Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A LINGUAGEM-CORPO DA VOZ NA POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
SUSANNA BUSATO
Perceber na linguagem do poema o corpo do sujeito que fala é compreender as molduras da poesia e a performance de seu movimento. Sua voz, nessa perspectiva, é ouvida como linguagem de uma busca, de um enfrentamento, de uma viagem. A poesia é lida nesta reflexão como urgência, como um discurso que transita, toca, fricciona-se (ficcionaliza-se?) no corpo de outras vozes que ressoam e reverberam outros tempos e outros espaços. A experiência performática do discurso poético é o caminho trilhado nesta reflexão Sua ficção emerge na poesia por meio dos referentes que protagonizam uma viagem que se autonomeia como uma descida aos infernos. Protagoniza-se um sentimento de enfrentamento da natureza das coisas, dos níveis de realidade presentes na realidade mesma que é chamada a se impor nas referências simbólicas dos objetos,frente aos quais impõe sua voz crítica ao descrever a descida aos infernos dessa realidade ficcionalizada da vida. A poesia de A Voz do Ventríloquo (2012), obra premiada do poeta Ademir Assunção, com o Prêmio Jabuti de Poesia 2013, é o foco de minha leitura aqui. É nela que percebo a ousadia de ironicamente dizer, na abertura do livro, que “poetry is dead” (a poesia está morta), afirmativa que tem orientado parte da crítica da poesia brasileira contemporânea e também da crítica de arte neste novo milênio. Perceber as vozes que enunciam o espaço das molduras na poesia brasileira contemporânea é procurar distinguir no seu horizonte os roteiros de uma ação performativa. Com isso quero dizer que tenho perseguido dentre tantas as que constroem espaços possíveis de elocução, nos seus modos de expressar e construir um dizer as coisas, as que de alguma forma se posicionam para construir uma ação, uma performance única, que nasce da percepção do mundo e da linguagem. A Voz do Ventríloquo é uma voz que ronda e sonda dentre tantas as que de alguma forma elucidam ou alucinam o sujeito na sua memória, no seu presente de busca, na sua crítica ao mundo dilacerado pelo capitalismo, pela violência da guerra e pela ambição dos homens que detêm o poder. Mas há uma utopia no discurso do Ventríloquo, pois cede espaço à Arte para lá mesmo tecer o “o fim / o início”. É da força discursiva de uma performance artística que a poesia de Ademir Assunção emerge. Da cultura pop dos quadrinhos, da cultura do rock e do blues, à tradição clássica dos gregos e dos menestréis da cultura marginal dos anos 70: é desse abismo de resíduos que a poesia de A Voz do Ventríloquo irá captar as tensões e as zonas de força das relações éticas e estéticas que formam na sociedade o tecido de uma voz que se ergue como um corpo-linguagem a ser visitado e sentido pelo leitor.
Palavras-chave: POESIA CONTEMPORÂNEA, VOZ, CORPO, ADEMIR ASSUNÇÃO
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