Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
O AUTOR ENTRE A IMPRENSA E O PROJETO LITERÁRIO: O CASO DE A MORTALHA DE ALZIRA DE ALUÍSIO AZEVEDO
SABRINA BALTOR DE OLIVEIRA
Aluísio Azevedo é um dos autores cânones da Literatura Brasileira e considerado o maior escritor do Naturalismo no Brasil. Sua obra O Mulato inaugura esta escola no território nacional e o romance O Cortiço é considerado o melhor exemplar da estética naturalista brasileira. Aluísio Azevedo tinha um projeto literário bem definido que buscava a evolução do romance nacional, deixando para trás um paradigma romântico considerado ultrapassado e fantasioso, e propondo um modelo literário baseado na observação científica, em busca da descrição mais fiel possível da sociedade. Por estas razões, a crítica literária costuma praticamente ignorar toda a produção azevediana que foge do padrão estabelecido pela escola de Zola, considerando-a menor, pois seria elaborada com um único objetivo financeiro. Aluísio Azevedo foi considerado pelos críticos José Veríssimo e Valentim Magalhães o primeiro escritor brasileiro a viver somente de sua pena. Tal dedicação exclusiva ao mundo da escrita teria justificado o lançamento de obras essencialmente comerciais que caíam facilmente no gosto popular, exigência feita pelos donos dos periódicos ao contratar os serviços do escritor. Quando decidiu entrar para a vida diplomática praticamente abandona a literatura. O único livro resultante deste período é Japão, que consiste em uma reunião de anotações de Aluísio a respeito deste país quando lá viveu como diplomata, e uma única novela O Touro Negro. Desta forma, Aluísio viveu unicamente do que escrevia e, curiosamente, do que desenhava, uma vez que também vendia caricaturas para periódicos, desde 1876 até 1897, ano em que entra para a diplomacia. Neste período, das suas obras literárias, seis seguem rigorosamente os preceitos da estética naturalista: O Mulato, Casa de Pensão, O Homem, O Coruja, O Cortiço e Livro de uma sogra; e sete são consideradas menores por tentar agradar o gosto popular, ora simulando ou até recuperando as páginas policiais, ora fazendo concessões ao romantismo, ou até mesmo desenvolvendo uma verve cômica: Uma lágrima de mulher, Girândola de amores, Filomena Borges, A condessa Vésper, A mortalha de Alzira, Mattos, Malta ou Matta? e o livro de contos Demônios. Vale lembrar do romance Paula Mattos ou O Monte do Socorro, folhetim também escrito segundo o gosto popular, por quatro escritores diferentes: Olavo Bilac, Aluísio Azevedo, Coelho Neto e Pardal Mallet, sob o pseudônimo de Victor Leal. É Victor Leal que também assume, em um primeiro momento, o romance escolhido para estudo: A Mortalha de Alzira, obra que considero símbolo do cruzamento do projeto literário do escritor e das exigências da imprensa. Pretendo demonstrar neste trabalho que, embora realmente faça concessões no que diz respeito ao tema do romance, inspirado no conto fantástico La Morte Amoureuse, do escritor Théophile Gautier, ainda que tenha demonstrado certa vergonha ao assumi-lo como seu no momento da publicação em volume do romance, Aluísio Azevedo não deixa, através de modificações fulcrais na história fantástica original e em seu desenlace, de inserir a estética naturalista em A Mortalha de Alzira, aliando sucesso de vendagem, tanto do folhetim, quanto das edições do romance, ao seu projeto literário.
Palavras-chave: ALUÍSIO AZEVEDO, IMPRENSA, A MORTALHA DE ALZIRA, NATURALISMO
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