A bordo da frota de Pedro Álvares Cabral, em 1500, o fidalgo Pero Vaz de Caminha,
numa carta escrita para o soberano Dom Manuel, relatou os primeiros passos dos portugueses
no litoral da nova terra que viria a ser chamada “Brasil”. Em seu relato, destacou o primeiro
encontro com os indígenas, indivíduos descritos como ingênuos e com costumes estranhos, mas
bons e acolhedores.1 Pero Vaz de Caminha é portanto o primeiro dos escritores, exploradores,
viajantes e etnólogos que deu conta do encontro com os nativos do Brasil, numa experiência
fascinante de confronto radical com a alteridade. Por certo, tal experiência, por vezes, teve
consequências funestas, e que nos melhores dos casos talvez tenha permitido lançar um novo
olhar sobre si mesmo. Do século XVI até os tempos mais recentes, constam, nesses
“arqueólogos do espaço” – segundo a expressão de Claude Lévi-Strauss – muitos franceses. E
o próprio Lévi-Strauss não deixa de lembrar uma hipótese, aparentemente lendária, segundo a
qual marinheiros de Dieppe (cidade normanda) teriam embarcado nas terras do Brasil quatro
anos antes de Cristóvão Colombo ter descoberto as Américas.