Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
VILÉM FLUSSER: ENSAIO, PRÁTICA E REFLEXÃO
MANUELA FANTINATO
O nome de Flusser é amplamente conhecido no mundo ocidental, quase invariavelmente associado a uma filosofia ou teoria dos novos meios de comunicação. Tcheco de nascimento, foi incluído no rol dos pensadores de tradição germânica, embora tenha passado mais de 30 anos no Brasil, para onde veio fugindo da ameaça nazista. Por aqui, publicou diversos livros, foi ativo colaborador na imprensa e atuou em importantes universidades e espaços institucionais. Ao longo de sua vida, dedicou-se aos mais variados temas, da escrita às imagens técnicas, da arte à ciência, do existencialismo à epistemologia. Sempre avesso a classificações e à criação de sistemas ou metodologias, rejeitava a determinação de filósofo, preferindo a de escritor. Por muito tempo, a obra de Vilém Flusser permaneceu pouco estudada no Brasil, não obstante o papel que desempenhou no debate cultural, sobretudo paulista, dos anos 1960. Seu projeto intelectual se mostra uma rede imbricada de conceitos e ideias que, à primeira vista, parecem díspares. É possível, entretanto, compreendê-lo em um quadro mais amplo de crítica epistemológica da modernidade, que, no seu caso, parece indissociável de sua vida e de sua prática, que tem no ensaio um sentido particular. O exílio parece ser uma instituição fundadora do pensamento de Vilém Flusser, uma espécie de metáfora cujo sentido ele subverte, compreendendo-a como potência produtiva. Trata-se de uma experiência que desestrutura sua relação com passado e futuro, no sentido que lhe furta ambos, e com a noção de uma identidade estável, mas que também lhe concede liberdade para as futuras escolhas que faz. Cada uma de suas obras é, assim, consequência da liberdade de pensar e de expressar-se, mas também de inventar-se enquanto um intelectual que não se fixa em lugares ou áreas de conhecimento. Não à toa elege o ensaio como meio para articular seus pensamentos, essa forma que, segundo Adorno, aparece como a negação de todo método, que eleva a própria experiência ao status de autoridade de conhecimento, que não parte do princípio, nem se orienta ao fim. Não se trata de um meio, mas uma prática com acepções intelectuais e estéticas. Por meio dela, rejeita conceitos estáveis e absolutos, produzindo obras que criam unidade a partir da fragmentação, ideias que só se completam em relação e interação umas às outras. Ao recusar a linearidade e as explicações fechadas, ele atua no sentido de contestar, na prática da escrita, o projeto de uma modernidade pautada no progresso estável da civilização, que mostrou seus limites nos eventos em torno da II Guerra Mundial. O pano de fundo que aí se estende é a crise das referências e símbolos que articulam o mundo contemporâneo e o saber tradicional.
Palavras-chave: VILÉM FLUSSER, ENSAIO, EXÍLIO, FILOSOFIA
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