Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
DIACRONIA ESSENCIAL: TEMPO HISTÓRICO EM VIAGEM À ITÁLIA (1786-1788)
WILMA PATRICIA MARZARI DINARDO MAAS
O conceito de tempo histórico é aqui entendido como o entenderam Michail Bakhtin e Reinhardt Koselleck, respectivamente em Estética da criação verbal e Futuro passado: por uma semântica dos tempos históricos. Em ambos os casos, pode-se afirmar que a exposição das relações temporais está associada, necessariamente, ao elemento plástico (bildsam) e visual, expresso pela estética do símbolo e da alegoria. Bakhtin abre seu estudo sobre o cronotopo falando da “especial aptidão de Goethe para ver o tempo no espaço”. Os indícios da marcha do tempo podem ser lidos, sobretudo, na natureza, “no movimento do sol e das estrelas, no canto do galo, nos indícios sensíveis e visuais das estações do ano.” Para Bakhtin, esses são sinais que demarcam as atividades do homem sobre a terra, como a agricultura e a criação de rebanhos. Trata-se, portanto, do tempo natural, cíclico, que controla e determina a relação do homem com a natureza. Ao lado desses sinais do tempo cíclico, Bakhtin identifica outros sinais visíveis, “mais complexos”, as marcas visíveis do tempo histórico propriamente dito, indícios da atividade criadora do homem: cidades, casas, ruas, obras de arte e de técnica, a estrutura social, etc.. Mas o “tempo histórico” é mais do que a mera constatação das transformações causadas pela intervenção humana sobre a terra. Trata-se, na definição de Bakhtin, de uma percepção para a “coexistência dos tempos num único ponto no espaço”. Em Roma, o “grande cronotopo da história humana” onde a coexistência de épocas distintas se faz visível, essa percepção se faz mais clara. A mesma composição estrutural da diacronia na sincronia subjaz à concepção de tempo histórico em Koselleck. Ciente da necessidade de se distinguir entre “um tempo único, natural, regido segundo nosso sistema planetário e calculado segundo as leis da física e da astronomia e um “tempo histórico” entendido para além das determinações temporais compreendidas de maneira física ou astronômica, Koselleck recorre a Herder, que afirma, na Metakritik zur Kritik der reinen Vernunft (1799) : Na verdade, cada coisa capaz de se modificar traz em si a própria medida de seu tempo; essa medida continua existindo, mesmo se não houver mais nenhuma outra ali; não há duas coisas no mundo que tenham a mesma medida de tempo [...] Em ambos os exemplos, a perspectivização ou evocação na memória (ou na literatura), são mecanismos essenciais para a apreensão do tempo histórico. A mera observação empírica de um conjunto formado por partes separadas não dá conta de fazer surgir ao observador essa “profunda dimensão temporal”. Para que ela se desvele, é preciso que se reconheçam as relações entre as diferentes unidade de tempo em contínua transformação, o que remete tanto ao parágrafo de Herder acima citado, o qual reconhece que “cada coisa capaz de se modificar traz em si a própria medida de seu tempo”, quanto a uma expressão frequente em Goethe, a metáfora do “olho da mente” ou “olho do espírito” (Auge des Geistes).
Palavras-chave: TEMPO HISTÓRICO, KOSELLECK, BAKHTIN
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