Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
TESSITURAS EM JOGO: QUESTÕES SOBRE LITERATURA E(M) CINEMA
MARIA CRISTINA CARDOSO RIBAS
Este trabalho representa parte de nossa pesquisa sobre adaptação de textos literários pelo cinema, sem endossar o comparativismo que formula a superioridade de uma narrativa sobre outra, nem a decorrente relação de subserviência entre elas, através da qual o ‘subproduto’ (adaptação) estaria sempre em débito com o ‘original’ (texto literário). Mesmo fora deste modelo, a tendência majoritária das análises das adaptações entre mídias tem sido localizar, detalhadamente, semelhanças e diferenças, supressões e acréscimos presentes nas reescrituras em relação ao texto de partida. Ressalvando a importância do levantamento de marcas distintivas, dizemos que é uma etapa e merece desdobramento. Ir além desta prática exige mergulhar em uma série de questões: como avançar na comparação sem tornar propósito último a mera detecção destes ‘distintivos’ pontuais entre ambas as mídias? Como reconhecer a reescritura sem valorizá-la unicamente pelo compromisso de fidelidade a um texto apresentado como gerador nem permanecer no exercício da similitude? De que maneira olhar para a adaptação como “a derivation that is not derivative – a work that is second without being secondary” (HUTCHEON, 2006, p.9)? Desenvolvendo o diálogo com a literatura e pensando nas singularidades constitutivas de ambas as mídias no tocante à representação, perguntamos, ainda, quais seriam as diversas possibilidades com que o cinema – arte ‘impura’ por excelência, orientado em sua gênese pelo automatismo da máquina que dispensa a mão humana (BAZIN, 2016) e feito de blocos de movimento-duração (DELEUZE, 2009) – dispõe para manejar recursos expressivos e trabalhar com o real? Como compreender os efeitos de sentido desta ‘operação do real’ empreendida no processo de adaptação de textos literários? Com Bazin (2016), nossa hipótese é que a exatidão do detalhe que espectador e leitor percebem na tela e na página é tanto produto da imaginação de roteirista e escritor quanto da sua observação da realidade. No diálogo entre as narrativas literária e fílmica, tais modos de percepção compreendem um trabalho em filigrana de elaboração do real e que paradoxalmente nos restitui o que chamamos como realidade, em suas múltiplas temporalidades. Esta operação oferece um suplemento (DERRIDA, 1995) de sentido à reescritura, para além de quaisquer esforços de verossimilhança e preocupação conteudística - tanto da imagem, quanto da palavra. Ao mesmo tempo, não retira do espectador/leitor o prazer da experiência de (vi)ver o real e nos ajuda a entender que as adaptações tornam manifesto o que é potência em todas as obras de arte – elas são todas, em algum nível, derivadas.
Palavras-chave: ADAPTAÇÃO, COMPARATIVISMO ENTRE MÍDIAS, NARRATIVA LITERÁRIA E NARRATIVA FÍLMICA, OPERAÇÃO DO REAL
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