Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
APROPRIAÇÕES: A ESCRITA NÃO-CRIATIVA E SEU CONTEXTO ATUAL
LEONARDO VILA-FORTE, VERA LÚCIA FOLLAIN FIGUEIREDO
Cada vez surgem mais trabalhos de texto criados não a partir da escrita de mão própria de um autor, mas da apropriação que este autor faz de trechos ou até conteúdos inteiros de obras alheias ou outras fontes, como transmissões radiofônicas e edições de jornal. Vemos tal procedimento nos “3 poemas feitos com auxílio do Google”, de Angélica Freitas; no livro Delírio de Damasco, de Verônica Stigger; em Tree of Codes, de Jonathan Safran Foer e Nets, de Jen Bervin; além do meu próprio trabalho no blog MixLit – O DJ da Literatura. Tais práticas não são uma completa inovação: o reaproveitamento de textos pré-existentes tem alguns marcos iniciais, como em The Waste Land, de T.S. Elliot, os poemas de Sousândrade e os cut-ups de William Burroughs. No entanto, o que parecia uma prática apenas lateral, ganha agora não só novos adeptos – cada um a exercendo à sua maneira e com diferntes resultados – mas se insere num novo ambiente cultural, no qual a tecnologia é atravessador central. Diz Lev Manovích que quando exercemos, com frequencia, certas ações no ambiente digital – como o recorte e cole e a seleção de filtros a partir de menus – acabamos por importar tais ações para outras esferas da vida, para além do digital. Talvez isso explique o aparecimento de um grupo de obras gerado a partir da manipulação de fontes pré-existentes. No meio artístico, tais operações ganharam um olhar mais atento em 2007, quando o crítico e curador francês Nicolas Bourriaud propôs a ideia de “pós-produção” para caracterizar uma certa prática comum a muitas obras de arte iniciadas nos anos 1990 e 2000, todas usando a operação de apropriação celebrizado pelos ready-mades de Marcel Duchamp. Em relação ao texto, vemos a discussão ganhar corpo em 2011, quando Kenneth Goldsmith, poeta, artista e professor norte-americano da Universidade da Pensilvânia, lançou o conceito de “escrita não-criativa”, transportando uma ideia semelhante àquela de “pós-produção” para o meio textual. O termo serviria para designar o processo de trabalho que resulta em obras textuais cujos textos não foram originalmente escritos por seus autores, mas sim reescritos ou transcritos a partir de fontes – sem mudanças no texto original – ou editadas e rearranjadas por meio da descontextualização e recontextualização desses textos pré-existentes. A apresentaçao se utilizará desse conceito, assim como o de “gênio não-original”, de Marjorie Perloff, para analisar a figura do escritor-apropriador e como tal opera uma quebra de fronteiras entre as posições de leitor e autor. Pretende-se apresentar também de que maneira as obras selecionadas como corpus propõe formas não tradicionais de construir escrita e leitura, e quais relações travam com as artes plásticas e a arte conceitual. Num contexto mais amplo, pensaremos como o ambiente cultural onde essas obras são geradas se relacionam com as novas tecnologia e o excesso de informação.
Palavras-chave: CRÍTICA CONTEMPORÂNEA, ESCRITA NÃO-CREATIVA, APROPRIAÇÃO
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