Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
AQUARIUS, KLÉBER MENDONÇA FILHO E A MORTE DA CRÍTICA
Thiago Blumenthal (UPM)
O longa-metragem Aquarius, realizado pelo diretor Kleber Mendonça Filho, lançado em território nacional em setembro de 2016, suscitou mesmo antes de sua estreia inúmeras questões, por conta de sua relação com o período político pelo qual o Brasil está passando, entre a crise econômica, os supostos escândalos de pedaladas fiscais do poder executivo e o decorrente processo de impeachment que deflagrou a então presidenta Dilma Rousseff. Em meio a tudo isso, o filme foi lançado e imediatamente uma leitura política passou a ser vinculada por parte da crítica e do público, inclusive por parte do próprio diretor da fita, que publicamente associa a história de Clara, a protagonista vivida pela atriz Sônia Braga, ao movimento de resistência política que estamos todos fazendo parte. Busca-se, então, neste trabalho, analisar Aquarius dentro desse contexto em relação à sua crítica, a do calor da hora, e aos seus mecanismos de divulgação dentro do mercado cinematográfico brasileiro, de recepção problemática e de curto tiro e curto impacto. Mais do que isso, e principalmente, a observação da arquitetura da obra, na construção de suas três partes, focadas na personagem de Clara, e em relação com o seu meio, ajudará a empreender uma discussão melhor formulada se o longametragem é de fato um filme político ou trata, em suas margens sutis, ainda que perigosas, como as ondas de Boa Viagem, de política. Em uma perspectiva histórica de crítica, faremos um levantamento de outros artistas ao longo da história que também assumiram o front de debater as ideias, a interpretação e mesmo a qualidade de suas próprias obras, como um elemento interno-externo (an importer-exporter, na visão cômica de um George Costanza). Parece-nos importante esse tipo de análise hoje pois é não mais incomum o artista – seja ele na forma de um escritor, plástico, cineasta, música ou áreas afins – que também exerce de algum modo oficial ou extraoficialmente um papel crítico, como resenhista de jornal, como acadêmico, como pesquisador, como professor universitário, como editor que precisa lidar com a apreciação e posterior edição do produto da arte. Tal é o caso de Mendonça Filho, que no momento da inscrição deste trabalho mantém um cargo de curadoria junto ao Instituto Moreira Salles. Em termos de visada teórica, buscaremos nos ancorar em uma perspectiva um tanto quanto distópica e “intempestiva” do fazer crítico, guiando-nos em especial pelas reflexões mais recentes de Leyla Perrone-Moisés e do francês Antoine Compagnon, além, é claro, como espirra no lastro da análise aqui proposta, de toda a crítica ao mesmo tempo diluída, fragmentada (mas concretizada) dos jornais e das redes sociais – nesse último caso, o recente livro The Death of Expertise, de Tom Nichols.Palavras-chave: Kléber Mendonça Filho; Aquarius; Crítica Contemporânea; Cinema Brasileiro.
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