Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
IMAGENS SOBRE PARES AMOROSOS EM O MONSTRO, DE SÉRGIO SANT’ANNA E EM FALE COM ELA, DE PEDRO ALMODÓVAR
MARIA ANTONIETA JORDÃO DE OLIVEIRA BORBA
Para tratar de construção de imagens sobre pares amorosos na literatura de Sérgio Sant’Anna (1994) e na filmografia de Pedro Almodóvar (2002) em muito contribuem noções relativas a performance (Iser: 1996), efeito (Iser: 1978), indagação psicanalítica da comunicação (Laing&Phillipson: 1996), desconstrução (Derrida:1971). Trata-se de comparar criações de personagens masculinos e femininos realizados nesses dois modos de linguagem, que ilustram a discussão em torno de situações em que o discurso e o silêncio revezam-se para tematizarem o poder de um e de outro, em especial, quando o domínio dos limites de corpos já não mais sustentam condições de reação da consciência. Este constitui um dos núcleos que impulsiona o resgate de imagens sobre pares no filme Fale com ela e no conto O Monstro. São situações igualmente imprevisíveis que colocam, por exemplo, Antenor e Benigno diante de corpos de mulheres que, embora silentes por ausência de palavra e consciência, sugerem prazer. O leitor e o espectador tornam-se voyeurs dos gozos vividos por Frederica e Alicia, quando são estimuladas ao gozo que recobram vidas em estados de inconsciência . Essa é uma das imagens que, ausente de palavras, provoca o diálogo entre as artes da literatura e do cinema. A tematização do silêncio em cada encontro percorre as duas artes, suscitando diálogo entre as artes de Sant’Anna e de Almodóvar. O conto de Sérgio Sant’Anna explora igualmente a estratégia estético-discursiva da ausência de palavra em face do excesso do discurso. O contraste entre o falar excessivo de Antenor e o silêncio de Frederica compõe um dado significativo dessa estratégia. A narrativa de Antenor engendra ocorrências absolutamente inescrupulosas. No entanto, essa impressão primeira é logo abalada pela lisura do próprio relato. Nos momentos em que a polidez da linguagem interrompe a lembrança das ocorrências, entendemos que o texto se reveste da boa índole de quem domina a linguagem, deixando o receptor prestes a se sentir complacente com a crueldade dos atos por ele praticados. É ainda nesse estado de suspensão decorrente do paradoxo deixado em sua potencialidade que nós, leitores, perguntamo-nos assim: Até que ponto as fantasias eróticas são capazes de contrariar as normas que orientam as convenções? O que existe no relato que permite que nos percebamos atravessados pela amoralidade, apesar de, longe do monstro, estarmos presos aos ditames da justa convivência, a solicitarem respostas sobre o que é certo e o que é errado? Estes são alguns dos pontos de embates resultantes do vazio de uma literatura e de uma marca silenciosa num filme que, quando comparados, despertam releituras sobre a beleza de criações imagéticas sígnícas e visuais. Referências bibliográficas: CIXOUS, Hélene. “ Sorties” In: in La jeune née, Paris, 1975, in: NAVARRO, Márcia H.(org.) Rompendo o silêncio. Gênero e literatura na América Latina. Porto Alegre: Ed. da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1995. DERRIDA, Jacques. A Escritura e a Diferença . São Paulo: Perspectiva, 1971. ISER, Wolfgang. The act of reading: a theory of äesthetic response. London: Routledge & Kegan Paul Ltd., 1978. ______. O fictício e o imaginário. Perspectivas de uma antropologia literária. RJ: Eduerj, 1996. LAING, R. D., PHILLIPSON, H., LEE, A. R. Percepção interpessoal. Rio de Janeiro: Eldorado, 1966. NAVARRO, Márcia Hoppe (org.). Rompendo o silêncio. Gênero e literatura na América Latina. Porto Alegre: Ed. da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1995. SANT’ANNA, Sérgio. O Monstro. Três histórias de amor. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. Referência fílmica: Fale com ela. Direção: Pedro Almodóvar, 2002. Produção: Agustín Almodóvar. Gênero: Drama. 101 min.Cor.
Palavras-chave: IMAGINÁRIO, IMAGEM, PERFORMANCE, DISCURSO, SILÊNCIO
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