Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
“O TEMPO E EU”: AUTOBIOGRAFIA E FICÇÃO DE LUÍS DA CÂMARA CASCUDO
REGINA LÚCIA DE MEDEIROS, DERIVALDO DOS SANTOS
Em O tempo e eu: confidências e proposições, obra de natureza autobiográfica publicada pela primeira vez em 1967, Luís da Câmara Cascudo consignou reflexões e apontamentos sobre sua vida, seus interesses, suas predileções, simpatias e amizades. A partir da leitura desses registros, somos informados de que o contato íntimo do escritor com o universo ficcional principiou desde cedo, quando ainda vivia sua meninice isolada e doente, sem amigos e sem direito a brincadeiras. Nas páginas desse livro, encontramos ainda a mescla de registros de leituras com anotações de caderno de viagens, reminiscências de casos e comentários acerca de acontecimentos históricos, ilustrando bem o estilo híbrido da escrita do célebre pesquisador norte-rio-grandense. Primeira e mais citada de suas obras autobiográficas, O tempo e eu apresenta uma estrutura organizada e hierarquizada, composta de quatro partes: “No rasto das velhas imagens”, narrativas breves sobre o nascimento e o crescimento de seu autor, dispostas em ordem cronológica, lembrando os personagens e os cenários da convivência familiar e amiga; “A lição do cotidiano”, reflexões sobre o aprendizado oriundo da experiência, que se aproximam, em sua maioria, do ensinamento fabular pelo fato de narrarem acontecimentos que culminam na formulação de uma lição ou de um preceito moral; “Compensações e mistérios”, discussões que retomam o caráter fabular dos textos anteriores, sobre as escolhas feitas ao longo da vida, entre os apelos opostos da “vocação” e da “remuneração”, e algumas narrativas acerca de casos e histórias ouvidas sobre experiências sobrenaturais; “Aula de bichos”, comentários, também de natureza fabular, tecidos a partir da observação do comportamento animal, ocupados, porém, como acontece nas fábulas, em ordenar um conhecimento sobre a espécie humana. As páginas de O tempo e eu nos fornecem elementos históricos e memorialistas: dados autobiográficos do escritor, informações sobre a sua relação com os homens e as coisas da sua cidade natal. De fato, o entrelaçamento entre autobiografia e memorialismo caracteriza o conjunto dos textos que integram o livro. Contudo, ponderamos que uma leitura orientada tão somente para a busca dessas informações biográficas, sem o propósito de problematizá-las, acaba por se mostrar superficial e ignora a importância desse volume para a compreensão do pensamento cascudiano. Dessa maneira, optamos por levantar questionamentos que condizem com o interesse deste simpósio e atentam para a riqueza da narrativa cascudiana. Propomos uma leitura que considere os imbricamentos existentes entre autobiografia e memorialismo, autobiografia e ficção. Para tanto, tomamos como pressupostos teóricos os escritos de Williams (1977), Miranda (1992), Benjamin (2006), Ricœur (2007) e Lejeune (2008). A presente comunicação reúne os primeiros resultados da nossa pesquisa de doutoramento, desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Palavras-chave: AUTOBIOGRAFIA, LUÍS DA CÂMARA CASCUDO, FICÇÃO, MEMORIALISMO
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