TAINÁ DA SILVA MOURA CARVALHO, CELINA MARIA MOREIRA DE MELLO
No decorrer da atual pesquisa que tem como objeto, no romance naturalista Nana, as representações picturais da vida social parisiense, obtivemos resultados que corroboram a ideia de que as descrições do romance retratam de forma pictural lugares como, cafés, boulevards, hipódromos e principalmente o teatro. Nana, publicado em 1880, tem como principal personagem uma cortesã que figura como atriz em duas peças ao longo do romance. Esta obra faz parte do projeto literário de Zola, Les Rougon-Macquart, que através de vinte romances procura representar uma família do Segundo Império francês. Por meio da trajetória da personagem que intitula o romance é possível compreender o universo do teatro parisiense daquela época, sua arquitetura, cenografia, figurino, atores, diálogo e encenação. É perceptível a intenção estética do romancista, nas descrições daquilo que significa o teatro e a função que ele desempenha na esfera social parisiense. O estudo dessas representações será ilustrado através das descrições picturais, conceito definido por LOUVEL (1997) que argumenta que tais descrições não têm por objetivo elucidar determinado campo do saber, mas enunciar cenas com valor estético. É possível identificar as descrições picturais através de determinados marcadores textuais, tais como o uso de determinados adjetivos, presença de cores e tempos verbais. Através das cenas de enunciação (MAINGUENEAU, 2006), em que estão presentes descrições picturais do teatro é legível o que ocorre no palco, nos bastidores e na plateia. No momento atual da pesquisa, buscamos ilustrar a composição das representações do teatro em Nana, tendo em vista que compreender essas representações significa demonstrar de que forma elas produzem sentidos neste romance naturalista, além de visualizar a estética pictural utilizada pelo autor. É válido salientar que Emile Zola estava inserido no campo artístico (BOURDIEU, 1992), lugar de enfrentamentos entre os diversos agentes que o compõem e através do qual é possível a criação e legitimação de uma obra de arte. Sua posição no campo foi definida particularmente como escritor e crítico de arte. Além disto, sua trajetória profissional demonstra que o autor compartilhou saberes estéticos com pintores, principalmente os impressionistas como Monet, Cézanne e Degas. Mostra-se necessário salientar que Zola foi uma das pessoas que defendeu esta estética, considerada na época inacabada e imprópria para os salões oficiais de exposição de arte. Zola era grande conhecedor da estética impressionista, assim como de outras correntes estéticas; consideramos assim que seu capital cultural contribuiu para que compusesse uma estética romanesca pictural própria, presente nas representações de teatro do romance naturalista Nana.