Esta comunicação apresentará o fazer literário presente em romance da
escritora portuguesa Inês Pedrosa, entre o político e o biográfico de Portugal e do
Brasil (onde vivera a protagonista Jacinta Sousa) em típicos espaços onde se cruzam
personagens e histórias de outros continentes enquanto tentam sobreviver à maior
depressão econômica das últimas décadas. Para tanto, objetiva-se perscrutar o registro
de quatro vozes, no silêncio, para emoldurar a saga da “matriarca” luso-brasileira
sendo simulacro da história contemporânea dos países envolvidos. HALBWACHS
(2013) ressalta que os fenômenos de recordação e de localização das lembranças não
podem ser efetivamente analisados se não for levado em consideração os contextos
sociais que atuam como base para o trabalho de reconstrução da memória. O romance
Desamparo (2015) capta o momento em que Jacinta, às portas da morte, recapitula
uma vida de alegrias e tristezas no Brasil, a infância infeliz, a indiferença afetiva do
pai em simultâneo com a ausência da mãe, as relações conjugais falhadas, a relação
conflituosa com o filho mais velho, a vida no Rio de Janeiro na primeira metade do
século XX. Assim, será ressaltada a utilização da memória na estrutura romanesca, na
História ou na fábula e daqueles espaços percorridos pelos narradores como
perspectivas de observação do desamparo em que se encontram país e familiares
daquela mulher, após cinquenta anos de ausência física.