Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
“NADA DE BANDEIRAS”: REFLEXÕES SOBRE IDENTIDADE(S), MIGRAÇÃO E ALTERIDADE EM DOIS ROMANCES NIGERIANOS CONTEMPORÂNEOS
SHEILA RIBEIRO JACOB
Este trabalho propõe um diálogo entre dois romances nigerianos publicados na última década: “Cidade aberta”, de Teju Cole, lançado em 2011, e “Americanah”, de Chimamanda Ngozi Adichie, de 2013. Ambas as obras nos possibilitam refletir sobre aspectos do mundo contemporâneo, como identidade(s), alteridade e diáspora, já que os dois protagonistas – Julius e Ifemelu, respectivamente – deixam seu país natal, a Nigéria, em busca de uma melhor formação nos Estados Unidos. Em contato com outras culturas, eles não apenas percebem os estereótipos que rondam o imaginário ocidental referente ao continente africano, como também invertem o olhar do discurso hegemônico, herdeiro do pensamento colonial. Nos romances ora analisados, são os personagens africanos que erguem sua voz para nos dizer de suas impressões, andanças e reminiscências naquele outro mundo, surpreendendo-nos com observações apuradas sobre modos de vida tão banalizados por nós, ao mesmo tempo em que percebem e denunciam os preconceitos acerca de seu povo, de seu país e de seu continente como um todo. Tais questionamentos se dão tanto por meio da narração em primeira pessoa, no caso do texto de Teju Cole, quanto pelas publicações em um blog sobre cultura feitas pela personagem criada por Chimamanda. Reféns de uma certa solidão e saudosos de sua terra, o deslocamento espacial que os protagonistas estabelecem resulta em um deslocamento de olhares e percepções de si mesmos e daqueles com quem passam a conviver, entendendo que não apenas diferenças, mas também muitas semelhanças unem os países separados pelo Atlântico. A proposta de estabelecer um diálogo entre ambas as obras tem como objetivo, portanto, mostrar como devem ser questionadas ideias como as de nações puras e identidades rígidas e imutáveis, devido aos inevitáveis encontros e trocas culturais. Para além disso, também percebemos nesses textos que as fronteiras ainda existem, principalmente aquelas que têm como base o preconceito. Basta lembrar que os dois romances se ambientam nos EUA depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 e da crise de 2008, acontecimentos que potencializaram sentimentos de repulsa, suspeita e intolerância com relação ao “outro” estrangeiro, principalmente aquele oriundo de países pobres. Dessa forma, a literatura nos possibilita pensar que algumas cidades – principalmente do Norte – não estão tão “abertas” como vemos no título do romance de Teju Cole, condenando imigrantes a se sentirem deslocados e desconfortáveis, conforme sinaliza a escolha do termo “Americanah” para o livro de Chimamanda. Para refletir sobre as duas obras em questão, serão convocados pensadores como Edward Said, Stuart Hall, Homi K. Bhabha, Walter Mignolo, Nestor Canclini, Gayatrik Spivak e outros pesquisadores que se têm dedicado aos estudos sobre identidade, nação, territorialidade, cultura, diáspora e alteridade, questões que se apresentam cada vez mais atuais como podemos ver nos noticiários internacionais e, também, nas produções literárias de países periféricos com as quais temos a possibilidade de entrar em contato.
Palavras-chave: IDENTIDADE CULTURAL, ROMANCE NIGERIANO, DIÁSPORA
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