Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
NATURALISMO E PINTURA EM LES DEUX CONSCIENCES, DE CAMILLE LEMONNIER
RUBENS VINÍCIUS MARINHO PEDROSA, PEDRO PAULO GARCIA FERREIRA CATHARINA
O escritor naturalista belga Camille Lemonnier (1844 - 1913) é considerado o precursor no desenvolvimento de uma nova estética literária em solo belga, colaborando para que finalmente o país ganhasse ares de modernidade. Muito influente no meio literário belga, recebeu de seus pares o título informal de “Marechal das Letras belgas”, o que indica o grau de prestígio que o escritor gozava junto à classe literária e intelectual da Bélgica que, no século XIX, era ainda um jovem país, pois sua independência ocorreu apenas em 1830. Desde então, tiveram lugar movimentos de afirmação de uma identidade cultural própria, sobretudo em relação à França, país vizinho com o qual, além de ter em comum a língua francesa, mantinha uma relação ao mesmo tempo de atração e repulsão, permeada por trocas, mas também por ambiguidades. Um elemento que pode ser considerado de extrema importância na constituição dessa identidade belga é a pintura oriunda da região de Flandres, notadamente aquela de pintores do século XVI, como Peter Paul Rubens (1577 - 1640) e Pieter Brueghel (1525 - 1569). Tendo Camille Lemonnier mantido estreita relação com o campo artístico ao longo de sua carreira, o interdiscurso com a estética dos pintores flamengos marcará, assim, suas obras. No que concerne às lutas simbólicas travadas por Lemmonier durante a constituição do campo literário belga, a estética pictural flamenga também será aludida por ocasião dos processos judiciais movidos contra o autor, tendo em vista o teor de suas obras. Um desses processos é tematizado no romance Les deux Consciences (1902), obra da fase final de sua carreira. Neste romance, o protagonista Joris Wildman, escritor naturalista como Lemonnier, lança mão da herança pictórica flamenga para justificar os alegados exageros nas cruas representações de suas obras. A partir desse aspecto do romance, busca-se analisar de que modo o projeto estético de Camille Lemonnier é reeditado em Les deux consciences e examinar em que medida ele é instrumentalizado, a fim de afirmar a especificidade do discurso literário frente a instâncias que, tradicionalmente, buscam exercer um controle sobre o campo literário. Por outro lado, o interdiscurso pictural determinaria as particularidades da estética naturalista belga em relação à francesa. As diferenças entre as duas tornam-se flagrantes ao considerarmos o tipo de pintura associada ao naturalismo francês, pintura impressionista contemporânea, e aquele que marca a obra de Lemonnier. Para a investigação desses aspectos no romance estudado, serão considerados os conceitos de “espaço dos possíveis estéticos” e “campo”, ambos advindos de obras de Pierre Bourdieu e “descrição pictural” de Liliane Louvel. Objetiva-se, sobretudo através dos conceitos retirados das análises do sociólogo francês, examinar as possibilidades estéticas que se ofereciam a Camille Lemonnier e suas tomadas de posição em relação a elas, articulando-as com as lutas simbólicas presentes no campo literário belga do final do século XIX.
Palavras-chave: CAMILLE LEMONNIER, NATURALISMO, ROMANCE BELGA, CAMPO LITERÁRIO
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