estado da Bahia - UNEB) - jailmapedreira@uol.com.br
- Carlos Magno Gomes (UFS/CNPq) - calmag@bol.com.br
-
TRANSGRESSÃO, MEMÓRIA E (IN)SUBALTERNIZAÇÃO NAS LITERATURAS AFRICANAS E AFRODIASPÓRICAS PRODUZIDAS POR MULHERES
- Cíntia Acosta Kütter (Universidade Federal Rural da Amazônia) - cintia.kutter@gmail.com
- Sávio Roberto Fonseca de Freitas (Universidade Federal da Paraíba) - savioroberto1978@yahoo.com.br
-
USOS POLÍTICOS DA MEMÓRIA E DA HISTÓRIA NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
- Renata Flavia da Silva (Universidade Federal Fluminense UFF) - renataflaviadasilva@gmail.com
- Roberta Guimarães Franco Faria de Assis (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) - robertagf@uol.com.br
- Daniel Marinho Laks (Universidade Federal de São Carlos UFSCar) - daniellaks@yahoo.com

ÉTICAS-ESTÉTICAS DECOLONIAIS: ESTRATÉGIAS LITERÁRIAS DE RESISTÊNCIA CULTURAL
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: ÉTICAS-ESTÉTICAS DECOLONIAIS: ESTRATÉGIAS LITERÁRIAS DE RESISTÊNCIA CULTURAL
COORDENADORES:
- Tania Maria de Araújo Lima (UFRN) tanialimapoesia@yahoo.com.br
- ROLAND GERHARD MIKE WALTER (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) walter_roland@hotmail.com
- ELIO FERREIRA DE SOUZA (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ (UESPI)) professorelioferreira@yahoo.com.br
RESUMO: Eixo 7: Estética e Política, Literatura e Resistência Título do Simpósio: Éticas-Estéticas Decoloniais: Estratégias Literárias de Resistência Cultural Organizadores: Prof. Dr. Roland Walter (UFPE) Profa. Dra. Tania Lima (UFRN); Prof. Dr. Elio Ferreira (UESPI); O desmembramento e a heterogeneidade das nações pan-americanas com suas ‘índoles quebradas’, suas terras “invadidas, ocupadas” e suas ideias “fora do lugar” (Antonio Cornejo-Polar, 2000; Francisco Alarcón, 1992; Joaquin Brunner, 1988; Roberto Schwarz, 1992, etc.) é fato dado: uma realidade quebrada, fissurada por conflitos étnico-culturais onde a razão da subalternização e discriminação e a "razão do Outro” (Enrique Dussel, 1995) embatem numa polarização acirrada nos espaços fronteiriços (neo/pós-)coloniais – espaços onde as pessoas estão incluídas em/ excluídas por mercados locais e globais, lutas étnicas, raciais e de gênero e projetos regionais e nacionais; espaços onde as pessoas assimilam e resistam às diversas e muitas vezes opostas ideias, forças e práticas num contínuo processo de identificação dinâmica, ou seja, espaços onde estes processos de (re)construção identitária dançam ao ritmo sincópico da “colonialidad del poder” (Anibal Quijano, 1998), de gênero (Maria Lugones, 2008) e de ser-estar (Maldonado Torres, 2016 ); este “centrismo hegemônico” (Val Plumwood, 2001) nutrido por formas de domínio entrelaçadas que tenham sido convocadas historicamente com o objetivo de explorar seres humanos e não humanos. A justificação de processos de invasão/ colonização/ dominação procedeu desta base antropomórfica e racista (cruzada por gênero, classe, idade, etc.) que nega e cancela o self dos diversos Outros. Um sistema capitalista que continuamente reestrutura o espaço pelos fluxos do capital, como também, de forma explícita, pelas estratégias de repressão social e espacial do capital corporativo e as inerentes formas e práticas da destruição da terra e pela abjudicação dos direitos civis e (não)humanos. Qual a função da literatura neste cenário (pós-/neo/de)colonial? O poder da literatura reside, entre outros, no entrelaçamento de palavra e memória: é a palavra, mediante a memória, que recupera um mundo de referências, tornando o imaginário capaz de idear e compreender a episteme cultural. Este mundo de referências (re)constitui a identidade individual e coletiva num processo histórico. Neste sentido, a literatura recria o ethos, a cosmovisão e o ethnos cultural revelando o que a história distorce e/ou esconde. A identidade é continuamente contestada e reconstruída na negociação discursiva das complexas relações sociais e alianças que constituem comunidade. Embutidas nas representações ambíguas das estórias visuais, orais e verbais, nossas comunidades não são criadas em unidade e pertença, mas num processo dinâmico de transformação e diferença. Uma vez rompida esta ligação entre palavra/ linguagem, memória, identidade e cosmovisão, a relação entre o sujeito, o lugar e o mundo é deslocada no sentido de ela não nascer organicamente das experiências, tradições e crenças culturais. Neste processo, a palavra ferida e a palavra imposta iniciaram uma dança esquizofrênica que se tem alimentado de ritmos sincópicos desde o passado ao presente, com passos fortes e fracos de dominação e resistência, ligando o colonial, o neocolonial, o pós-colonial e o decolonial em distonia. Destarte, argumenta-se que nas Américas com seus lugares e pessoas brutalizados de diversas formas de violência, a interface entre o colonialismo e a colonialidade é caracterizada pela relação de elementos de diferentes línguas, discursos e forças sociais que em certas condições e circunstâncias podem, mas não precisam necessariamente ser conectados. Estas ligações unificam experiências, práticas, narrativas, ideologias e significados dissimilares em relações estruturadas que não são determinadas, absolutas ou constantes, mas flutuantes de maneira errática criando raízes rizomáticas e rizomas enraizados que dissolvem e emergem constituindo identidades e ideologias fluídas. Assim, esta interface entre o colonialismo e a colonialidade é caracterizada por ideias, pessoas, elementos culturais, etc., fora e dentro de lugares, translocalizados entre lugares em complementaridade contraditória e em busca de lares em e entre terras e mares. Com o objetivo de examinar estas diversas realidades (pós/ neo/ de) coloniais convidamos trabalhos que focalizam as seguintes questões: Quais os tipos de imaginário decolonial que os textos literários apresentam? Quais as estratégias textuais de descolonização que desafiam práticas de colonialismo internalizado? Quais as diversas formas de estetização da violência? Qual a ligação entre esta estetização e práticas de descolonização? Se a degeneração moral é tanto a causa quanto o efeito de desespero e frustração, como ela é alimentada com culpabilidade e preconceito? Como sujeitos são formados no discurso decolonial de resistência? Ou seja, como a genealogia do discurso neocolonial hegemônico fala e representa os/as subalternos/as e como estes/as constroem seus lugares de fala e agenciamento? Qual a “ética da terra” (Édouard Glissant, 1992) que vibra na estetização da terra? Em outras palavras, quais as práticas textuais de descolonização/ resistência ao contínuo roubo e à contínua destruição da terra? Como o decolonial e a descolonização são gestados pela episteme das narrativas afro-diaspóricas e ameríndias nas forjas e bigornas das Américas e do Atlântico Negro?
PALAVRAS-CHAVE: Palavras chave: Teoria Decolonial. Narrativas Afro-diaspóricas e Ameríndias. Américas. Atlântico Negro

"AFRONTANDO A RESIGNAÇÃO DOS SERENOS" - POTENCIAIS DESESTABILIZADORES NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: "AFRONTANDO A RESIGNAÇÃO DOS SERENOS" - POTENCIAIS DESESTABILIZADORES NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
COORDENADORES:
- Lilian Reichert Coelho (Universidade Federal do Sul da Bahia) lilireichert@gmail.com
- Rosana Nunes Alencar (Universidade Federal de Rondônia) rosanaalencar@unir.br
- Milena Cláudia Magalhães Santos Guidio (Universidade Federal do Sul da Bahia) milena@ufsb.edu.br
RESUMO: No capítulo “Se o irrepresentável existe”, do livro O destino das imagens (2012), Jacques Rancière pergunta: “sob que condições é possível declarar certos acontecimentos irrepresentáveis?” (p. 119). O autor responde que ser irrepresentável não é uma qualidade inerente ao acontecimento, mas ao “regime representativo da arte”, que impõe hierarquias e modos de inteligibilidade e sensibilidade. Trata-se da inadequação de temas e formas impostas por regimes de representação e lógicas dominantes. Nesse sentido, convidamos pesquisadores/as que pensam a literatura contemporânea pelas interseções entre estética e política a dialogarem conosco a partir da ideia de Rancière segundo a qual “Se a experiência estética se cruza com a política, é porque ela se define também como experiência de dissentimento oposta à adaptação mimética ou ética das produções artísticas com fins sociais.” (RANCIÈRE, 2010a, p. 91). Acolheremos trabalhos que evidenciam ações e personagens que desafiam o poder e as forças opressoras operando “reconfigurações do sensível comum” (RANCIÉRE, 2010b, p. 47). Mesmo que não se orientem pela perspectiva de Rancière, propomos dialogar com pesquisas que analisam cenas/aparições políticas como “atuações criativas daqueles que, em geral, não são contados como sujeitos politicamente relevantes” pelas lógicas consensuais e homogeneizadoras como mulheres, negros/as, campesinos/as, pessoas LGBTQIA+, exilados, (i)migrantes, refugiados/as, etc. É o que ocorre, por exemplo, no romance A ocupação (2019), de Julián Fuks, de onde extraímos o título do ST, em que Sebastián, o narrador, defronta-se com as pessoas de um prédio ocupado no centro de São Paulo e percebe com angústia a catástrofe da diferença abissal entre ele e os/as ocupantes, com quem não deixa de se solidarizar. Na leitura dessa narrativa, expansível para outras, uma questão que se interpõe é: Pode a literatura constituir-se como micropolítica (ROLNIK, 2018) a partir de experiências mínimas entre sujeitos tão diferentes no cenário catastrófico contemporâneo sem que haja obrigatoriedade de conversão, de transformação de si no outro? Que sentidos de “comum” o narrador observa e o fazem compreender a impossibilidade de tornar-se um partícipe, um igual? A ideia de “comum” que embasa a proposta do ST também é orientada por Rancière (2018), que o pensa como “espaço polêmico de confronto entre formas opostas de definição do que deve ser compartilhado.” Entretanto, nossa disposição é dialogar também com pesquisas orientadas por outras formas de compreender o “comum” (como por Hardt e Negri, Federici, Bollier, Dardot e Laval, Haraway) e sentidos variados de comunidade, as fragilidades de alcance dessa noção plasmadas na literatura, suas capturas por lógicas hegemônicas, suas contradições e ambiguidades, mas também suas potências emancipatórias. Sentidos como esses – orientados por práticas coletivas alternativas ao “sequestro do comum”, como refere Pelbart (2019), que o ultraneoliberalismo ou o turbocapitalismo financeiro, como chama o professor Muniz Sodré (2014), potencializa – estão presentes na terceira narrativa do livro O deus das avencas, de Daniel Galera (2021), intitulada Bugônia, e também em A extinção das abelhas (2021), de Natália Borges Polesso, dentre outras produções brasileiras contemporâneas. As narrativas citadas estão imbuídas de algum sentido de catástrofe e, por isso, pretende-se também neste ST interrogar sentidos incomuns aos significados mais cristalizados do termo mobilizados por escritores/as contemporâneos/as que tematizam o fim do mundo ou fins de mundos, expressão preferida por Joca Reiners Terron, ao afirmar que mundos estão sempre acabando e coexistindo, assim, no gerúndio, como ele mesmo materializa em Noite dentro da noite (2017). Nossa perspectiva orienta-se por olhar para a catástrofe tal como construída em narrativas contemporâneas em sua contradição constitutiva, em seu paradoxo de trauma, ferida, e aquilo que obriga a suplantá-la (NESTROVSKI; SELIGMANN-SILVA, 2000), para além do sentido hegemônico, dicionarizado, de virar para baixo. Trata-se de deslocar o foco dos acontecimentos-limite que podem acionar discursos fatalistas em favor da dimensão catastrófica presente nos aconteceres cotidianos que favorecem a vida, a resistência, “apesar de tudo” (DIDI-HUBERMAN, 2011), como notamos em No meu peito não cabem pássaros (2012), do escritor português contemporâneo Nuno Camarneiro. Desse modo, catástrofe “não estaria restrita a um acontecimento-limite, mas seria um processo contínuo de fazer e refazer a vida, numa evidência de sua crucial fragilidade” (BATES, 2015), mas também de seu potencial revitalizador. “A catástrofe constitui também um modo de imaginar o inimaginável e, nesses termos, possibilitar o fazer e refazer da vida enquanto estivermos aqui” (DOLE et al, 2015 in GOMES; LEAL, 2020). Isso considerado, pretendemos compartilhar leituras diversas de narrativas produzidas em diferentes contextos socioculturais nas quais a qualidade de “elemento disruptivo” da catástrofe é suplantada ou convive com movimentos atordoantes que, em seu “acontecer cotidiano”, desestabilizam o previsível, as normas convencionais [...] (GOMES; LEAL, 2020). O objetivo é observar como a literatura capta formações emergentes que desafiam os sentidos mais usuais e lugares-comuns de catástrofe que se impõem na sociedade pelo jornalismo, pela política, pela ciência, sem ignorar que podemos mesmo estar na iminência do fim do mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Contemporânea; Experiência Estética; Política; Catástrofe.

"ISTO NÃO É UM ROMANCE": POLÍTICA E RESISTÊNCIA À FORMA NO ROMANCE SETECENTISTA E OITOCENTISTA
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: "ISTO NÃO É UM ROMANCE": POLÍTICA E RESISTÊNCIA À FORMA NO ROMANCE SETECENTISTA E OITOCENTISTA
COORDENADORES:
- Andréa Sirihal Werkema (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) aswerkema@gmail.com
- Maria Juliana Gambogi Teixeira (Universidade Federal de Minas Gerais) juliana.gambogi22@gmail.com
RESUMO: “Ora, o crítico que, depois de Manon Lescaut, Paul et Virginie, Dom Quixote, Liaisons dangereuses, Werther, Afinidades eletivas, Clarisse Harlowe, Emile, Candide, Cinq-Mars, René, Les Trois Mosquetaires, Mauprat, Le Père Goriot, La Cousine Bette, Colomba, Le Rouge et le Noir, Mademoiselle de Maupin, Notre-Dame de Paris, Salammbô, Madame Bovary, Adolphe, Monsieur de Camors, L'Assommoir, Sapho, etc, ainda ousar escrever : ‘isso é um romance, isso não é’, me parece dotado de uma perspicácia que se aparenta em muito à incompetência” (Maupassant. Pierre et Jean). A célebre estocada de Maupassant contra um certo pendor crítico oitocentista, ansioso em tentar estabelecer um figurino ideal para um gênero que se afirma na resistência a qualquer prescrição genérica é já nossa velha conhecida, a tal ponto que se converteu num status quo dos estudos sobre o romance. Mas se tal traço parece hoje plenamente assentido, também é verdade que tal abertura genérica não impediu teóricos de diversas matrizes de tentar encontrar, em lugar de um figurino genérico, um núcleo de sentido comum ao proteico universo dos romances. Desde Hegel e sua “epopeia burguesa” ou, como desenvolveu Lukács, “a epopeia de uma era para a qual a totalidade extensiva da vida não é mais dada de modo evidente” (Lukács, 2009, p. 55), o romance, complementa Thomas Pavel, “por causa do corte que interpõe entre o protagonista e seu meio, (...) é o primeiro gênero a se interrogar sobre a gênese do indivíduo e sobre a instauração de uma ordem comum” (Pavel, 2006, p. 46). É essa cisão entre sujeito e a ordem comum ou a fratura na imanência que acaba por dotar o gênero de uma forte propensão a se apresentar como leitura político-filosófica do mundo, independente de tal subtexto fazer parte explicitamente de sua forma e/ou conteúdo. Essa dimensão política-filosófica do romance, para além das matrizes de leitura, é, ao lado da dimensão proteiforme do gênero, outro dado tão bem estabelecido nos estudos do romance que prescinde de referências precisas a autores e obras. Gênero polimorfo e gênero político-filosófico, independentemente de sua forma/conteúdo e das pretensões de seu autor são, portanto, as duas constantes hermenêuticas na leitura de qualquer romance. Mas a célebre estocada de Maupassant também nos convida a uma outra direção, direção essa tomada inclusive por alguns dos romances ali evocados: aqueles que recusam a própria denominação. Romances que recusam o nome de romance, seja ao acionarem o famoso topos setecentista que intitula esta chamada (isso não é um romance), seja porque se pretendem outra coisa que não um romance, querendo preencher outros espaços estranhos ao que atribuem ao campo próprio do gênero. Qual seria o fundamento dessa resistência ao romance e o que sustentam para além (ou para aquém?) da poliformia e da mirada político-filosófica? É de se notar que a escolha ou não de um gênero literário, enquanto rótulo, carrega consigo toda uma gama de significações – o romance, nas fichas catalográficas e nas organizações das bibliotecas, acaba por perfazer o percurso que ele de certa maneira combateu. Mas se há resistência ao rótulo, há também a resistência do rótulo, e infelizmente, queiram ou não os seus autores, o romance muitas vezes prevaleceu mesmo ali onde se recusava seu nome. O que não apaga o gesto autoral que recusa – que problematiza – o gênero (mesmo que esse tenha nascido contra todos os gêneros). O presente simpósio convida, portanto, a todos aqueles que desejam ainda fazer a discussão sobre o gênero dos gêneros na modernidade, ou o antigênero, na verdade tanto faz. Marcamos os séculos XVIII e XIX como não apenas o momento de estabilização do romance enquanto gênero inclusivo, mas também de seu questionamento – aspecto previsto em uma teoria autoconsciente ou autorreflexiva da literatura. É o momento, como se coloca no parágrafo acima, em que romancistas podem muito bem recusar a forma, ou abraçá-la como expressão formal de uma visão de mundo, em tempos de fortes acentos políticos, de tomadas de posição, de leitura de romances. Em suma, um romance seria sempre fruto de seu momento, porque é gênero aberto na medida em que conversa, sempre, com aquilo que o cerca. Não há como separar o pensamento burguês já formado, seu olhar sobre o mundo, sua resistência às velhas formas de organização social, de uma estrutura literária que descreve, que caracteriza, que narra e que enfim questiona. O lastro realista que habita todo romance, seja por seu avesso (como um Tristram Shandy) seja por sua afirmação de que é possível criar e recriar mundos, traduz-se muitas vezes nas melhores análises políticas que podemos ler através dos tempos, quando não nas melhores teorias sobre o romance. LUKACS, Georg. A teoria do romance. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2009. PAVEL, Thomas. La pensée du roman. Paris: Gallimard, 2006. MAUPASSANT, Guy de. Pierre et Jean. Ilivre, 2014.
PALAVRAS-CHAVE: romance setecentista, romance oitocentista, política do romance, teoria do romance.

(EST)ÉTICAS PAN-AMAZÔNICAS: PLURIVERSOS CRÍTICOS E ARTISTÍCO-LITERÁRIOS NOS MECANISMOS DA INVENÇÃO DE UM MUNDO COMUM
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: (EST)ÉTICAS PAN-AMAZÔNICAS: PLURIVERSOS CRÍTICOS E ARTISTÍCO-LITERÁRIOS NOS MECANISMOS DA INVENÇÃO DE UM MUNDO COMUM
COORDENADORES:
- Maria de Fatima do Nascimento (Universidade Federal do Pará (UFPA)) mafana@ufpa.br
- Hugo Lenes Menezes (IFPI) hugomenezes@ifpi.edu.br
- Gerson Rodrigues de Albuquerque (Universidade Federal do Acre (UFAC)) gerson.ufac@gmail.com
RESUMO: O presente Simpósio Temático (ST) consiste num espaço plural que busca abrigar estudos, reflexões e proposições teórico-críticas sobre as múltiplas manifestações artístico-literárias das diferentes territorialidades que constituem os pluriversos geoculturais, geopolíticos e geo-históricos da Pan-Amazônia ou Amazônia Internacional, um diversificado conjunto de espaços-tempos e práticas culturais que perpassam países como Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. Nesses pluriversos existem centenas de línguas indígenas que convivem com 9 idiomas oficiais numa área de 7 milhões de quilômetros quadrados, com 25 mil quilômetros de rios navegáveis, encravados na nomeada América do Sul. Importa ressaltar que as vivências, existências e reexistências em tais espaços-tempos remontam a um período entre 5 mil a 2 mil anos (SCHAAN; RANZI, BARBOSA, 2010) antes das invasões colonizatórias, que interditaram de forma violenta os povos e os territórios culturais, linguísticos, étnicos, religiosos, político e econômicos que ali existiam. Nas linhas propostas por Albuquerque (2020), em diálogo com categorias conceituais que transitam entre Said (1995) e Quijano (2005), a Amazônia Internacional ou a Pan-Amazônia, apreendida como um palimpsesto que resulta de camadas e mais camadas de práticas que se dizem civilizatórias, discursivas e não discursivas, foi inserida na escrita da expansão do projeto eurocêntrico, tendo por base não apenas a racialização de povos indígenas e africanos ou afrodescendentes, mas também sua concepção enquanto representantes de uma periferia atrasada, vazia e bruta. A chamada era moderna e sua agenda colonial, amparada no inseparável duo civilização/barbárie, definiu o entorno ou o espaço vital pan-amazônico, tecendo sua trajetória histórica pautada pelo sofrimento, a violência e a dor, bem como pelas assimétricas trocas ou intercâmbios culturais, pela mistura, ou por aquilo que Glissant (2005) definiu com o termo crioulização, estabelecendo os alicerces do pensamento arquipélago e da poética da relação. Frente a enfocada contextualização, torna-se relevante abrir espaço para o debate com os processos de resistência a séculos de colonização, à intervenção, às ditas políticas de modernização e desenvolvimento amazônico, notadamente, no que diz respeito à poesia de região de fronteira, a seus experimentos literários, teatrais, musicais, enfim, suas manifestações criativas, movidas por toda uma ética que leva em consideração as culturas e vidas humanas, mas, fundamentalmente, as outras formas de existências ou toda uma lógica de vida urbana marcada pela presença das florestas e dos rios, com seus seres humanos, não-humanos e sobre-humanos em (con)vivências de múltiplos sentidos. Em semelhante direção, o S.T. (Est)éticas pan-amazônicas: pluriversos críticos, artístico-literários nos mecanismos da invenção de um mundo comum mostra-se aberto à inovação crítica e artístico-literária, às metáforas que intentem transformar o olhar a partir da práxis estética e ética de intelectuais indígenas e não-indígenas, pretos, brancos e de outras gentes das muitas misturas pan-amazônicas que se disponham a promover rupturas com o pensamento de sistema e a valorizar a retomada de caminhos esquecidos, rotas alternativas, atalhos na floresta ou furos nos rios e paranãs, ou ainda nos muitos labirintos urbanos das cidades-selvas dos países que estão marcados pela presença da floresta, um imenso mundo comum inventado pela escrita colonizatória (CERTEAU, 1982), porém reescrito e reinventado mediante espaços-tempos de lutas individuais e coletivas, de tensas fricções linguísticas, de escritas e oralidades marcadas pela presença de línguas europeias – como o português, espanhol, inglês, francês ou holandês – transformadas nas paisagens de águas escuras e barrentas, nas bordas de vertentes cristalinas, no chão de barro, no pó e na lama da grande planície, nas sombras, luzes e sons da floresta, nos organismos vivos e mutáveis das cidades e, principalmente, no encontro revitalizador com as línguas trazidas pelas populações africanas, e, fundamentalmente, com as mais de 1.000 línguas oriundas das famílias linguísticas Aruaque, Caribe, Macro-Jê, Pano, Arawá, Tucano, Tupi, identificadas nos mundos amazônicos ao longo de mais de cinco séculos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALBUQUERQUE, Gerson Rodrigues de. Catuaba: itinerários históricos e colonizatórios de um seringal no Rio Acre. In. SILVEIRA, M.; GUILHERME, E.; VIEIRA, L. J. S. (Orgs.). Fazenda Experimental Catuaba: o seringal que virou laboratório vivo em uma paisagem fragmentada do Acre. Rio Branco (AC): Stricto Sensu, 2020, p. 18-44. CERTEAU, M. de. A escrita da história. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. GLISSANT, Édouard. Introdução a uma poética da diversidade. Tradução de Enilce Albergaria Rocha. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2005. QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In. LANDER, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO – Colección Sur Sur, 2005. SAID, E. W. Cultura e imperialismo. Tradução de Denise Bottman, São Paulo (SP): Companhia das Letras, 1995. SCHAAN, Denise Pahl; RANZI, Alceu; BARBOSA, Antonia Damasceno (Orgs.). Geoglifos: paisagens da Amazônia Ocidental. Rio Branco: Gknoronha, 2010.
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas. Oralidades. Pan-Amazônia. Estéticas. Pensamento Crítico.

A LITERATURA E AS IMAGENS QUE RESTAM: HIPERMODERNIDADE, ESTADO DE EXCEÇÃO, O LABIRINTO DO SOBRENATURAL, EROTISMO E HAICAI
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: A LITERATURA E AS IMAGENS QUE RESTAM: HIPERMODERNIDADE, ESTADO DE EXCEÇÃO, O LABIRINTO DO SOBRENATURAL, EROTISMO E HAICAI
COORDENADORES:
- Cacio José Ferreira (Universidade Federal do Amazonas) caciosan@ufam.edu.br
- Kélio Júnior Santana Borges (IFG) kelio.borges@ifg.edu.br
- Norival Bottos Júnior (Universidade Federal do Amazonas) norivalbottos@ufam.edu.br
RESUMO: As imagens sobreviventes no mundo contemporâneo permanecem na topologia do ver e ser visto no mundo, e, nesse espelho, o paradigma se desdobra para aquilo que nos vê, ou, dito de outra maneira, o que se vê e o que não é para ser visto. Acreditamos que aquele que deseja fazer uma ontologia da imagem, deveria definir o domínio da imagem, ou seja, deveria questionar o espaço onde a imagem se efetiva. Para pensadores como Aby Warburg e Walter Benjamin, por exemplo, é a cristalização da imagem o centro de suas reflexões sobre a história e a política. Nesse sentido, a imagem é o centro da história. Assim, quando se trabalha a imagem, não se pode escapar de seu caráter interdisciplinar. Não se pode refletir sobre a história sem pensar sua relação com as imagens que a circundam, cindem e a penetram mais do que qualquer outra coisa. O lugar em que a imagem fala e onde ela produz um efeito de verdade, eis o limite da representação no mundo contemporâneo. Pode-se afirmar que o objeto não é mais representável, a estrutura e a operação sugerem novo paradigma para a história da arte, não mais representacional, mas antes, uma nova forma de estabelecer as relações entre estética e política, que podem ser observadas nos mais variados temas da literatura contemporânea, tais como: hipermodernidade, as migrações, o sobrenatural, o erotismo no cinema e o haicai (a singela construção poética japonesa em ressonâncias imagéticas). Há conceitos e lugares específicos que a imagem entremeia como gradação de sentido, denúncia ou ressonância poética. O instante poético impresso no haicai, por exemplo, “transforma-se e converte-se na anotação rápida – verdadeira recriação – de um momento privilegiado: exclamação poética, caligrafia, pintura e meditação, tudo junto” (PAZ, 1995, p. 40). Assim, a função do haicai de Matsuo Bashô ou de um haicaísta brasileiro não perpassa por uma construção crítica, mas a imagem que ressoa do poemeto capta a força do conjunto de versos amplificados em construções imagéticas que podem conter uma denúncia ou um fato histórico. Na mesma esteira, a hipermodernidade, a vida nua, o estado de exceção, o labirinto do sobrenatural e do horror, já testado, em 1818, por Mary Shelley, em Frankenstein, ou por Oscar Wilde, em 1890, em O retrato de Dorian Gray, contribuíram para as formas contemporâneas do horror e do sobrenatural nos contos, romances, histórias em quadrinhos, mangás e nas Graphic Novels. A unidade da ação na obra atual se deixa entrever nos interstícios plásticos do pensamento e nas ramificações híbridas de tempos que ressoam como uma nova intensidade imagética e extemporânea. De igual maneira, o erotismo verticalizado na tela do cinema imprime no sujeito a experiência estética que transpõe para o indivíduo a semântica da imagem, ou seja, uma força imagética que ultrapassa a tela e o olhar e condensa-se em desejos. Essa “descida à degradação”, de acordo com o pensamento de Freud, evidencia uma popularização e domesticação de artifícios imagéticos que um produto em frames intensifica e gera elementos construtores de novas imagens. Diante desse cenário, o presente simpósio tem como objetivo reunir trabalhos e pesquisas que abordem questões relacionadas ao estudo das relações entre imagens, estética e política na contemporaneidade, tais como o individualismo, o processo de personalização e o vazio, a arte terrorista, a memória e testemunho, o tempo presente como apocalipse latente, o brutalismo, individualismo, o erotismo, a política das sobrevivências, o vazio da vida nua, a poética do haicai como efeito imagético que tece a paisagem em camadas. Nessa vereda, Giorgio Agamben destaca a poética do horror, abrindo espaço para a contestação política, pois a configuração da arte contemporânea gera fissuras no corpo social. A arte e a imagem que ressoam são capazes de povoar o não-sentido, o vácuo do terror, onde ela ocupa o lugar do objeto, sem contudo, se confundir com o objeto. Não se pode fazer uma ontologia da imagem, porque uma imagem sempre se refere a outra coisa. Portanto, o importante em uma pesquisa sobre a imagem, não é o seu caráter universal, mas o particular, questionar, por exemplo, qual o valor de uso e qual a sua dimensão ética, a partir daí qual o lugar da imagem em uma reflexão política. Assim, as discussões propostas para o simpósio podem trazer à baila novas substâncias do real no campo da representação artística na ordem do irrepresentável e na experiência traumática da violência política, na ressonância do haicai, no sobrenatural que perpassa entre a imagem, a palavra e o saber popular, no erotismo como força imagética que produz nova substância. Enfim, pensar nas particularidades das inter-relações fronteiriças entre as teorias estéticas da hipermodernidade aliadas ao conceito de sobrevivência das imagens, como por exemplo, apresentados por Georges Didi-Huberman e Giorgio Agamben.
PALAVRAS-CHAVE: Hipermodernidade; estado de exceção; o labirinto do sobrenatural; erotismo e cinema; haicai.

ANTONIO CANDIDO, POSSIBILIDADES DE ABORDAGEM TEÓRICA PARA A LITERATURA DO SÉCULO XXI
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: ANTONIO CANDIDO, POSSIBILIDADES DE ABORDAGEM TEÓRICA PARA A LITERATURA DO SÉCULO XXI
COORDENADORES:
- Angela Teodoro Grillo (FALE-ILC/ UFPA) angelagri@gmail.com
- Jader Vanderlei Muniz de Souza (Universidade Federal do Acre) jader.souza@ufac.br
- Rafaela Cássia Procknov (IFSP) procknov.rafaela@ifsp.edu.br
RESUMO: Simpósio: Antonio Candido, possibilidades de abordagem teórica para literaturas do século XXI O legítimo crescimento nas últimas décadas de produção e publicação vinculadas a literaturas de autoria negra, indígena, feminina e LBGTQiAP+, por exemplo, amplia também o interesse da pesquisa literária nesta área. Ao lançar mão de ferramentas teóricas de repertório, em geral, interdisciplinar, obras poéticas e ficcionais, escritas por uma diversidade de sujeitos, combinam perspectivas éticas e estéticas, ou seja, levam em conta o objeto tanto pelo seu valor artístico quanto político. Nesse sentido, propomos refletir em que medida aportes teóricos de estudos de cultura e literatura brasileiras, de viés democrático e humanitário, ainda que produzidos em período anterior, como os de Antonio Candido, favorecem análises e interpretações de literaturas do século XXI. Antonio Candido, intérprete da moderna cultura brasileira, produziu majoritariamente no século XX, imbuído de um olhar socialista, marxista, e que lhe serviu para a leitura de importantes obras da literatura brasileira. Trata-se de um amplo trabalho de leitura, conceituação teórica e exercício crítico, estendido até a produção da segunda metade do século XX. O olhar do crítico entrelaça tanto uma visão ancorada a uma tradição moderna, como oferece uma visão que considera o caráter inclusivo da literatura, na medida em que a entende como um bem incompressível, ou seja, indispensável ao desenvolvimento do ser humano. A conferência “Literatura e direitos humanos”, marco importante da produção do estudioso, foi apresentada em um contexto em que a Carta Magna de 1988 estabelece a garantia dos direitos fundamentais do ser humano. Posteriormente publicado sob o título “O direito à literatura”, o ensaio constrói referenciais teóricos e instrumentos analíticos que servem, inclusive, aos estudos que dão conta das diversas literaturas contemporâneas, inclusive, aquelas produzidas por sujeitos antes invisibilizados. Ao considerar que o texto literário serve à “necessidade de conhecer sentimentos e a sociedade, ajudando-nos a tomar posição em face deles”, o ensaísta considera a função da literatura como instrumento político e conscientizador. Produções poéticas e ficcionais, como as de Conceição Evaristo e Eliane Potiguara, contribuem para desenvolver no leitor “a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante” (p.180). O olhar para o processo humanizador, proposto por Candido, sem dúvida, contribuiu para a leitura de produções contemporâneas como as dos povos originários, negros e mulheres. Vale lembrar que, para Candido, o processo humanizador deve contemplar “traços que reputamos essenciais, como o exercício de reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor.” (p.180). Em três artigos que compõem a primeira parte de Literatura e sociedade, publicada originalmente em 1965, Candido aponta para uma tensão entre aspectos estéticos e sociológicos, que concorrem para a conformação da obra literária, elementos que funcionam em síntese na organização interna do texto ficcional. Essa formulação desenvolve uma concepção acerca da literatura que pode favorecer decisivamente uma abordagem crítica que dê conta do funcionamento interno da obra, bem como de sua relação com a sociedade, movimento que segue vigente no século XXI, quando o protagonismo de autores e autoras historicamente invisibilizados demanda análises, estudos e pesquisas que auxiliem a potencializar a contribuição desses autores e obras à construção de um novo panorama que se estabelece na atualidade. O universalismo do pensamento de Candido abre-se à demanda dos grupos politicamente não majoritários por se tratar de uma ideia de universalidade historicamente situada, ou seja, calcada na formação social da de sociedades concretas, não na ideia de um sujeito abstrato e a-histórico e, portanto, destituído de materialidade e singularidade. Desse modo, ainda que algumas das formulações do ensaísta sejam consideradas atualmente como parte de outro quadro de interpretação da realidade brasileira, ou seja, objeto de debates que questionam o legado de suas formulações, considera-se aqui que o pensamento do crítico, em grande medida, mantém-se atual e pode contribuir para a pesquisa que se detém sobre autores e obras contemporâneas. Sugere-se, portanto, que os trabalhos propostos para este simpósio desenvolvam análises de obras literárias produzidas nas primeiras décadas do século XXI, estabelecendo diálogo com conceitos formulados por Antonio Candido nos textos já mencionados, bem como em outras intervenções do autor, conforme a possibilidade do trabalho a ser desenvolvido. Referências bibliográficas CANDIDO, ANTONIO. “O direito à literatura”. In: Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2004, p. 169-192. ________. Literatura e Sociedade. São Paulo: EDUSP, 1965.
PALAVRAS-CHAVE: Antonio Candido; Direitos humanos; Literatura e Sociedade;l iteraturas não hegemônicas ; literatura e cultura

AQUÉM E ALÉM DO EXCESSO, A ESCRITA!
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: AQUÉM E ALÉM DO EXCESSO, A ESCRITA!
COORDENADORES:
- Gabriela Lopes Vasconcellos de Andrade (Universidade Federal de Minas Gerais) gabrielalvandrade@gmail.com
- Antonia Torreão Herrera (Universidade Federal da Bahia) antoniatherrera@gmail.com
- Livia Laene Oliveira dos Santos Drummond (Universidade Federal da Bahia) livialosd@gmail.com
RESUMO: A escrita é um gesto de excesso. A escrita poética é uma não economia, ou melhor, antieconomia, isto é, uma despesa como morte e possibilidade de desmantelamento do sentido e da significação. A escrita literária permite falar tudo e resiste ao discurso automático que se esgota no fechamento do sentido. Para Georges Bataille (2015) o excesso é um gesto soberano, implicando, além da escrita, o ato erótico e a morte. Nesse sentido, podemos pensar o excesso como a dissolução dos limites de si e do corpo por meio dos impulsos orgânicos e excrementais. Bataille procura pensar as experiências contrárias, o êxtase do horror no limite da sensibilidade livre e a esterilidade esgotante, trazendo como como princípio da antieconomia a morte e a soberania. Em outros termos, a soberania é a recusa em aceitar os limites que o medo da morte teria submetido o sujeito. Nesse sentido, Bataille propõe uma desorientação destes limites a partir excesso. Achille Mbembe (2018), relendo Bataille, afirma que para este autor a morte em sua abjeção é a despesa radical e irreversível, sendo “o próprio princípio do excesso – uma ‘antieconomia’” (MBEMBE, 2018, p. 14), isto é, a experiência da perda de fronteiras e a soberania nos acontecimentos, da violação das proibições e da transgressão espiral que desorienta os limites. A noção de anticonomia desenvolvida por Mbembe também aparece na relação entre escrita e comunicação de Bataille, o qual afirma que a literatura e? transgressa?o ilimitada e comunicac?a?o. Esse coerente pensamento a respeito da literatura, antes mesmo de ser teorizado e formalizado nos estudos sobre o tema, ja? se inscrevia enquanto texto, se realizava enquanto experiência e comunicação do Mal. Para Bataille, o Mal não está mais na lógica binária, uma oposição ao Bem, à ordem natural, mas sim está nos limites da razão. “A morte sendo a condição da vida, o Mal, que está ligado em sua essência à morte, é também, de uma maneira ambígua, um fundamento do ser” (BATAILLE, 2015, p. 26). E, nesse limite da razão, reconhece-se uma parte irredutível e soberana, em que o Mal escapa como a própria vida. A experiência da escrita coloca-se, enta?o, como experiência interior, na medida em questiona os limites das possibilidades expressivas. Escrever e? “estar diante do impossi?vel, quando mais nada e? possi?vel”... Uma linguagem impossi?vel que na?o mais possui as funções habituais da linguagem, pois na?o e? capaz de representar, de comunicar uma experie?ncia interior. Estar diante dessa linguagem que na?o pode mais exprimir, e? estar diante do impossi?vel. A escrita seria o jogo aberto no qual so? se pode perder. Excesso e dispêndio. Assim, e? preciso jogar o jogo, mas subvertendo-o. A escrita poética, para Bataille, permite a dissolução das significações e dos sentidos da escrita, pois o gesto de escrever por si só já constitui um excesso. A escrita literária é uma ruptura com a significação e uma leitura erótica do texto, isto é, do sensível, da parturição e da superabundância. A linguagem do escritor se dá em excesso. Excesso de significantes, excesso de significados. A consciência assumida diante dos limites e das possibilidades da linguagem faz com que a escrita literária dissemine essa consciência de forma dramática e radical, possibilitando o ir além do racional, criar insubordinações e novos modos de vida. Além disso, há uma necessidade iminente de comunicac?a?o entre os seres humanos. Sobre isso, Bataille afirma: “Eu tenho essa certeza: a humanidade na?o e? feita de seres isolados, mas de uma comunicac?a?o entre eles; no?s na?o somos dados jamais, a no?s mesmos, sena?o em uma rede de comunicac?a?o, no?s somos reduzidos a essa comunicac?a?o incessante” (BATAILLE apud HEIMONET, 1987, p.103). Bataille coloca em questa?o a noc?a?o de comunicac?a?o e pergunta como os seres comunicam: apenas pela linguagem ordina?ria e racional, com o objetivo de estabelecer um entendimento da mesma ordem? Certamente na?o. Comunicar para ele e? transgredir, e? partilhar o inacabamento do na?o-saber, e na?o apenas dos entendimentos lo?gicos, mas “partilhar o sensi?vel” de diversas maneiras, na?o apenas utilizando a linguagem discursiva. A comunicac?a?o e? “o regime de uma viole?ncia feita a? significac?a?o da palavra, tanto na medida em que ela indica a subjetividade ou a intersubjetividade como na medida em que denota a transmissão de uma mensagem ou de um sentido” (NANCY apud SCHEIBE, 2017, 09). Por isso, a escrita sera? para ele um dos lugares onde essa rede de comunicac?a?o, de partilha do Mal, se estabelece de um outro modo, violentando sobretudo os sentidos ordina?rios. Como vimos, a escrita-comunicac?a?o batailliana e? um rasga?o, uma fenda, uma ferida comunicante que liga aquele que escreve ao mundo, ao ser. Afinal, a escrita também se dissemina na generosidade de uma comunidade (im)possível: a leitura. Nesse sentido, convidamos para pensar a relação da escrita com o excesso e com a construção de uma antieconomia da linguagem, da vida e do mundo.
PALAVRAS-CHAVE: escrita; excesso; antieconomia; George Bataille;

AS LITERATURAS E AS ARTES AFRICANAS ENQUANTO IMAGINÁRIO, RESISTÊNCIA, CONTESTAÇÃO E MEMÓRIA EM CONTEXTOS PÓS-NACIONALISMOS
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: AS LITERATURAS E AS ARTES AFRICANAS ENQUANTO IMAGINÁRIO, RESISTÊNCIA, CONTESTAÇÃO E MEMÓRIA EM CONTEXTOS PÓS-NACIONALISMOS
COORDENADORES:
- Adriana Cristina Aguiar Rodrigues (Universidade Federal do Amazonas) adrianaaguiar@ufam.edu.br
- Providence Bampoky (Universidade Estadual de Campinas) providence.bampoky@gmail.com
RESUMO: O nacionalismo e todas as suas formas de ascensão, na história do século XX e no contexto político africano, foi essencialmente a expressão de um sentimento de repúdio contra o poderio colonial (FANON, 2005; CESAIRE, 1978; NGOENHA, 1993). Em tal contexto, os nacionalistas encararam a luta contra o colonialismo e o imperialismo como uma causa sagrada pela liberdade, pela dignidade, pela “reconquista do poder de narrar a própria história – e, portanto, a própria identidade – parecendo se tornar constitutivo de qualquer subjetividade” (MBEMBE, 2001a, p. 184). Assim, não se tratava mais “de afirmar o status de alter ego para os africanos no mundo, mas sim de declarar em alto e bom som sua alteridade” (MBEMBE, 2001a, p. 184). Dito de outro modo, os movimentos nacionalistas, tanto nas colônias quanto na diáspora, foram movimentos de afirmação e de recuperação de tradições passadas, de idiomas, de autonomia política e de independência, em relação à hegemonia europeia. Nesse processo, isto é, de libertação nacional, vivido por diferentes países africanos, a produção intelectual e cultural desempenhou um papel fundamental para o assentamento do sujeito africano nas suas tradições e nas culturas dos seus antepassados, por meio de sentidos e expressões que tocavam a sua essência, a saber: pela afirmação das práticas e costumes tradicionais, pelas artes, pelas literaturas nascentes, pelo Pan-africanismo e pelo movimento da Négritude, os quais foram palco fundamental para a disseminação de ideias e para a estruturação das diversas lutas anticoloniais que fariam apelo à consciência dos africanos para que despertassem da dominação europeia. Convictos, portanto, da força cultural e movidos por relações adstritas entre estética e política (BHABHA, 2013; SAID, 2011; HALL, 2013), os movimentos nacionalistas nos mais diversos territórios africanos apossaram-se aos poucos da literatura e das artes para construir discursos identitários e de resistência, bem como discursos em torno de imaginários sobre a nação que se queria construir após o ruir da colônia. Como argumenta Said (2011, p. 11), “a literatura, sobretudo, a narrativa de ficção, após ter sido utilizada durante séculos pelos impérios coloniais, torna-se nos períodos da descolonização e pós-independência ferramenta utilizada pelos povos colonizados para afirmação da identidade e da existência de uma história própria deles”. Não apenas isso, os vários movimentos pressupunham também a construção de um sentimento de pertencimento e de solidariedade que buscasse fortalecer a África no cenário global. Não obstante, conquistada a independência, é também a categoria dos artistas e dos escritores que, sentindo o forte contraste entre um projeto de futuro imaginado via artes e literatura, começa a escrever e a projetar narrativas que revisitam criticamente a nação, a tradição e a ideia de modernidade, a exemplo de trabalhos como os do angolano Pepetela, em A geração da utopia, e do marfinense Ahmadou Kourouma, em Les Soleils des indépendances. Também as novas gerações vêm se apropriando de diferentes linguagens e de formas culturais como atitude de contestação e de denúncia de regimes de governo e de violências que ressoam em corpos e memórias dos sujeitos, muitos dos quais ainda sem acesso a políticas de memória que tratem do passado colonial e de conflitos que se instauraram desde que se proclamou a independência. São exemplos de projetos estéticos dessas novas gerações, ritmos e movimentos coletivos, tais como o Kuduro underground, o documentário Nos trilhos da Independência, produzido pelo Geração 80 e pela Associação Tchiweka de Documentação, em Angola, ou o trabalho do artista Kiluanji Kia Henda, notadamente em projetos como “Homem Novo – Redefinindo o poder”, que acabam por revisitar o passado-recente e projetar novos imaginários e novas utopias (SIEGERT, 2018), mais includentes, com identidades, corpos e sexualidades plurais e diversificadas, para além das noções de comunidade imaginada e de um passado pré-colonial idealizado. Em literatura, os exemplos se proliferam, em diferentes línguas, tais como os romances Fique comigo, da nigeriana Ayòbámi Adébáyò, Ketala, da senegalesa Fatou Diome, e Contornos do dia que vem vindo, da camaronesa Eleonora Miano. Tomando esse duplo cenário, isto é, o da luta e do sonho da independência contrastado pela ascensão de novas elites nacionais, de governos acusados de práticas de violência, perseguição, ditaduras, patrimonialismo, em contexto contemporâneo assinalado pelo legado do colonialismo tardio e pelas durabilidades imperais (MAMDANI, 1998; STOLER, 2016), o presente Simpósio visa reunir pesquisadores que, na pós-colônia (MBEMBE, 2001b), dediquem-se a investigações sobre as literaturas e as artes africanas, notadamente no que toca a movimentos e práticas culturais que revisitem o passado (distante ou recente), seja no se refere a processos de dominação imperialista que se renovam e projetos políticos que esfacelam e fraturam a nação imaginada, seja no que toca às formas como diferentes escritores e artistas têm se dedicado à produção de memórias em reparação às vítimas das violências no passado-presente e à projeção de identidades e de imaginários outros, mais democrática e utopicamente construídos.
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas e artes africanas; imperialismos; nação; violência; corpos; memória.

AUTORITARISMO E PODER: A VIOLAÇÃO DOS CORPOS E A MEMÓRIA COMO RESISTÊNCIA
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: AUTORITARISMO E PODER: A VIOLAÇÃO DOS CORPOS E A MEMÓRIA COMO RESISTÊNCIA
COORDENADORES:
- Nicia Petreceli Zucolo (Universidade Federal do Amazonas - UFAM) niciazucolo@ufam.edu.br
- Fernanda Valim Côrtes Miguel (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM) fernanda.valim@ufvjm.edu.br
RESUMO: O filósofo Michel Foucault define a biopolítica como uma “tecnologia de governo através da qual mecanismos biológicos dos indivíduos passam a integrar o cálculo da gestão de poder”, fornecendo ao Estado um dos meios mais poderosos de controle social, pela sua sutileza, pois esses mecanismos “são desenvolvidos a partir de um saber-poder que se mostra capaz de interferir diretamente nos destinos da vida humana” (FOUCAULT, 1988, p. 134), estatizando (e politizando), também, o biológico. Achile Mbembe (2018), filósofo camaronês, contribui com essa reflexão ao apontar como determinados grupos sociais são passíveis de extermínio, tanto pela destruição de seus corpos, a partir de ações institucionalizadas, como a “necropolítica”, – cuja capacidade de estabelecer parâmetros em que a submissão da vida pela morte está legitimada – quanto pelo descaso a que são condenados esses grupos ditos minoritários. Em Microfísica do poder (2005), Foucault esclarece que o poder não é algo “detido” por grupos ou pessoas, não se manifesta de uma única forma, mas se estabelece nas relações entre os indivíduos; nesse sentido, todas as pessoas exerceriam poder e participariam de relações assimétricas de poder, em alguma medida. Quando grupos sociais se tornam hegemônicos pela manipulação de determinada estrutura de poder, geram discursos que são naturalizados, deslegitimando discursos alternativos e questionadores. A relação entre os discursos do poder hegemônico e os discursos transgressores ou oponentes (em relação ao instituído e normalizado) estabelece a potencialização do poder em relação ao saber; logo, a relação entre o poder e o saber é uma forma de dominação, uma vez que nem todos se percebem imersos em um discurso naturalizado de dominação. Neste ponto, nos aproximamos da explicação do sociólogo Pierre Bourdieu (1989) sobre o poder simbólico, um poder que é edificado em sistemas como a arte, a religião e a própria língua. Conhecer, saber, é, pois, poder. O poder – simbólico ou não – leva a excessos, leva ao autoritarismo, talvez não exatamente aos moldes do século XX, das grandes nações envolvidas em sistemas totalitários de governo, mas a um autoritarismo estruturado nas bases da microfísica foucaultiana, exercido por instituições na esteira da referida “necropolítica”: a violência contra pobres, mulheres, crianças, grupos étnicos ditos minoritários, população LGBTQIA+. O filósofo Giorgio Agamben (2004) potencializa a percepção dessas relações de poder ao estudar o estado de exceção durante o século XX, exemplificando, através de Auschwitz, a aniquilação de mais ou menos dois milhões de pessoas em nome da necropolítica, em pleno exercício do poder estatal sobre a vida. Hoje, vários tratados e convenções internacionais visam à proteção dos Direitos Humanos; apesar disso, práticas de tortura e violação de direitos continuam sendo constantemente relatadas a organizações internacionais. Agamben não apenas critica o tratamento dado aos direitos humanos, como também aponta a sua falência radical: eles não conseguem, de fato, ser praticados, justamente em função da existência de uma rede de poder e violência estabelecida entre os indivíduos, com ou sem a permissão do Estado, contando, muitas vezes, com a sua participação. É notório o fato de que, se as autoridades estatais se manifestassem de forma contundente contra os abusos violentos cometidos pelas instituições, punindo seus perpetradores, a tendência seria a diminuição e um maior controle das manifestações e crimes de ódio em nível individual, no sentido da manutenção do pacto dos direitos coletivos. A literatura, as artes, de modo geral, firmam-se, contudo, como um ponto de resistência a todos esses poderes manifestos em diversos tipos de violência sobre os corpos – e mentes, reafirmando-se como a memória das lutas contra todas as formas de autoritarismo. Desdobrar a ideia que sustenta nosso grupo de Pesquisa, a saber – relações de gênero, poder e violência –, a partir da associação entre corpo, memória e autoritarismo, levando em conta as redes estabelecidas pelo biopoder entre Estado, capital, sociedade, pessoas, é uma das pretensões deste simpósio. Desse modo, o grupo de pesquisa Relações de gênero, poder e violência em literaturas de língua portuguesa espera trabalhos que problematizem questões de gênero, a partir da associação entre corpo, memória e autoritarismo; trabalhos que investiguem o autoritarismo do poder patriarcal na contemporaneidade, seja na sua macroestrutura (estatal, institucional), seja na microestrutura (relações entre as pessoas), tomando como base o texto literário, erudito ou popular, consagrado ou não canônico, ou outras produções culturais.
PALAVRAS-CHAVE: violência, gênero, biopolítica, necropolítica, arte e literatura de resistência.

EQUINÓCIOS DO SEXO: DO TOPOR DAS ALMAS ÀS FISSURAS PROLÁPTICAS DO CORPO
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: EQUINÓCIOS DO SEXO: DO TOPOR DAS ALMAS ÀS FISSURAS PROLÁPTICAS DO CORPO
COORDENADORES:
- Hermano de França Rodrigues (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB)) hermanorgs@gmail.com
- Aristóteles de Almeida Lacerda Neto (IFMA) aristotelesneto@gmail.com
RESUMO: É na intersecção entre o perigo e a recompensa, na infração à lei e no contato com o proibido, que residem os encantos e sortilégios da pornografia. Ela nos afeta, devasta-nos e, ao mesmo tempo, torna-nos demasiadamente humanos, ao desnudar nossas fragilidades, ao escancarar as fantasias operantes em nossa sexualidade, ao denunciar as falências de nosso narcisismo (no laço com o pornográfico, quem é o senhor?), ao delatar a parte obscura de nós mesmos. Dimensão obscurecida pela moralidade, pela vida social, pelas restrições a que nos submetemos em favor de um ideal de conduta, sempre inacessível e fugaz. O paradoxo da pornografia é sua solidariedade com o tabu, compartilhando com este do horror e da veneração que lhe são próprios. Daí as aflições que se abatem sobre todo aquele que segue seus passos e envereda por seus territórios. Assim como a violação ao tabu consagra o infrator e, em concomitância, lança-o ao degredo, na medida em que o estigmatiza, fazendo-o ocupar o lugar de objeto odioso e execrável, o contato com a pornografia, de igual modo, metamorfoseia a mortalidade em heroísmo, desterritorializando o sujeito que, maculado por seu ato, transforma-se em um ser abjeto e repulsivo. Essa ambivalência, antes de se converter em posições culturais, constitui a origem dos mais violentos e duradouros impulsos humanos. A fixação em um pólo ou outro, ou a oscilação entre um e outro (do horror à veneração, do sagrado ao impuro), demarca nossa atuação frente às concepções de sexo e de sexualidade, postas em relevo pelas experiências subjetivas com o corpo. Nas palavras do ensaísta e historiador da arte Alexandrian (1993), a pornografia segue o itinerário da carne, evidenciando sua fúria, sua beleza e seus prazeres. Sigmund Freud, em Totem e Tabu [1912-1913], expõe nossa vulnerabilidade ante os efeitos (des)agregadores das interdições. Afirma, inclusive, que “não existe povo e estágio de cultura que tenha escapado aos danos do tabu” (p.49). Tal reflexão nos ajuda a entender o processo de exclusão perpetrado pelas sociedades contra a experiência pornográfica. Embora o termo derive da língua grega e remeta aos escritos sobre prostitutas (do grego porn(o) = prostituta e graphein =escrita), a história da pornografia confunde-se, quiçá, com o surgimento dos primeiros grupos. A pré-história legou-nos um rico acervo de pinturas rupestres, em que o coito é representado em posições diversas, o que, sugere, no mínimo, uma tentativa de lidar com as forças libidinais. Certamente, o controle sexual não era tão aterrador e, com efeito, nossos antepassados incorreram no sexo, naturalizando-o conforme suas necessidades. Convém, por questões de hermenêutica, frisar que consideramos o erótico e o pornográfico como fenômenos que se imbricam, misturam-se e se confundem. A ligação é tão pujante que qualquer tentativa de separá-los está fadada ao fracasso. A diáspora a que foram, durante séculos, submetidos (e que, estranhamente acentua-se no contemporâneo) denota a moral perversa que, ainda, rege as sociedades, sobretudo as ocidentais, marcadas por ideologias religiosas e médicas, lapidadas ao engenho patriarcal e heteronormativo. Situar o erótico no espaço do sublime, do belo, da saúde e, em contrapartida, impor ao pornográfico as insígnias do grotesco, da feiúra e da patologia, diz, na verdade, de uma incapacidade ética e estética de lidar com o próprio desejo. O campo literário é testemunha dos esforços efetuados (e mal-sucedidos), a fim de reduzir esses “efeitos do agir humano” a um denominador comum. A depender da época e dos sujeitos, o erótico converte-se em pornográfico e vice-versa. É óbvio que não podemos apresentá-los como iguais, conformes, sinonímicos. A pornografia, além de conter tudo o que é erótico, concentra algo a mais, da ordem do irrepresentável, de um prazer mortífero, sedutor e inevitável. Transitando pelos meandros da chamada literatura licenciosa, deparamo-nos com obras que incorporam os signos da obscenidade, sem ressalvas nem pudor. Na alcova de suas páginas, refugiam-se as mais angustiantes cenas de tortura, perfilam-se os mais cruéis personagens e, por conseguinte, brotam as mais inescrupulosas e atraentes perversões. O espetáculo orgástico faz do corpo uma carnificina, uma obediência à fantasmática primitiva, uma travessia retilínea ao gozo. Resulta, dessas considerações, a proposta deste Simpósio Temático: congregar pesquisas (concluídas ou em andamento) que, numa interlocução entre literatura pornográfica/erótica e psicanálise, busquem analisar as dimensões representativas do sexo, de modo a compreender as imagens e os discursos que o cercam, bem como as configurações que assumem em determinado momento da história social e literária. Com vistas a enriquecer o debate e as discussões, as investigações podem debruçar-se sobre a poesia, o conto, o romance, a carta, a narrativa de viagem, entre outros gêneros.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Psicanálise; Erotismo; Pornografia; Gozo.

ESCRITA DE MULHERES: LUTAS, OLHARES E RESISTÊNCIAS
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: ESCRITA DE MULHERES: LUTAS, OLHARES E RESISTÊNCIAS
COORDENADORES:
- Ana Maria Chiarini (UFMG) anachiarini@gmail.com
- Anne Greice Soares La Regina (Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB) annelareg@gmail.com
- Silvia La Regina (UFBA/UFSB) silvialaregina@gmail.com
RESUMO:
PALAVRAS-CHAVE:

ESCRITAS E VIDAS CONTEMPORÂNEAS: INCURSÕES, AVALIAÇÕES E DESAFIOS AO COMPARATIVISMO
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: ESCRITAS E VIDAS CONTEMPORÂNEAS: INCURSÕES, AVALIAÇÕES E DESAFIOS AO COMPARATIVISMO
COORDENADORES:
- Adeítalo Manoel Pinho (Universidade Estadual de Feira de Santana) adeitalopinho@gmail.com
- MARIA DE FÁTIMA GONÇALVES LIMA (PUC-Goiás) fatimma@terra.com.br
RESUMO: ESCRITAS E VIDAS CONTEMPORÂNEAS: INCURSÕES, AVALIAÇÕES E DESAFIOS AO COMPARATIVISMO COORDENADORES: Adeítalo Manoel Pinho (Universidade Estadual de Feira de Santana) MARIA DE FÁTIMA GONÇALVES LIMA (PUC-Goiás) RESUMO: Esta proposta é a continuação de simpósio realizado nos Congressos Abralic de 2015, Belém- PA, a 2022, em Salvador. Dado o êxito das apresentações e discussões naquelas oportunidades e por ser do âmbito do Projeto Procad/Capes PUC-Rio/UNEB/Salvador/UEFS-Bahia/PUC-Goiás, consideramos esta proposta decisiva para as atividades do projeto. A continuação da proposta e realização do simpósio expressam a consolidação de um grupo de trabalho multi-institucional e em instância nacional. Para delinear os desafios presentes no título deste Simpósio, e aqui propostos para seguir como um convite instigador a pesquisadores interessados na atualidade das práticas culturais, artísticas, ecocríticas e teórico-críticas, elegemos, no pequeno e exitoso ensaio de Giorgio Agamben, uma das postulações a O que é o contemporâneo: "Contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro." A imagem potente de um "escuro" do tempo delineia metaforicamente a problemática a ser compartilhada pelos pesquisadores, em vertentes ou perspectivas compatíveis com seus objetos de investigação. Tal imagem se impõe quando se constata que, nas últimas décadas, na área dos estudos literários como nas ciências humanas, ocorreram alterações que reconfiguraram os pilares do território disciplinar, abalando o domínio de objetos previsto, o elenco de instrumentos, métodos e o corpo das proposições aceitas como horizonte teórico dos estudos de literatura, outras artes e da cultura. Tais alterações repercutiram predominantemente na diluição de fronteiras entre as disciplinas, na multiplicação inovadora das questões e temas de investigação plausíveis para cada uma delas e na ampliação dos instrumentos conceituais e técnicas que as singularizam. Em paralelo às alterações no plano epistemológico, são expressivas também, nas últimas décadas, as alterações que ocorrem no âmbito da cultura e no campo artístico, especialmente no domínio do literário. No primeiro caso, a noção de "cultura" alargou-se, extrapolando a legitimidade que lhe atribuíram – igualmente, mas em circunstâncias diversas – o empreendimento civilizacional iluminista, o Estado nacional moderno e as elites cultas na alta modernidade estética, tornando a cultura e, principalmente, o valor cultural focos de instabilidade, conflito e disputa, por forças que saíram dos bastidores e passaram a disputar a significação cultural. Os dois eixos da significação e valor que atravessaram a área de Letras, afetando o âmbito dos estudos comparados: por um lado, problematiza-se a ligação mutuamente legitimadora entre literatura e nacionalidade, parte do processo de constituição dos estados modernos e matriz de toda a historiografia que por um século pautou os estudos da literatura; por outro, dá-se a contestação ao confinamento do valor cultural à esfera erudita, às artes canônicas e, consequentemente, à separação entre arte, cultura e o que pensadores como Edward Said e Stuart Hall designaram como a "mundanidade". O deslocamento ou a recusa de hierarquias instituídas tanto na dimensão epistemológica quanto na dimensão artísticocriativa geram a oportunidade para que estejam sob o foco deste Simpósio – como desafios que emergem das zonas de sombras do contemporâneo – as formas, expressões e domínios de experiência resistentes, tais como: (a) o corpo, em sua materialidade e enquanto superfície de inscrição e energia ético-estética; (b) os afetos, enquanto força disruptora a dar ensejo a outras formas de representação das vivências; (c) o comum e o cotidiano enquanto categorias transversais da cultura, a mobilizar uma rede de significados que remetem a espaços periféricos, tanto no cenário político e sociocultural quanto nos cenários textuais e artísticos; (d) a violência, a exclusão e a cidade como figurações do presente que convulsionam os limites da representação ao instaurarem, em diversas linguagens artísticas; (e) a lógica do testemunho, do biográfico e do documental, em flagrante desafio à compreensão estabilizada do que seria próprio do domínio ficcional. Ao acolher as perspectivas dos estudos de literatura e de outras linguagens artísticas, bem como dos estudos de produções, práticas e políticas da cultura, incorporando as dimensões de materialidade, de performatividade e de insurgência, próprias das estratégias criativas da atualidade, este Simpósio ambiciona empreender não apenas uma discussão estética e política que possibilite a acolhida analítica das forças e das formas artísticas e culturais do presente, mas – e principalmente – acentuar uma potência inovadora e transformadora que possa afetar práticas investigativas, formativas e educacionais na sociedade brasileira contemporânea. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AGAMBEM, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Editora Argos, 2009. HALL, Stuart. Da diáspora. Org. Liv Sovik. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003. PINHO, Adeítalo; LIMA, Maria de Fátima Gonçalves (org). Escritas contemporâneas: incursões, avaliações e desafios ao comparatismo. Rio de Janeiro: Abralic, 2018. SAID, Edward. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Contemporaneidade. História. Identidade. Memória. Multidisciplinaridade.

ESPECTROS DE WALTER BENJAMIN NA POESIA BRASILEIRA DO SÉCULO XXI
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: ESPECTROS DE WALTER BENJAMIN NA POESIA BRASILEIRA DO SÉCULO XXI
COORDENADORES:
- Helano Ribeiro (Universidade Federal da Paraíba) hjcribeiro@gmail.com
- Gustavo Silveira Ribeiro (Universidade Federal de Minas Gerais) gutosr1@yahoo.com.br
- PATRICIA GISSONI DE SANTIAGO LAVELLE (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) patriciaglavelle@gmail.com
RESUMO: A espiral alegórica do pensamento (e das articulações e desarticulações da sua escrita, contraparte inseparável) de Walter Benjamin expõe-se enquanto gesto, através de sua espectralidade, sempre vindouro, enquanto pervivência [Fortleben, Nachleben, Überleben] na Poesia Brasileira deste novo século: “Pois na sua “pervivência” (que não mereceria tal nome, se não fosse transformação e renovação de tudo aquilo que vive), o original se modifica.” (BENJAMIN, 2011, p. 107). Nesse contato entre linguagens e saberes, épocas e códigos, idiomas, gêneros e referências distintas, contato que se dá antes a partir da ordem do contágio, o hiato que distancia o pensamento constelacional benjaminiano e a produção poética brasileira é igualmente incorporado nessa mesma constelação. Ou seja, e dizendo de modo direto, não se trata aqui de mostrar a influência de Benjamin na Literatura Brasileira, em particular na poesia brasileira do século XXI, mas de relacionar a tensão de suas imagens dialéticas, alegorias e curto-circuitos poético-conceituais dentro de certo jogo contaminatório, no qual todas as peças se tocam e se transformam. Não se pode ler Benjamin (ou a poesia brasileira contemporânea) do mesmo modo depois desse processo. E é preciso insistir: trata-se, menos ainda, segundo aqui se quer propor, da apropriação do pensamento benjaminiano como instrumento [Mittel] de leitura e crítica literárias voltadas ao contexto presente. A invenção propriamente poética de sua obra, seu caráter híbrido e aberto (Hannah Arendt já destacava que Benjamin elaborava seu pensamento a partir de imagens, ou seja, que ele buscava “pensar poeticamente” (ARENDT, 2008, p. 115), não se deixando confinar em nenhuma dessas áreas, a filosofia ou a poesia) é o que vai mobilizar a imaginação de tantos escritores brasileiros, num percurso que encena, a sua maneira, um movimento circular: a poesia só pode responder ao texto benjaminiano imiscuindo-se a ele, em contato impuro e diferido. De certo modo, será pela poesia que se poderá responder, lançando-o ao futuro, o pensamento poético benjaminiano. Walter Benjamin segue, ainda, em sua concepção histórico-filosófica, a densidade da complexa tessitura entre vida e linguagem; operando como impronta, rastro do tempo que resta, insistência da presença de uma ausência: ruína. O seu é um pensamento ambivalente, entre a vida presente, imediata e urgente, e a reproposição crítica do passado que se faz a partir de restos e retornos, cacos da História e fantasmagorias do que já foi, mas que ainda não se esgotou; do que continua como sobrevivência e rastro-traço, retornando, em demanda contínua – estética, política, epistemológica – ao agora. Seja através dos seus próprios textos, seja por meio de autores que retornam a Benjamin ou com ele convergem (como será o caso, cada um a sua maneira, de Aby Warburg, contemporâneo do autor, e também de Giorgio Agamben e Georges Didi-Huberman, entre outros), a circulação do pensamento benjaminiano continua e se expande na cultura brasileira, no campo das artes em particular. Assim, nos perguntamos onde são desveladas as margens entre a constelação benjaminiana e a poesia brasileira do século XXI em suas pervivências dialéticas, alegóricas, messiânicas, pós-utópicas. Crescente e cada vez mais adensada, tornada verdadeiramente uma questão candente neste novo século, a solicitação da obra benjaminiana no circuito poético brasileiro data, no entanto, de outros tempos. Sem determo-nos nas primeiras notas e discussões em torno a Benjamin no Brasil feitas por José Guilherme Merquior, Sergio Paulo Rouanet ou mesmo Ferreira Gullar, é necessário remontar às leituras decisivas (e pioneiras em sua profundidade e criatividade) do autor feitas por Haroldo de Campos, que funda alguns dos elementos decisivos da sua obra poética, ensaística e tradutológica em torno dos escritos de Benjamin. A perspectiva constelar das suas Galáxias, por exemplo, ou a dimensão transcriativa de seu projeto como multi-tradutor são algumas dos diálogos que entretece com Benjamin, e que vão modificar tanto a compreensão que temos do pensamento benjaminiano quanto da própria invenção poética de Haroldo. Do salto apropriativo e transformador deste autor até o panorama amplo e variado do século XXI, são inúmeros poetas, por inúmeros caminhos, a entretecerem seus trabalhos em meio aos fios lançados pelo autor de Rua de mão única. No simpósio que aqui propomos, gostaríamos de convidar os pesquisadores interessados a pensar as muitas facetas possíveis desse encontro, elaborando trabalhos que possam refletir sobre as circunstâncias, os sentidos e os desdobramentos da passagem porosa entre a poesia brasileira contemporânea e a obra de Walter Benjamin.
PALAVRAS-CHAVE: Walter Benjamin; poesia brasileira contemporânea; sobrevivências

ESTRATÉGIAS DO FEMININO: LITERATURA ESCRITA POR MULHERES E RESISTÊNCIA
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: ESTRATÉGIAS DO FEMININO: LITERATURA ESCRITA POR MULHERES E RESISTÊNCIA
COORDENADORES:
- laura barbosa campos (UERJ) laurabcampos9@hotmail.com
- anna faedrich (UFF) anna.faedrich@gmail.com
- Silvina Carrizo (UFJF) silvinalit@gmail.com
RESUMO: Pretende-se examinar a manifestação da resistência na literatura produzida por mulheres, tendo em vista as diferentes formas de enfrentar as intempéries da trajetória intelectual e literária feminina. Visamos dar continuidade às discussões empreendidas por este simpósio em anos anteriores. A ideia central é abrir espaço para o diálogo entre pesquisadores que investigam variadas autoras, cujas obras expressam traumas e/ou dificuldades de existir, enquanto escritoras e mulheres pensantes, em uma sociedade patriarcal e hostil. A repercussão da contribuição literária feminina ensejou reações de escritores – homens – que revelam os jogos de poder e suas implicações sobre a fortuna das carreiras de 62 mulheres no mundo das letras. Virgínia Woolf, em Um teto todo seu, anotou que a “indiferença do mundo, que Keats, Flaubert e outros homens geniais achavam tão difícil de suportar, não era, no caso d[a mulher], indiferença, mas hostilidade” (Woolf, 2014, p. 78). Interessa-nos o estudo dos mecanismos sociais de exclusão da literatura de autoria feminina do cânone literário e das histórias literárias brasileiras e estrangeiras, bem como as estratégias utilizadas pelas escritoras como enfrentamento dos espaços que lhe foram reservados – o doméstico e desvalorizado, para as mulheres; o público e prestigioso, para os homens. É possível identificar estratégias do feminino que se impõem como procedimentos evidentes para adentrar o meio – predominantemente masculino – das letras. Uma vez aferidos os valores estéticos das obras de autoria feminina – que em termos literários não ficam aquém das escritas por homens – buscamos compreender os mecanismos sociais de exclusão das escritoras. Após anos de estudos – relembramos o trabalho das pesquisadoras e pesquisadores do Grupo de Trabalho (GT) Mulher e Literatura, que, desde os anos 1980, vêm contribuindo com os estudos literários, abrindo espaço para análise e consideração de obras escritas por mulheres –, está comprovado que se trata de uma exclusão por viés de gênero. Ao analisar a masculinidade como nobreza, em A dominação masculina, Bourdieu esclarece que “a definição de excelência está, em todos os aspectos, carregada de implicações masculinas” (Bourdieu, [1998] 2002, p. 78). O homem como dominante reconhece o seu modo particular de ser como universal. Um modo que, segundo tal perspectiva, uma mulher jamais atingirá. Ou melhor, um modo de ser que uma mulher jamais terá a chance de atingir. Sem chances de atingir a “nobreza” masculina, as escritoras são vítimas da sofisticação dos mecanismos de exclusão realizada – consciente ou inconscientemente – pelos historiadores e críticos literários, que perpetuam as mesmas listas de eleitos para figurar a História da Literatura. Naturaliza-se essa exclusão no ensino e nas histórias de literatura que alunas e alunos aprendem nas universidades, antes de se tornarem correias de transmissão das mesmas exclusões, nas ementas que organizam para o alunado também das escolas de formação préuniversitária. Este consenso e naturalização devem ser permanentemente questionados, tendo em vista que a relação do campo literário com a literatura de autoria feminina é socialmente construída. Nesse sentido, a produção das escritoras só pode ser devidamente compreendida quando se explicitam as expectativas sociais, em particular as expectativas de escritores homens sobre a escrita literária. Como postulou o sociólogo francês Émile Durkheim (1895), essas expectativas coletivas são usualmente tão naturalizadas que, como uma segunda natureza, sequer são percebidas, exceto 63 quando desafiadas ou quando se lhes tenta alterar o curso. Trata-se de uma coerção doce, porque sua força, embora se exerça de modo permanente, não se percebe. E, sendo coletiva, não é produto de vontades individuais, embora se manifeste nas ações de cada um. A luta da volição individual contra a expectativa do coletivo é desigual. O coletivo dispõe de recursos de coerção de toda sorte, quando vê a norma desafiada. Hoje desafiamos o que nos foi paulatinamente naturalizado, tornando possível a alteração do curso. Embora nosso objeto de estudo seja literário – literatura de autoria feminina –, e não interdisciplinar ou cultural, acredito ser possível dialogar com os estudos culturais, sem abrir mão da teoria literária e do exercício crítico. Se a história da literatura reproduziu seleções arbitrárias, por sua índole essencialmente falonarcísica e patriarcal, ela também é um instrumento para reconstruir narrativas em novas perspectivas. Tal reconstrução é um trabalho literário e político. O que se espera é que os trabalhos apresentados no Simpósio abordem questões voltadas tanto para a estética das obras escritas por mulheres, quanto para questões sociológicas pertinentes ao âmbito da teoria feminista para pensar a exclusão das escritoras – segundo uma visão falonarcísica e um princípio androcêntrico, para usar os termos de Bourdieu – e as estratégias do feminino no intuito de romper com a expectativa de gênero. Em busca de consonância com as áreas de pesquisa das coordenadoras do simpósio, privilegiaremos trabalhos relacionados às literaturas brasileira, hispano-americana e de expressão francesa.
PALAVRAS-CHAVE: Escritoras; resistência; trauma; feminismo; cânone literário

FICÇÃO, HISTÓRIA E NOVOS CAPÍTULOS PARA DECOLONIZAR O SABER: RESSIGNIFICAÇÕES DO PASSADO A PARTIR DA LITERATURA
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: FICÇÃO, HISTÓRIA E NOVOS CAPÍTULOS PARA DECOLONIZAR O SABER: RESSIGNIFICAÇÕES DO PASSADO A PARTIR DA LITERATURA
COORDENADORES:
- Cristian Javier Lopez (Universidade Estadual do Maranhão) cj_lopez2@hotmail.com
- Phelipe de Lima Cerdeira (Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ) phelipecerdeira@gmail.com
- Gilmei Francisco Fleck (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) chicofleck@gmail.com
RESUMO: O presente simpósio tem por objetivo reunir pesquisas que se interessem pela discussão entre os diferentes caminhos tomados a partir das interseções dos discursos ficcional e histórico, tomando como disparador inicial a consolidação do romance histórico no início do século XIX por sir Walter Scott, segundo a crítica desenvolvida por Georg Lukács em seu ensaio seminal O romance histórico (1937). Não há dúvidas de que ficção e história apontam um marco comum, submetido aos anseios do homem para descrever os eventos da natureza ou, tal como postulado por Linda Hutcheon, estabelecer as chamadas “construções de realidade” (HUTCHEON, 1991, p. 89). Das relações simbióticas em tempos clássicos – que lhe apregoava ao poeta as atividades verbais baseadas na imitação, enquanto ao historiador a tarefa de “testemunho ocular” – a tempos de pós-modernidade em que ficção e história voltam a ser entendidos não como polos refratários, mas como discursos atravessados pela interpretação de quem narra determinada história (MENTON, 1993; WHITE, 1998), não é de se espantar que a ficção histórica venha (re)escrevendo os interesses da recepção e da crítica. A necessidade de apregoar uma possível diferenciação entre história e ficção (ou, especificamente, a literatura) acaba por estar atrelada a uma necessidade de se pensar o próprio passado. Tal ideal de passado, aliás, parece ser subsidiado por um interesse que é fruto das esferas social e cultural. Se, como sublinhado pela crítica espanhola Celia Fernández Prieto (1998), cada época acaba reescrevendo o passado a partir de uma eleição, uma escolha por narrativizar preferências e privilegiar certos interesses, coube – e segue cabendo – também ao literário promover eventuais fissuras diante de discursos hegemônicos, recalibrando olhares monológicos e abrindo, via ficção, espaço(s) para abordar as histórias não apenas dos vencedores, mas também as dos vencidos. Ademais, a proposição de friccionar os múltiplos espaços de enunciação latino-americanos, a partir dos horizontes de recepção e de crítica estabelecidos em universidades e grupos de pesquisa, amplia a busca pela fissura de determinado campo de poder (BOURDIEU, 1990, 2002), permitindo-nos ressignificar o passado e, ao mesmo tempo, decolonizar os sabores (SOUSA SANTOS, 2010). Ainda no que diz respeito ao espaço latino-americano, compreende-se que produções ficcionais atravessadas pelos discursos históricos acabam se transformando também em uma chave para a proposta de giro decolonial (QUIJANO, 2014), uma oportunidade de que, via literatura, sejam (des)estabilizadas as perspectivas dos ditos vencedores, (re)ssignificando os passados e criando novas poéticas para constructos como o “descobrimento” (FLECK, 2008). Tal processo reverbera conjuntos de epistemologias outras (MIGNOLO, 2003), capazes de escapar de hipertrofias e ideias de literaturas nacionais sistematizantes, que pouco parecem dialogar com as expectativas e exigências trabalhadas via Literatura Comparada, há muito, libertas do estigma do texto devedor (COUTINHO, 2004). Portanto, este simpósio, cujo eixo parte da premissa de estabelecer os diferentes encontros e desencontros levados a cabo pela ficção ao friccionar literatura e história, receberá propostas de trabalhos inseridos nas seguintes temáticas: a) reflexões diretamente atreladas às transformações ocorridas pelo romance histórico desde a sua consolidação no início do século XIX (LUKÁCS, 1966) até as suas novas possibilidades nas literaturas contemporâneas, com destaque para críticas voltadas aos caminhos outros escolhidos pela ficção histórica (WEINHARDT, 2006, 2010; ESTEVES, 2017; CERDEIRA, 2019) e a sistematização do romance histórico segundo suas possíveis etapas e modalidades (FLECK, 2017); b) leituras de poéticas que discutam os múltiplos encontros e desencontros dos discursos ficcional e histórico; c) estudos tradutórios de obras publicadas a partir do século XIX que tenham suas diegeses arquitetadas a partir da interseção entre os discursos histórico e ficcional; d) estudos e pesquisas que expandam as lacunas e silenciamentos sistematicamente perpetrados pelas historiografias literárias, valorizando produções de romance histórico não contemplados pelos cânones literários; e) estudos sobre produções de história e ficção voltados à literatura infanto-juvenil; f) estudos sobre produções de história e ficção que podem se inserir em produções lidas como dramas históricos; g) processos memorialísticos e de arquivamento em ficções que podem ser lidas como romances históricos; h) ficcionalizações e ressignificações de escritores e escritoras, discutindo o papel metaliterário para as produções de ficção histórica nas últimas décadas; i) interpretação e divulgação de autores contemporâneos que desenvolvam poéticas inseridas no contexto da ficção histórica: temas e metodologias de pesquisa comparatista; j) poética do descobrimento como fissura do campo de poder e (re)elaboração do passado histórico a partir da ficção; l) o papel do campo editorial e da crítica literária para a recepção de obras que tenham em sua gênese o desafio de ressignificar, via ficção, o passado histórico.
PALAVRAS-CHAVE: Ficção Histórica; Romance Histórico; Memória; História; Estudos decoloniais.

FRONTEIRAS LITERÁRIAS : DISTOPIA E VIOLÊNCIA
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: FRONTEIRAS LITERÁRIAS : DISTOPIA E VIOLÊNCIA
COORDENADORES:
- Denise Dias (IF Goiano/Amazonas) denise.dias@ifgoiano.edu.br
- Lícia Soares de Souza (Universidade Estadual da Bahia) liciasos@hotmail.com
RESUMO: O simpósio “ Fronteiras literárias: distopia e violência” busca congregar pesquisadores e trabalhos que analisem os caminhos trilhados na avaliação do literário e suas representações na interface do testemunho do caos social demonstrando as condições precárias de vida, como “zonas de inimizade” de um estado neoliberal que pouco se preocupa com o bem-estar de seus cidadãos. O ensaio Necropolítica, publicado no Brasil pela Editora N-1 Edições em 2018, aponta como o “estado de exceção e a relação de inimizade” tornaram-se a base normativa do direito de matar, e como o poder apela à exceção, à emergência e à uma noção ficcional do inimigo para justificar o extermínio de outrem. O pensamento de Mbembe se inspira na noção de ”biopoder” de Foucault e dos conceitos de Agamben de “estado de exceção e estado de sítio”. Mbembe vai, entretanto mais longe, ao explicar as várias maneiras pelas quais os estados desenvolvem interesses de destruição máxima e a criação de “mundos de morte”. Essas maneiras são formas novas e únicas da existência social, nas quais vários grupos sociais são submetidos a condições de vida precária que lhes confere o status de “mortos-vivos”. No âmbito da Estética da Exclusão, muitas listas desfilaram pela Internet com livros e filmes que espelharam pandemias e moléstias anteriores e que debateram igualmente a formação do gênero da distopia na contemporaneidade. Esses não estariam mais ligados apenas à ficção científica, mas refletiria a desorganização dos valores humanos e sociais, no âmbito dos estados neoliberais financeirizados. Entre as obras mais discutidas, encontram-se A peste (1947) de Albert Camus, Ensaio sobre a cegueira (1995) de José Saramago e Morte em Veneza (1912) de Thomas Mann. A peste é um livro emblemático, cuja simbologia remete à Europa sitiada pelos nazistas. A peste se torna metáfora para todas as formas de opressão e de resistência que, de tempos em tempos, surgem para a infelicidade e o ensinamento da humanidade. O período da quarentena é tratado com um debate existencial sobre a capacidade das pessoas passarem tanto tempo isoladas, separadas de seus entes queridos, em um mundo distópico em que as memórias individuais funcionam muito mais como vetores de desintegração de cada “ser” do que como catalisadoras de vidas harmônicas. No final, Camus lança sua grande provocação existencial: aquela pandemia termina, mas os ratos são levados para uma terra feliz, podendo retornar a qualquer momento. Na verdade, todas as precariedades da pequena Orã, cidade da Argélia natal de Camus, para fazer frente a um flagelo são reveladas, mas, uma vez a peste terminada, não são discutidas políticas públicas de melhoria da sociedade que fica vulnerável a um retorno dos ratos. Atentando para essas circunstâncias propicias para a investigação sistematizada de relações literárias, no entrecruzamento do horror das epidemias e do humano, busca-se proceder ao levantamento e à análise de obras produzidas no século XX e XXI, as quais ilustraram situações distópicas de enfrentamento de epidemias e enfermidades nefastas para a sociedade. Nesse sentido, no entre-lugar dos centros urbanos organizados e das periferias negligenciadas pelos poderes públicos (favelas, trapiches, lazaretos, asilos, cárceres, matas, metrôs, etc.) quer-se mapear, analisar e classificar, de acordo com as diferentes estratégias que determinam, de um lado, a crítica da razão da exclusão, em situação transtextual e transacional, e, de outro lado, as mobilidades nos espaços semiosféricos que permitem a ultrapassagem das zonas necropolíticas para as zonas do discurso oficial. A crise da Covid-19 propiciou o escancaramento do projeto neoliberal de aniquilamento das populações em situação de vulnerabilidade social, tais como: negros, indígenas, migrantes, trabalhadores informais, etc. Assim, vislumbra-se proceder a uma discussão em torno da dimensão limítrofe entre vida e morte, explicitando a necropolítica, o qual afere que o Estado tem o poder de decidir quem morre e quem vive, a depender de como as políticas públicas vigoram no meio social. O método utilizado para a investigação, toma por base os textos teóricos dos filósofos Michel Foucault, Giorgio Agamben e Achille Mbembe. Além de Ginzburg, Sontag, Candido, Arendt, Han, Perlman, Silverman O Simpósio reunirá pesquisas que tomam por objeto trabalhos que se debrucem sobre a estética da exclusão social, problematizando comportamentos sociais. No campo da literatura mais especificamente obras que reverberam sobre doenças e suas consequências coletivas, sugerindo reflexões sobre sistemas de metáfora da exclusão das doenças; de sinais que prenunciam pragas; de ascensão de discursos nacionalistas e xenofóbicos de formas de preconceito; de gestão governamental em situações de crise sanitária e toda forma que de estética da necropolítica. Esta é a Crítica da Razão de Exclusão que pretendemos sistematizar com a análise do presente simpósio.
PALAVRAS-CHAVE: Biopoder; Educação; Exclusão; Literatura Comparada; Necropolítica

INTERFACE ENTRE DIREITO, LITERATURA E ARTE
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: INTERFACE ENTRE DIREITO, LITERATURA E ARTE
COORDENADORES:
- Clarice Beatriz da Costa Söhngen (PUCRS) clarice.sohngen@pucrs.br
- ROSALIA MARIA CARVALHO MOURÃO (UNIFSA) RROSAPI@YAHOO.COM.BR
RESUMO: A maneira pela qual pensamos o Direito impacta em nossas considerações a respeito dos mais diferentes temas dentro desta ciência. Assim é que, apoiadas na concepção de “direito contado”, como pensada por François Ost o entendemos como linguagem e, nessa perspectiva, entendemos que o direito não se direciona apenas para o que já existe, para além disso, e como linguagem, tem também o poder de criar. Sendo linguagem, dialoga com outras linguagens e, neste cenário, pensamos as artes de maneira geral. Não se afasta muito dessa concepção a compreensão de Calvo Gonzalez para quem o direito pode ser pensado como narrativa, como relato. “Ocorre que, para Calvo González, as aplicações narrativas operadas pelos juristas não devem ser confundidas com sua teoria narrativista do Direito. Isso porque, para ele, a coerência narrativa deve ser entendida como mecanismo de construção dos sentidos que poderá atuar exclusivamente na condição de critério de verossimilhança”(Trindade, 2021). Nesse caminho, o GT – Interface entre Direito e Arte acolherá trabalhos que abordem os temas jurídicos de uma forma diferenciada, observando a questão da possibilidade de diálogos entre diversas áreas e em que isso pode contribuir para o conhecimento do fenômeno jurídico. Segundo Schwartz “Existem relações óbvias entre Literatura e Direito. A primeira sempre retratou os conflitos advindos das relações processuais e das violações a direitos, com suas consequentes cargas de justiça/injustiça”. Na contramão deste exercício, sabemos que existem muitos manuais que tentam facilitar os temas jurídicos, porém não aprofundam e não desenvolvem a capacidade de raciocínio e o senso crítico. As artes instigam e desenvolvem a capacidade crítica dos pesquisadores, despertam a sensibilidade do apreciador, permitem vivenciar situações nas obras literárias e narrativas fílmicas e desenvolver a empatia com o próximo, possibilitam visões de mundo diferentes das que já são conhecidas, oportunizam a adição de elementos outros às argumentações jurídicas, possibilitam ao estudioso observar os mais variados métodos de interpretação mediante a prática do exercício hermenêutico jus-literário. Literatura e Direito são textos narrativos, que comunicam e interpretam o fenômeno literário e jurídico, em relações que se cruzam e possibilitam análises interdisciplinares que se complementam.A interdisciplinaridade orienta os trabalhos em discussões mais aprofundadas para a compreensão do Direito, não apenas como norma jurídica, mas como algo dinâmico como a vida, com discussões sempre atuais a partir da Literatura clássica e da contemporânea, oferecendo outras possibilidades de leitura e análises compatíveis com a realidade que se apresenta. Nesse panorama, no GT serão aceitas propostas de trabalhos que abordem a interface entre as Artes e o Direito em que através da análise dos textos literários (direito na literatura, direito como literatura, direito da literatura), filmes, artes plásticas, música abram-se caminhos para discutir temas do âmbito jurídico, tais como pena de morte, aborto, infanticídio, violação dos direitos fundamentais dos cidadãos, leis justas e injustas, o impacto que as leis têm na vida dos cidadãos, a diferença de justiça e vingança, crimes passionais, dentre outros; o cinema e as diversas possibilidades de análise de filmes que abordam julgamentos, pena de morte, o instituto do júri, os jurados, o papel do juiz, promotor e advogados para o bom andamento do processo, o perfil dos operadores do Direito e outros; a música e sua relação com o universo jurídico, tais como: a violência doméstica, as relações jurídicas vivenciadas pelos cidadãos no cotidiano. Busca-se, a partir do grupo de trabalho, proporcionar um espaço acolhedor para a reflexão a respeito da relação do Direito com formas de expressão artísticas, como é o caso do Cinema, da Literatura, da música, das artes plásticas e em diálogo, também, com a Filosofia, História, Antropologia, Criminologia e áreas afins, que possuam contribuir para compreensão do Direito de uma forma dinâmica, que não fica restrita aos manuais de Direito, mas que possibilitem outras análises de aspectos jurídicos a partir das várias formas de arte. REFERÊNCIAS OST, François. Contar a lei: as fontes do imaginário jurídico. Editora Unisinos, 2007. SCHWARTZ, Germano. Direito e Literatura: proposições iniciais para uma observação de segundo grau do sistema jurídico. Revista da Ajuris, Porto Alegre, 2004. TRINDADE, A. K. Cultura literária do direito no Brasil: tributo a Calvo González. ANAMORPHOSIS - Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 85–114, 2021. DOI: 10.21119/anamps.71.85-114. Disponível em: https://periodicos.rdl.org.br/anamps/article/view/914. Acesso em: 2 dez. 2022.
PALAVRAS-CHAVE: Direito e Literatura. Intertextualidade. Artes. Cinema.

LITERATURA E DISSONÂNCIA
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: LITERATURA E DISSONÂNCIA
COORDENADORES:
- André Dias (Universidade Federal Fluminense - UFF) andredias@id.uff.br
- Rauer Ribeiro Rodrigues (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS) rauer.rodrigues@ufms.br
- Felipe Gonçalves Figueira (Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES) fgfigueira@gmail.com
RESUMO: A proposta do simpósio é examinar a manifestação da dissonância em diferentes obras literárias das mais variadas nacionalidades, com vistas a compreender o modo pelo qual alguns autores se constituíram, através dos discursos literários, como vozes questionadoras de seus tempos, sociedades e condições existenciais. A ideia central é abrir espaço para o diálogo entre pesquisadores que investigam variados autores, cujas obras expressam inquietações e questionamentos, tanto na esfera sociopolítica quanto na ideológica, na estética ou na existencial. O que se espera é que os trabalhos apresentados no âmbito do Simpósio Literatura e Dissonância discutam, entre outras questões, o problema teórico do intelectual frente às variadas ideologias, quer sejam elas hegemônicas ou não, e o problema histórico dos escritores diante do status quo, manifestado na esfera da política, dos costumes, da economia, da cultura, da tecnologia etc. Mikhail Bakhtin, falando sobre o grande tempo histórico e o trabalho dos escritores, chama atenção para o seguinte fato: “o próprio autor e os seus contemporâneos veem, conscientizam e avaliam antes de tudo aquilo que está mais próximo do seu dia de hoje. O autor é um prisioneiro de sua época, de sua atualidade. Os tempos posteriores o libertam dessa prisão, e os estudos literários têm a incumbência de ajudá-lo nessa libertação.” (BAKHTIN, 2003, p. 364). Sendo assim, ao abordarmos a temática Literatura e Dissonância, temos clareza de que todo autor, para o bem e para o mal, é antes de tudo um homem de seu tempo. Desse modo, aos que se ocupam da investigação literária cabe a tarefa de, dialogicamente, atualizarem os diversos discursos literários produzidos nos mais variados tempos e espaços históricos. Agindo assim, os estudiosos da literatura contribuirão para manter a vivacidade de distintos autores e obras. Sobre a criação romanesca, o pensador russo adverte que “o autor-artista pré-encontra a personagem já dada independentemente do seu ato puramente artístico, não pode gerar de si mesmo a personagem – esta não seria convincente” (BAKHTIN, 2003, 183-184). Em outras palavras, nenhuma personagem é fruto do gênio criador de um autor adâmico, pois a matéria de memória da literatura está no mundo social, local de onde os escritores extraem os motivos para criar. Dessa forma, as premissas bakhtinianas apresentadas aqui fundamentam o desenvolvimento das nossas reflexões e ajudam a ampliar os sentidos das análises. O fórum, observada a perspectiva da dissonância no campo dos estudos literários e do comparativismo, acata propostas que vão desde o enfoque do ensino da literatura, passando pela questão do trabalho crítico, até chegar à discussão teórica das experiências literárias e dos diálogos transdisciplinares. Seja no espaço das territorialidades, cujos limites se esvaem diante da instantaneidade das comunicações globais, seja no âmbito do regional esvaziado no mesmo diapasão, procura-se o dissonante na antiga ordem hierarquizada, no finado mundo bipolar ou no universo multilateral que se instaura. Há que se considerar, ainda, estudos comparativos entre autores que, mesmo distantes no tempo e no espaço, fixam a seu modo o questionamento de valores hegemônicos e não hegemônicos. Tais autores, independente se no âmbito da prosa ou da poesia, acabam por constituir uma aproximação literária mediada pelo estado de permanente inquietação. Entretanto, dialeticamente, a literatura, ao mesmo tempo que compartilha inquietações, estilhaça certezas e provoca os leitores. Nas palavras de Antoine Compagnon: “A literatura desconcerta, incomoda, desorienta, desnorteia, mais que os discursos filosófico, sociológico ou psicológico porque ela faz apelo às emoções e à empatia. Assim, ela percorre regiões da experiência que os outros discursos negligenciam, mas que a ficção reconhece em seus detalhes” (COMPAGNON, 2009, p.50). Nesse sentido, o discurso literário potencializa as noções de resistência, de estética e de política, na medida em que tais conceitos, mediados pelo trabalho literário, terão suas perspectivas matizada por diversas concepções de mundo, abrindo possibilidades dialógicas infinitas a todos que se ocupam da experiência literária. Do ponto de vista da historiografia literária, qualquer que seja o modo analítico proposto, os problemas se sucedem, pois os últimos anos têm sido de deslocamentos incessantes dos postulados teóricos. Tais deslocamentos transformaram em cada vez mais inglórios os embates com o mundo concreto, considerando a acelerada mutabilidade das circunstâncias sociais, políticas, históricas e das representações simbólicas, no âmbito das artes em geral e da literatura em particular. Assim sendo, no estudo da circulação e dos sentidos construídos a partir da literatura cabe, inclusive, questionar as significações do conceito de literariedade. Tal questionamento pode incorporar novas e dissonantes acepções ao termo, tanto na perspectiva dos cânones consagrados, quanto dos cânones emergentes. Levantar questionamentos, de preferência contundentes, e produzir conclusões, ainda que provisórias, é o que se espera com o presente Simpósio de Temático, cuja sequência de participações na Abralic, sempre com intensa adesão dos colegas, indica a pertinência do debate proposto.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Prosa; Poesia; Análise de discursos.

LITERATURA E TESTEMUNHO: TEORIAS, LIMITES, EXEMPLOS
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: LITERATURA E TESTEMUNHO: TEORIAS, LIMITES, EXEMPLOS
COORDENADORES:
- Marcelo Ferraz de Paula (UFG/CNPq) marcelo2867@gmail.com
- Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq) mrclpvdsz@hotmail.com
- Wilberth Claython Ferreira Salgueiro (UFES/CNPq) wilberthcfs@gmail.com
RESUMO: Contemporaneamente, a noção de testemunho vincula-se à chamada “literatura do Holocausto”, como a narrativa de Primo Levi e a poesia de Paul Celan, por exemplo, mas também à literatura eslava – polonesa e russa, em especial – sobre o Gulag, como as obras de Gustaw Herling-Grudziski e Varlam Chalámov, entre outros. Na América Latina, destaca-se um amplo e variado conjunto de textos voltados à memória e à denúncia de fatos reveladores do viés autoritário, discriminatório e excludente de nossas sociedades, abrangendo desde Graciliano Ramos e Rigoberta Menchú a Ferréz, desde Miguel Barnet aos Racionais MC’s. A proposta do simpósio é estudar as relações entre literatura e testemunho, a partir de alguns traços e textos que caracterizam este “gênero”, como, por exemplo: registro em primeira pessoa; compromisso com a verdade e a lembrança; desejo de justiça; vontade de resistência; valor ético sobre o valor estético; representação de um evento coletivo; forte presença do trauma; vínculo estreito com a história; etc. A ideia é, portanto, “manter um conceito aberto da noção de testemunha: não só aquele que viveu um ‘martírio’ pode testemunhar” (SELIGMANN-SILVA, 2003, p. 68), entendendo, assim, que “testemunha também seria aquele que não vai embora, que consegue ouvir a narração insuportável do outro e que aceita que suas palavras levem adiante, como num revezamento, a história do outro” (GAGNEBIN, 2006, p. 57). Pensar o que há de testemunho na literatura significa, a um só tempo, pensar as intrincadíssimas teias entre verdade e ficção, entre ética e estética, entre história e forma. Percebe-se que a existência da “literatura de testemunho”, na sua salutar diversidade conceitual, promove um inevitável abalo na noção de cânone e de valor literário, além de alterar o quadro dos agentes ou produtores de literatura: textos e registros de presos, torturados, crianças de rua, favelados, empregados domésticos, prostitutas, sem-teto, povos tradicionais, enfim, todo um grupo “subalternizado” depõe e se expõe não só em nome próprio, mas também em nome de uma coletividade. Nesse sentido, é preciso destacar que “o problema do valor do texto, da relevância da escrita, não se insere em um campo de autonomia da arte, mas é lançado no âmbito abrangente da discussão de direitos civis, em que a escrita é vista como enunciação posicionada em um campo social marcado por conflitos, em que a imagem da alteridade pode ser constantemente colocada em questão” (GINZBURG, 2012, p. 52). O Simpósio pretende reunir, em suma, pesquisadores interessados na problemática do testemunho e suas relações com o literário, apresentando [a] estudos teóricos que discutam os limites e as confluências entre estes discursos (o literário, tradicionalmente ligado à estética; e o testemunho, produzido a partir de um propósito primordialmente ético) e mormente [b] estudos que analisem obras específicas que exemplifiquem ou provoquem tais relações – quer obras já consagradas nesta perspectiva do testemunho, quer obras menos conhecidas ou mesmo não analisadas à luz do paradigma testemunhal. No XII Congresso Internacional da Abralic, ocorrido em 2011, em Curitiba, este Simpósio teve a sua primeira edição. Desde então mantém sua regularidade nos congressos da Abralic: teve a sua segunda edição em 2013, em Campina Grande; a terceira em 2015, em Belém; a quarta em 2017, no Rio de Janeiro; a quinta em Uberlândia, em 2018; a sexta em Brasília, em 2019; a sétima, oitava e nona edições em versão online nos anos 2020, 2021 e 2022. Nestes encontros, além de questões eminentemente teóricas, o debate envolveu nomes como Alan Pauls, Aleksander Henryk Laks & Tova Sender, Alex Polari, Ana Maria Gonçalves, Art Spiegelman, Bernardo Élis, Bernardo Kucinski, Boris Schnaiderman, Cacaso, Caio Fernando Abreu, Carlo Levi, Carlos Drummond de Andrade, Carolina Maria de Jesus, Clarice Lispector, Conceição Evaristo, Chico Buarque, Czeslaw Milosz, Davi Kopenawa & Bruce Albert, Eduardo Galeano, Eliane Potiguara, Elie Wiesel, Elisa Lucinda, Ferréz, Franz Kafka, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, João Antônio, Kaka Werá Jecupé, Lara de Lemos, Lídia Tchukóvskaia, Lima Barreto, Luis Fernando Verissimo, Luiz Alberto Mendes, Manuel Alegre, Mario Benedetti, Miron Biaoszewski, Noemi Jaffe, Paulo Ferraz, Paulo Leminski, Paulo Lins, Pedro Tierra, Pierre Seel, Primo Levi, Racionais MC’s, Reinaldo Arenas, Renato Tapajós, Ricardo Aleixo, Ricardo Piglia, Roberto Bolaño, Ruth Klüger, Sérgio Sampaio, Sérgio Vaz, Stefan Otwinowski, Svetlana Aleksiévitch, Tadeus Róewicz, Ungulani Ba Ka, Wadysaw Szlengel e W. G. Sebald. Nesta 10ª. edição do Simpósio, a ideia é estender o debate, seja em relação a estes nomes, como, naturalmente, incorporar outros/as autores/as e textos em que o problema da literatura e do testemunho se deixe questionar.
PALAVRAS-CHAVE: Testemunho; Memória; Literatura; Trauma; Violência; Ética.

LITERATURA, PERIFERIA E EXPRESSÕES DA CULTURA NEGRA NO BRASIL
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: LITERATURA, PERIFERIA E EXPRESSÕES DA CULTURA NEGRA NO BRASIL
COORDENADORES:
- Jorge Augusto de Jesus SIlva (UESB/IF Baiano) jorge.jesus@uesb.edu.br
- Silvana Carvalho da Fonseca (UFRB) silvanacarvalho@ufrb.edu.br
- Fernanda Felisberto da Silva (UFRRJ) fefelisb@ufrrj.br
RESUMO: A periferia é lida na literatura tradicional, sobretudo da geografia, campo de origem de sua formulação, como o que Milton Santos chamou de “um espaço sem cidadão”, ou seja, uma zona marcada pela precariedade das condições materiais de seus habitantes, pela falta de circulação de bens e serviços básicos para a vida em sociedade, e pela ausência do Estado e suas ações de segurança pública e seguridade social. Historicamente nela se abrigaram a imensa massa de não-cidadãos, produzida pelos mecanismos de segregação racial e de classe que constituíram a formação da nação brasileira, e continuam gerindo seus processos de ordenação e rearticulação. São inúmeros os estudos que mostram como os espaços citadinos de ocupação negra e populares, como os cortiços, foram desarticulados pelo Estado e sua população expulsa para a circunferência das cidades, produzindo espaços que eram ainda urbanos, mas não centrais. Essa fronteira interna, que constitui toda metrópole brasileira, sabemos, não delimita apenas zonas de moradia, espaços segregados de habitação. Elas circunscrevem o espaço social no qual negros e pobres poderiam circular; delimitavam o espaço onde termina o nós e começava o outro; e assim, institui os lugares de execução possíveis para o biopoder, ou seja, quando se pode regular a distribuição da morte com base no racismo, tornando “possíveis as funções assassinas do Estado” (MBEMBE, 2018). A sociedade brasileira é constituída, desde sua fundação por esses limites espaciais que duplicam e ratificam limites simbólicos entre os plenamente humanos e os outros. Essa separação é marcada por intensos processos de violência direcionados aos grupos precarizados no enredo nacional, pela elite colonial/burguesa. Nesse projeto de construção da nação, o genocídio negro (e também indígena) constitui-se enquanto duplo semiótico direto, entre centro e periferia. A segregação espacial se materializa no corpo negro e sua exclusão social e simbólica na produção da nação. Assim, epistemicídio, ecocídio e feminicídio, por exemplo, são dispositivos que criam condições de possibilidade para a normalização da morte negra na sociedade brasileira, operando nas engrenagens cotidianas do genocídio da juventude negra e / ou relegando toda uma população negra à condição de sub-humanidade, que Orlando Peterson denominou de morte social; está é, por sua vez, a condição de existência legada aos sujeitos que habitam o espaço periférico. Em “O ciclo da morte e o materialismo estético” Osmundo Pinho descreve o que seria a “subjetividade carcerária” como “confinamento e resistência selvagem ao Estado, em meio a ambígua e contraditória conexão vinculante, que usa a violência pura – tortura, intimidação e morte – como linguagem [...]” (PINHO, 2017. p. 178), nesse sentido a “violência pura” pode ser pensada como modo de regulação do confinamento espacial. O autor segue mostrando como a partir do pagode baiano, uma juventude legada à mais cruel abjeção pela estrutura de morte que herdam como negros, na sociedade brasileira, consegue “elaborar novas estruturas de sentimentos” (PINHO, 2017 p. 179). Compreender como podemos elaborar essa submissão contínua ao ciclo da morte, revertendo-a em potência crítica e criativa, produzindo saídas e reviravoltas que nos permitam, a longo prazo, explodi-la, a partir das expressões estéticas da literatura negro brasileira, é a intenção dessa proposta. Nesse sentido, acreditamos na urgência de pensarmos como o campo literário tem elaborado formas de revide a essa “subjetividade carcerária”. Como autoras e autores, artistas e intelectuais têm afirmado a vida negra e periférica, indígena e feminista, no seio mesmo desse ciclo da morte, fissurando e rasurando sua estrutura colonial de subordinação da existência minoritária. Porém, não se trata apenas de identificar produções éticas e estéticas que revidam ao confinamento espacial e simbólico, mas também de compreender como, em quais circunstâncias e com que mecanismos o campo literário brasileiro produz seu duplo do confinamento espacial da população negra e pobre do Brasil. Portanto, esse simpósio temático se interessa por trabalhos que abordem uma dessas duas dimensões: a) invistam no debate teórico, crítico e analítico de obras das literaturas e culturas negras, feministas, queerlombistas, periféricas, indígenas, buscando evidenciar seus processos de rasura canônica, de produção estética e subjetiva para e dos tais diversos grupos sociais periferizados econômica e culturalmente; b) investiguem como o campo literário brasileiro tem produzido historicamente compartimentos críticos, epistêmicos e políticos nos quais esses textos são mantidos à distância, promovendo uma espécie de efeito de inclusão que não tem servido para abalar as estruturas avaliativas e qualitativas do cânone brasileiro. Referências: PATTERSON, Orlando. Escravidão e morte social: um estudo comparativo. São Paulo: Edusp, 2008. PINHO, Osmundo. O ciclo da morte e o materialismo estético. In: FLAUZINA, Ana; VARGAS, João. Motim – horizontes do genocídio antinegro na diáspora. Brasília: Brado Negro, 2017. MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: N-1, 2018. SANTOS, Milton. Espaço do Cidadão. São Paulo: USP, 2002.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura brasileira; Literatura Negra; Literatura Periférica; Resistência.

LITERATURAS E DISSIDÊNCIAS: ESCRITAS DE RESISTÊNCIA, INSISTÊNCIA E SOBREVIVÊNCIA
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: LITERATURAS E DISSIDÊNCIAS: ESCRITAS DE RESISTÊNCIA, INSISTÊNCIA E SOBREVIVÊNCIA
COORDENADORES:
- KARINA LIMA SALES (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB) ksales@uneb.br
- LILIAN LIMA GONÇALVES DOS PRAZERES (Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB) lilian.lima@ufsb.edu.br
- CIBELE VERRANGIA CORREA DA SILVA (UFES - NETIR / FAPES) cverrangia@yahoo.com.br
RESUMO: O simpósio pretende recepcionar olhares sobre experiências de escritas literárias que se configurem como dissidências e assumam-se como atos de resistência, insistência e sobrevivência. Endossa-se o caráter político da escrita sob a proposição de Jacques Rancière. Embora toda escrita possa ser analisada sob o prisma político, para este simpósio delimitam-se análises que enfoquem literaturas dissidentes como atos de resistência, “formas de dissenso, operações de reconfiguração da experiência comum do sensível” (RANCIÈRE, 2012, p. 63). Assim, admitem-se proposições de estudos sob a égide da necropolítica em literaturas negras e/ou marginais-periféricas e em literaturas indígenas que partem da afirmação e auto expressão desde “sua singularidade antropológica, afirmando e atualizando sua memória ancestral-comunitária e, a partir dela, realizando uma práxis público-política de crítica do presente, de resistência cultural e de luta política” (DANNER, DORRICO, DANNER, 2018, p. 143), constituindo-se em denúncias de mundos impostos e reconfigurando o sensível desde uma perspectiva de vivências ressignificadas, contrapondo-se às normatizações de uma literatura branca, classe média e masculina. No viés dos estudos comparados, tais tessituras literárias convergem para o que Raymond Williams identificou como “Estruturas de Sentimentos”, ao dar ênfase às teias de experiências, sensibilidades e subjetividades que atravessam as literaturas e suas autorias em determinados períodos. Sobre as literaturas escritas por mulheres, Ana Pizarro destacou a existência dessa rede (virtual), a “Invisible College”, através da qual percebe-se que há uma convergência de estéticas, temas, lutas e resistências. Desse modo, é possível relacionar as literaturas de diversos sujeitos / sujeitas / sujeites e espaços/tempos que cumprem afrontar os status, as hegemonias e que encontram entre si laços de sororidade e resistências, no Brasil, nas Américas e em outros continentes. Também se inserem na proposição do simpósio análises de literaturas produzidas em contextos de exceção na América do Sul, a exemplo de publicações efetivadas durante a ditadura militar brasileira, a ditadura cívico-militar argentina ou que as tematizem; literaturas indígenas que desconstroem estereótipos e recriam mundos a partir da diversidade cultural dos povos; as literaturas negras que dialogam em ancestralidade e materializam escrevivências; e estudos que enfoquem a análise de corpos / corpas / corpes dissidentes, configurando corporeidades como atos de resistência, questionamento a padrões impostos e problematização do gênero como imposição, em perspectiva interseccional, na insistência por existirem como prática de sobrevivência. Nesse contexto, considerando a interseccionalidade das diferenças, abrem-se espaços intermediários de ações e discussões e, também, de produção de sujeitos, nos entrelugares da força, empregando um engajamento múltiplo, porém, com o foco nas relações de dominação e subordinação. No bojo dessas fissuras e deslocamentos, as teorias pós-coloniais exercem uma profunda influência na reconfiguração dos saberes e das epistemologias padrão. Neste âmbito, também, as teorias feministas pós-coloniais ao evidenciar sujeitas subalternizadas, racializadas - as mulheres não-brancas - propõem outras referências epistemológicas, desconstruindo o modelo normativo, buscando uma abertura para outras formas de conhecimento e humanidade. Para bell hooks (2015), mulheres negras, sem qualquer “outro” institucionalizado que possa discriminar, explorar ou oprimir, trazem consigo o mais real desafio à estrutura social sexista, classista e racista vigente e à sua ideologia: a consciência de sua marginalidade é sua força contra hegemônica. Nesse sentido, o feminismo negro, bem como o diaspórico, tem um papel central no enriquecimento de uma teoria feminista que se apresente como uma práxis feminista coletiva e libertadora. Nesta seara, será muitas vezes pela escrita literária que os discursos produzidos por mulheres promoverão subjetividades outras e farão a resistência, bem como a denúncia dos processos de opressão e violência, de modo a criar novas perspectivas estéticas e garantir a emergência de outras epistemologias. Teremos aqui uma produção literária marcada pelo tom transgressivo, reconfigurando espaços da memória, denunciando as heranças da violência da colonização e da escravidão. Afinal, conforme destacou a escritora Luisa Valenzuela (2011, p. 105), a literatura em seu vínculo com a realidade e com os engajamentos éticos, portanto políticos, “está convertida numa superfície refletora que nos leva à reflexão”. Por isso essas literaturas tratam de uma dimensão do eu-nós lírico-político, de uma escrevivência, do eu engajada e comprometida com a coletividade que se inscreve no ato ficcional. REFERÊNCIAS DANNER, Leno Francisco; DORRICO, Julie; DANNER, Fernando. A estilística da literatura indígena brasileira: a alteridade como crítica do presente - sobre a noção de eu-nós lírico-político. Revista Letras, Curitiba, UFPR, n. 97, p. 143-166, jan-jun. 2018. HOOKS, bell. Mulheres negras: moldando a teoria feminista. Rev. Bras. Ciênc. Polít., Brasília, n. 16, p. 193-210, Apr. 2015. PIZARRO, ANA. “El «Invisible College». Mujeres escritoras en la primera mitad del siglo XX. In: ____. El Sur y los Trópicos: Ensayos de cultura latinoamericana. Cuadernos de América sin nombre. Alicante: Universidad del Alicante, 2004. RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. Trad. Ivone C. Benedetti. São Paulo: Editora WMF Fontes, 2012, p. 63. VALENZUELA, Luisa. Peligrosas palavras. Buenos Aires: Temas Grupo Editorial, 2001. WILLIAMS, Raymond (1971). Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
PALAVRAS-CHAVE: Resistências; Sensível; Dissidências; Literaturas; Sobrevivências

MEMÓRIA, TESTEMUNHO E NAÇÃO
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: MEMÓRIA, TESTEMUNHO E NAÇÃO
COORDENADORES:
- Ana Karla Carvalho Canarinos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) anakarla.canarinos@gmail.com
- Fábio Ávila Arcanjo (Universidade Estadual de Campinas) fabioarcanjo1981@hotmail.com
RESUMO: O século XX se notabiliza pela inscrição da barbárie como modus operandi de estados, cujos valores adotados foram marcados pelo autoritarismo e pelo totalitarismo, tendo como consequência o esfacelamento das liberdades individuais. Diante disso, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial, surge com bastante potência a literatura de teor testemunhal, desenvolvida por todos aqueles que tiveram sua existência ameaçada por um estado de coisas opressor. Esse gesto de escrita de si, somado à chamada virada mnemônica – Seligmann-Silva (2022) –, que, evocando Kilomba (2019), consiste em uma virada epistêmica pós-colonial associada ao gesto testemunhal a partir da escritura do corpo, são os eixos norteadores do presente simpósio, que voltará o olhar para obras literárias pautadas pela resistência e pela inscrição de sujeitos silenciados em função de posicionamentos políticos, orientação sexual e enquadramento étnico. Tendo em vista que os conceitos de memória e esquecimento estão na base de construção das nações e das culturas, a memória coletiva – enquanto elemento constitutivo da tradição – inventa e mantém os grandes impérios e nações europeias a partir do silêncio e do esquecimento de diversas vozes periféricas. Por um lado, o fortalecimento da tradição deu origem à geografia moderna dos países e nações como a conhecemos atualmente, por outro lado, a memória coletiva enquanto uma narrativa monumental pautada pelos valores elitistas da história dos vencedores e pelo progresso da civilização, também abriu espaço para o esquecimento de diversos povos, culturas e minorias, cujo silenciamento foi mantido por séculos. Segundo Seligmann-Silva (2022), as políticas identitárias são construídas dentro do paradoxo entre lembrar e esquecer, pois como o nacionalismo antecede a invenção da nação (ANDERSON, 2008), as políticas do esquecimento das origens indígenas, judaicas e africanas construíram poderosas narrativas colonialistas, cujo nacionalismo exacerbado preconiza o apagamento de outras vozes e testemunhos. Segundo Seligmann-Silva, “o discurso monolíngue do nacionalismo fundamentalista, que se desenvolveu ao longo do século XIX, produziu e reproduz até hoje máquinas genocidas e memoricidas” (SELIGMANN-SILVA, 2022, p. 17). Isto é, o dispositivo da nação foi o responsável pelo genocídio e pelas ações de “limpeza étnica e purificação” que marcaram a Alemanha do Holocausto, assim como o Brasil da escravidão e da Ditadura Militar. No século XX, os aportes teóricos sobre “memória coletiva”, de Maurice Halbwachs e de “locais de memória”, de Pierre Nora, recolocaram os estudos sobre testemunho e escritas de si tendo em vista o debate em torno de conceitos como etnia, raça, nação e periferia. Outros teóricos como Frantz Fanon, Abdias Nascimento, Edward Said, Homi Bhabha, Achille Mbembe, Walter Mignolo, Bell Hooks e Aníbal Quijano deslocaram a estética da modernidade europeia – pautada num determinado conceito de nação e em políticas do esquecimento que preconiza o silenciamento de diversas vozes – para apostar numa virada pós-colonial, cujo pressuposto é recontar a História e reconstruir a memória a partir de outros relatos, testemunhos e narrativas. No contexto brasileiro, obras como Quarup (1967) e Bar don Juan (1972), de Antonio Callado; Em Liberdade (1981), de Silviano Santiago; Rainha dos Cárceres da Grécia (1976), de Osman Lins; Onde andará Dulce Veiga? (1980), de Caio Fernando Abreu; Os bêbados e os sonâmbulos (1996), de Bernardo Carvalho; Dois irmãos (2000), de Milton Hatoum; K (2011) e A nova ordem (2019), ambos de Bernardo Kucinski, são alguns poucos exemplos de testemunhos a respeito do horror e da censura. É possível pensar também no próprio regionalismo como uma tentativa de representar o jagunço e o analfabeto, como uma forma literária que aponta para os seguintes problemas: Como dar voz ao iletrado? Como representar os dramas e os temores daqueles que não tem voz? Como sair da condição de objeto para sujeito, escapando de dois diagnósticos combatidos severamente em Kilomba (2019), quais sejam a “identificação incondicional”, marcada pela assimilação e pelo esfacelamento de si, e a “incapacidade de mobilização”, caracterizada pela terceirização, como se os grupos subalternos não tivessem condições de abrir a contrapelo seu próprio espaço de inscrição? Ainda que o romance de Ditadura e o romance regionalista apontem para períodos históricos distintos, o problema de como representar, como testemunhar e como dar voz ao marginalizado perpassa os dois momentos. E esse processo, de acordo com Achugar (2006), é pautado pela heterogeneidade, pela diversidade e pela multiplicidade, com algumas das obras citadas comprovando esse caráter diverso. Essa heterogeneidade, portanto, atuando em projetos de escritura que visariam escapar de um discurso global, homogeneizante, que, muitas vezes, legitima projetos nacionais autoritários. O desafio dessas escritas é, destarte, “construir um projeto nacional alternativo que atenda à diversidade sem propor a homogeneização autoritária” (ACHUGAR, 2006, p. 160).
PALAVRAS-CHAVE: Memória; testemunho; nação

OUTRAS FRONTEIRAS DO COMUM: LITERATURAS, POLÍTICAS E RESISTÊNCIAS ANTICOLONIAIS E ANTICAPITALISTAS
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: OUTRAS FRONTEIRAS DO COMUM: LITERATURAS, POLÍTICAS E RESISTÊNCIAS ANTICOLONIAIS E ANTICAPITALISTAS
COORDENADORES:
- Noemi Alfieri (Africa Multiple Cluster - University of Bayreuth) n.alfieri@yahoo.it
- Marta Banasiak (IEL-Unicamp/FAPESP) mban@unicamp.br
- Stênio Soares (Africa Multiple Cluster - University of Bayreuth) stenio.soares@ufba.br
RESUMO: Coordenadores: Profa. Dra. Noemi Alfieri. Profa. Dra. Marta Banasiak. Prof. Dr. Stênio Soares. Coordenador convidado: Prof. Dr. Mário Medeiros. Diversos regimes políticos têm sido historicamente contestados e desconstruídos através das expressões artísticas. Tanto os movimentos de contracultura como as literaturas militantes, resistentes e de protesto têm disputado, com as culturas hegemônicas, epistemologias e formas de viver e pensar socialmente. As lógicas do capitalismo contemporâneo tendem a operar os processos de silenciamento e marginalização de determinadas vozes, costumeiramente racializadas e localizadas. Como a literatura pode proporcionar imaginários para além das lógicas capitalistas? Ou ainda: como a literatura pode se posicionar na potencialização das “encruzilhadas” (Martins, 2022), que questionam a própria estrutura colonial de divisão das linguagens artísticas? Usualmente, como herança de uma tradição colonial fortalecida pela sistematização universitária, a criação artística disciplinada e segmentada depara-se com fronteiras e limites intitulados: literatura, artes visuais, cinema, teatro, dança, performance, etc. Por outro lado, próprio do antagonismo classista, as criações também são hierarquizadas em eruditas, populares, urbanas ou, ainda, em artes profissionais e amadoras. Tais formas de organização da produção artística e dos saberes reproduzem formas de conceber o mundo herdadas das relações de subalternidade coloniais que ecoam no sistema capitalista, caracterizado pelo desenvolvimento combinado e desigual (WReC, 2015). A construção de narrativas, sejam elas literárias, históricas, sociológicas, é ela própria um ato performático, em que formas de entender, conceber, imaginar o mundo ampliam vivências e potencializam representações possíveis da comunidade presente, mas também abrem para os campos das comunidades futuras. Assim, pesquisas naqueles campos de investigação têm potencial de explicitar as contradições do capitalismo e suas desigualdades variadas. E de apresentar as soluções e enfrentamentos protagonizados pelos velhos e novos “condenados da terra” (Fanon, 1961). Se nem sempre exitosos, não se podem desprezar as “pequenas vitórias”; se desaparecidos pelas violências sofridas, devem as pesquisas e as produções artísticas servir como arquivos, para informar os novos movimentos sociais e os descentes de projetos políticos e estéticos. As variações do anticolonialismo, anticapitalismo, do antirracismo e antisexismo se atualizaram nas agendas políticas e estéticas dos movimentos negros, de trabalhadores, lgbts, de mulheres de que formas no mundo contemporâneo? Interessamo-nos, assim, por circulações artísticas e literárias de gerações anteriores, e pela forma em que as redes geradas por escritores e artistas - políticas, de amizade e solidariedade - compartilharam, frequentemente, práticas estéticas, apesar de divergências internas. Longe disso ser sinónimo de homogeneidade, as redes internacionais, sempre provisórias e em devir, aturaram na interseção das lutas. Apesar de serem profundamente influenciadas pela repressão política, por situações neocoloniais ou coloniais que impactaram a circulação de textos, pessoas e ideias, essas redes revolucionaram a compreensão da literatura, da política, mas também das representações de África e das suas diásporas. Este simpósio pretende ser um espaço de discussão e partilha de construções de linguagem, narrativas ou não, bem como uma possibilidade de pensar a partir de produções literárias não canônicas e/ou não hegemônicas. São bem vindos os trabalhos poéticos em interface com a linguagem da performance e da presença, cuja expressão transborda espacialidades e sensibilidades áudio sonoras, visuais, arquitetônicas, etc. Nós referimos, neste sentido, à literatura em sentido amplo, na qual entendemos acolher diferentes formas de linguagem que se envolvem, são afetadas ou são motivadas pela palavra. Encorajamos, especialmente, comunicações que reflitam as produções africanas, afrodiaspóricas e indígenas criadas e/ou protagonizadas por mulheres, outras identidades de gênero ou sexualidades resistentes às lógicas cisheteronomativas. O painel está comprometido, neste sentido, com os recentes debates sobre as várias camadas de resistência, nas suas múltiplas intersecções, que atuam contra os mecanismos de silenciamento histórico, construção e reprodução de subalternidades baseadas, entre outros, em fatores de raça, classe e gênero (Oy?wùmí, 2003; Vergés, 2019; Hooks, 1981; Davis, 1981). Enxergamos essas questões de forma também interdisciplinar, recorrendo a recortes que dialogam com os campos dos estudos literários, artísticos, históricos e sociológicos. Nosso intuito é o de desestabilizar campos do saber fechados e pré-estabelecidos que reduzem, necessariamente, as complexidades, tensões e contradições de produções artísticas, literárias e intelectuais contra-hegemónicas nesses contextos. Formas críticas de pensarmos sobre o passado e as narrações à volta deste passado, nos permitem adentrar as malhas da colonialidade, enxergando as literaturas de resistência do passado na sua conexão com práticas artísticas e sociais do presente e as formas possíveis de imaginarmos um futuro comum para além das lógicas capitalistas e das opressões por elas geradas. Em nossa equipe de coordenação contamos com a presença do Prof. Dr. Mário Medeiros (UNICAMP) na qualidade de coordenador convidado, cuja contribuição ativa foi fundamental para a elaboração das reflexões, problemas e questões que serão abordadas neste simpósio temático.
PALAVRAS-CHAVE: .

PENSAR O IMPENSADO: EDUARDO LOURENÇO E UMA GEOPOLÍTICA DO PENSAMENTO
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: PENSAR O IMPENSADO: EDUARDO LOURENÇO E UMA GEOPOLÍTICA DO PENSAMENTO
COORDENADORES:
- Roberto Vecchi (Universita di Bologna) robbev@gmail.com
- SABRINA SEDLMAYER PINTO (UFMG) sabrina.sedlmayer@gmail.com
RESUMO: Por ocasião do centenário de nascimento do pensador português Eduardo Lourenço (1923-2020), propõe-se a organização de um simpósio temático dedicado ao amplo leque de temas críticos que uma obra incontornável, como a sua, aprofundou e dissecou nas formas abertas do ensaio (BARRENTO, 2010) durante quase todo o século XX. A UFBA, instituição brasileira que no final da década de 1950, não somente o acolheu, mas também se tornou um locus no qual o seu pensamento crítico amadureceu, permite-nos pontuar, retrospectivamente, a ocorrência de uma inflexão importante sobre a interpretação do colonialismo português (LOURENÇO, 2014). Elegemos, assim, o tema do impensado para o debate, próprio da filosofia que se interroga sobre os limites epistemológicos do saber, e nos permite refletir dentro de um repertório praticamente ilimitado um conjunto de relações espaciais e temáticas por explorar: Portugal, Europa, o Brasil, a África, as colônias, sobretudo as relações de forças que uma história das mais dispersas e conturbadas. A ideia do impensado que torna pensável o movimento da crise apoia-se num amplo espectro teorético e, como sempre é passível de se verificar na obra de Lourenço, capaz de agudamente mostrar o lado emergente de um pensamento articulado e destilado, que se inscreve ao lado a uma racionalidade positiva, estritamente amalgamada com ela, uma vertente não pensada, portanto não dita ou não dizível. É mais uma vez a sanção de uma articulação profunda, como descortina Maria Manuel Baptista (2003), entre hermenêutica e filosofia da linguagem, subsumida como uma ferramenta analítica só aparentemente despretensiosa, mas na verdade muito sofisticada. É de fato em Heidegger que o impensado (das Ungedachte) associa-se ao conceito de clareira (Lichtung) que, minimizando os termos das preocupações teóricas, pauta uma relação dupla, de limite, entre claridade e escuridade, entre o contorno, finito mas em contacto com um potencial infinito, do pensado e do seu fora (1980). Se poderia até considerar, secundando um outro ponto crítico em aberto do filosofo alemão, que o não pensável é muito próximo –e há quem sustente que se identifique com ele- com o não dizível, o não formulado na relação tensa entre Erörterung e Erläuterung da conferência sobre linguagem, e silêncio em Trakl (1973). De qualquer modo, o não pensado do pensado é tarefa do crítico que o procura e tenta enxergá-lo na análise, parcial, débil e sem pretensão totalizadora, do contexto da crise, o que lhe confere não só a possibilidade de captar os dispositivos que nela operam, mas também de definir um sentido crítico que remete à própria dinâmica da crise que pode deste modo configurar-se em quanto limite e servir para análise de outros contextos críticos (CASTELLI GATTINARA 2004; VECCHI 2013). Inscrever esta perspetiva num quadro geograficamente aberto como aquele esboçado na obra de Eduardo Lourenço, faz com que as relações não se estruturem só sobre um exercício ou uma política do poder, mas sobretudo por uma combinação densa e impensada de elementos simbólicos, fatuais e mitológicos, que encobrem as causas eficientes efetivas dos movimentos da história e convidam para o ato de interpretação mais ousada das ontologias em jogo. Pensar nesta perspetiva os muitos impensados de um tempo outro (que se projetam a partir de um nome próprio central: Portugal) significa configurar uma geopolítica alternativa, de pensar em casos singulares mas, de modo mais amplo, de transformar os limites do conhecido em experiência inovadora do limiar e do além.
PALAVRAS-CHAVE: .

PONTES PARA VIABILIZAR A INVENÇÃO DE UM MUNDO (EM) COMUM: LITERATURAS E ORATURAS AFRICANAS EM DIÁLOGO
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: PONTES PARA VIABILIZAR A INVENÇÃO DE UM MUNDO (EM) COMUM: LITERATURAS E ORATURAS AFRICANAS EM DIÁLOGO
COORDENADORES:
- João Pedro Wizniewsky Amaral (Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)) shuaum@gmail.com
- Janice Inês Nodari (Universidade Federal do Paraná (UFPR)) nodari.janicei@gmail.com
- Mônica Stefani (Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)) monicastefani31@gmail.com
RESUMO: Os estudos acadêmicos voltados às produções culturais africanas têm se debruçado com grande afinco nos últimos anos no estudo das literaturas produzidas naquele vasto continente. Um aspecto fundante das culturas africanas, no entanto, e que interfere diretamente na produção escrita daquele continente, seja ela em qual língua for - língua dos povos fundantes ou das metrópoles europeias - não têm recebido tanta atenção: a oratura. Mesmo na grande área dos Estudos Pós-coloniais, a oratura não recebe muitos exemplos de modo a poder considerá-la em um contexto mais amplo (ASHCROFT; GRIFFITHS; TIFFIN, 2013). O que encontramos com mais frequência é a apresentação dos termos oralidade e escrita, em cotejo e inter-relacionados. O conceito de oratura, no entanto, já recebeu atenção de teóricos africanos (vide, por exemplo, THIONG’O, 1986; 2012). Além disso, e considerando que a produção escrita é manifestação por vezes colonizante de uma metrópole estabelecida à força e que se sobrepõe a uma herança cultural rica marcada pela oratura (NODARI, 2022), este simpósio objetiva oportunizar espaço para o compartilhamento de informações que tenham centralidade em manifestações que permeiam o texto ficcional escrito, mas que extrapolam os seus limites. A intenção é revisitar a noção de África ainda vigente e ressignificá-la. Em seu ensaio “How to Write About Africa” (2005), o autor queniano Binyavanga Wainaina reconhece que a noção generalizada e ainda propagada sobre a África é a de que esta é “como se fosse um país. [A África] É quente e poeirenta com pastagens ondulantes e imensos rebanhos de animais e pessoas altas, magras, que estão famintas. Ou é quente e úmida com pessoas muito baixas que comem primatas”. Ao lermos as produções culturais oriundas daquele continente, é notório que a oratura e a literatura produzidas objetivam corrigir essa noção deturpada de um continente visto como país, e normalmente essas produções propõem a reescrita das memórias individuais ou coletivas revisitadas, que passam a ser entendidas de modo coletivo (CANDAU, 2008). Tais memórias representam movimentos migratórios de cidadãos de diferentes países africanos que deixam sua terra natal em direção à metrópole do Império Britânico ou ainda aos Estados Unidos em busca de um espaço, e da possibilidade de poder (re)escrever a história que não é só sua. Sendo assim, é possível afirmar que entre os inúmeros aspectos inerentes às Literaturas Africanas, em especial em relação às produções literárias escritas em países como Tanzânia, Quênia e África do Sul, o aparato teórico dos Estudos Pós-coloniais têm oferecido contribuições úteis e se mostrado um suporte valioso para diversas análises literárias; todavia, não é o único e deve ser considerado como um ponto de partida, não de chegada. Além dos Estudos Pós-coloniais, outra área que tem trazido contribuições para uma maior conscientização acerca das manifestações culturais do continente africano são os Estudos Ecocríticos, uma vez que ampliam noções a respeito de territórios selvagens, espaços africanos, identidades, entre outros (GARRARD, 2006). Há ainda aspectos externos a esse âmbito da crítica encontrados no texto escrito na sua materialidade. Enquanto componentes estruturais, esses aspectos também direcionam o leitor e os olhos do crítico para os elementos que não são apenas caros ao escritor: eles têm a capacidade de conectar escritor e leitor, ainda que estejam circunscritos a limitações e limites impostos por um mercado consumidor e/ou um mercado editorial, por exemplo. Em alguma medida, tais aspectos levam autor e leitor a ressignificarem suas identidades, a repensarem a outridade. Outro ponto de conexão que tem chamado a atenção em tempos recentes é a busca, para além da identidade no momento presente, da própria ancestralidade (reconhecimento este que foi - e tem sido ainda - negado a muitos povos africanos), por meio dos estudos da oratura - além do texto ficcional -, bem como de ensaios, cartas, declarações e outras manifestações culturais e saberes ancestrais que constroem a identidade de um indivíduo e de seu povo. A partir disso, este simpósio, alinhado à noção da oratura como material bruto para a literatura, conforme proposta pelo queniano Ng?g? wa Thiong’o em seu ensaio “Globalectics” (2012), acolhe reflexões que procurem reconhecer as diferentes vozes que compõem o rico mosaico sociocultural africano, com destaque aqui para a oratura, independentemente da língua da obra escolhida como tópico para estudo (já que a pluralidade linguística da África é bem-vinda). Vozes essas que nos ajudam a recompor um cenário histórico marcado pelo viés majoritariamente eurocêntrico. Ainda, são igualmente bem-vindas apresentações que versem sobre questões de tradução dessas literaturas. Seguindo a necessidade de observar os diferentes fenômenos e manifestações culturais com “olhos do Sul” (COETZEE, 2016), já que o Sul constitui o nosso lócus de enunciação, buscamos contribuir para a iniciativa de colocar em discussão “a voz insólita (...) [e] direcionar nossos signos invertidos para narração, análise e exposição dos danos da ferida colonial, ainda aberta e sempre incômoda” (TETTAMANZY; SANTOS, 2018, p. 26).
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas Africanas; Oratura; Ecocrítica; Pós-colonialismo; Tradução.

REDE DE ESTUDOS ANDINOS: ARTES, LITERATURAS E CULTURAS ANDINAS EM PERSPECTIVA
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: REDE DE ESTUDOS ANDINOS: ARTES, LITERATURAS E CULTURAS ANDINAS EM PERSPECTIVA
COORDENADORES:
- Carla Dameane Pereira de Souza (Universidade Federal da Bahia) carladameane@gmail.com
- Betina Sandra Campuzano (Universidad Nacional de Salta) betinacampuzano@gmail.com
RESUMO: A região andina se destaca como uma das macrorregiões do continente latino-americano, por ser lugar de enunciação de sujeitos cuja discursividade está atravessada pela convergência de elementos culturais e linguísticos distintos. Nesta convergência há negociações e conflitos, sobretudo, no que se refere às lutas por lugares de representação e alcance da fala de sujeitos que estiveram por séculos silenciados e invisibilizados. O testemunho latino-americano, gênero tão reprochado quanto aclamado pela crítica latino-americana, nas últimas décadas do século XX, foi importante ao promover o reconhecimento de discursividades não circulantes, entre elas, as de sujeitos marcados pela diferença étnica e de gênero. Em 1977 publicava-se a primeira edição das “autobiografias” de Gregorio Condori Mamani e Asunta Quispe Huamán cujas histórias de vida foram recopiladas pelos antropólogos Carmen Escalante Valderrama e Ricardo Valderrama Fernández. No livro Gregorio Condori Mamani - Asunta Quispe Huamán. Autobiografía. Noqaykuq kawsayniyku, (2014), um casal de intelectuais letrados, conta as histórias de vida de outro casal – Gregorio, o carregador de mercadorias e sua esposa, Asunta, cozinheira nos mercados populares de Cusco, no Peru. Ambos analfabetos, sendo o quéchua seu idioma materno, a história da vida dos dois está marcada por esta relação latente que há nas diferenças étnicas e de gênero. Além deste livro de testemunhos paradigmático, muitas das histórias vividas e contadas através da arte, da literatura e de outras produções da indústria cultural – que aparecem nas primeiras décadas do século XXI, após períodos de violência política vividos pelos países da região andina, caso do Peru, Argentina, Bolívia, Colômbia e Chile, resultam de experiências reais que saltaram das páginas dos Relatórios Finais das Comissões da Verdade e de arquivos jornalísticos, jurídicos ou ainda da vivência dos artistas e escritores. São vivências atravessadas por tensionamentos que envolvem os diferentes idiomas, lugares de enunciação e negociações sociais, devido ao pertencimento étnico. No que se refere ao empreendimento de projetos que releem e intervém nos discursos e arquivos históricos, reapresentando versões atuais e críticas ao tomar as imagens como potentes testemunhos da história, encontramos os trabalhos de Edilberto Jiménez Quispe, antropólogo e retablista ayacuchano que, em testemunhos literários e visuais documentou a memória coletiva, saberes e epistemes de sujeitos andinos em contextos de crise política, como no livro Chungui, Violencia y Trazos de Memoria (2005) mas também durante a recente conjuntura da Pandemia da COVID-19, em Nuevo Coronavirus y Buen Gobierno. Memorias de la pandemia de COVID-19 en Perú (2021). A emergência destes testemunhos, que atualizam formas e matrizes andinas, traz à baila este gênero conhecido a partir de Casa de las Américas e nos motiva a estabelecer genealogias dentro do sistema cultural andino. Assim, neste Simpósio, propõe-se uma discussão ampla sobre as memórias e as representações de grupos étnicos (sujeitos andinos, afro andinos, amazônicos) nas artes, na literatura e nas manifestações culturais produzidas nas regiões andina e andino-amazônica, a fim de estabelecer diálogos entre a epistemologias plurais e os saberes comuns que podem ser mapeados a partir destas produções, bem como, elencar problematizações a elas inerentes como: a relação entre a literatura, a literatura oral e de tradição oral, a partir de Antonio Cornejo Polar (2003) e Gonzalo Espino Relucé (2015), a questão da autoria, da propriedade intelectual e outras discussões que contornam hoje o conceito de testemunho a partir de Alberto Moreiras Moreiras (2003) os trabalhos de memórias da violência política recente a partir de Carlos Iván Degregori (2010), Elizabeth Jelin (2003) (2012) e Ponciano del Pino (2003) (2017; e também a ocupação dos espaços físicos e simbólicos, com Víctor Vich (2021), no bojo da representação da nação e das identidades em diálogo e transformação. CORNEJO POLAR, Antonio. Escribir en el aire: Ensayo sobre la heterogeneidad socio-cultural en las literaturas andinas. 2. ed. Lima: CELACP/ Latinoamericana Editores, 2003. DEGREGORI, Carlos Iván. El surgimiento de Sendero Luminoso. Ayacucho 1969-1979. Lima: Instituto de Estudios Peruanos, 2010. ESPINO, Gonzalo Relucé. Literatura oral, literatura de tradición oral. 3ª ed. Lima: Pakarina Ediciones, 2015. JELIN, Elizabeth. Los trabajos de la memoria. Lima: Instituto de Estudios Peruanos – IEP, 2012. MOREIRAS, Alberto. A exaustão da diferença. A política dos estudos culturais latino-americanos. Tradução de Eliana Lourenço de Lima Reis e Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. PINO, Ponciano del y JELIN, Elizabeth (comps.). Luchas locales, comunidades e identidades. Madrid: Siglo XXI, 2003. PINO, Ponciano del. En nombre del gobierno. El Perú y Uchuraccay: un siglo de política campesina. 1 ed. Lima. La Siniestra Ensayos, Universidad Nacional de Juliaca, 2017. VICH, Víctor. Políticas culturales y ciudadanía: estrategias simbólicas para tomar las calles. 1a ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO; Lima : Instituto de Estudios Peruanos; Rosario: Editorial de la Facultad de Humanidades y Artes de la Universidad Nacional de Rosario, 2020.
PALAVRAS-CHAVE: Estudos Andinos; Testemunho Latino-americano; Memória.

REDEMOINHOS ESTÉTICOS DE UMA CARTOGRAFIA DA DOR LATINO-AMERICANA EM REGIMES DITATORIAIS
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: REDEMOINHOS ESTÉTICOS DE UMA CARTOGRAFIA DA DOR LATINO-AMERICANA EM REGIMES DITATORIAIS
COORDENADORES:
- DANIELLE FERREIRA COSTA (IFMA) danielle.costa@ifma.edu.br
- Naiane Vieira dos Reis (IFCE) naianevieira@uft.edu.br
RESUMO: Este simpósio visa congregar análises críticas e teóricas que possibilitem a contemplação de uma cartografia da dor, forjada em um território onde a colonialidade do ser, do poder e do saber foi novamente reefetuada nas décadas de 1960, 1970 e 1980, tendo-se em vista as configurações políticas do início do século XX na América Latina. Essa reefetuação ficou conhecida como Doutrina antissubversiva e teve como grandes difusores, assim como na constituição, nos séculos XVIII e XIX, de sua denominação colonialista, a França e os Estados Unidos. Diante disso, almeja-se agregar análises que buscam acionar o que Jacques Rancière (2005) denomina de “partilha do sensível”, na qual somos enredados por um movimento de transmissão estética que ilumina, na escuridão de nosso alheamento, o sofrimento ao qual outro ser foi submetido. Ademais, consideram-se investigações voltadas para um olhar literário sobre a sociedade que reflete uma tendência de parte da arte contemporânea preocupada com a transmissão de memórias, a partir de uma perspectiva que se posiciona na contramão do esquecimento violento e politicamente motivado, articulando as linguagens artísticas como estratégia de resistência. Dessa maneira, a categoria da memória nos é fundamental porque, conforme a filósofa brasileira Lélia Gonzalez (1984, p. 226), configura-se como “o não-saber que conhece, esse lugar de inscrições que restituem uma história que não foi escrita, o lugar da emergência da verdade, dessa verdade que se estrutura como ficção”. Tecida por presenças constituídas tanto pelo acontecimento primeiro quanto pelas sucessivas tentativas de apagamento, a memória também deixa rastros ao acrescentar uma nova cor, forma ou rasura aos eventos relativos aos contextos de repressão política. Assim, o passado não poder ser destruído, mas apenas editado e reeditado, por meio de práticas que tanto contribuem para o fortalecimento de uma determinada narrativa memorialística, necessária para o processo de libertação. Tendo em vista que as múltiplas fraturas, fendas e rastros, que compõem o solo do território assolado por regimes ditatoriais, resistem aos esquecimentos patológicos e às práticas de silenciamento, continuando a inundar a superfície com sua positividade de presenças traumáticas, as quais resistem às estratégias políticas e sociais de olvidamento sistematicamente produzido, inclusive pelas instâncias de poder do Estado. A partir da perspectiva de que "Tudo é rastro, vestígio ou fóssil. Toda forma sensível, desde a pedra ou a concha, é falante. Cada uma traz consigo, inscritas em estrias e volutas, as marcas de sua história e os signos de sua destinação” (RANCIÈRE, 2018, p. 35), propõe-se neste simpósio a confluência de um debate que aborde esse passado ditatorial para além de sua compreensão como algo finito, de modo a demonstrar que tal atmosfera traumática é matéria viva da memória, atualizada e reatualizada sob a luz dos acontecimentos contemporâneos, a partir também de diferentes sujeitos sociais, os quais foram pouco considerados pela tradição literária e historiográfica, que os consolidou na posição de corpos marginais e marginalizados. Nesse sentido, almeja-se evidenciar essa mesma atmosfera traumática, turva e difusa, como um rastro – ou um resto – que insiste em reaparecer em corpos-território complexos e diversificados cuja democracia nunca se fez presente de fato e de direito. Considerando essas delimitações, convidamos pesquisadores e pesquisadoras que se propuseram a observar a escrita de artistas que navegam pelos labirintos e subsolos do mundo social em busca dos rastros, vestígios ou fósseis dessa dolorosa história latino-americana que ainda precisa ser ouvida, difundida e elaborada; análises e reflexões que se permitem habitar criticamente narrativas que cintilam os traumas deixados por regimes ditatoriais que, mesmo pertencendo ao passado, continuam a reverberar na ausência de uma memória que nos ilumine em novos horizontes de existência e resistência. Esperamos, assim, dialogar com análises que contribuam para a construção de uma cartografia do Sul-Global, ao consolidar as estruturas “corpo-poéticas” e “corpo-políticas”, produzindo um reencantamento de narrativas ficcionais que realizam a verdadeira sublimação dos horrores ditatoriais que se espraiam por meio de um tenebroso diálogo por todo o território da América Latina. Nesse sentido, a partir do nosso interesse por uma “arte política” transgressora do fazer crítico, convertendo-se em atos políticos de resistência, ao ter “o poder de mostrar o intolerável” (RANCIÈRE, 2014, p. 85-86), buscamos conjuntamente transcriar experiências difíceis por meio de críticas que se utilizam de diferentes escritas estéticas para acionar, no tempo-presente, os silêncios existentes sobre passados sensíveis. Por fim, espera-se dialogar com novas investigações sobre as narrativas literárias latino-americanas que objetivam uma crítica descolonizada, ou decolonial, tecida a partir de categorias de pensamento como frontería, de Abril Trigo (1997), arte transmoderna, de Enrique Dussel (2015), colonialidade, de Walter Mignolo (2000), ressignificando o papel das memórias latino-americanas na construção do pensamento Moderno/Colonial, bem como as estruturas ideológicas das narrativas constituídas como resistência e/ou propagadoras desse pensamento, nas conjunturas políticas de estado de exceção.
PALAVRAS-CHAVE: AMÉRICA LATINA. REGIMES DITATORIAIS. LITERATURA CONTEMPORÂNEA. MEMÓRIA. DECOLONIAL

SABERES SUBALTERNIZADOS: LITERATURA E (RE)EXISTÊNCIA, OUTROS(AS) SUJEITOS(AS) DE CRIAÇÃO
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: SABERES SUBALTERNIZADOS: LITERATURA E (RE)EXISTÊNCIA, OUTROS(AS) SUJEITOS(AS) DE CRIAÇÃO
COORDENADORES:
- Alvanita Almeida Santos (UFBA) india.alva@gmail.com
- Jailma dos Santos Pedreira Moreira (Universidade do Estado da Bahia - UNEB) jailmapedreira@uol.com.br
- Carlos Magno Gomes (UFS/CNPq) calmag@bol.com.br
RESUMO: Trata-se de uma reflexão sobre saberes subalternizados, tecidos na e com a literatura, considerando os modos de produção destes, seus impasses e perspectivas, bem como seus sujeitos de enunciação e os contextos geopolíticos que os engendram. Desse modo, interessam-nos pesquisas/artigos que abordem apropriações literárias que explorem seu jogo estético político, abrindo outros caminhos teóricos, políticos e existenciais para mulheres diversas, sujeitas/os da América Latina, do mundo e, inclusive, para a própria Literatura. Dar visibilidade a esses saberes, sua manufatura, os valores que encenam, assim como as problemáticas que enfrentam, ou seja, contra as quais se colocam em confronto, é nosso interesse. De modo que possamos partilhar não só estes outros saberes submersos, muitas vezes não vistos nem valorizados, assim como as táticas que também estamos inventando para acessá-los e os caminhos e roteiros de trabalhos que estes nos solicitam, nos instigam também a tecer, em prol de um bem viver, de uma vida na terra mais justa, solidária, equitativa e menos autodestrutiva. Com esse propósito, buscamos rastrear outros signos de vida, outros enredos, personagens e narrativas diversas, que subsistem. Assim, existindo, resistindo, re-existindo, pelas bordas, nas fronteiras, circulam saberes invisibilizados, subalternizados, empurrados para margens, mas que continuam pululando em diversos lugares, ocupando espaços convencionais e alternativos, mantendo-se vivos e transformadores. Dessas insistências se ocupa este Simpósio. Conforme nos instiga Conceição Evaristo (s/d), apesar de terem combinado de nos matar, nós combinamos de não morrer. Dessa forma, nosso objetivo é apresentar, discutir, problematizar diferentes produções de resistência, considerando novos paradigmas de análise e outros operadores teóricos que tragam uma (re)visão de valores e de modelos. São tomadas aqui, por viés, as propostas de uma perspectiva decolonial, antirracista, feminista, com alguns caminhos como o de Maria Lugones (2014), alertando-nos que vivemos em uma sociedade capitalista, patriarcal, racista, colonizada. Também nos pautamos em percursos que tomam uma perspectiva de interseccionalidade, sobretudo considerando o que alerta Patrícia Collins, situando essa questão em sua relação com as políticas feministas negras, das décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos, pensando que “racismo, exploração de classe, patriarcado e homofobia, coletivamente, moldavam a experiência de mulher negra, a libertação das mulheres negras exigia uma resposta que abarcasse os múltiplos sistemas de opressão” (COLLINS, 2017). Nesse sentido, observamos experiências de abordagens metodológicas diversas das convencionais, as quais são eurocêntricas, sexistas, logocêntricas, masculinas, brancas. São necessárias outras formas de pensamento, de saber, de teorias, de metodologias, que possam dar conta desse universo “outro” que não se pauta pelas construções ditas “clássicas”. Dessa maneira, desvendar a potência criativa das margens, como afirma Grada Kilomba (2019), encontrar nosso discurso afrolatino, como defende Lélia Gonzalez (2020 ), ao tratar do feminismo, descortinar os fundamentos eurocêntricos que nos impedem o movimento outro, como postula Oyewùmí (2020), ao tratar dos desafios das epistemologias africanas, assim como lutar pelos nossos direitos epistemológicos, questionando os aparelhos conceituais, como afirma Breny Mendoza (2017), são questões que atravessam nosso desejo compartilhado de reflexão. Portanto, através de práticas decoloniais, desafiando matrizes, como orienta Heloisa Buarque de Holanda (2020), esperamos receber proposições que tragam para a cena conhecimentos vitais, saberes originários, epistemologias subalternizadas que ponham em xeque esse modo de vida capitalista, racista, sexista, homofóbico, patriarcal, que tanto tem aprisionado a existência, a vida e a natureza, enquanto nosso bem comum. Assim, o Simpósio Saberes subalternizados: literatura e (re) existência, outros(as) sujeitos(as) de criação se abre para vozes/perspectivas/ficções/teorias minoritárias que têm posto em xeque regimes de poder-verdade, trazendo vários conhecimentos/aprendizagens, que estão nos ensinado a rever os limites de nossas percepções, ajudando-nos a construir novos sentidos de mundo, potencializando a relação entre política, ética e arte da existência, como nos lembra Miñoso (2010), ao tratar das práticas teóricas e políticas dos feminismos minoritários latinoamericanos. Assim, enfocando o sujeito feminino, mas não se restrigindo a ele, buscamos, portanto, refletir sobre as poéticas da existência, que, nesse teatro político subalterno, têm não só resistido aos diversos sistemas de barbárie, como reficcionalizado sujeitos, existências. Para isso, é preciso compreender e pautar as reflexões em outras epistemologias, ultrapassando a questão relevante de “dar voz”, para avançar em uma luta por agenciamentos em que sujeitos/sujeitas apresentam uma outra história. Nessa cena, também pensamos, neste simpósio, fazer emergir dessa categoria “subalternizados” as reações a esse processo de opressão e tentativas de dominação, inclusive pela imposição de saberes apresentados como universais, mas que são muito bem marcados.
PALAVRAS-CHAVE: Saberes subalternizados; (Re)existência; Descolonização de saberes

TRANSGRESSÃO, MEMÓRIA E (IN)SUBALTERNIZAÇÃO NAS LITERATURAS AFRICANAS E AFRODIASPÓRICAS PRODUZIDAS POR MULHERES
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: TRANSGRESSÃO, MEMÓRIA E (IN)SUBALTERNIZAÇÃO NAS LITERATURAS AFRICANAS E AFRODIASPÓRICAS PRODUZIDAS POR MULHERES
COORDENADORES:
- Cíntia Acosta Kütter (Universidade Federal Rural da Amazônia) cintia.kutter@gmail.com
- Sávio Roberto Fonseca de Freitas (Universidade Federal da Paraíba) savioroberto1978@yahoo.com.br
RESUMO: A produção literária africana e afrodiaspórica de autoria feminina vem ocupando os espaços de discussão acadêmica no âmbito dos estudos literários já há algum tempo devido à peculiaridade dos recorrentes temas voltados para questões culturais e de gênero presentes em poemas, contos e romances de escritoras que recorrem à literatura como espaço ficcional para discussões políticas voltadas para temas que tensionam as relações de raça, gênero e classe sob um ponto de vista feminino e feminista. Desta forma, definir as relações de raça, gênero e classe na literatura afro-brasileira é um exercício complexo. A demarcação de fronteiras no que diz respeito a estas relações está cada vez mais indistinta, principalmente com as oscilações teóricas e ideológicas que orientam os estudos literários e tornam cada vez mais instigantes as investigações sobre a literatura de autoria feminina africana e da diáspora africana. O simpósio "Transgressão, memória e (in)sulbalternização nas literaturas africanas e afrodiaspóricas produzidas por mulheres", tem por objetivo colocar em debate questões crítico-literárias que se proponham a pensar possibilidades de representação das várias transgressões sociais, sobretudo no que tange ao corpo feminino, por meio da memória e da (in)sulbalternização e/ou subalternização das mulheres frente aos diversos sistemas de opressão de raça, gênero e classe. Para isso, Susan Sontag (2003) aponta para pensarmos de que maneira a personagem feminina se coloca no lugar do outro e como a recíproca, não sendo verdadeira passa a incomodar a sociedade. Nesse sentido, Gayatri Spivak (2010) sinaliza o lugar destinado às mulheres como problemático, visto que a autora propõe uma discussão sobre a questão do gênero feminino estar destinado à subalternidade, ou seja, não poder falar; e Oy?wùmí (2021) nos conduz a pensar o afrofeminismo a partir de uma construção de vários sentidos africanos que problematizam os discursos ocidentais de gênero. Portanto, este simpósio pretende acolher trabalhos que tenham como foco a relação entre as questões relacionadas à transgressão, à memória e à (in)sulbalternização femininas presentes nas obras literárias de origem africanas e/ou afrodiaspóricas produzidas por mulheres, ou seja, estudos das manifestações literárias africanas e afrodiaspóricas em suas mais diversas possibilidades de análise crítica de textos poéticos, narrativos e dramáticos. A produção literária africana de autoria feminina precisa ocupar ainda mais espaços nos congressos internacionais, pois até o momento, ainda é considerada, por parte da crítica literária eurocentrada, com uma produção pouco significativa e irrelevante se comparada ao cânone literário oficial, o qual ainda é composto massivamente por homens, mesmo diante de todo o movimento acadêmico das universidades brasileiras e internacionais que discute o binômio Mulher e Literatura. Esse posicionamento, contudo, não tem se fundamentado em critérios suficientemente válidos. Dessa forma, o gênero, através de seu próprio questionamento, problematiza o fenômeno literário e sua trajetória na contemporaneidade oferecem novas perspectivas sobre as mudanças e revisões cartográficas das literaturas africanas e afrodiaspóricas de autoria feminina. A proposta é acolher análises críticas de produções literárias que deem visibilidade às vozes femininas que compõem a roda de intelectuais e feministas contemporâneas em países africanos e afro-diaspóricos. A produção literária de escritoras como Chimamanda Adichie(Nigéria), Buchi Emecheta (Nigéria), Fatu Diome (Senegal), Hirondina Joshua (Moçambique), Rinkel (Moçambique), Sónia Sultuane(Moçambique), Paulina Chiziane(Moçambique), Ken Bugul (Senegal), Nawal El Saadawi(Egito), Fatema Mernissi (Marrocos), Ama Ata Aidoo(Gana), Odete Semedo (Guiné Bissau), Conceição Lima (São Tomé e Príncipe), Yvonne Vera(Zimbabwe), Warson Shire(Quênia), Léonora Miano (Camarões), e crítica feminista africana feita por Theo Sowa (Gana), Osai Ojibo (Nigéria), Luimah Gbwee (Libéria), Minna Salammi (Nigéria), Amina Doherty (Nigéria), Nana Sekyiannah (Gana), Amina Mama (Nigéria), Yewande Omotoso (Nigéria), Parity Kagwiria (Quênia), Yaba Badoe (Gana), Aisha Ibrahim Fofana (Serra Leoa) , entre outras, que mostram uma cumplicidade feminina que se constrói para discutir temas que corroboram com a territorialização da autoria feminina em um campo minado por ideologias machistas e patriarcais em países africanos e da diáspora que obnubilam temas como: aborto, abuso sexual, tráfico de mulheres, tráfico de drogas, pedofilia, prostituição, lesbianismo, maternidade, casamento, guerra civil, colonialismo, pós-colonialismo, decolonialidade, identidade cultural, religiosidade, direitos humanos, ativismo político, feminismo africano. Desta forma, nosso simpósio pretende desenvolver uma discussão que viabiliza o ponto vista feminista africano e afrodiaspórico como categoria problematizadora das questões de raça, gênero e classe em textos críticos e literários elaborados por mulheres africanas e da diáspora africana. Referências: SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros; tradução Rubens Figueiredo. –São Paulo: Companhia das Letras, 2003. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o sulbalterno falar?; tradução de Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. –Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. OYEWUMI, Oyèrónké. A invenção das mulheres. Construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero; tradução Wanderson Flor do Nascimento. – 1. Ed. – Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2021.
PALAVRAS-CHAVE: literatura africana; literatura afrodiaspórica; transgressão; memória

USOS POLÍTICOS DA MEMÓRIA E DA HISTÓRIA NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
EIXO: EIXO 7 - ESTÉTICA E POLÍTICA, LITERATURA E RESISTÊNCIA
SIMPÓSIO: USOS POLÍTICOS DA MEMÓRIA E DA HISTÓRIA NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
COORDENADORES:
- Renata Flavia da Silva (Universidade Federal Fluminense UFF) renataflaviadasilva@gmail.com
- Roberta Guimarães Franco Faria de Assis (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) robertagf@uol.com.br
- Daniel Marinho Laks (Universidade Federal de São Carlos UFSCar) daniellaks@yahoo.com
RESUMO: As relações entre memória, história e literatura sempre foram objeto de análise e de debate acerca das especificidades de cada campo e das possibilidades de diálogos interdisciplinares, especialmente dentro do campo conflituoso da Literatura Comparada. Obras literárias que dialogam de forma próxima com a história, seja pelo gênero literário, pelo tema e/ou personagens escolhidos, ou que apresentam um caráter (auto)biográfico, podem funcionar como base para a organização de arquivos públicos ou particulares, monumentos e museus, os quais têm como objetivo mediar o estabelecimento de uma memória coletiva sobre acontecimentos transcorridos. A possibilidade de curadoria dos episódios que devem ser rememorados ou comemorados sob uma perspectiva nacional está intimamente ligada à afirmação dos interesses de grupos que estabeleceram sua hegemonia e, nesse sentido, o processo de produção de uma memória coletiva pretende funcionar como ferramenta política de legitimação de estruturas específicas de poder. Debate também presente na formação dos cânones literários, questionados por correntes críticas mais contemporâneas pelo seu caráter fragmentário e centralizador, que atenderia a perspectivas e interesses específicos. Nesse sentido, a memória vem, cada vez mais, se configurando como um elemento essencial na construção de sentidos entre o texto literário e o discurso histórico. Ao longo do tempo, a análise literária foi ganhando contornos que incluem, desde a possibilidade de pensar a obra em múltiplos contextos e temporalidades de acordo com o leitor, advinda através da Estética da Recepção, até os mais recentes Estudos Culturais e Póscoloniais, possibilitando novas formas de olhar eventos históricos consagrados ou trazendo à luz questões que a dita história oficial silenciou. A memória, por sua vez, seja pensada como componente intratextual, atuando diretamente na estrutura narrativa, aliada à ideia de tempo, seja constituindo o espaço entre a obra literária e o seu contexto de produção, ou ainda estabelecendo fronteiras entre as perspectivas individuais e coletivas, se configurou como instância que permite pensar a literatura tanto na sua esfera subjetiva quanto social. No contexto das literaturas de língua portuguesa, pode-se evidenciar formas variadas de diálogo entre memória, história e literatura. No Brasil, tais diálogos podem apontar desde a necessidade de criação de uma identidade nacional, até a urgência em propor limites e questionamentos a este conceito – basta lembrar das ideias de Silviano Santiago em Uma literatura nos trópicos (1978) –, chegando a manifestações mais recentes, ou a recuperação de obras/escritores apagados/silenciados, que trazem novos olhares sobre acontecimentos, personagens e espaços. No caso da Literatura Portuguesa, por exemplo, a história desempenhou um importante diálogo por meio de diferentes temas, mas também como próprio elemento ficcional. Basta pensar a maneira pela qual os mitos identitários foram construídos pela história da literatura portuguesa ao longo dos séculos. Além da transformação da memória nacional como um dos grandes temas da literatura, um outro aspecto relevante é o reverso dessa temática, como afirma Eduardo Lourenço (2014), ao apontar a dificuldade de assumir uma memória nacional não mais baseada nos grandes mitos, mas na decadência da colonização. Grande parte da literatura portuguesa do século XX, sobretudo após a Revolução dos Cravos, tem se ocupado da revisitação de fatos históricos ou da escrita ou reescrita de momentos relevantes para o país no que diz respeito à colonização. Já para as Literaturas Africanas de Língua Portuguesa – ainda lutando por uma nomenclatura que as particularize na academia – a relação entre literatura e história parece ainda mais evidente, pelos recentes processos históricos que trazem um caráter testemunhal, muitas vezes autobiográfico, para essas literaturas, problematizando os silenciamentos em torno da colonização, das guerras pelas independências, da descolonização e das guerras civis. E também, dialogando com um passado mais distante, pela necessidade de reformular a história produzida pelo olhar exógeno, reconstruindo mitos, recuperando personagens, reconfigurando espaços agora nacionais. Portanto, as literaturas de língua portuguesa formam um extenso objeto de análise, comparadas entre si ou dentro de um único espaço, para o antigo e ainda necessário debate entre Literatura, História e Memória. Este simpósio, continuidade da proposta de edições anteriores, pretende, assim, acolher trabalhos que discutam as relações entre memória, história e literatura. Para isso, sugerimos, entre outros possíveis, alguns eixos de articulação: a literatura como arquivo; representação do trauma na narrativa e na poesia; vertentes políticas das escritas de si; memória coletiva e espaços públicos; relações entre os espaços de língua portuguesa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: LOURENÇO, Eduardo. Do colonialismo como nosso impensado. Prefácio de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi. Lisboa: Gradiva. 2014 SANTIAGO, Silviano. Nas malhas da letra. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.
PALAVRAS-CHAVE: Literaturas de língua portuguesa; História; Memória; Política, Arquivo.
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CONEXÕES E DESENCONTROS: ARQUIVOS DA TRADUÇÃO LITERÁRIA
- Cláudia Tavares Alves (Universidade Federal de Juiz de Fora) - clautalves@gmail.com
- Elena Santi (Universidade Federal de Juiz de Fora) - elena.santi@ufjf.br
- Patricia Peterle (Universidade Federal de Santa Catarina) - patriciapeterle@gmail.com
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DESAFIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS NA TRADUÇÃO LITERÁRIA
- Wagner Monteiro Pereira (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - wagner.hispanista@gmail.com
- Andréa Cesco (Universidade Federal de Santa Catarina) - andrea.cesco@gmail.com
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LER O POEMA EM TRADUÇÃO: DA REDUÇÃO INSTRUMENTAL À SINGULARIDADE DO POEMA TRADUZIDO COMO DISPOSITIVO CRÍTICO E FORMA DE VIDA
- Mauricio Mendonça Cardozo (UFPR) - maumeluco@gmail.com
- Pablo Simpson (UNESP) - pablo.simpson@unesp.br
- Marcos Antonio Siscar (UNICAMP) - siscar@unicamp.br
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O MONOLINGUISMO E O OUTRO: LITERATURAS LUSÓFONAS COMO ARENAS DE TRADUÇÃO INTERCULTURAL
- Nabil Araújo de Souza (Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)) - nabil.araujo@gmail.com
- Lúcia Ricotta Vilela Pinto (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)) - luciavilelapinto@gmail.com
- MARCOS NATALI (USP) - mpnatali@usp.br
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POESIA E(M) TRADUÇÃO
- Andrea Cristiane Kahmann (UFPel) - andreak.ufpb@gmail.com
- Andrei dos Santos Cunha (UFRGS) - andreicunha@gmail.com
- Marlova Gonsales Aseff (UnB) - marlova.aseff@gmail.com
-
TRADUÇÃO DE LITERATURAS DE VIAGEM, MIGRAÇÃO E EXÍLIO
- Marie Helene Catherine Torres (Universidade Federal de Santa Catarina) - marie.helene.torres@gmail.com
- Luana Ferreira de Freitas (UFC) - luana.ferreira.freitas@pq.cnpq.br
- Walter Carlos Costa (UFC) - walter.costa@gmail.com
-
TRADUZINDO À MARGEM
- SHEILA MARIA DOS SANTOS (UFSC-PGET) - dossantos.sheilamaria@gmail.com
- Kall Lyws Barroso Sales (UFAL-PPGLL) - kall.sales@fale.ufal.br

CONEXÕES E DESENCONTROS: ARQUIVOS DA TRADUÇÃO LITERÁRIA
EIXO: EIXO 8 - TRADUÇÃO COMO ARTE DO (DES)ENCONTRO
SIMPÓSIO: CONEXÕES E DESENCONTROS: ARQUIVOS DA TRADUÇÃO LITERÁRIA
COORDENADORES:
- Cláudia Tavares Alves (Universidade Federal de Juiz de Fora) clautalves@gmail.com
- Elena Santi (Universidade Federal de Juiz de Fora) elena.santi@ufjf.br
- Patricia Peterle (Universidade Federal de Santa Catarina) patriciapeterle@gmail.com
RESUMO: O simpósio Conexões e desencontros: arquivos da tradução literária quer propor um espaço em que crítica literária e tradução passam a ser dois elementos para pensar a confluência e o contato entre línguas e sistemas culturais. Nesse contexto dá-se uma relevância ao trânsito, à busca, à procura de um espaço de encontro com o outro, visibilizando a diversidade e as zonas desconfortáveis e pantanosas que afloram quando se pensa em relações linguísticas e culturais. Pretende-se, portanto, promover o estabelecimento de relações desconhecidas e criar novas conexões, por meio daquele substrato subterrâneo que, como as raízes das plantas, conecta, alimenta, e faz com que os frutos já existentes sobrevivam e permitam o nascimento e o crescimento de outros. A tradução é vista, aqui, não tanto como produto - ou seja, como texto traduzido em si - mas como processo, com todas as suas marcas e sombras, que implicam a experiência do outro e passagens porosas entre línguas, (des)velando possibilidades por vir: “O que a tradução deve nos fazer sentir e experimentar de imediato, por meio da discordância das redes terminológicas e sintáticas, é a força e a inteligência da diferença das línguas” (B. Cassin, Elogio da tradução: complicar o universal, 2022 p. 13). E seguindo, com Cassin, podemos afirmar: “São necessárias duas línguas para falar uma e saber que o que falamos é uma língua, porque são necessárias duas línguas para traduzir” (p. 12). Um exemplo interessante do que a experiência da tradução pode provocar nos é oferecido por Sylvia Molloy em seu livro, Viver entre línguas, quando descreve a situação de uma turma de alunos nova iorquinos em contato com a poesia, em edição bilíngue, de Borges: [...] As coisas mudaram quando passamos da prosa de Borges para sua poesia. Explico: à diferença da edição inglesa dos contos, resolutamente monolíngue, o volume da poesia completa era bilíngue: o original em espanhol à esquerda, a versão inglesa à direita. A ideia de que existisse um “original” - apesar deles não o compreenderem, apesar de terem lido tantos contos de Borges onde a própria ideia de originalidade parecia inútil - estranhamente os confortou. [...] sentiam (uso o verbo deliberadamente, porque eles evidentemente sabiam que não era assim) que deveria ser o contrário, que o texto da esquerda em espanhol devia ser a tradução do texto da direita em inglês, aquele que tinham lido primeiro. O alívio inicial que haviam experimentado diante da ideia de um original tingiu-se de desconfiança, desassossego. (2018, p. 56) Esse sentimento de desconfiança, de desassossego que, por vezes, se experimenta diante do texto traduzido, no fim das contas, não é outra coisa se não a insegurança que pode acompanhar o encontro com algo desconhecido, sedutor e perturbador ao mesmo tempo. E é interessante pensar o que esse desconhecido, esse outro representa, quando estamos no campo do literário, espaço aberto para o encontro com a alteridade, e o que se produz, por meio da tradução, do contato entre tradições literárias. Muitos autores, pensadores, críticos, linguistas, estudiosos de ensino de língua se debruçaram sobre esse gesto tão plural e complexo, que envolve uma série de elementos outros, que vão muito além de uma simples transferência. A articulação proposta, então, não parte mais de um universal, mas da diferença que nos impõem as singularidades, pois há sempre mais de uma língua numa língua, sendo a variedade e a diversidade os elementos desafiadores, exigidos e necessários no contato com o outro. Tal contato passa pelo espanto, pela surpresa, pela diferença consigo mesmo e pelo acolhimento de algo que não deixa de ser estrangeiro. O objetivo geral do simpósio é focar, com base em mapeamentos, estudos de caso, levantamento de dados, nas zonas e nos nós desconfortáveis presentes nas relações linguísticas e culturais, que se concretizam por meio das traduções e sua circulação num determinado sistema literário. Ainda mais especificamente, propõe-se problematizar processos de deformações, domesticações, correspondências, transferências semânticas, catacrésicas ou metafóricas; enfim, tudo o que coloca em discussão um saber local e a visão do outro por meio de práticas e ações culturais. É nesse sentido que o fato linguístico pode envolver consciente ou menos conscientemente processos de política cultural e de questões identitárias e subjetivas. A ideia, finalmente, é (des)traduzir agora esses “vórtices-literários” que constituem a malha da literatura traduzida.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução Literária; (Des)traduzir; Sistemas Culturais; Diversidade; Processos.

DESAFIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS NA TRADUÇÃO LITERÁRIA
EIXO: EIXO 8 - TRADUÇÃO COMO ARTE DO (DES)ENCONTRO
SIMPÓSIO: DESAFIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS NA TRADUÇÃO LITERÁRIA
COORDENADORES:
- Wagner Monteiro Pereira (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) wagner.hispanista@gmail.com
- Andréa Cesco (Universidade Federal de Santa Catarina) andrea.cesco@gmail.com
RESUMO: No século XX surgem teorias que pensam a tradução de forma menos empírica e em relação com diferentes disciplinas. Assim, tem um papel fundamental o texto de Walter Benjamin, Die Aufgabedês Ubersetzers (A tarefa do tradutor, 2008), cuja ideia central é a de que na tradução de uma obra poética deve ser privilegiado a forma significante, em detrimento da simples transmissão do conteúdo da língua original à traduzida. Se admitimos, como Haroldo de Campos (2011), a intraduzibilidade da poesia, tomaremos como ponto central e de partida a recriação do texto poético. Deste modo, não se busca reconstituir a mensagem que o texto quer transmitir, antes recriar a informação estética que o texto apresenta. Portanto, para Haroldo, a tradução de um texto poético sempre será recriadora, autônoma, mas também recíproca. Neste caminho de recriação do texto literário, a questão da tradução cultural (PYM, 2016) é também precípua para analisarmos o processo de tradução de uma obra literária. De acordo com os postulados de Bhabha (2019), o tradutor mantém uma posição de agente propagador de “hibridismo cultural”. Isso significa que o tradutor, por conhecer as duas culturas — do texto a ser traduzido e da língua-alvo —, produz um discurso, consequentemente, híbrido. Para Berman (1984), no processo de tradução cultural, o tradutor deve optar por manter aspectos da cultura estrangeira. Isso significa, em outras palavras, que a tentativa de simplificação do texto e do consequentemente apagamento de aspectos da outra cultura para tornar o texto mais aprazível ao leitor deve ser evitada. Do mesmo modo, Lawrence Venuti, em Escândalos da tradução (2019), afirma que a boa tradução é aquela que não domestica textos estrangeiros, que não os insere dentro de um sistema literário da literatura nacional do tradutor, cujos estilos, muitas vezes, diferem dos da língua traduzida. “Uma ética da tradução que privilegia a diferença reforma identidades culturais que ocupam posições dominantes na cultura doméstica” (VENUTI, 2019, p. 169). No século XXI, surgem propostas metodológicas que relacionam tradução e problematização do cânone literário estabelecido, a exemplo da obra As sinsombrero – sem elas a história não está completa, da escritora espanhola Tània Balló, publicada em 2016 (Espasa Libros) e traduzida no Brasil em 2022 (Relicário), que recupera a memória de várias mulheres da Geração de 27 (escritoras, artistas plásticas, dramaturgas e pensadoras), cujo legado se mostra decisivo para a história da Espanha, uma vez que elas participaram da vida cultural espanhola entre os anos 1920 e 1930 e tornaram possíveis as mulheres de hoje, apesar do papel restrito que a elas era incumbido naquela época e naquela sociedade (de esposas e mães), e apesar do impacto da Guerra Civil, que acabou com tantos sonhos de liberdade e igualdade. Essa prática de tradução foge de uma representação aparentemente inclusiva dos textos selecionados, que ao fim e ao cabo acabam por anular a complexidade dessas produções e termina por objetificar as “culturas supostamente homenageadas” (SELIGMANN-SILVA, 2020, p. 26). Sob outra perspectiva, não se ignora a memória histórica que estes textos possuem, destacando como o “presente” é penetrado pela memória histórica de tentativa de apagamentos. Do mesmo modo, a prática de tradução alinha as teorias da área ao cotejo entre os diferentes contextos. Isto é, como traduzir ao leitor brasileiro do século XXI questões fundamentais do século XIX, por exemplo? Ao inserir o leitor brasileiro, ou seja, o ato da leitura dentro de seu contexto, é relevante trazermos a discussão o conceito de “horizonte”, apresentado por Antoine Berman, em Pour uma critique des traductions: John Donne (1995). Para o teórico francês, o horizonte se configura como um conjunto de parâmetros literários, culturais e históricos que determinam o pensamento e as ações do tradutor. Quer dizer, o tradutor se insere em um determinado éthos e locus, que afetam sua produção. Isso significa que é relevante apontar para o fato de que as traduções produzidas dentro desse projeto de pesquisa serão feitas por pesquisadores brasileiros e, portanto, latino-americanos. Com efeito, com a prática de tradução, poderemos estabelecer uma recontextualização dos textos lidos e discorrer sobre as perspectivas éticas e sócio-históricas das traduções realizadas. Portanto, este simpósio acolherá as propostas que dialoguem com os desafios teórico-metodológicos na tradução literária e/ou que reflitam sobre o papel ativo do tradutor na formação de cânones.
PALAVRAS-CHAVE: tradução literária; literatura comparada; tradução cultural

LER O POEMA EM TRADUÇÃO: DA REDUÇÃO INSTRUMENTAL À SINGULARIDADE DO POEMA TRADUZIDO COMO DISPOSITIVO CRÍTICO E FORMA DE VIDA
EIXO: EIXO 8 - TRADUÇÃO COMO ARTE DO (DES)ENCONTRO
SIMPÓSIO: LER O POEMA EM TRADUÇÃO: DA REDUÇÃO INSTRUMENTAL À SINGULARIDADE DO POEMA TRADUZIDO COMO DISPOSITIVO CRÍTICO E FORMA DE VIDA
COORDENADORES:
- Mauricio Mendonça Cardozo (UFPR) maumeluco@gmail.com
- Pablo Simpson (UNESP) pablo.simpson@unesp.br
- Marcos Antonio Siscar (UNICAMP) siscar@unicamp.br
RESUMO: A pesquisa sobre a tradução literária, em geral, e sobre a tradução de poesia, em particular, vem se desenvolvendo, nas últimas décadas, na direção tanto de uma compreensão da prática tradutória como atividade de ordem crítica, de natureza necessariamente relacional, interferente e transformadora, quanto de uma concepção do texto traduzido como objeto que tem também uma dimensão própria de alteridade, ou seja, que além de representar uma forma de vida (como sobrevida) da obra original (Benjamin, 2011), constitui, ele mesmo, uma forma singular de vida (Cardozo, 2021, p.134). Entre os inúmeros autores que, nas mais diversas frentes, vêm contribuindo para a construção dessa condição contemporânea da tradução, caberia destacar, aqui, ao menos dois dos mais inequívocos. Um deles é Haroldo de Campos, que já em seu ensaio seminal “Da Tradução como criação e como crítica” (Campos, 2013), publicado pela primeira vez em 1963, antecipava (com Ezra Pound) o valor eminentemente crítico da tradução, num recorte epistemológico que, já então, admitia o caráter necessariamente transformador e criativo do gesto tradutório. Outra referência decisiva é Antoine Berman, que, partindo de um imperativo relacional da tradução (“Elle est mise en rapport, ou elle n’est rien”, Berman, 1984, p.16 [“Ela é relação, ou não é nada”, Berman, 2002, p.17]) e da necessidade de redimensionamento da ideia que temos de leitura do texto traduzido (diante da qual o autor constata: ainda temos de “apprendre à lire une traduction”, Berman 1995, p.65), assume essa prática nominalmente como “atividade de ordem crítica” (Berman, 1995, p.41), propondo, a partir disso, tanto uma nova perspectiva crítica (analítica, criticamente produtiva) quanto um modo politicamente engajado (anti-etnocêntrico) de pensar a prática e a história da prática da tradução literária. Diante desse quadro, impõe-se hoje, ao pesquisador que tem por objeto a tradução de poesia ou a poesia em tradução, o desafio de tirar consequências teóricas e críticas do simples fato de que o poema traduzido, além de ser outro texto (diferente do original que traduz), é também um texto outro, ou seja: suas diferenças em relação ao texto original não são necessariamente a manifestação estigmatizante de uma negatividade – traição, deformação, deficiência de uma tentativa proverbialmente malograda de reprodução –, mas, sim, a expressão de uma forma singular de dizer o outro e, nesse mesmo sentido, expressão de uma singularidade que também nos ensina “a ler um poema, a entender o que é um poema – o que se considera que um poema é ou diz” (Siscar, 2021, p.39). Levando esses pressupostos às últimas consequências, a tradução, no mesmo gesto em que cumpre seu fim mais instrumental de dizer de novo o outro, surge também (e necessariamente) como um modo de ler o outro. Portanto, mais do que esforço de reescrita de um texto –sem deixar de sê-lo, especialmente se considerado o valor crítico e relacional desse esforço, desse trabalho, dessa poiesis –, a tradução constitui um modo de dar forma ao outro (ao poema, ao autor, à obra etc.); por fazê-lo e ao fazê-lo, constitui também um modo de pensar esse outro. A despeito e à revelia dessas constatações, parece persistir como pressuposto de certa prática crítica (acadêmica e não acadêmica) uma visão de tradução que reduz a tradução literária a sua condição instrumental, revelando-se, assim, pouco sensível tanto à condição de singularidade do texto traduzido como uma forma de vida, quanto a sua espessura e extensão crítica, ou seja, quanto ao seu significado como dispositivo crítico. A ideia deste Simpósio é enfrentar criticamente situações em que o poema traduzido, como fenômeno literário ou como objeto de um pensamento sobre tradução, sobre poesia, é reduzido à instrumentalidade de sua condição tradutória, ou seja, é lido exclusivamente à luz do texto que toma por origem, como se fosse (com se pudesse ser) apenas reflexo “imediato” do próprio texto de origem, sem maior consideração de sua condição de alteridade, a não ser como estigma. Caberá, nesse sentido, discutir as consequências dessa revisão crítica: 1) para a leitura e recepção do poema em tradução (como obra de seu autor, evidentemente, mas também na espessura crítica do que representa o trabalho de tradução dessa obra); 2) para uma compreensão dos limites e das possibilidades da prática crítica que tem como objeto o poema traduzido; e 3) para um pensamento “contemporâneo” (no sentido mesmo de um pensamento que dá consequências a questões candentes no pensamento teórico, crítico e filosófico contemporâneo) sobre a tradução de poesia. Por extensão, caberá, igualmente, valorizar todo tipo de trabalho disposto a fazer esse exercício de leitura de poemas em tradução, buscando um enfrentamento do texto traduzido em sua condição tanto de dispositivo crítico quanto de uma forma singular de vida.
PALAVRAS-CHAVE: tradução e poesia; tradução e crítica; tradução como forma de vida; leitura de tradução

O MONOLINGUISMO E O OUTRO: LITERATURAS LUSÓFONAS COMO ARENAS DE TRADUÇÃO INTERCULTURAL
EIXO: EIXO 8 - TRADUÇÃO COMO ARTE DO (DES)ENCONTRO
SIMPÓSIO: O MONOLINGUISMO E O OUTRO: LITERATURAS LUSÓFONAS COMO ARENAS DE TRADUÇÃO INTERCULTURAL
COORDENADORES:
- Nabil Araújo de Souza (Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)) nabil.araujo@gmail.com
- Lúcia Ricotta Vilela Pinto (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)) luciavilelapinto@gmail.com
- MARCOS NATALI (USP) mpnatali@usp.br
RESUMO: Quando o nacionalismo parecia se converter numa questão superada para os Estudos Literários globalizados, o surpreendente fenômeno do neonacionalismo populista que assola países do porte dos EUA, da Índia e do Brasil nos impele a recolocar na pauta da discussão acadêmica os velhos/novos laços que ligam cultura estética e Estado-Nação. Encarando o nacionalismo como uma formação discursiva, isto é, “um modo de falar, escrever e pensar sobre as unidades básicas de cultura, política e pertencimento que ajuda a constituir nações como dimensões reais e poderosas da vida social” (Craig Calhoun), reenfocaremos o binômio “nação e narração” (Homi Bhabha) com vistas às literaturas lusófonas e seu ensino acadêmico-escolar na contemporaneidade. Se o campo literário emergiu, em países diversos, na esteira do Romantismo, identificado com o imperativo de uma pedagogia da nacionalidade, converteu-se, não obstante, ao longo do tempo, em espaço privilegiado de redefinições e disputas acerca da “localidade” da cultura nacional, de suas fronteiras, limites, “entre-lugares”. Enfatizando, portanto, a interculturalidade que atravessa, constitutivamente, toda e qualquer cultura nacional, trata-se de repensar, nessa perspectiva, as literaturas lusófonas e seu ensino na era do neonacionalismo. Nosso foco na lusofonia – ou, para evocar Jacques Derrida, no monolinguismo lusófono –, longe de aludir a uma suposta homogeneidade linguística garantida por um passado colonial, endossa, ao contrário, o alerta de Abel Barros Baptista para o fato de que “a homogeneidade suportada por uma mesma língua é uma ilusão criada pela ignorância do constante trabalho de tradução que o domínio de uma língua implica”. Endossamos, portanto, com Baptista, a concepção de língua como “corpo de possibilidades”, “rede de heterogeneidades” que impõe a tradução “não apenas entre línguas, mas entre variantes – nacionais, sociais, regionais, históricas, profissionais etc. – da mesma língua”, o que implica “não apenas o domínio das possibilidades de tradução, mas ainda, e sobretudo, a capacidade de lidar com tudo o que resiste à tradução, os nós de singularidades irredutíveis (que não têm conteúdo nacional)”; e, com Daniel-Henri Pageaux, a concepção de imagem literária como “a representação de uma realidade cultural estrangeira por meio da qual o indivíduo ou o grupo que a elaborou (ou que a partilham ou que a propagam) revelam e traduzem o espaço social, ideológico, imaginário nos quais querem se situar”. Visamos, em suma, a performances literárias de tradução intercultural intralinguística, no sentido em que Roman Jakobson definiu a “tradução intralinguística” (a qual consiste na interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua) e Boaventura de Sousa Santos definiu a “tradução intercultural” (a qual busca gerar uma inteligibilidade mútua entre experiências possíveis), perspectiva que se abre, ademais, ao diálogo com Eduardo Viveiros de Castro e suas reflexões sobre o perspectivismo ameríndio. Interessam-nos aproximações às literaturas lusófonas como arenas tradutórias em que imagens de si e do outro, do próprio e do alheio, do nacional e do estrangeiro, se constituem na tensão permanente entre a “tradutibilidade ideal” e a “irredutibilidade do intraduzível” numa mesma língua (Baptista). Acolheremos propostas de comunicação que abordem essa problemática seja por um viés teórico, seja por meio de análises críticas de narrativas, poemas ou textos dramáticos lusófonos. BAPTISTA, Abel Barros. O livro agreste: ensaio de curso de literatura brasileira. Campinas: Ed. da Unicamp, 2005. BAPTISTA, Abel Barros. Três emendas: ensaios machadianos de propósito cosmopolita. Campinas: Ed. da Unicamp, 2014. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. de Myriam Ávila; Eliana L. L. Reis; Gláucia R. Gonçalves. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. CALHOUN, Craig. O nacionalismo importa. In: PAMPLONA, Marco A.; DOYLE, Don H. (Org.) Nacionalismo no Novo Mundo: a formação de estados-nação no século XIX. Trad. de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 37-70. DERRIDA, Jacques. O monolinguismo do outro. Trad. de Fernanda Bernardo. Belo Horizonte: Chão da Feira, 2016. JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. Trad. de Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1969. PAGEAUX, Daniel-Henri. Musas na encruzilhada: ensaios de literatura comparada. Frederico Westphalen(RS)/São Paulo/Santa Maria(RS): EdURI/Hucitec/EdUFSM, 2011. SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2021. SANTOS, Boaventura de Sousa. O fim do império cognitivo: a afirmação das epistemologias do Sul. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2002.
PALAVRAS-CHAVE: LITERATURAS LUSÓFONAS; TRADUÇÃO INTRALINGUÍSTICA; TRADUÇÃO INTERCULTURAL; (IN)TRADUTIBILIDADE DO OUTRO

POESIA E(M) TRADUÇÃO
EIXO: EIXO 8 - TRADUÇÃO COMO ARTE DO (DES)ENCONTRO
SIMPÓSIO: POESIA E(M) TRADUÇÃO
COORDENADORES:
- Andrea Cristiane Kahmann (UFPel) andreak.ufpb@gmail.com
- Andrei dos Santos Cunha (UFRGS) andreicunha@gmail.com
- Marlova Gonsales Aseff (UnB) marlova.aseff@gmail.com
RESUMO: Resumo: Recitar, cantar e versejar ensinamentos ou grandes feitos são atividades tão antigas quanto a própria humanidade. Também o é transmitir essa poesia a culturas outras, inicialmente não previstas quando da concepção dos primeiros versos, atividade em que é imprescindível mediar culturas e espanar o provincianismo da língua que traduz e daquela da qual se traduz, materializando as trocas entre o que é próprio e o que é alheio, como o diria Tania Carvalhal (2003). São muitas as questões da poesia em tradução que despertam a curiosidade comparatista — a começar por suas multiplicidades interpretativas, suas intertextualidades previstas ou não na tradição literária fonte, passando pelos diferentes horizontes de expectativas para uma obra em (polis)sistemas literários que se diferem não só no espaço como também no tempo, chegando mesmo à análise das dinâmicas de poder que encontramos nessas relações. Afinal, traduzir é necessariamente promover o (des)encontro com a alteridade, é dialogar, horizontalizar, hibridizar, mestiçar, proporcionar cruzamentos e trocas que transformam culturas de origens e de meta e (re)configuram o próprio (polis)sistema — sem esquecer, é claro, dos conflitos e atritos que esses atos de linguagem carregam em suas estruturas. No caso brasileiro, a poesia traduzida configura um subsistema muito dinâmico. Alfredo Bosi, na sua História Concisa da Literatura Brasileira, por exemplo, já ressaltava o surgimento de “numerosas traduções de poesia” na década de 1980, cujo significado, afirma o autor, é amplo e vai da “contínua internacionalização da cultura escrita […] à crescente profissionalização do ofício do tradutor que o mercado contemporâneo propicia” (2006, p. 490). O movimento da vanguarda concretista, dos anos 1960, começou a pôr em prática, pela primeira vez no país, um projeto coletivo de tradução de poesia e abriu caminhos para reflexões mais acuradas. Tanto é assim que os anos 1980 permitiram observar um crescimento significativo no volume de publicações de poesia traduzida (ASEFF, 2012, p. 141), consolidando um público leitor interessado e formando um efetivo mercado interno para a poesia traduzida. Aqui e em sistemas outros, ao longo de todos os séculos, o volume de atividade tradutória atribuído a poetas é proporcional ao da produção de versos em sua própria língua. A posição que a poesia em língua de partida ou em língua-alvo ocupam tanto quanto a receptividade a seus atores dentro dos (polis)sistemas, porém, variam segundo predisposições literárias ou extraliterárias, como o são questões de gênero, raça, nacionalidades e hegemonias linguísticas. Promover esses (des)encontros é, portanto, também evidenciar relações de poder. Tendo tudo isso em vista, o objetivo deste simpósio é reunir estudos com diferentes enfoques sobre a tradução de poesia em abordagem comparatista. A crítica e a história da tradução, os estudos bibliométricos, a apresentação de métodos, as análises de coleções ou projetos editoriais ou tradutórios e de poetas que traduzem, assim como de suas relações com o mecenato e com os sistemas de acreditação de prestígio, como premiações, antologizações, inclusões em currículo, midiatização, transmidialização e adaptação, são possíveis temas a partir dos quais podem ser propostas discussões. São incentivados os estudos comparatistas, os que se vinculem aos estudos culturais e às abordagens interdisciplinares que partam de reflexões sobre textos e culturas em contato, as (im)permeabilidades entre (polis)sistemas, suas trocas, seus processos de hibridização e de transposições de fronteiras ou criações (trans)fronteiriças, bem como os discursos sobre a recepção dessas criações, tanto quanto sobre comentários à atividade de tradução de poesia ou outra forma de produção textual ou artística que se tenha valido do referencial teórico da tradução de poesia. Também serão aceitos trabalhos sobre poesia de língua portuguesa traduzida para outros idiomas e as traduções comentadas de poesias e demais obras cujos projetos tradutórios se possam favorecer das abordagens teóricas relacionadas à tradução de poesia. São bem-vindas as discussões teórico-críticas e as que abordem a excelência das traduções ou das teorias de tradução de poesia produzidas no Brasil, como os aportes de Haroldo de Campos, Mario Laranjeira, P. H. Britto, Paulo Vizioli, José Paulo Paes, Jorge Wanderley, Ana Cristina Cesar, Álvaro Faleiros, entre outros nomes. Aceitam-se resumos e apresentações em: português, espanhol, francês, inglês e japonês. As traduções analisadas, seja em língua de partida ou de chegada, podem ser em outros idiomas, desde que a análise em si seja apresentada em uma das línguas de trabalho do simpósio.
PALAVRAS-CHAVE: estudos comparatistas de poesias em tradução, tradução de poesia, aportes teóricos da tradução de poesia.

TRADUÇÃO DE LITERATURAS DE VIAGEM, MIGRAÇÃO E EXÍLIO
EIXO: EIXO 8 - TRADUÇÃO COMO ARTE DO (DES)ENCONTRO
SIMPÓSIO: TRADUÇÃO DE LITERATURAS DE VIAGEM, MIGRAÇÃO E EXÍLIO
COORDENADORES:
- Marie Helene Catherine Torres (Universidade Federal de Santa Catarina) marie.helene.torres@gmail.com
- Luana Ferreira de Freitas (UFC) luana.ferreira.freitas@pq.cnpq.br
- Walter Carlos Costa (UFC) walter.costa@gmail.com
RESUMO: As relações entre Literatura Comparada e Estudos da Tradução são antigas. Em determinados momentos, os Estudos da Tradução eram vistos como um apêndice da literatura comparada; em outros, os Estudos da Tradução ganham força e se colocam no centro da relação (Guerini, Costa, 2015). Essas interconexões foram descritas por diferentes estudiosos, dentre eles, Susan Bassnett (1993), Emily Apter (2006) e José Lambert (2011). Pascale Casanova, por outro lado, propõe assumir sobre os textos e sua história uma perspectiva diferente daquela tradicionalmente tomada pelos comparatistas. Para ela, a tradução é um dos motores essenciais para a constituição e unificação do espaço literário mundial. Por ser o principal veículo para a circulação da literatura, a tradução é, na maioria das vezes, descrita como simples translação, veiculação horizontal, neutra e neutralizada dos textos (Casanova, 2005). A literatura comparada e os estudos da tradução compartilham uma função essencial: trabalham para aproximar as diversas sociedades através da intercompreensão e da abertura de imaginações, culturas e textos. Ambos, a literatura comparada e os estudos da tradução, se interessam por estabelecer conexões e pontes necessárias, para retomar a metáfora de José Paulo Paes (1990), a fim de compreender e de cruzar fronteiras e, assim, trazer para dentro de si uma relação de identidade e heterogeneidade. Portanto, a “literatura mundial”, a literatura existente no espaço internacional, parece se referir a todas as literaturas nacionais do mundo e à circulação de obras no mundo para além do seu país de origem. Cada vez mais considerada num contexto internacional, a literatura circula graças às traduções em diferentes línguas-culturas. Nesse sentido, a tradução da literatura de viagem, de exilados e de migrantes, na sua maioria, narrativas a partir de um olhar que busca, a todo momento, declarar e justificar as diferenças em presença (Freitas, Nascimento, 2021) considera não somente o olhar do estrangeiro ao revelar mudanças e contradições, momentos históricos, explorações, descobertas e outras infinitas possibilidades, mas também o olhar do tradutor, enquanto agente transformador e intermediário da circulação das obras literárias, bem como agente de mediação intercultural, criando pontes entre as diversas culturas e dialogando com o outro, o estrangeiro, o diferente. Isso leva a apreender o tradutor como um migrante, sempre interagindo com duas ou mais culturas, na fronteira, indo de um lado a outro desta ou deste, carregando sua bagagem física e intelectual. É o que Denise Merkle (2007: 302) chama de “zones grises” (zonas cinzentas). O estudo dos temas como os de viagem, migração e exílio na literatura, em geral, e na literatura traduzida em particular, levanta questões sobre as percepções que os escritores têm de outros lugares e suas representações e diferentes visões de mundo. Cada viagem, deslocamento, cruzamento de fronteiras, ou travessia, leva a um reposicionamento geográfico e de identidade, a uma reconsideração de si mesmo em contato com o outro. Daí o papel central da tradução na representação da negociação permanente entre diferentes espaços linguísticos, políticos, sociais e culturais envolvendo a experiência da alteridade e a recomposição da identidade. O tradutor, através da escrita sobre passagem, cruzamento de fronteiras e mistura e/ou hibridização de culturas, ideias, línguas, histórias e memórias em contato, mostra a maneira como ele olha para o mundo com suas múltiplas formas e sua estética do diverso, do díspar, do fragmentário. Nessa perspectiva, o seu papel é, para Berman, o de ter uma certa ética com a tradução em relação ao texto que ele traduz (Berman, 2013). As pesquisas apresentadas neste simpósio pretendem ampliar os estudos sobre tradução de literaturas de viagem, migração e exílio, não somente no sistema literário brasileiro, mas também em outros sistemas literários. São bem-vindas comunicações sobre: literatura, no sentido amplo do termo, de autores brasileiros traduzidos para qualquer língua-cultura ligada ao tema; tradução comentada de textos literários, em qualquer língua-cultura, como relato de viagem, literatura do exilio e da migração; tradutor/tradução e poder da literatura de viagem, exilio e migração na circulação da literatura brasileira e estrangeira; recepção de um autor de literatura de viagem, exílio e migração amazônico específico em tradução em determinada cultura; impacto das traduções de literatura de viagem, exilio e migração na formação do cânone literário nacional e na formação da identidade nacional, em qualquer língua-cultura; a tradução e o papel da memória na construção da identidade; além das questões de retradução de literatura de viagem, exílio e migração.
PALAVRAS-CHAVE: Estudos da tradução e literatura comparada; literatura de viagem; tradução e exílio; tradução e migração.

TRADUZINDO À MARGEM
EIXO: EIXO 8 - TRADUÇÃO COMO ARTE DO (DES)ENCONTRO
SIMPÓSIO: TRADUZINDO À MARGEM
COORDENADORES:
- SHEILA MARIA DOS SANTOS (UFSC-PGET) dossantos.sheilamaria@gmail.com
- Kall Lyws Barroso Sales (UFAL-PPGLL) kall.sales@fale.ufal.br
RESUMO: A tradução sempre foi uma prática seletiva. Nenhum país, a nosso conhecimento, teve absolutamente toda sua produção intelectual traduzida para outra língua. Em geral, apenas uma parcela de sua produção bibliográfica é traduzida, e a proporção de obras traduzidas varia entre os países, de acordo com seu prestígio no cenário mundial (CASANOVA, 1999; 2021). Isso é algo inerente a todos os tipos de texto, mas foquemos apenas no caso da Literatura, deixando, portanto, de lado os textos técnicos. Para que uma obra literária seja traduzida ela precisa, antes de mais nada, ser publicada em seu país de origem. Mas apenas esse primeiro movimento não garante que tal obra venha a ser traduzida posteriormente. Para que isso ocorra, é preciso que ela adquira prestígio em seu sistema literário, que seja lida em sua língua materna, que o/a autor(a) torne-se conhecido(a), que sua obra seja alvo de trabalhos críticos, que teóricos se debrucem sobre ela, que circule nos meios literários, na academia, nas bibliotecas, nas livrarias. E esse movimento é muito mais complexo do que se imagina, pois envolve questões de poder, conforme aponta Pascale Casanova na obra La République mondiale des lettres, ao discorrer sobre o universo literário mundial e suas estruturas desiguais, fomentadas por uma rede de rivalidade e dominação. De acordo com Marie-Hélène Catherine Torres (2021), “Casanova preconiza, portanto, o ‘desacreditar’, isto é, ela afirma que é necessário adotar um posicionamento ateu, ou seja, o posicionamento de não acreditar mais no prestígio da língua mundial, que é o inglês atualmente” (p. 12). Ora, esse movimento de “desacreditar”, de subverter séculos de dominação da língua inglesa, passa, certamente, pelas escolhas das obras a serem traduzidas, uma vez que a tradução é a porta de entrada para o cenário literário mundial. Como reforça Torres, “o papel da tradução seria o de medir o grau de dominação, já que a presença de tradução reduz a dominação” (TORRES, 2021, p. 12). No século XX, por exemplo, diversos movimentos sociais se manifestam nas ficções das/nas periferias do mundo. Nos anos 80, os jovens filhos dos imigrantes vindos do Magreb, conhecidos durante essa época como “beurs”, escreveram suas experiências e trajetórias que se construíram em uma França multicultural e multilinguística. Ao denunciarem o racismo e a xenofobia vivida no cotidiano das cidades, estes novos jovens autores acabaram por evidenciar, na literatura, o lugar destinado ao “intrangeiro” (BENMILOUD, 2004), com sua escrita de denúncia, ousada e subversiva. Com relação ao mercado editorial, antes das revoluções de independência do Vietnã e da Argélia, é na França e nas grandes editoras como Gallimard, Seuil que muitos autores magrebinos são publicados e reconhecidos (Mouloud Feraoun, Mammeri, Mohammed Dib, Albert Memmi, Driss Chraïbi e Kateb Yacine). Essa França, entendida como capital cultural, representa uma espécie de centralidade na produção, divulgação e no financiamento da produção literária de vários autores de nacionalidades distintas. É através das premiações francesas que muitos autores têm seu nome reconhecido mundialmente como Édouard Glissant, que recebe o prêmio Renaudot, em 1958, pela obra La Lézarde. Essa mesma França também é responsável pelas publicações de Maryse Condé, de Aimé Césaire, de Frantz Fanon. Nos entremeios destas literaturas ditas marginais, identificamos narrativas do cotidiano, denúncias de problemas sociais, enfrentamentos políticos, literaturas que, durante muito tempo, não estiveram em muitos circuitos literários. Neste cenário em que abundam tecnologias de reconhecimento (SHIH, 2004), a lógica da produção de literatura vem imbricada em uma constelação de discursos, em diversas práticas institucionais, de produção acadêmica, e em outras formas de representação que criam e sancionam conceitos, fazendo com que os sistemas de centro sejam entendidos como agentes de reconhecimento enquanto que o “restante” periférico seja entendido como objeto a ser reconhecido. Neste cenário de “capital literário” (CASANOVA, 2002) podemos evidenciar o papel fundamental da tradução literária no mercado como um inegável fenômeno linguístico e cultural de diálogo entre as literaturas nestas “operações de tradução” (VELDWACHTER, 2012). Sabemos que a tradução, historicamente, teve uma função de apropriação e assimilação, vide o caso dos clássicos gregos e latinos, portanto, repensar o lugar da tradução, as escolhas das obras que serão traduzidas, de quais línguas se traduz, para quais línguas se traduz, quais autores, e aqui o uso do universal masculino não é mera coincidência, faz-se extremamente necessário. Por isso, a proposta desse simpósio é a de repensar o cânone de literatura traduzida, repensar as relações de poder, o lugar do centro e da periferia nos mapas-múndi literários e o papel da tradução nessa dinâmica. Abre-se, portanto, a trabalhos que tratem da tradução de obras que não ocupem o lugar hegemônico na história, obras que historicamente não são traduzidas, ou raramente o são, como a literatura de autoria LGBTQIA+, de autoria negra, de mulheres, de indígenas, e de todas as classes que se sobressaem à figura do cânone essencialmente masculino, europeu, branco, cisgênero.
PALAVRAS-CHAVE: .
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A LITERATURA COMO REFLEXO/REFLEXÃO SOBRE A VIDA
- Sabrina Vier (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) - sabrinavier@unisinos.br
- Márcia Lopes Duarte (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) - mlduarte2122@gmail.com
- Juciane dos Santos Cavalheiro (Universidade do Estado do Amazonas) - jucianecavalheiro@gmail.com
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CRIAÇÃO LITERÁRIA/CRIAÇÃO DE MUNDOS - A PEDAGOGIA DA FICÇÃO
- Alexandre Graça Faria (UFJF) - alexandre.faria@ufjf.br
- Tatiana Franca Rodrigues Zanirato (UFJ) - tatiana_franca@ufj.edu.br
- André Luiz de Freitas Dias (PUC-Rio) - andrecapile@gmail.com
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CULTURA E LITERATURA NO ENSINO DE LÍNGUA-DISCURSO
- Silvânia Siebert (UNISUL) - silvania@cinemaistv.com.br
- Ana Emília Fajardo Turbin (UnB) - anafajardo@unb.br
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DECOLONIZAR A LEITURA: ENSINO DE LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA
- José Humberto Rodrigues dos Anjos (Universidade Federal de Goiás - UFG) - josehumberto2@ufg.br
- Agnaldo Rodrigues da Silva (Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT) - agnaldosilva20@unemat.br
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DESAFIOS NO ENSINO DE LITERATURAS EM TEMPOS DE PÓS-COVID-19: TEORIAS, PRÁTICAS E EXPECTATIVAS
- Rosana Cristina Zanelatto Santos (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/CNPq) - rzanel@terra.com.br
- Danglei de Castro Pereira (Universidade de Brasília) - danglei@terra.com.br
- Lucilo Antônio Rodrigues (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) - luciloterra@terra.com.br
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ENSINO DE LITERATURA EM CRISE: DIAGNÓSTICOS & PROPOSTAS
- Cristiane Brasileiro Mazocoli Silva (UERJ) - cristianebrasileiro.di@gmail.com
- Marcel Alvaro de Amorim (UFRJ) - marceldeamorim@letras.ufrj.br
- Mônica de Menezes Santos (UFBA) - monicamenezes04@gmail.com

A LITERATURA COMO REFLEXO/REFLEXÃO SOBRE A VIDA
EIXO: EIXO 9 - LITERATURA E ESPAÇOS COMUNS DE APRENDIZAGEM
SIMPÓSIO: A LITERATURA COMO REFLEXO/REFLEXÃO SOBRE A VIDA
COORDENADORES:
- Sabrina Vier (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) sabrinavier@unisinos.br
- Márcia Lopes Duarte (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) mlduarte2122@gmail.com
- Juciane dos Santos Cavalheiro (Universidade do Estado do Amazonas) jucianecavalheiro@gmail.com
RESUMO: Franco Berardi (2020, p. 17), ao refletir sobre a contemporaneidade, pergunta “como podemos pensar em um processo de criação de subjetividades quando a precarização está colocando em risco a solidariedade social e quando o corpo social está conectado a automatismos tecnolinguísticos que reduzem suas reações à repetição de padrões comportamentais já incorporados?”. Neste simpósio, temos como premissa que o texto literário é possibilidade de subversão a essa subjugação. Em diálogo com Antonio Candido, o texto literário, porque possibilita vivenciar experiências outras, em diferentes processos de criação de subjetividades, assume um compromisso ético e estético com o ensino e a aprendizagem. Ético no sentido de “corresponder a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação se constituiu um direito” (CANDIDO, 2011, p. 177). Estético, por constituir a essência da compreensão da literatura, sobretudo a partir daquilo que marca a experiência humana, ou seja, a alteridade, o diálogo, a escuta, o conhecimento, o enfrentamento, a exotopia, pois “a princípio eu tomo consciência de mim através dos outros: deles eu recebo as palavras, as formas e a tonalidade para a formação da primeira noção de mim mesmo.” (BAKHTIN, 2017, p. 30). Segundo Carlos Skliar (2014, p. 17), a experiência dessa ordem “não é estrutural, nem explicativa, nem duradoura, nem apaziguadora, mas, sim, existencial, uma existência poética da língua e para a língua”. Nesse sentido, a leitura do texto literário desobedece a linguagem: coloca-nos fora de nós mesmos em uma brecha sonora e silenciosa que abre possibilidades para a produção de sentido (SKLIAR, 2014). Aí está o ponto crucial de nossa preocupação neste Simpósio: colocar em diálogo, através do texto literário, a ética e a estética, de modo que sejam compreendidas como possibilidade de criação de subjetividades; alicerçando, dessa forma, propostas cuja amplitude possa estabelecer novos vínculos de leitura e compreensão dos textos literários e demais objetos artísticos, pela via da perspectiva comparatista, cujo escopo permite ressignificar as relações de sentido. Conforme Candido (2011), a escola e a universidade são as instituições privilegiadas, onde se exerce o direito à literatura. Propomos, assim, neste Simpósio, a pensar o lugar da literatura de modo inseparável ao lugar da crítica e ao espaço de aprendizagem. Devemos, também, em consonância com as perspectivas de nossa contemporaneidade, inserir novas vozes e gêneros no espaço escolar, já bastante desgastado por itinerários previsíveis e inócuos. Nesse sentido, podemos acatar a fala da pesquisadora Ana Lúcia Silva Souza, que, em seu livro "Letramentos da reexistência" (2011), aponta novos gêneros a serem considerados no que diz respeito ao letramento: “Ao enxergar o caráter social e plural de letramentos, validam-se tanto as práticas adquiridas por meio dos processos escolarizados (...) como as adquiridas em processos e espaços de aprendizagem em distintas esferas do cotidiano.” (p. 35). Dessa forma, para além da prática pedagógica escolar, é necessário consolidar uma prática em espaços alternativos de aprendizagem. Os espaços comuns de aprendizagem são como que a mola propulsora para a formação de leitores, sobretudo pelo acesso à acentuada diversidade de fontes, o que garante a ampliação do repertório e a formação do gosto pela leitura. Assim, neste Simpósio, temos como premissa o fato de que a literatura tem um papel fundamental na formação de nossos discentes, uma vez que, ao alargarmos as possibilidades de inserção de vozes distintas, podemos, em cotejo com o cânone consolidado, proporcionar um espectro bastante amplo de reflexões sobre a realidade e a (des)humanização dos sujeitos, pela via da desconstrução do potencial simbólico e imaginativo. Desse modo, se nos alinhamos às metodologias ativas e inserimos novos gêneros e vozes, somos capazes de ressignificar a vida. De forma geral, o Simpósio pretende reunir pesquisadores e interessados na problemática do ensino e da aprendizagem – tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior – e suas relações com o texto literário, reunindo [a] propostas metodológicas que apresentem dinâmicas de aulas de língua e literatura atravessadas pelo olhar ético e estético, ou seja, propostas de trabalho que, propondo uma reflexão sobre a arte, visam subverter o automatismo; e [b] estudos que buscam, por meio do texto literário, refletir sobre as novas práticas, as novas vozes e os novos gêneros a serem incluídos na discussão sobre o potencial crítico e humanizador da literatura em nosso contexto acadêmico.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; espaços de aprendizagem; ética; estética; resistência

CRIAÇÃO LITERÁRIA/CRIAÇÃO DE MUNDOS - A PEDAGOGIA DA FICÇÃO
EIXO: EIXO 9 - LITERATURA E ESPAÇOS COMUNS DE APRENDIZAGEM
SIMPÓSIO: CRIAÇÃO LITERÁRIA/CRIAÇÃO DE MUNDOS - A PEDAGOGIA DA FICÇÃO
COORDENADORES:
- Alexandre Graça Faria (UFJF) alexandre.faria@ufjf.br
- Tatiana Franca Rodrigues Zanirato (UFJ) tatiana_franca@ufj.edu.br
- André Luiz de Freitas Dias (PUC-Rio) andrecapile@gmail.com
RESUMO: Criação literária/criação de mundos – a pedagogia da ficção Alexandre Graça Faria (UFJF) André Luiz de Freitas Dias Tatiana Franca R. Zanirato (UFJ) A ideia de invenção de um mundo comum articulada aos Estudos Literários não pode prescindir de um debate sobre a incorporação da criação poético-ficcional no currículo das Faculdades de Letras. A práxis da ficção é lugar por excelência do pensamento da dissensão (RANCIÈRE), fundamental para a compreensão de que um mundo comum só é possível na coexistência democrática das diferenças. Para isso, a formação do escritor demonstra-se tanto como um caminho de emancipação subjetiva, por meio de procedimentos pedagógicos da escritura de si (RANCIÈRE, 2020), quanto de abertura para o mundo por meio de experiências de criação e tradução inventivas. Este simpósio propõe reunir reflexões teóricas e pedagógicas sobre a prática da criação e da tradução literária em ambiente acadêmico. Partimos do reconhecimento de um déficit curricular dos programas das Faculdades de Letras, nos quais os estudos de literatura voltam-se para teoria, história e crítica, e deixam a criação e a tradução literárias num lugar mais próximo do eletivo e da extensão. Com isso, o escritor é um infamiliar (FREUD, 2019) na formação em Letras. Essa estranheza desdobra-se de mitos que precisam ser preliminarmente enfrentados. O primeiro é o de que o escritor contemporâneo advém prioritariamente áreas de formação diferente da de Letras. Este resulta em dois outros: o de que o aprofundamento nas teorias e nas críticas literárias afasta o sujeito de sua vocação de escritor e o de que aquilo que realmente conta para a formação de um escritor é a experiência de vida. Recente pesquisa quantitativa (STELLA, 2019) aponta que mais de 60% dos ficcionistas contemporâneos no Brasil, de um universo de 433 pesquisados, possui, pelo menos, formação superior (em torno de 30% graduação e 40% pós-graduação). Quando se observa esse conjunto de escritores por tipo de formação universitária, a esmagadora maioria concentra-se em Letras e Jornalismo. Em um universo de 354 autores, do qual 34% não indicam formação superior, 18,93% indicam Letras; 14,69%, Jornalismo; e, em terceiro lugar vem Direito com 5,08%. Se parte significativa dos autores estão nos cursos de Letras e, considerando que essa mudança corresponde a uma realidade do momento contemporâneo, é de se esperar que as faculdades de Letras no país reestruturem seus currículos para incluir essa formação específica. As referências que possibilitam nortear esse debate passam pela pedagogia freireana (FREIRE, 2014) e concentram-se em torno de dois principais constructos teóricos, o de produção de presença (GUMBRECHT, 2010) e os de excesso de positividade e anulação da alteridade no mundo contemporâneo e suas consequências apontadas por Byung-Chul Han, em títulos como Sociedade do cansaço (2015). Guardadas as devidas proporções, ambos indicam alternativas para o pensamento contemporâneo que, se postas em diálogo, resultam em significativas propostas para o deslocamento da percepção crítica por meio de mecanismos que buscam restaurar a capacidade sensível para o que não se constrói, a priori, racionalmente, mas na presença mesmo do outro, em sua dimensão sensível (MAFFESOLI, 1998). Dessa forma a “pedagogia da ficção”, como chamamos no título, pode “equalizar o fluxo das informações e das emoções” (FARIA, 2022). Na perspectiva do dispositivo tradutório, pensemos Tradução-Exu [GONTIJO & CAPILÉ, 2022) como manobra cooperativa e de intervenção, cuja presença da divindade africana, radicada no candomblé brasileiro, opera comutações que perseguem o jogo de distinções que rompem com certa metafísica ocidental, no aspecto de transparência e equivalência em tradução, atuando de modo a investir nas componentes autorais, e de autoridade, via contradição visando desierarquizar o lugar primeiro do texto de origem, por meio da invenção radical do outro dentro do outro. Referências bibliográficas FARIA. Alexandre. Mercado de engenhos. Rio de Janeiro: TextoTerritório, 2022. FLORES, Guilherme Gontijo; CAPILÉ, André. Tradução-Exu: ensaio de tempestades a caminho. Belo Horizonte: Relicário, 2022. Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2014. FREUD, Sigmund. O infamiliar / Das Unheimliche. Tradução Ernani Chaves, Pedro Heliodoro Tavares. Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2019. GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de Presença – o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Ed. PUC- Rio, 2010. HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução de Ênio Paulo Giachini, 2. ed. ampl. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. MAFFESOLI, Michel. O elogio da razão sensível. Tradução de Albert Christophe Migueis Stuckenbruck. Petrópolis: Vozes, 1998. RANCIÈRE, Jacques. "O Dissenso" in: NOVAES, Adauto [org]. A Crise da Razão. São Paulo: Cia das Letras; Brasília: Ministério da Cultura; Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Arte, 1996. pp. 367-382 __________. A partilha do sensível - Estética e Política. São Paulo: Editora 34, 2020. STELLA, Marcello Giovanni Pocai. Literatura como vocação: escritores brasileiros contemporâneos no pós-redemocratização. Dissertação de Mestrado. USP, 2019. Disponível em https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-29032019-134526/pt-br.php. Acessado em 06/06/2018.
PALAVRAS-CHAVE: Criação literária, Escrita criativa, Tradução, Ficção,

CULTURA E LITERATURA NO ENSINO DE LÍNGUA-DISCURSO
EIXO: EIXO 9 - LITERATURA E ESPAÇOS COMUNS DE APRENDIZAGEM
SIMPÓSIO: CULTURA E LITERATURA NO ENSINO DE LÍNGUA-DISCURSO
COORDENADORES:
- Silvânia Siebert (UNISUL) silvania@cinemaistv.com.br
- Ana Emília Fajardo Turbin (UnB) anafajardo@unb.br
RESUMO: Cultura e Literatura no ensino de língua-discurso No livro Cultura e Literatura no ensino de língua-discurso, a proposta multirrede-discursiva na formação docente e no ensino-aprendizagem de línguas materna e estrangeira, Serrani (2020) discorre sobre a importância da leitura literária para o enriquecimento cultural pelo conhecimento de autores, movimentos artístico-literários, etc. Além de ativar diferentes percepções e compreensões sobre temas sócio-culturais, como os que envolvem direitos humanos, questões étnicas e estéticas. Inspirado em Candido pensamos no sentido humanizador da literatura. Como processo que confirma no homem aqueles traços que entendemos como essenciais como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante. (CANDIDO, 2004).? Neste simpósio buscamos discutir pesquisas aplicadas realizadas amparadas na proposta Multirrede-Discursiva desenvolvida por Serrani, a partir de três componentes norteadores: a) Intercultural Multirede-Discursivo: conteúdos relativos à diversidade cultural, tanto no caso de línguas diferentes, como no caso de uma mesma língua; b) Língua – Discurso e Gêneros: conteúdos relativos à materialidade e sistema da língua, em sua inserção direta nos gêneros e processos enunciativo-discursivos em diferentes contextos sociais; c) Componente de Práticas de Linguagem(ns) em Oficinas Multirede-Discursivas (elaboração de práticas, geralmente na forma de oficinas com trabalhos em diferentes gêneros discursivos, para articular os conteúdos previstos nos dois componentes anteriores ao desenvolvimento de práticas enunciativas e de compreensão de textos em diferentes tipos de discursos). Para Bakhtin (2006, p. 294-295): Nosso discurso, isto é, todos os nossos enunciados (inclusive as obras criadas) é pleno de palavras dos outros, de um grau vário de alteridade ou de assimilabilidade, de um grau vário de aperceptibilidade e de relevância. Essas palavras dos outros trazem consigo a sua expressão, o seu tom valorativo que assimilamos, reelaboramos e reacentuamos. Sobre a compreensão dos sentidos, Bakhtin reforça a importância do tempo, do espaço e da cultura. A grande causa para a compreensão é a distância do indivíduo que compreende – no tempo, no espaço, na cultura – em relação àquilo que ele pretende compreender de forma criativa. [...] No campo da cultura, a distância é a alavanca mais poderosa da compreensão. A cultura do outro só se revela com plenitude e profundidade (mas não em toda a plenitude, porque virão outras culturas que a verão e compreenderão ainda mais) aos olhos de outra cultura. Um sentido só revela as suas profundidades encontrando-se e contactando com outro, com o sentido do outro: entre eles começa uma espécie de diálogo que supera o fechamento e a unilateralidade desses sentidos, dessas culturas. (BAKHTIN, 2006, p. 366, grifos do autor) Ainda para Bakhtin: A literatura é parte inseparável da cultura, não pode ser entendida fora do contexto pleno de toda a cultura de uma época. É inaceitável separá-la do restante da cultura e, como se faz constantemente, ligá-la imediatamente a fatores socioeconômicos, por assim dizer, passando por cima da cultura. Esses fatores agem sobre a cultura no seu todo e só através dela e juntamente com ela influenciam a literatura. (BAKHTIN, 2006, p. 360-361) As pesquisas apresentadas devem envolver a leitura de bibliografias específicas das áreas de Literatura e Análise do Discurso. Orlandi nos ajuda a pensar o lugar de pesquisa e nesse ponto somos impelidos ao entremeio: (2004, p.3), “a reflexão discursiva, enquanto disciplina de “entremeio”, remete a espaços habitados simultaneamente, estabelecidos por relações contraditórias entre teorias. Em que não faltam relações de sentido, mas também relações de força, por sua relação com o Poder (declinado pelo jurídico)”. Em relação ao recorte do objeto de pesquisa, adotamos o procedimento sugerido por Courtine, (2006, pp.20-21): “construir um corpus discursivo é fazer entrar a multiplicação infinita e a dispersão fragmentada dos discursos no campo do olhar por um conjunto de procedimentos escópicos”. Significa dizer que os exemplares a serem observados serão definidos no percurso da pesquisa de cunho transdisciplinar, produzida no entremeio dos saberes, a partir da observação do pesquisador. Sob o enfoque discursivo, entende-se que os sentidos têm historicidade, regularidades, no entanto, por outro viés, são fluidos e abertos a novas significações. O que provoca um constante repensar sobre o fazer científico.
PALAVRAS-CHAVE: Cultura, Literatura, Discurso, MR-D

DECOLONIZAR A LEITURA: ENSINO DE LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA
EIXO: EIXO 9 - LITERATURA E ESPAÇOS COMUNS DE APRENDIZAGEM
SIMPÓSIO: DECOLONIZAR A LEITURA: ENSINO DE LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA
COORDENADORES:
- José Humberto Rodrigues dos Anjos (Universidade Federal de Goiás - UFG) josehumberto2@ufg.br
- Agnaldo Rodrigues da Silva (Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT) agnaldosilva20@unemat.br
RESUMO: O desconhecimento e a manipulação de informações sobre o outro e sua história produzem desconhecimento, e perpetuam estereótipos, estruturas de poder e subalternidades. Ao desenvolver essa ideia, Adichie (2019) reforça que a História está envolta por um discurso de poder que, muitas vezes, se consagra como forma definitiva pela qual as civilizações se veem. Na mesma perspectiva, Nascimento (2008, p. 31) adverte que “a distorção da história africana está entre os maiores responsáveis pela perpetuação da imagem dos ‘negros’ como tribais, primitivos e atrasados”. Morrison (2019), por sua vez, alerta para o fato de que a “identificação e o significado da cor são, muitas vezes, o fator decisivo” para uma série de questões e sinais. Desse modo, é preciso ressignificar os discursos atribuídos à cor da pele, possibilitando um aprendizado que extrapole a ideia eurocêntrica do “ser negro”. Isso significa que a cor da pele é determinante para as exclusões, mas não qualquer exclusão, e sim aquelas provocadas pelo racismo que mata e fere, física e psicologicamente, as populações negras. Portanto, é preciso romper com dois problemas: o primeiro é a escassez de informações sobre os conhecimentos produzidos em África, bem como da cultura de seus povos. O segundo centra-se na veracidade dessas informações, uma vez que elas podem estar a serviço de um discurso colonizador, e apenas reforçar estereótipos. Sendo assim, decolonizar esse pensamento deve constituir-se como um projeto de ensino antirracista, que tem como ponto de partida a disseminação dos conhecimentos e artes produzidas pelas diásporas africanas. Paralelo a esse projeto está o ensino das literaturas africanas e afro-brasileiras, prática que tem sido evidenciada nos últimos anos por constituir-se como um bem social que rompe com as “histórias únicas”. Para Evaristo (2006), a literatura é capaz de promover reflexão, consciência e aprendizagem de modo significativo e engajado. Dessa maneira, pode-se dizer que a literatura é um importante canal de compartilhamento de bens simbólicos, ao passo que proporciona um arcabouço cultural, linguístico e social. Isso acontece porque ela não é apenas uma disciplina, mas um meio de enxergar a realidade e, por isso, está aliada às múltiplas formas de conhecimento e mobilização dos saberes. Bonin (2015, p. 23) afirma que “os livros infantis e suas narrativas, além de produções estéticas, também têm construído, ao longo da história, diferentes noções sobre a criança, o adulto, o índio, o negro, o bandeirante, o estrangeiro, a mulher e tantas outras personagens”, que, muitas vezes, são silenciados na história oficial. Dessa feita, cabe-nos dizer que, se a literatura constrói tais espaços, ela é um rico bem social para auxiliar professores em seu processo de ensino, possibilitando subsídios reflexivos para a desconstrução do pensamento eurocêntrico. Soares (1999) apresenta o termo escolarização da literatura como forma de promover uma conscientização a partir da leitura, da interpretação e das catarses por ela provocada. Sendo assim, escolarizar por meio da literatura seria tê-la como meio não apenas para ensinar, mas para fazer com que os envolvidos no processo possam tomar consciência das realidades vivificadas no texto literário, ou mesmo amplificadas por ele. Os motivos evidentes para uma educação promovida pela literatura partem da concepção de engajamento social, em que é preciso colaborar com as futuras gerações, a fim de que elas possam ser menos preconceituosas, menos violentas, e, por conseguinte, promotoras de igualdade racial. Para isso, é preciso que conjuntamente construamos um projeto nacional de cidadania, capaz de demonstrar e levar às pessoas uma consciência política e com engajamento social. Esse levante proposto por Munanga (2008, p. 16) evidencia que as diásporas precisam ser “ensinadas na escola em pé de igualdade com as demais culturas que contribuíram na formação do povo brasileiro”. Isso significa trazer para o centro ensinamentos que, historicamente, estiveram à margem, e que, por essa razão, ficaram desconhecidos durante décadas. Não é mais aceitável no modelo de educação gratuita, com qualidade e emancipatória, o consentimento da reprodução eurocêntrica que começa na infância, com as princesas e príncipes, e se estende na vida adulta com as imagens veiculadas pela mídia de corpo, cabelo e cor ideal. Nesse contexto, deve-se apresentar para as crianças, já na educação infantil, um projeto de igualdade racial que seja capaz de “subverter imagens e sentimentos cristalizados” (DUARTE, 2019, p. 11). Nessa perspectiva, nomes como Noèmia de Sousa, Pepetela, José Craveirinha, José Eduardo Agualusa, Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Cuti, Cristiane Sobral, Cidinha da Silva dentre outros têm aparecido recorrentemente em materiais didáticos, fato que auxilia na girada de conhecimentos e práticas pedagógicas decoloniais. Sendo assim, esse simpósio recebe pesquisas desenvolvidas, ou em andamento, que coadunem com o escopo do ensino de literatura, e das práticas de leitura antirracista na educação básica.
PALAVRAS-CHAVE: Decolonialidade. Ensino. Antirracismo. Literatura

DESAFIOS NO ENSINO DE LITERATURAS EM TEMPOS DE PÓS-COVID-19: TEORIAS, PRÁTICAS E EXPECTATIVAS
EIXO: EIXO 9 - LITERATURA E ESPAÇOS COMUNS DE APRENDIZAGEM
SIMPÓSIO: DESAFIOS NO ENSINO DE LITERATURAS EM TEMPOS DE PÓS-COVID-19: TEORIAS, PRÁTICAS E EXPECTATIVAS
COORDENADORES:
- Rosana Cristina Zanelatto Santos (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/CNPq) rzanel@terra.com.br
- Danglei de Castro Pereira (Universidade de Brasília) danglei@terra.com.br
- Lucilo Antônio Rodrigues (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) luciloterra@terra.com.br
RESUMO: As discussões em torno das possibilidades de inovação no âmbito da área de Linguística e Literatura devem ser tomadas como um dos grandes desafios do ensino, da pesquisa e da extensão que envolvem as diferentes literaturas e, por vezes, as artes nos dias de hoje. O Documento de Área da Área de Linguística e Literatura da CAPES, por exemplo, avalia os programas de pós-graduação, considerando os desafios da inovação para a área desde a concepção do curso, por meio de sua proposta (CAPES, 2019). Por sua vez, a BNCC (2017, p. 63) propõe que “As linguagens, antes articuladas, passam a ter status próprios de objetos de conhecimento escolar. O importante, assim, é que os estudantes se apropriem das especificidades de cada linguagem, sem perder a visão do todo no qual elas estão inseridas. Mais do que isso, é relevante que compreendam que as linguagens são dinâmicas, e que todos participam desse processo de constante transformação”. Tendo em vista que a especificidade de cada linguagem é uma exigência imediata para a existência e a sustentabilidade da pesquisa na grande área de Linguística e Literatura e que a compreensão de que a literatura está em constante transformação, isso nos leva a questionar os caminhos do que se pode denominar inovação como um processo de sensibilização dos docentes/pesquisadores da área quanto à necessária ressemantização de termos como: ensino, pesquisa, metodologia, novidade e tradição. Grosso modo, o conceito de inovação pode ser considerado como um processo que engloba tanto a criação de um fazer como sua atualização no tempo histórico, além da reestruturação de um fazer, um produto ou um serviço já existente. É preciso ressaltar que um dos grandes desafios na grande área de Linguística e Literatura é a manutenção de um processo histórico de reconfiguração do conteúdo literário na área de linguagens e, neste processo, manter sua singularidade artística. Nesse sentido, a incorporação da literatura no conteúdo de Língua Portuguesa na BNCC (2018) prefigura, então, um espaço que, entre outros aspectos, problematiza a permanência da literatura como disciplina na Educação Básica e cria tensões em relação ao processo histórico, levando a estratégias didáticas/teóricas/metodológicas que mantêm a literatura como espaço importante na Língua Portuguesa, conforme a BNCC (2018). Lembramos que, em uma “[...] concepção ideal, a formação continuada deve estar voltada para as demandas do indivíduo emancipado, capaz de competir no mercado, não porque foi treinado para isto, mas justamente porque é emancipado e, portanto, capaz de agir politicamente, ou seja, como cidadão e profissional, capaz de agir de modo competente em situações novas e complexas” (BELLONI, 2005, p. 189). Por seu turno, Carlos Reis (2013, p. 19) comenta que “[...] qualquer reflexão preambular sobre a literatura e a sua existência enfrenta, de início, a questão de saber se é possível (ou até que ponto é possível) estabelecer as fronteiras que delimitam o fenômeno literário; ou, por outras palavras, indagar o que cabe e o que não cabe dentro do campo literário.” Considerando esses aspectos, o simpósio ora apresentado busca agregar trabalhos que abranjam, preferencialmente, os seguintes temas: o ensino de leitura literária e sua problemática nos dias de hoje; relatos de atividades docentes que permeiam ações concretas de prática de ensino de literatura na Educação Básica ou no Ensino Superior, ou seja, o “chão da escola/universidade”; a interlocução dos estudos literários com outros campos do conhecimento que tomam o literário como centro de discussão; os diálogos entre artes e literaturas no contexto atual; a ressignificação do conceito de literatura, historiografia e cânone literário atualmente; a análise crítica dos documentos oficiais brasileiros e suas implicações no “chão da escola/universidade”; e, por fim, as demandas e/ou problemas na utilização de ferramentas advindas das TICs no ensino de literatura e de leitura literária, sobretudo, ao pensar os avanços, os problemas e os retrocessos em função da Pandemia de COVID-19. Referências BELLONI, M. L. Educação a distância e inovação tecnológica. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, Fiocruz, v.3, n.1, p. 187-198, mar. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tes/a/GBM3YFDNTT45ctv5B3pfrHG/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 14 nov. 2022. BRASIL. BNCC , 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Acesso em: 14 nov. 2022. BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Documento de Área. Área 41. Linguística e Literatura. Brasília, DF, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/linguistica-e-literatura-pdf . Acesso em: 14 nov. 2022. REIS, C. O conhecimento da literatura: introdução aos estudos literários. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2013.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de literatura; Leitura literária; Historiografia literária; Ferramentas das TICs; Documentos oficiais da Educação brasileira.