Esta comunicação propõe uma reflexão a respeito do modo através do qual a sexualidade constitui-se como ferramenta de representação de discursos marcados por vozes e silêncios na poesia de autoria feminina. Entendendo-se que as concepções de gênero são efeitos discursivos, nota-se uma intensa procura para que os espaços sejam ocupados por novos falares, novas vozes, novos discursos. Dentre tais espaços, a poesia constitui-se como um território legítimo a ser reivindicado. É nesse sentido que Alfredo Bosi, ao abordar a “poesia resistência”, cita o poeta Antonio Machado que afirmara que, “se não há caminho, o caminhante o abre caminhando”. A poesia de autoria feminina, desde longa data, caminha no sentido de romper barreiras que lhe foram impostas no sentido de bloquear seus dizeres. Por isso, para muitos, é vista como grito, estética reivindicatória. Tais rótulos não diminuem o fazer poético a que se propõe; ao contrário, estiliza-o através de uma linguagem pulsante que, nas palavras de Otávio Paz, em uma erótica verbal, ritualiza suas questões. Assim, partindo dos estudos de Michel Foucault, em História da sexualidade, procurar-se- á vislumbrar como se estruturam dispositivos de sexualidade e como a explicitação desse tema aponta para uma apropriação de espaços pela mulher. Segundo esse mesmo autor, é preciso problematizar o “fato discursivo” sobre o sexo ou a “colocação do sexo em discurso”, observando, por exemplo, aquele que fala, onde, em que circunstâncias, quais pontos de vista etc. Atentando para as “técnicas polimorfas do poder”, percebe-se que elas podem atuar “por meio da recusa, do bloqueio, da desqualificação; mas também pela incitação, intensificação e elogio à sexualidade”. Em uma busca por caminhos, a presente comunicação desdobrar-se- á sobre a poesia de Angélica Freitas, com o recorte de sua obra Um útero é do tamanho de um punho (2013). Angélica é poetisa contemporânea, nascida em Pelotas, RS, em abril de 1973, autora também do livro Rilke Shake (2007). Apresenta uma poesia bastante inquietante, pois flerta com o poder hierarquizante dos discursos de gêneros, dos padrões estéticos que oprimem as mulheres. Ironiza-os, questiona-os em um movimento contínuo de desconstrução. Trata-se de versos livres por excelência, uma vez que a liberdade formal coaduna-se com uma temática de ruptura que aponta, simultaneamente, para um engajamento poético e um aprofundamento do sujeito no processo de construção de identidade e na busca pela consciência de si.