ITANA SILVA CARVALHO, SILVANA MARIA PANTOJA DOS SANTOS
Pretende-se com este trabalho analisar a representação da memória traumática no romance Mão de Cavalo, de Daniel Galera (2010), a partir de fatores que contribuem para o agravamento de perdas e culpas. O narrador-personagem rememora acontecimentos da infância, marcada por agressões, seguidas de outras lembranças não menos traumáticas, vivenciadas na fase adulta. As discussões pautam-se no pensamento de Halbawachs (2006), quando diz que as lembranças particulares ancoram na memória do grupo. Em Freud (1996), ao mencionar que a memória é constituída de traços, sendo estes resultantes do que se conservou ou de uma determinada impressão. Além da visão de Seligmann-Silva (2006) e Levi (1990), no que se tange às marcas de violência evidenciadas no testemunho traumático. Nesse sentido, além de levar em conta as reflexões teóricas já referidas, serão consideradas as estratégias de construção do texto literário. Ao retratar as três fases de sua vida, o narrador-personagem de Mãos de Cavalo constrói uma trama dividida entre o passado traumático e a possibilidade de um futuro incerto. Sua postura diante de um passado latente é marcada por morte, sexualidade, as primeiras experiências afetivas carregadas de turbulência, seus próprios conflitos que se revessam entre o sucesso profissional e um casamento fora dos planos. Ante o exposto, a narrativa memorialística de Mão de Cavalo estabelece uma certa ocorrência por meio de laços entre acontecimentos chaves, e de uma ordenação fragmentada e de reconstrução de si mesmo, com tendência à compreensão do lugar social do narrador-personagem e das relações com os outros, perante a sociedade.