A proposta central deste trabalho é realizar uma leitura de parte do cancioneiro do capixaba Sérgio Sampaio a partir de algumas das ideias-força centrais presentes na Teoria estética (1970) de Theodor W. Adorno. Partindo da premissa de que, a despeito de constituir-se como um compositor de música popular – o que, parti pris, caracterizaria suas canções como um mero produto da indústria cultural e, portanto, desartificada (Entkunstung) –, a abra de Sampaio obra representa, ao mesmo tempo, uma profunda dissidência em face do mainstream e uma aguda crítica à roda viva dos produtos culturais padronizados em nome do capitalismo tardio. Crítica essa que não se alia ao mero plano do engagment e tampouco é caracterizada por uma desconexão absoluta com a história, mas que se mensura no modo marginal com que produziu suas canções, eivadas da estranheza em face dos tempos autoritários em que compôs a parte substancial de seu cancioneiro (década de 1970) e que, justamente por isso, são retratos da história sedimentada na forma, obras de arte autônomas em face do mundo administrado. A partir de canções como “Viajei de trem” (1973), “Velho bandido” (1976) e “Faixa seis” (1982), procuraremos evidenciar categorias da estética adorniana, como “autonomia”, “resíduo”, “antagonismo e forma” e, evidentemente, “conteúdo de verdade”.
Palavras-chave: SÉRGIO SAMPAIO, THEODOR W. ADORNO, TEORIA ESTÉTICA, CANÇÃO