Em O nascimento da tragédia (1872), de Friedrich Nietzsche, Prometeu se remete ao afã titânico de Dioniso de tornar-se Atlas, mas também à ferida aberta, à carne lacerada, sugerindo que corpo e imagem não são passíveis de serem representados em sua totalidade. As interpretações do mito de Prometeu pela literatura de Hesíodo (em Teogonia e em O trabalho e os dias) e de Ésquilo (em Prometeu acorrentado), encenam manifestações diversas do fenômeno da origem da cultura. Essa se apresenta ora como a instauração do progresso pelo roubo do fogo, ora como a aproximação entre o titã e os homens graças ao ato criminoso e à punição tirânica de Zeus. Focaremos duas versões do mito na literatura brasileira, a de Glauber Rocha em Riverão Sussuarana (1978) e a de Murilo Mendes no poema “Novíssimo Prometeu”, de O visionário (1933), a partir das noções nietzscheana e heideggeriana da origem, segundo as quais Prometeu poderia ser visto, duplamente, como uma instância pós-fundacional, descentralizadora do cânone da literatura, e como instaurador do conflito com o poder dos Estados ditatoriais.
Palavras-chave: PROMETEU, MURILO MENDES, GLAUBER ROCHA, ORIGEM