Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ESFINGE ALÉM DO REALISMO
THOMAS ALVES HÄCKEL, CARMEM LÚCIA NEGREIROS DE FIGUEIREDO
O trabalho tem por objetivo o estudo do romance “Esfinge”, de Coelho Neto, a partir de uma visão que vá além do conceito de realismo estabelecido pela crítica brasileira ao longo da nossa história da literatura. Uma vez que o romance pode ser ajuizado em seus dispositivos formais, em suas estratégias de narração, em suas sobreposições de imagens, é possível, ao revés de pensá-lo como os estudos da tradição historiográfica, pensá-lo como signo capaz de evocar sensações visuais e táteis. O cerne da reflexão são as mudanças operadas na virada do século XIX/XX nos mecanismos de percepção. A mutação da experiência subjetiva pela alteração da observação, da experiência da temporalidade e dos regimes de atenção atuam como um choque de intensificação da vida moderna, principalmente pelas novas tecnologias, causando novas necessidades de experiência. Considerando, então, a crise do realismo no romance, pretendo compreender o texto como um corpo capaz de produzir impacto na estrutura sensível dos indivíduos, permitindo que se discuta para além dos processos de narrar, mas sim como um compartilhamento de sensibilidades entre sujeito e literatura, estabelecido como outra categoria do signo linguístico. Com esse questionamento da crítica, evocando a matéria verbal como imagem, tal estudo permite colocar em xeque a experiência visual, modificando as condições cognitivas, sensoriais e imaginativas dos indivíduos. Pode-se pensar, portanto, a cidade como um fenômeno visual, construído com novas formas de sentidos dados pela nova experiência urbana alterando a unidade de sentido do real, relacionando-se esteticamente com um modo de compreensão do romance a partir de novas formas de entendimento. É possível, doravante, discutir acerca da ideia de realismo e política da escrita, visualizando a possibilidade ou não de uma autenticidade entre corpo-texto e corpo-realidade empírica, a partir da colocação de descrições e narrações do romance em posição com um “antimimetismo” que pretende, com isso, pensar uma metafísica da realidade. O romance, com uma composição de si muito mais tátil e expressionista do que realista, formula problemas estéticos a partir da escrita sensorial relacionada com expressões visuais próximas à fotografia e ao cinema, demostrando uma leitura diferente do romance. Com isso, não tento desvendar qualquer enigma da esfinge, mas sim pensar a partir dos signos da linguagem para refletir sobre a ideia de texto na virada do século XIX/XX com os adventos e incorporações óticas na literatura, as disposições de uma política do realismo e a ideia de um corpo-romance. Para tanto, lerei o romance refletindo sobre sua força de experimentação e estranhamento diante à realidade, entendendo-o ora como resposta, ora como pergunta às demandas de novas visibilidades trazidas pela arte e pela cidade.
Palavras-chave: CRISE DO REALISMO, CORPO-ROMANCE, SENSIBILIDADE
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