O presente ensaio busca assinalar as transformações por que passou a reflexão crítica de José Guilherme Merquior. Argumenta-se que sua obra pode ser distinguida em duas fases, sendo a primeira caracterizada pela percepção da cultura em crise, e a segunda por uma tônica mais afirmativa dos valores da modernidade, especialmente da noção de progresso. Não obstante esta mudança, um fio condutor é facilmente identificável ao longo da íntegra de sua trajetória, a saber, a crença no caráter formativo da arte e da cultura e a centralidade da crítica em todo o processo. Pela análise do conjunto de seu trabalho tornar-se-á evidente a mudança dos adversários a que se destina sua verve polemista e aguda, inicialmente a alienação decorrente da massificação contemporânea, seguida pelo irracionalismo das vanguardas, a opressão do socialismo e a antimodernidade dos intelectuais. Portanto, o que se almeja é explicitar que, para além das variações pelas quais passou, o pensamento de Merquior guarda uma profunda coerência com sua concepção da arte e da crítica; e é por intermédio desta concepção artístico-cultural que se entende melhor a continuidade que existe entre seu primeiro livro publicado, Razão do poema, e o último, Crítica. Em suma, nosso texto pugna por clarificar o que persiste, o que permanece e persevera – em paralelo às alterações – no complexo acervo crítico de José Guilherme Merquior.
Palavras-chave: Merquior, Crítica, Vanguarda, Arte, Grafocracia