Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
MULHERES NA VIA DE CONTRAMÃO: A (DES)REPRESENTAÇÃO DO FEMININO EM ANTES DO BAILE VERDE, DE LYGIA FAGUNDES TELLES
SANDRINE ROBADEY HUBACK, VINICIUS CARVALHO PEREIRA
Em tempos de mudança e resistência, quando os debates sobre o feminino ganham força e espaço em nossa sociedade, principalmente através de coletivos e da própria mídia, encontramos um ponto de reflexão na literatura de um passado não tão longínquo, lado a lado com Lygia Fagundes Telles. É durante a ferrenha ditadura militar no Brasil que a escritora paulistana lança seu livro de contos, Antes do baile verde (1970). A obra reúne 18 histórias, marcadas por amor, paixão, vingança, morte e a imprevisibilidade humana. Em três contos, especificamente, - O moço do saxofone, O jardim selvagem e O menino – conhecemos três mulheres incríveis. Incríveis, pois não correspondem ao padrão de identidade conservador e patriarcal perpetuado por séculos e reforçado durante os anos de chumbo, em meio ao sopro do Feminismo no Brasil. No que tange à representação do feminino nos contos de Lygia Fagundes Telles, note-se que, o ato de representar, de acordo com Chartier (1990, p.13), é a maneira pela qual uma “realidade é construída, pensada e dada a ler por diferentes grupos sociais”. A representação está diretamente relacionada ao poder e, na literatura, a figura da mulher esteve tradicionalmente atrelada a uma forte dicotomia: a mulher boa versus a mulher má. Por séculos e ainda no contexto contemporâneo à obra Antes do baile verde, havia uma imposição quanto à construção do “ser mulher”, esclarecida por Simone de Beauvoir (2009, p. 14) em sua célebre frase: “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Através de olhar atento lançado sobre o corpus, analisam-se no presente artigo as personagens femininas no centro das tramas e como estas rompem com a tradição do ser mulher, a partir do modelo de representação, levando em conta questões históricas e sociais. É notório o modo de (des)representação dessas personagens: sem dicotomias, há emoções, sensações, impulsos, desejos, virtudes e vícios, longe de qualquer obrigação ou culpa. Quem espera por personagens planos, acaba por surpreender-se com a amplitude da possibilidade do ser, marcado por ambiguidade, ziguezagueando entre o bem e o mal. Sendo assim, pretende-se aqui observar como a obra de Lygia Fagundes Telles é uma voz de resistência, marcada pelo próprio ato da escrita, conforme Bosi disserta em Literatura e Resistência, e pelas narrativas, das quais emergem figurações de mulheres encantadoramente humanas, longe do intento de confirmar qualquer estereótipo. Referências biibliográficas: BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Trad.: Sergio Milliet. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, BRANDÃO, Ruth Silviano. Mulher ao pé da letra: a personagem feminina na literatura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad.: Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. CHARTIER, Roger. A História cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990. COELHO, Nelly Novaes. A literatura feminina no Brasil contemporâneo. São Paulo: Sicialiano, 1993. TELLES, Lygia Fagundes. Antes do baile verde. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Palavras-chave: FEMININO, LITERATURA, REPRESENTAÇÃO, SOCIEDADE
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