O romance O homem sem qualidades de Robert Musil permite pensar, de modo
inseparável, a estética sob o ponto de vista ético e político também constitutivos da literatura. A
partir de sua obra, este trabalho aponta para as implicações tanto sociais quanto literárias de uma
escrita capaz de abarcar em si não apenas a realidade representada, mas, e principalmente, a
irrealidade que desestabiliza a linguagem em seu inacabamento. Entre o escrito e o não escrito,
assumindo a inconstância da contingência, o que Musil procura elaborar é a representação utópica
de uma existência de potência, realizada por seu herói. Em um mundo sem valores nos quais se
amparar, somente uma concepção de arte que revele seu modelo para além da própria obra, isto
é, que se constitua como uma ética, é que a vida do sujeito moderno pode alcançar uma
experiência autêntica. Este estudo parte da obra de Robert Musil para pensar as relações entre
política, ética e estética na modernidade, para finalmente estabelecer as origens que fundamentam
tais conceitos em nossa época e sua realização polêmica na literatura.
Palavras-chave: Robert Musil; O homem sem qualidades; Ética; Estética; Política.