JESUINO ARVELINO PINTO, VERA LÚCIA DA ROCHA MAQUÊA
Este trabalho objetiva analisar como se processa a elaboração romanesca em Chão Bruto e São Bernardo, embasando-se na teoria comparativista a partir de conceitos como: repertório, sobrevivência da forma, imperialismo, múltiplas fronteiras, identidade plural, comunitarismo cultural, propostos por Benjamim Abdala Junior (2012), bem como nas discussões de Inocência Mata (2013) acerca da “literatura mundo”. Chão Bruto, narrativa de Hernani Donato publicada em 1956, desenrola-se em torno do tema da ambição e desnuda as situações, complicações e dramas da vida de um grupo social engendrado no interior do Estado de São Paulo do início do século XX. Trata-se da conquista do extremo sudoeste paulista que é retratada por meio da luta sangrenta pela terra entre posseiros e grileiros, dada a valorização da propriedade pela construção da Estrada de Ferro Sorocabana. Nessa luta exalta-se a figura de Capitão Paulo, indivíduo que se apossa de propriedades rurais por meio de títulos falsos e que não hesita em espoliar os antigos posseiros da região. Na ânsia de posse, de poder, de riqueza e de prestígio, esse grileiro age rudemente contra aqueles que relutam em reconhecer a sua força, o seu (des)mando. São Bernardo, de Graciliano Ramos, publicado em 1934, na fase áurea de produção literária do Nordeste Brasileiro, também aborda a temática social, enfatizando a força telúrica, unindo o homem à terra, a partir da trajetória protagonizada e narrada por Paulo Honório. Ambas as obras são consideradas regionais ou neorregionais, neorrealistas e literaturas de cunho social, porém almejam o geral a partir de um lócus enunciativo, por onde os sujeitos da enunciação acessam o mundo, é a partir da experiência histórica que se configura a dialética entre o local e o geral, visando não mais reafirmar a construção de uma identidade, mas reconhecer uma “cor local” que não se limita em um espaço fixo, realçando a vulnerabilidade das fronteiras e a multiplicidade dos sertões. Embora Donato delimite a trama de Chão Bruto na microrregião sudoeste paulista, ainda no subtítulo é salientado a função pictórica expansionista, ao ser caracterizado como “Romance Mural”, ou seja, um painel do confronto entre a civilização e a rusticidade expondo-o ao mundo. Para não se restringir apenas na identificação de influencias do escritor nordestino sobre o paulista, ressalta-se que o repertório de leitura de Donato foi constituído por leituras de escritores, romancistas e teóricos, como Ignazio Silone, Erskine Caldwel, Ciro Alegria, Victor Hugo, preocupados com temáticas sociais que foram, especialmente, desenvolvidas na literatura brasileira a partir da década de 1930 por meio da prosa de fundo social do modernismo maduro. Nestas narrativas de Hernani Donato e Graciliano Ramos, objetos de estudo, o diálogo entre ficção e realidade e a presença de um herói coletivo problemático confirmam o conflito social como base da estruturação romanesca.
Palavras-chave: COMPARATIVISMO, GRACILIANO RAMOS, HERNANI DONATO, LITERATURA SOCIAL