Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
O ESPAÇO DE ESCRITURA EM ROLAND BARTHES E ARMANDO FREITAS FILHO: O TRÂNSITO ENTRE O LITERÁRIO E O AUTOBIOGRÁFICO
OLÍVIA DE MELO FONSECA
O espaço de produção literária é comumente imaginado de forma segregada, fechada e sagrada. De acordo com Maurice Blanchot, em O livro por vir, esse espaço seria idealizado como o “Tibete imaginário”. Contudo, segundo este autor ainda, para escrever, é preciso entrar no templo, mas é importante buscar desconstruí-lo. Eis uma contradição vivida pelo escritor que se tranca em casa para escrever, embora tenha que permanecer fora de si para conduzir-se à escritura. A partir dessa questão levantada, torna-se interessante ponderar o distanciamento entre o pensamento reflexivo e o pensamento do fora. Se, de acordo com a primeira noção, o sujeito busca uma suposta verdade em si, por outro lado, de acordo com a segunda noção, o sujeito busca-a no outro, fora de si. Diferente da linguagem reflexiva que tende a reduzir a escrita à interioridade, esse desaparecimento do sujeito está presente na escrita que tende à exterioridade do sujeito. Em consonância com o pensamento blanchotiano, em seu “Prefácio à transgressão”, Michel Foucault afirmou que, na escrita, abre-se um espaço onde o escritor não para de desaparecer. Enquanto o pensamento cartesiano afirma a relação imprescindível entre o sujeito e o mundo ou entre um eu e um interior, por outro lado, seria possível pensar a ideia de dessubjetivação presente na literatura, espaço neutro onde há o esvaecimento das fronteiras dentro/fora e o onde o sujeito pode não se encontrar. O espaço literário, de tal modo, poderia ser abrangido como um produtor de extimidades. Esta definição foi desenvolvida por Lacan com o objetivo de repensar paradigmas filosóficos que foram construídos a partir do jogo de oposições entre interioridade e exterioridade. A extimidade localiza-se, ao mesmo tempo, no mais íntimo de cada sujeito e no mais exterior. Ela se delineia pelo medo que é familiar, pela recuperação do que foi perdido. Porém, em vez desta parte perdida vir complementar o que falta ao sujeito, ela arruína a sua realidade. Por isso, o êxtimo é, ao mesmo tempo, íntimo, desconhecido, ameaçador e angustiante. Neste trabalho, será relevante tanto esta apreensão da teoria psicanalítica que repensa o sujeito pela perspectiva êxtima quanto o debate em torno das relações estabelecidas entre o escritor e o espaço literário para permitir o percurso pelos textos de Roland Barthes e de Armando Freitas Filho, os quais tematizam a escritura de si. Para ambos, a literatura é linguagem que não tem o poder de dizer a verdade do sujeito. Por conseguinte, o que o leitor pode encontrar nestes arquivos é a perlaboração arqueológica de si, do outro, sujeitos que resistem aos padrões linguísticos, formais e temáticos que enquadrariam, se entendido de modo estereotipado, o gênero autobiográfico.
Palavras-chave: ROLAND BARTHES, ARMANDO FREITAS FILHO, ESPAÇO LITERÁRIO, ESCRITA DE SI
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