Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
REPUTAÇÃO E RESSENTIMENTO NO AMBIENTE LITERÁRIO
VINICIUS SCHRÖDER SENNA, JOÃO CEZAR DE CASTRO ROCHA
René Girard sublinhou, com notável precisão, a natureza imitativa do desejo. Um princípio geral que regula as interações humanas, cuja base é a centralidade do outro para a visão que o sujeito tem de si próprio. Dentro dessa armação conceitual de influências mútuas, percebemos o valor da reputação para definir, sempre provisoriamente, quem será o modelo e quem será o admirador. De acordo com o que foi dito, selecionei dois contos de autores da atualidade: A última palavra de Rubens Figueiredo e Beatriz e o Escritor de Cristovão Tezza. Em ambos, encontramos personagens ocupados com as suas próprias reputações como escritores. Ao lado disso, e quase como um desdobramento, vemos o tema do ressentimento. Algo também observado por Girard, quando analisou personagens da literatura como o homem do subsolo de Dostoiéviski, entre outros. Sabe-se, entretanto, que um dos nomes mais lembrados quando se fala em ressentimento é o do filosofo alemão Friedrich Nietzsche. E será entre a percepção de Nietzsche e a de Girard que buscaremos o apoio conceitual para o trabalho comparativo do ponto de vista literário. Nos dois contos, o profundo ressentimento impulsiona a busca pela reputação. Trata-se de personagens movidos pela inveja em função do maior sucesso de alguns de seus pares. Os textos se contrastam em alguns aspectos referentes às personalidades envolvidas e a escrita dos dois autores, contudo é notável a maneira como dialogam ao apresentarem claramente a inveja e o ressentimento no meio literário. Ambos os textos parecem nos dizer – por vezes parecem berrar – que o mais difícil para o ser humano não é a doença, a miséria ou as separações, o pior é ter que conviver com alguém melhor. Nietzsche é o grande defensor de um tipo de homem que ganhou forma a partir dos seus gostos mais perigosos. Portanto, foi acusado de ser um débil mental por gente como Tolstói (em ensaio traduzido para o volume Os últimos dias da Penguin Companhia). René Girard também foi um crítico contundente do filósofo. No entanto, Girard reconhecia em Nietzsche o pensador que entendeu com clareza a inocência de Cristo. Contudo, ao contrário de Girard, para quem o sacrifício de Cristo mostrou a fragilidade do pensamento de rebanho ? capaz de sacrificar um inocente ? para o filósofo alemão tal inocência seria a prova de que o cristianismo é uma religião de pessoas fracas. Uma religião de pessoas que não reagem mesmo quando acusadas injustamente. O homem que não reage não teve, segundo Nietzsche, espírito, libido e entendimento para recusar o posto de advogado do tédio e do desgosto. Ele era o ressentido. Seu último consolo: a bênção da reputação. Dentro desse panorama exuberante, apresentado pelo filósofo alemão, e com o apoio da teoria mimética, buscaremos alguns elementos para a nossa análise do ressentimento e da reputação nos dois contos.
Palavras-chave: RENÉ GIRARD, NIETZSCHE, REPUTAÇÃO, RESSENTIMENTO
voltar