Este trabalho enfoca o Manifiesto (Hablo por mi diferencia), de autoria de Pedro Lemebel e lido por ele como intervenção num ato político de esquerda em 1986, em Santiago do Chile. Trata-se de um texto a meio caminho entre a crônica e os versos brancos e para ele foram encontradas traduções esparsas pelo mundo virtual, mas nenhuma edição impressa circulante no mercado editorial brasileiro. O objetivo deste trabalho é propor uma tradução estrangeirizadora (Venuti, 2002) e crítica quanto às perdas de cadência, imagens e sugestões, respeitando ao texto-de-partida em seu tom contundente e engajado, mas ainda assim coloquial. Busca-se apresentar uma tradução “ética, poética e pensante” (Berman, 2007) e, para tanto, considerar-se-á o contexto histórico e social a ser traduzido, pois o texto está sempre sujeito às formas coletivas a partir das quais o autor (e também o tradutor) poderá criar (Venuti, 2002). Nesse sentido, este trabalho se aproxima dos postulados de Spivak (2012) e da ética envolvida na missão de falar pelo subalterno: neste caso, um autor periférico no aspecto geográfico (porque “sudaca”: referência depreciativa aos sul-americanos) e porque oriundo de estratos sociais e econômicos desfavorecidos, e, especialmente, porque homossexual - ou, na voz do próprio Lemebel em seu manifesto: “porque ser pobre y maricón es peor”. Nesse percurso, o comentário confere visibilidade e teoriza o processo de tradução que acaba pondo em evidência reflexões não só sobre uma língua da qual se traduz, mas sobre uma língua que se traduz (Spivak), com toda sua carga de violência e vulnerabilidade. E, portanto, a tradução que está sendo construída e seus comentários buscam, como em geral fazem as traduções pensantes, conferir novo fôlego e novas possibilidades de leitura ao original.
Palavras-chave: ética em tradução. poética queer. vulnerabilidade.