Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
Á BEIRA DO ATLÂNTICO: MIGRAÇÕES, DIÁSPORA E IDENTIDADES NO PANORAMA LITERÁRIO CONTEMPORÂNEO
LUCA FAZZINI
A época contemporânea, caraterizada pelo trânsito rápido de pessoas, idéias e mercadorias, numa perspetiva sempre mais global, favorece uma reflexão que vise desconstruir e repensar conceitos chaves da modernidade ocidental, como identidade, nação e fronteiras, e as intrínsecas relaxões hierárquicas de poder que se etabelecem. De facto, as nações modernas – delimitadas por rígidas fronteiras - surgiram como “cominidades imaginadas” a partir de narrações baseadas em identidades culturais imutáveis, de tipo essencialista, fundadas na possibilidade de pensar num eu coletivo estável. Desconstruindo essa visão central dentro do pensamento ocidental moderno, Stuart Hall evidência como, na época por ele chamada de“modernidade tardia”, as identidades apareçam cada vez mais fragmentadas e que, citando uma passagem do ensaio “Quem precisa da identidade”, “elas não são , nunca, singulares, mas multiplamente construídas ao longo de discursos, práticas e posições […] constantemente em mudança e transformação ”. O momento da superação das fronteiras, da passagem, do trânsito das culturas, favorecido pelo desenvolvimento tecnológico da contemporaneidade, tornaria interessante e necessária a proposta de pensar as identidades nas suas perspetivas dinâmicas, para além do território fixo das nações. A partir, portanto, de uma atenta reflexão sobre as migrações, a diáspora, e as relaxões de poder que fazem parte de tais deslocamentos – movimento proposto, entre outros, por Paul Gilroy no seu Atlântico negro. Tendo em consideração as ferramentes oferecidas por Stuart Hall e Paul Gilroy, assim como o conceito de in-between, da autoria de Homi Bhabha, na comunicação Á beira do atlântico: migrações, diáspora e identidades no panorama literário contemporâneo, proponho uma leitura comparada dos romaces Alzira está morta, da antropóloga brasileira Goli Guerreiro, e O angolano que comprou Lisboa (por metado do preço), do músico angolano Kalaf Epalanga, que vise refletir acerca das identidades na contemporaneidade tendo em consideração uma perspetiva migrante e diaspórica. Que mova, de facto, das trocas culturais sobre as quais os dois autores costrõem as próprias narrações. Obras híbridas, que misturam múltiplos gêneros literários, como o romance, a autobiografia, o relato historiográfico, com expressões artísticas diferentes – a fotografia em Goli Guerreiro, e as batidas do Kuduro em Kalaf Epalanga – tanto em Alzira está morta quanto em O angolano que comprou Lisboa, as migrações dos protagonistas são funcionais para encenar os contatos e as trocas culturais entre África, América e Europa. Oferecendo considerações interessantes para pensar o conceito, teorizado por Goli Guerreriro, de Terceira diáspora, ou seja “o deslocamento de signos – textos, sons, imagens – provocado pelo circuito de comunicação da diáspora negra”, que “coloca em conexão digital os repertórios culturais de cidades atlánticas – ícones, modos, músicas, filmes, cabelos, gestos, livros.”
Palavras-chave: IDENTIDADE, DIÁSPORA, CONTEMPORANEIDADE, MIGRAÇÕES
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