Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
"ECLIPSE E DESPEDIDA: REPRESENTAÇÕES DA DOENÇA DE ALZHEIMER NA CULTURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA "
NICOLA GAVIOLI
“Não entres docilmente nessa noite serena,/porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;/ odeia, odeia a luz que começa a morrer.” Estes célebres versos de Dylan Thomas–aqui propostos na tradução de Fernando Guimarães–tornaram-se uma referência dos estudos contemporâneos sobre literatura, doença e melancolia a par de A morte de Ivan Illich de Tolstoj. Dylan Thomas não explicita para nos o nome da doença do pai, nem poderíamos designar a estranha enfermidade de que sofre o juiz Illich. Em literatura, a representação da morte, em muitos casos, prescindiu da descrição exata de uma patologia. Frequentemente, assistimos e lemos a morte tout court, evento sem adjetivos e sem etiologia. Quiçá um aspeto normal, considerando que o ponto de vista é frequentemente o de um filho poeta que se despede de seus pais. A dimensão memorial (se pense na "Carta a mi madre" do exilado argentino Juan Gelman), regressiva e quase-sacral ( “Supplica a mia madre” de Pier Paolo Pasolini), filosófica e política ("Coplas por la muerte de su padre" de Jorge Manrique) são os aspetos privilegiados dessa despedida, o que vale a pena testemunhar em versos. Nas literaturas lusófonas a descrição da doença corporal e mental sempre se apresentou como forte núcleo de meditação e de rearticulação verbal (fato também devido ao número significativo de escritores que exerceram também a profissão médica quer em Portugal quer no Brasil) como demonstra, por exemplo, a bela antologia organizada por Clara Rocha "A caneta que escreve e a que prescreve"(Verbo, 2012). Uma área de pesquisa já muito avançada nos países anglófonos–mas ainda incipiente no Brasil–se ocupa do estudo das relações entre medicina, literatura, e filmes. A cultura brasileira contemporânea parece oferecer um terreno fértil para este tipo de abordagem que conjuga bioética, estudos da incapacidade e close-reading literário, apresentando um amplo corpus de textos que nomeiam diretamente as patologias do corpo e a desestruturação psíquica. Nesta comunicação, analisarei um pequeno corpus sobre a doença de Alzheimer por autores brasileiros–o livro de poemas "Monodrama" (2009) de Carlito Azevedo, o memorial "O lugar escuro" (2013) de Heloísa Seixas, e o curta-metragem "Clarita" (2007) de Thereza Jessouroun–mostrando como a vertente crítica dos Disability Studies pode enriquecer a análise de textos colocando novas perguntas e novos desafios interpretativos para críticos e leitores.
Palavras-chave: CARLITO AZEVEDO, ALZHEIMER, DISABILITY STUDIES, DOENÇA
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