Há encontros que só podem acontecer nos domínios da ficção, outros que só se dão
graças à crítica. Aqui, não se tratará de um encontro ficcional, mas, na medida do possível, de
um encontro crítico. Duas obras e dois personagens se encontram: o Sr. José, personagem de
Todos os nomes, de José Saramago, e Félix Ventura, personagem d’O vendedor de passados, de
José Eduardo Agualusa. Dois personagens que se lançam na empreitada de ler a história de
outros personagens. Nessa leitura, uma questão sobre a identidade se impõe: esses dois
personagens não se acham diante de uma identidade circunscrita, fechada ou limitada, mas se
apresentam diante de algo como uma expansão líquida. É justamente porque esses personagens
estão diante de algo que se dilui, que passa, e que evoca uma imagem em constante movimento
ou em metamorfose que é possível estabelecer o diálogo entre essas duas histórias. Cabe a nós,
leitores, nos perguntarmos: que passado esses dois personagens nos dão a ler?