O amor é cego. A justiça é cega. Homero é cego. O contemporâneo fita o escuro.
Nestes tempos, extinção tem sido a palavra de ordem. Tudo está às claras: não mais se esconde
por trás da política a sombra da polícia: elas são o mesmo. Ambas são sustentas pela força.
Poesia e amor, ao contrário, são sustentados na falta. Enquanto a política sempre excluiu a falta,
amor e poesia a têm como um meio constitutivo ao qual se dá corpo, movendo-se nela e com
ela, instituindo à política o que essa sempre excluiu. Neste tempo em que tudo está às claras,
talvez haja um resto de sombra que possibilite o assombro, que possibilite se assombrar com o
que sobra, com o que resta