Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
O LEITOR ATIVO NO JOGO TEXTUAL DE OSMAN LINS E DE JULIO CORTÁZAR
MARIA APARECIDA NOGUEIRA SCHMITT
Tecer considerações entre duas obras escritas por autores cujo fazer literário parte de inovadoras técnicas narrativas na América Latina constitui o objeto deste estudo. Desestabilizando cânones, Osman Lins, na literatura brasileira, e Julio Cortázar, na obra de ficção argentina, elaboram sua escrita desafiando o leitor a percorrer os labirintos textuais guiados por fios que se esgarçam nas respectivas tessituras narrativas. Os estilos muito próprios dos dois romancistas acabam por dialogar quando o insólito e a desconstrução dos arquetípicos romances tradicionais atordoam leitores passivos, afeitos ao convencional e os desafiam a se tornarem coautores no desmanchar e no refazer das respectivas arquiteturas romanescas. Com A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins, e O jogo da amarelinha, de Cortázar, a linearidade narrativa desconstrói-se no puzzle textual e o leitor se vê reconstruindo o enredo à sua maneira. Ao buscar pistas de leitura, descobre-se detetive atrás da chave que lhe oferecerá passagens alternativas ao percorrer a trama romanesca. Por outro lado, a preocupação com o leitor em ambos os escritores, leva-os a dar-lhe liberdade de traçar caminhos de leitura conforme desejar. Temas em comum como o da loucura, da quiromancia, da alteridade, são tratados nos romances em estudo, de forma a dar vasão à genialidade criativa de dois escritores que sabem minar a realidade e nela injetar elementos fantásticos, estilhaçando desde o foco narrativo até o espelhamento de personagens que se desdobram nos muitos aspectos do seu ser. Perante a polifonia, o dialogismo, a polissemia textual, A rainha dos cárceres da Grécia e O jogo da amarelinha se situam dentro da circularidade infinita da linguagem, a que se refere Barthes, disseminando fragmentos que dialogam entre si em narrativas heráldicas. Por meio de um estudo comparatista, afinidades ideológicas e artísticas entre os dois escritores se evidenciam e indiciam pontos de análise. Desconstruindo fronteiras espaciais em prol da concepção de comarcas intelectuais na América Latina, os dois romances em estudo curvam-se sobre si mesmos, em exercício de análise crítica da própria forma de narrar dos respectivos autores, em uma verdadeira poética introduzida no texto ficcional. Em A rainha dos cárceres da Grécia e em O jogo da amarelinha se apresenta o rechaço ao instituído por intermédio das ambiguidades e das constantes buscas no jogo textual em que se envolvem personagens e leitor. Osman Lins e Júlio Cortázar explodem palavras, recorrem à técnica do fluxo da consciência em permutas entre a voz narrativa e a das demais personagens, oferecem diferentes ângulos de abordagem, revelando brechas inesperadas para se chegar ao centro da mandala textual.
Palavras-chave: LEITOR, INSÓLITO, POLIFONIA, DIALOGISMO
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