Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
SOBRE GARUPAS E RÉDEAS: PENSAMENTOS ‘AVULSOS’ A PROPÓSITO DA LEITURA LITERÁRIA EM ESPAÇOS ESCOLARES URBANOS HOJE
RICARDO HORACIO PIERA CHACÓN
A natureza plural e móvel das mediações culturais que operam no amplo espectro da cultura contemporânea tem provocado deslocamentos, hibridismos e fragmentações no seio do centro positivista em que se baseou a cultura moderna durante séculos. Ditas mediações, as quais, numa relação dialógica entre os gêneros que propõem e os receptores que delas participam, influenciam no delineamento de novas gramáticas da leitura e do texto, atuam tanto em níveis enraizados nas vivências do local quanto em planos relacionados a uma escala planetária. A partir do entendimento dessa relação dialógica que implica a recepção, entendida como o locus em que, longe de ser reproduzida, a produção textual é ‘reescrita’, ‘resignificada’, revestem-se de novas compreensões as distinções entre ‘culto’ e ‘popular’, entre ‘canônico’ e ‘não canônico’, provocando-se uma abertura do leque de possibilidades de leitura literária da juventude. Estas mudanças, no entanto, não parecem ter operado como uma força capaz de frear a resistência de velhas práticas que limitam o repertório de leituras ‘válidas’ aos títulos e autores ‘consagrados’ da literatura de língua portuguesa, e restringem o contato com o texto literário a uma reprodução da leitura autorizada pela crítica especializada. Dentro desse cenário, cabe perguntar-se: o que significa ensinar Literatura na escola nos dias atuais? Qual a diferença entre ensinar Literatura e transmitir a Literatura? Qual o lugar que a arte literária ainda ocupa nos currículos escolares? Quais os entraves com que se depara quem pretende transmitir a arte da palavra em espaços escolares? Quais as vantagens com que se conta para esse empreendimento num espaço de educação formal? Esta comunicação pretende menos do que responder clara e univocamente a essas perguntas levantar questões que coloquem em pauta e em discussão não apenas a práxis do professor de língua com a Literatura, mas ainda, e principalmente, as reais condições de produção de leitura e de conversação literárias com os seus discentes, dentro dos muros da escola. Busca-se um entendimento da práxis leitora literária do professor de língua no sentido de compreendê-la como um lugar de ‘rebeldias’ e de ‘proposições’ nem sempre acordes com os currículos de ensino geralmente vigentes nas escolas brasileiras; um lugar de pequenos ‘desfazeres’ dentro do fazer pedagógico. A comunicação baseia-se num referencial teórico constituído tanto a partir das propostas de Rildo Cosson, sobre círculos de leitura e letramento literário, e de Aidan Chambers, sobre a conversação literária, quanto das ideias de teóricos e pensadores como Hans Robert Jauss e Jesús Martín Barbero, sobre leitores reais, Tzvetan Todorov, Vincent Jouve e Annie Rouxel, sobre literatura, escola e leitura subjetiva, e Tania Rösing e Emanuele Fraisse, sobre literatura e juventude. As reflexões e questionamentos que se pretende levantar, porém, fundamentam-se, sobretudo, nas experiências trazidas por uma pesquisa com juventudes leitoras da cidade do Salvador; por uma vivência de leitura na EJA de uma escola municipal soteropolitana; e pelo conhecimento empírico acumulado em 17 anos de magistério.
Palavras-chave: LEITURA LITERÁRIA, CONVERSAÇÃO LITERÁRIA, AMBIENTES ESCOLARES DE LEITURA, MEDIAÇÕES CULTURAIS
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