Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
CHAGAS ABERTAS EM SŒUR PHILOMÈNE (1861) DOS IRMÃOS GONCOURT: CURATIVOS DA ALMA E DA CARNE NO ROMANCE NATURALISTA FRANCÊS
VANESSA COSTA E SILVA SCHMITT
Durante séculos considerado como um sítio de acolhida de viajantes, de miseráveis e de excluídos, seguidamente visto como um simples morredouro, onde os enfermos e débeis desprovidos de bens aguardavam resignadamente a unção derradeira, o hospital pré-revolucionário francês guardará pouca semelhança com o seu equivalente do século XIX. Na Paris de 1860, entende-se o hospital como o local mesmo de exercício da célebre clínica francesa, dissociado da condição de depósito humano geralmente a ele atribuída antes da Revolução Francesa. Nele, travam-se batalhas diárias não somente pela recuperação dos pacientes — ainda que esses consistam, essencialmente, de desfavorecidos — mas também pela sanidade física e mental do corpo clínico, permanentemente exposto ao sofrimento alheio. Motivados pelo sucesso alcançado por Flaubert com sua Bovary em 1856, Edmond e Jules de Goncourt concebem também eles uma nova estética, embora o façam, num primeiro momento, timidamente. Pródromo do Naturalismo, Sœur Philomène (1861) traz a intriga do romance para dentro do hospital, onde técnica, doença e sensibilidade são oferecidos cruamente a um leitor atônito — e talvez enojado — diante de tal cenário, tido como vil e degradante. A partir de um viés sócio-histórico, nossa análise ancorar-se-á em três pontos essenciais: inicialmente, propomo-nos a examinar a importância dessa instituição, onde coabitam patologia, miséria e morte, na economia do romance. Na sequência, tentaremos compreender como, em uma dimensão teológica, metafórica e poética, os curativos preparados pelas irmãs de caridade podem aliviar as chagas humanas. Por fim, procuraremos analisar as relações entre secularização, caridade e medicina, perguntando-nos se outras personagens como a religiosa Philomène seriam ainda possíveis nas assépticas instituições hospitalares da era pós-haussmaniana, em molduras outras que esta das primícias naturalistas.
Palavras-chave: GONCOURT, SOEUR PHILOMÈNE, MEDICINA (HISTORIA), NATURALISMO
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