Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A ASCENSÃO DO LEITOR E O DEBATE CRÍTICO DE PROUST E SAINTE-BEUVE
THIAGO BLUMENTHAL
Muito se é debatido hoje o papel do crítico literário na sociedade, e suas relações com o mercado editorial vigente, em sua concretude e em seus descaminhos. O papel do jornal, do veículo impresso, frente à mídia eletrônica, deixa resvalar questões fundamentais do objeto literário contemporâneo, com destaque para o papel autoral e o peso do cânone. O que define um autor e o que consagra um livro ainda depende de uma crítica tradicional, respeitada entre seus pares (a saber, a academia e a imprensa)? Questionamentos como esse ressoam nos corredores das universidades e das redações, e atingem, sem dúvida, uma nova figura de crítico-leitor, na era do caos de informação eletrônica via internet. Embora contemporânea, tal discussão se inicia a partir do livro mais do que como fonte de conhecimento e intelecto, mas como objeto de valor afetivo, conferindo-lhe um alto grau de status à figura do autor, então alçada a um degrau mais alto em especial com a ascensão do romance no século XVIII, principalmente com Goethe. O romance como objeto de estima e entretenimento atinge em cheio nossos tempos, mas como um produto, ainda que por ganhar uma forma mais homogênea, mastigado, pensado e repensado ao longo de mais dois séculos de potencialização e cristalização de sua forma e de sua recepção com o leitor. Se a literatura alemã, com Goethe, e a inglesa, com Defoe, traçaram os primeiros esboços dessa nova percepção (e dessa espécie de “autoconsciência do romance”), foi Proust, na França, que nos apresentou um novo modelo de desaparelhamento dos vértices constitutivos de uma obra (leitor – obra – autor). Tanto na Recherche como em seus textos ensaísticos – no debate com o crítico Sainte-Beuve – o autor francês introduz uma subversão da recepção estética, não só literária, mas também plástica. Neste percurso, o mundo já demanda uma nova apreciação, não necessariamente melhor ou mais elaborada, mas simplesmente distinta, inédita e que responda a novas ânsias de um novo mundo e de um novo fazer literário, como bem reflete o crítico francês Antoine Compagnon, ele mesmo um estudioso da obra de Proust (Compagnon, Ian Watt e, mais contemporaneamente, Franco Moretti e a pesquisadora Deidre Shauna Lynch darão conta do aparato teórico da apresentação). Mais do que uma formação e uma canonização do autor, da figura autoral, talvez tenhamos hoje o destaque do leitor como principal mediador do cânone literário – passagem, trânsito e estado possíveis graças, entre outros motivos, obras e autores, a uma nova proposta de romance, e de literatura, decididamente demarcada por Proust, na Recherche e no debate crítico de sua época, no caso, com Sainte-Beuve.
Palavras-chave: CRÍTICA LITERÁRIA, PROUST, SAINTE-BEUVE, ROMANCE
voltar