Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
SOB O SIGNO DE EROS E A FORÇA DE THÂNATOS: ESPAÇOS DA DOR EM O LUSTRE, DE CLARICE LISPECTOR
MARIÂNGELA ALONSO
A obra O lustre, de Clarice Lispector apresenta uma escrita complexa, marcada pelo sema da água e o embate entre vida e morte. Indiciada desde o início do romance, a morte surge em torno da sugestão de um afogamento, quando a protagonista Virgínia e o irmão Daniel avistam do alto de uma ponte um chapéu arrastado pela correnteza de um rio e decidem calar-se a respeito, pactuando um segredo tão bem guardado quanto à grafia da palavra no texto, a qual surge como ?afog...?. Tem início, então, um processo vertiginoso vivido pela personagem, que, debruçada sobre a ponte, experimenta em devaneios a dor e o conhecimento da morte advinda das águas turvas. Ainda que a vida de Virgínia seja descrita em etapas e progressões lineares, o discurso apresenta-se de modo fragmentário e elíptico, difundindo no texto uma espécie de dinâmica que tensiona a liquidez deformante da água, cujo signo se acopla a imagens grotescas, gerando a convivência entre vida e morte, fluxo e corte, fluidez e embate, claridade e sombreamento, Eros e Thânatos. Tais imagens caracterizam-se por aspectos desagregadores, os quais negam a essência líquida e/ou fluida do sema da água. Desse modo, o objetivo deste trabalho é discutir o sema da água como elemento estruturador e mediador dos movimentos pulsionais de vida e morte na narrativa de Clarice Lispector. A análise será empreendida pela interface entre Literatura e Psicanálise, compreendendo especialmente as teorias de Sigmund Freud a respeito das pulsões, bem como de outros estudiosos. Além disso, nos apoiaremos em leituras que abordam o aspecto imaginário do elemento água e sua materialidade na proposição de desejos e sonhos da humanidade, tais como Gaston Bachelard e Gilbert Durand.
Palavras-chave: O lustre. Clarice Lispector. Pulsões. Água
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