Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
MARGUERITE DURAS E O DESEJO DE ESCREVER EM O AMANTE
MARIA CRISTINA VIANNA KUNTZ
Marguerite Duras é considerada, hoje, uma das mais importantes escritoras francesas da segunda metade do século XX. Meio século de uma produção instigante e intensa (quarenta romances, dezenove filmes, treze peças teatrais), traduzida em mais de quarenta idiomas, caracteriza sua trajetória que terminou há vinte anos. Nascida no Vietnã, na Indochina Francesa, em 1914, vai para a França aos dezessete anos e jamais voltará ao Oriente. Esse período de privações e aprendizagem de sua infância marcará indelevelmente sua obra. Na última fase de sua vida, após superar uma crise de saúde profunda, nos anos 1980, Duras retoma sua pena e mergulha nas lembranças da infância. Em 1984, a autora publicará sua obra-prima - O Amante - pelo qual receberá o Prix Goncourt. Contudo, embora aparentemente mais "palatável", sua escrita mostra-se ainda, complexa e densa, e portanto, desafiadora do ponto de vista da narrativa. A partir de estudos freudianos, Jean Bellemin-Noël estabelece relações entre literatura e psicanálise, considerando que a obra literária seria fruto da sublimação no inconsciente do escritor e assim, apresentaria estruturas semelhantes às do jogo infantil ou do sonho (1983). Freud afirma que o desejo, sendo "indestrutível", quando concebido como "força motriz", rege não só nossos sonhos, mas a nossa vida em busca do prazer e das realizações (1999, p.363). Por isso acreditamos que Duras, ao registrar suas lembranças, atende claramente ao desejo de escrever. A escrita de Duras provém de uma "sombra interior" ("l'ombre interne"), apresentando-se "esburacada", dolorosa, lacunar, de tal forma a confundir e inquietar o leitor (DURAS, GAUTHIER, 1974, p.50). Em uma leitura iluminada por aspectos de Freud, Lacan e Bellemin-Noël, pretendemos, nesta comunicação, focalizar em O amante, manifestações da dor e do desamparo (PEREIRA, 2008) que suscitam na escritora o desejo de escrever e reescrever incessantemente suas memórias.
Palavras-chave: Marguerite Duras; mulher; desejo; medo; desamparo
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