Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A TRAGÉDIA CONTEMPORÂNEA: ANÁLISE DAS OBRAS O VICE-REI DE UIDÁ E COBRA VERDE
MARIANA CASTRO DE ALENCAR
No contexto atual, tragédia é todo evento ao qual pode ser atribuído um caráter de “muito triste”, o que demonstra que o conceito fora ressignificado. O entendimento da imensa maioria das pessoas sobre o assunto comprova essa assertiva, uma vez que tanto o fracasso de Édipo quanto um acidente violento parecem possuir a mesma conotação, se olvidando que um evento “muito triste” não necessariamente é trágico. Como o renomado filósofo Terry Eagleton (2012) mesmo observa, conceituar tragédia na contemporaneidade é uma tarefa difícil, uma vez que nem tudo que é “muito triste” é trágico, e “trágico” é um termo mais transitivo que “triste”. A tarefa se mostra tão difícil na atualidade, que Eagleton se socorre na análise da opinião de diversos autores e filósofos, tais como Brereton, para quem tragédia é “um desastre definitivo e impressionante por causa de um fracasso imprevisto ou não percebido, envolvendo pessoas que inspiram respeito e compaixão” (1968), para formular sua tese e tentar definir o que de fato seria o fenômeno trágico na atualidade. É tendo este conturbado plano de fundo de indefinição e discordâncias que este artigo volta-se à análise do corpus literário, trazendo nova perspectiva sobre o assunto. Nele, serão analisados o romance O Vice-Rei de Uidá (1987), do autor inglês Bruce Chatwin, e a sua respectiva adaptação cinematográfica, Cobra Verde (1987), do diretor alemão Werner Herzog. O Vice-Rei de Uidá é um dos romances do autor inglês Bruce Chatwin, considerado um dos grandes nomes da literatura de viagem. É um romance histórico que conta a história de Francisco Manoel da Silva, um traficante de escravos brasileiro, muito respeitado no reino do Daomé, África, onde ergueu um império sobre as costas dos negros escravos, vítimas das mazelas das guerras tribais provenientes dos assédios europeus sobre o continente africano. Já sua adaptação cinematográfica, “Cobra Verde”, produzida e lançada em 1987, mesmo ano da publicação do livro, é dirigida pelo renomado diretor alemão, responsável também pelos filmes “Fitzcarraldo” (1982) e “Aguirre, a cólera dos Deuses” (1972), Werner Herzog, que traz através da película o seu olhar contestador, inovador e ressignificador do texto de partida. A partir destas obras, pretende-se analisar comparativamente, através dessa análise intermidial, como os dois textos trabalham os elementos da tragédia e os seus efeitos. Se tem por intento mostrar como as obras referidas dialogam entre si e se estabelecem como obras trágicas, sendo estas trabalhadas do ponto de vista contemporâneo.
Palavras-chave: INTERMIDIALIDADE, BRUCE CHATWIN, WERNER HERZOG
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