O olhar do narrador proustiano, longe de remeter a uma marca de estilo, ao se debruçar
obsessivamente sobre os detalhes tanto dos objetos como das situações, sinaliza uma forma com
a qual a escrita literária, especificamente na forma do romance, soube construir o testemunho das
coisas perdidas. Em busca do tempo perdido é a obra na qual Proust empreendeu a mais ambiciosa
tarefa: a de apropriar, numa obra impossível, uma determinada verdade – somente encontrada
como verdade no tempo. Contudo, sua linguagem é constituída por uma forma que restitui
em si mesma a natureza do tempo e da história. Nesse sentido, este trabalho gostaria de
sugerir que o olhar do narrador proustiano pode ser pensado como aquele que se constrói
sob a forma particular do fetiche. Como parte de uma pesquisa sobre a narrativa
proustiana, trata-se de elaborar, inicialmente, as possibilidades abertas sobre o fetichismo
como também um procedimento literário.