Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ATLAS, CORPO E METÁFORA EM GONÇALO M. TAVARES
PALOMA RORIZ, IDA ALVES
Encontrar correspondências inéditas entre as coisas, ligações íntimas e inesperadas através do encontro e embate entre determinadas configurações visuais é, como argumenta Georges Didi-Huberman, o princípio movente que conduz e matiza o atlas Mnémosyne de Aby Warburg, quando ler o mundo, na expressão de Walter Benjamin, por meio da montagem de coisas, lugares e tempos heterogêneos, passa a ser religar as coisas do mundo, em um gesto de coalescência, de religação capaz de oferecer um conhecimento transversal da inesgotável complexidade geneológica, geográfia e imaginária da história. Para compor o livro Atlas do corpo e da imaginação, Gonçalo M. Tavares, nas palavras de Delfim Sardo, partiria de um método indiossincrático, tomando por base a ideia do fragmento, no qual o centro para esse fragmento seria a metáfora como processo, como se o autor lançasse mão de um metodologia fragmentar metafórica enquanto método cognitivo e possibilidade estética. Deste modo, o conhecimento metafórico é produzido por um corpo e pela maneira com a qual esse corpo se relaciona com o espaço. Tal conhecimento se colocaria em Tavares como uma espécie de “teoria selvagem da conectividade”, sendo selvagem, seguindo ainda a proposição de Sardo, pelo seu caráter indomesticável. Gonçalo M. Tavares vê a possibilidade do desenvolvimento da imaginação a partir da recusa de ligações fixas, e é na esteira de Novalis que ele diz: “unir sem cessar pressupõe unir coisas desunidas, desligadas, e quanto mais afastadas, quanto mais improvável a sua ligação, melhor”. Assim, o corpo, elemento central deste livro, é pensado em suas múltiplas possibilidades de ligação e correspondências ao longo de quatro eixos principais: “o corpo no método”, “o corpo no mundo”, “o corpo no corpo” e “o corpo na imaginação”. A desestabilização de ligações fixas e a provocação de novas ligações é o que constantemente nos defrontamos ao longo das muitas imagens e legendas do livro, nas quais o corpo aparece nas mais inusitadas formas de conectividade com o espaço, as coisas e o mundo. O propósito dessa comunicação é procurar refletir, a partir da obra Atlas do corpo e da imaginação, em que medida uma possível teoria selvagem da conectividade em Tavares, na acepção de Delfim Sardo, em que o espaço viria como metáfora do corpo, poderia encontrar pontos de contato com formas de organização e configuração do atlas Mnémosyne de Aby Warburg, a partir de algumas proposições de Georges Didi-Huberman em sua leitura e interpretação acerca do pensamento e obra do historiador alemão.
Palavras-chave: METÁFORA, CORPO, IMAGEM, LIGAÇÃO
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