Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
TEMPO, VIDA, POESIA: MATÉRIA E MEMÓRIA NA PROSA DRUMMONDIANA
THADEU TOGNERI MOREIRA, CARMEM LÚCIA NEGREIROS DE FIGUEIREDO
O presente trabalho aborda Tempo, Vida, Poesia, obra ainda pouco estudada de Carlos Drummond de Andrade, publicada em 1986, produto final de uma série de oito entrevistas radiofônicas concedidas à amiga e jornalista Lya Cavalcanti, veiculadas, todos os domingos, pela PRA-2, Rádio Ministério da Educação e Cultura, na década de 1950. Objetiva-se no contexto de “Tempo, Vida, Poesia", apreciar o trabalho literário da narrativa enquanto ‘media’ fundamental da recordação que se projeta sobre a memória dos vestígios autobiográficos do autor. Neste sentido, a “performance” singular do prosador em foco permite identificar o percurso de "uma vida literária" , principalmente na empatia que estabelece com o receptor e a matéria da recordação e memória constituídas em imagens, que figuram sua própria complexidade subjetiva enquanto “personagem”. A riqueza poética do artifício de escrita encena a oralidade da experiência singular do narrador, possibilitando uma compreensão ampliada do fazer literário em foco, principalmente no que se refere à auto-ironia e ao humor em relação à matéria da recordação e memória de sua própria vida, reatualizando leituras e críticas ao corpo canônicos de seus escritos. Esta característica da obra permite analisar os traços do perfil autobiográfico do narrador que se integram harmonicamente à memória autobiográfica dos intelectuais no período do Estado Novo e à memória sócio-cultural do país, na medida em que a memória intelectual do autor, como crítico de seu tempo, contribui para ampliar a percepção de organização da cultura nacional entre 1920 e 1950. Neste contexto, o debate acerca da cultura brasileira constitui uma tradição entre os escritores nacionais, manifestando um traço constante, que permite delinear o roteiro de um itinerário intelectual coletivo, principalmente no que se refere a um processo contínuo de representação da identidade cultural nacional. O ingresso de Getúlio Vargas na Academia Brasileira de Letras assinala uma reconfiguração particular neste debate acerca da atuação tradicional dos escritores, principalmente ao criticar a metáfora machadiana da "torre de marfim" em contraposição à profissionalização do trabalho de escrita requerida pela "Ideologia de Estado" emergente nos anos 30, delimitando a participação dos intelectuais no âmbito de um "projeto político-pedagógico" dedicado à popularização e difusão ideológica do regime: enfocar o vínculo dos intelectuais com este projeto evidencia as relações entre propaganda política e educação no Estado Novo. Assim, os relatos de Drummond em Tempo, Vida, Poesia tratam de suas contribuições neste projeto enquanto chefe de gabinete no Ministério da Educação, administrado por Gustavo Capanema. Destacam-se também aspectos da cooptação dos intelectuais no contexto e da articulação entre uma política nacional de educação erudita e o controle das comunicações pelo Departamento de Imprensa e Propaganda. Além disso, a narrativa traz cenas privilegiadas na história da literatura brasileira: a mocidade do "Café Estrela", o encontro com os modernistas paulistanos, as correspondências estabelecidas entre seus contemporâneos como heranças na sua “geração de modernistas”. Sendo assim, busca-se verificar em que medida Tempo, Vida, Poesia contribui na reconstituição e atualização da memória do movimento modernista mineiro pensando também na relação com o modernismo em escala nacional.
Palavras-chave: MATÉRIA, MEMÓRIA, PROSA POÉTICA DRUMMONDIANA
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