Esta comunicação apresenta as principais conclusões de uma tese de doutorado sobre a obra do escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez (Bogotá, 1973). Centrada nos romances Los informantes (2004), Historia secreta de Costaguana (2007) e El ruido de las cosas al caer (2011), a pesquisa buscou verificar de que maneira o deslocamento físico e cultural de Vásquez – que escreveu os três livros quando vivia na Europa – influenciou sua abordagem da Colômbia. As hipóteses tiveram como ponto de partida o trabalho de Abril Trigo (2003), que sugere que os deslocamentos, ao acarretarem um esquecimento criativo que envolve o distanciamento do imaginário social e da memória histórica do país deixado, estimulam uma propensão questionadora na memória, passível de romper com os paradigmas anteriores e propor novas formas – mais críticas e inclusivas – de olhar a comunidade nacional. Marcados pelo questionamento da história hegemônica e do imaginário social colombiano, os romances de Vásquez respaldam a teoria de Trigo, relembrando fatos esquecidos e destacando a violência oculta na ideia de nação homogênea. Mais do que uma circunstância física, o deslocamento é tomado como um lugar de enunciação – e, como tal, um lugar ao mesmo tempo concreto e desejado, como diz Hugo Achugar (2006, p.19). Ao falar sobre a Colômbia, Vásquez adota deliberadamente a perspectiva de quem está de fora; declara ter com o país uma relação de romancista estrangeiro e, muito mais que um conhecedor, assume a posição de um pesquisador, que se lança sobre um território desconhecido em busca de respostas. Essa escolha – que demonstra, por si só, as especificidades dos deslocamentos hoje, desvencilhados do sentimento de perda identitária de outros momentos – tem impacto tanto ideológico como estrutural, influenciando, por exemplo, o caráter investigativo, quase detetivesco, das obras, nas quais os protagonistas empreendem buscas que jamais se esgotam, como matrioskas se renovando em dúvidas e interrogações. Neste sentido, Vásquez faz do deslocamento o instrumento para concreção de uma poética, segundo a qual a literatura serve para fazer perguntas, e não expressar certezas. Esta concepção, expressa pelo escritor em diferentes ensaios, é consubstanciada não apenas pela estrutura e o caráter inquisitivo das obras, como também pela presença de personagens deslocados, que em todos os romances são ou narradores ou testemunhas decisivas nas revelações feitas pela trama. São esses personagens que, olhando de fora (ou parcialmente inseridos), apontam o que ninguém mais vê: um país se consumindo, destruindo-se a si próprio com a complacência da população. São eles também que, com suas múltiplas perdas, expõem a vulnerabilidade e a ausência dos vínculos solidários que se esperam em uma comunidade que extrapole os limites da imaginação.
Palavras-chave: JUAN GABRIEL VÁSQIEZ, LITERATURA HISPANO-AMERICANA, LITERATURAS EM DESLOCAMENTO, LITERATURA E MEMÓRIA