Josely Vianna Baptista (1957-) é reconhecida pelo trabalho como tradutora e poetisa. Foi com o apoio de uma Bolsa Vitae de Artes que a escritora realizou em 2002 o projeto “Do zero ao zênite”, o que resultou no conjunto de poemas intitulado “Moradas nômades” e no manuscrito “A fonte da fala”. Seu trabalho de tradução de importantes escritores hispano-americanos é contínuo, integrou o corpo de tradutores das Obras Completas de Jorge Luis Borges (Globo, 1999), e nos últimos anos vem traduzindo Alan Pauls e Mario Bellatin. Para a presente discussão, optou-se pela leitura de Sol entre nuvens (2007), uma coletânea composta pelos livros Ar (1991), Corpografia (1992) e Os poros flóridos (1995), além de alguns poemas esparsos. Os poemas que fazem parte dessa coletânea nos conduzem às discussões em torno da categoria espaço, que atingiu o ápice nas discussões teóricas na França no final da década de 1960 e início da de 1970. Michel Foucault e Roland Barthes foram alguns dos autores que dedicaram parte de seus estudos à temática e livros como Des espaces autres (FOUCAULT, 1984) e Semiologie et urbanisme (BARTHES, 1970), contribuíram para a compreensão da complexidade da abordagem e da variabilidade do conceito de espaço. Para o presente estudo, o objetivo é tecer comentários a cerca da categoria espaço no texto literário, em especial o poético, enquanto possibilidade de contato pela linguagem. O espaço enquanto possibilidade, enquanto incerteza que se apresenta a partir das diversas manifestações da linguagem nos ajudará a ler o presente com o passado, tal como Walter Benjamin reivindica em suas teses sobre a história. É o espaço esculpido pela palavra e pelo grafite que nos é apresentado em Sol entre nuvens. Desse modo, somos convidados a ler o espaço literário enquanto multiplicidade, enquanto linguagem que se desdobra ora em poesia, ora em imagem. É essa linguagem que se manifesta pelo desdobramento de si mesma pela poesia ou pelo desdobrar-se em outras linguagens como a do desenho, que é introduzida em Corpografia pelo traço do artista Francisco Faria, por exemplo, que nos revela a possibilidade de ler o espaço enquanto um corpo sensível, espelhado, multifacetado. Desse modo, a discussão será realizada a partir das relações de posicionamento, que nos fazem repensar o contemporâneo enquanto espaço de simultaneidade, de justaposições, do longínquo e do próximo. O diálogo em torno da categoria espaço em Sol entre nuvens se dará tanto pelo viés das relações teóricas que figuram no trabalho crítico de Gilles Deleuze e Jean-Luc Nancy, quanto pela leitura da linguagem (verbo-visual) enquanto percepção do sensível, do corpo enquanto arquitextura.