Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
LITERATURA E FILOSOFIA NO SÉCULO XVIII: O POEMA NARRATIVO HERÓI-CÔMICO
SAMUEL CARLOS MELO, CILAINE ALVES CUNHA
O objetivo deste trabalho é efetuar análise de O desertor (1774), poema narrativo herói-cômico de Manuel da Silva Alvarenga, à luz especificidade do sistema cultural do século XVIII. Para isso, parte-se da discussão sobre as fronteiras entre literatura e filosofia no século XVIII, passando para a conceituação do romance filosófico e o poema narrativo herói-cômico, e chegando à análise e aproximação de suas estruturas binárias. Têm-se como apoio teórico, principalmente, os estudos de Franklin de Matos, O filósofo e o comediante (2001) e A cadeia secreta: Diderot e o romance filosófico (2004), Ivan Teixeira, Mecenato pombalino e poesia neoclássica (1999), Jean Starobinsk, “O fuzil de dois tiros de Voltaire” (2001), João Adolfo Hansen, “Ilustração católica, pastoral árcade et civilização” (2004) e José Batista de Sales, O Poema Narrativo no Brasil: das Origens a Mario de Andrade (2009). Para Bosi, é importante distinguir dois momentos da literatura do século XVIII que, segundo ele, se justapõem: o poético, que se dá na utilização de formas bem definidas encontradas no retorno à tradição clássica (Arcádia), e o ideológico, “[...] que se impõe no meio do século, e traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero (Ilustração)” (p.56). Assim, segundo o autor, diferentemente do jogo de signos da arte barroca, a estrutura significante da obra não tem valor em si mesma, fazendo com que o poeta (o artista) e sua obra passem a exercer, também, um “papel pedagógico”. Franklin de Matos (2001) observa que, no século XVIII, não há fronteiras precisas que separam a literatura da filosofia, o que, para ele, constitui um dos mais marcantes traços do pensamento dos Setecentos. O filósofo, afirma Matos, passa a praticar diversos gêneros, deixando de privilegiar o tratado como expressão filosófica, não tendo mais o teólogo, o metafísico e o sábio como referências, preocupando-se, agora, em ser útil. O Desertor (1774) constitui-se de 1.439 versos decassílabos heróicos brancos que são distribuídos em cinco cantos de estrofes irregulares. A narração tem o intuito de criticar, a partir de uma noção de Universidade calcada em conceitos ilustrados, a vida universitária e a universidade de sua época, mais especificamente a Universidade de Coimbra, onde Silva Alvarenga, como já foi dito, se formou em Direito canônico. A narração consiste na fuga de Gonçalo para abandonar os estudos na Universidade de Coimbra, após ser convencido pela Ignorância (alegoria à resistência à reforma do Marquês), deixando, inclusive, sua noiva. Depois de muitos percalços, dentre eles, ser espancado, o rapaz é convencido pelo tio a retornar aos estudos. Somado a “Ode à Mocidade Portuguesa por Ocasião da Reforma da Universidade de Coimbra” e “Ao Ilustríssimo e Excelentíssimo/ Sebastião José de Carvalho/ Marquês de Pombal, etc. Ode.”, forma o conjunto de poemas pombalinos escritos pelo autor.
Palavras-chave: HERÓI-CÔMICO, ARCADISMO LUSO-BRASILEIRO, ILUSTRAÇÃO CATÓLICA, O ROMANCE FILOSÓFICO
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