Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
...EU ESCREVO EU ESCREVO EU...
TIAGO MONTEIRO VELASCO, HEIDRUN KRIEGER OLINTO
O presente trabalho é um experimento de escrita de si literária, de cunho teórico-prático, a partir da indagação sobre possíveis formas autobiográficas que ensaiam respostas plausíveis face à incredulidade com relação a grandes narrativas fundadas sobre a ideia de um sujeito supostamente autônomo, autoconsciente, integrado. O formato experimental deste trabalho é um ensaio para chegar ao formato final da minha tese. A metanarrativa aqui apresentada reflete não somente sobre o processo de escrita, mas também sobre a “invenção” de um narrador autocentrado durante a escrita. Este trabalho se justifica dentro de uma perspectiva construtivista, de autores como Benhard Poerksen e Siegfried J. Schmidt, que compreende que a realidade, bem como objetos, é construída pelo observador, de forma intersubjetiva. O conhecimento e o acesso à realidade são apreendidos e construídos por sujeitos históricos, a partir de seus aparatos cognitivos, inseridos em contextos socioculturais específicos. Assim, o foco deste texto passa do objeto para processos de construção; em vez de perguntar “o quê”, cuja resposta seria o objeto, explicar o “como”, que leva o pesquisador, como um observador de segunda ordem, à compreensão e ao desvendamento do processo de construção deste objeto. Este ensaio mostra-se não só como um espaço em que o percurso da pesquisa pode ser desvelado, explicitando dúvidas, dificuldades, confortos e desconfortos que surgem durante o período de doutorado, mas também se apresenta como o lugar de encenação e construção deste autor e futuro doutor em Letras no ato da escrita. Para isso, além do formato experimental, que inclui estratégias referenciais verificáveis, simultaneamente a outras que geram dúvidas e contradições, identidade onomástica entre autor, narrador e personagem, narrativa fragmentada, este trabalho dialoga, de forma implícita e explícita, com teóricos da escrita autobiográfica, como Philippe Lejeune, Leonor Arfuch, Alfonso de Toro e Diana Klinger. O texto busca manter a instabilidade do narrador e, também, tentar provocar instabilidades na leitura, a partir da problematização de categorias como “verdade”, “real” e “eu”. As discussões teóricas aqui presentes respeitam a própria desordem no espaço disciplinar dos estudos literários e as hesitações pessoais diante dos debates nada consensuais sobre o assunto. Este experimento de escrita de si literária deve ser compreendido como performance do autor tanto na construção do texto quanto em sua vida pública. Mas, nessa fusão entre real e ficcional, se dá também a performance do narrador, em processo durante o próprio ato da escrita objetiva, deste modo, uma construção identitária móvel, em aberto. A despeito da discussão teórica presente neste experimento de escrita de si literária, os leitores idealizados não são apenas profissionais, pesquisadores e críticos, mas diversos tipos de leitor interessados na leitura de ficção.
Palavras-chave: AUTOBIOGRAFIA, AUTOFICÇÃO, ESCRITA CRIATIVA, PERFORMANCE
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