Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
TERROR E MELANCOLIA: O SUBLIME NA POESIA DE FAGUNDES VARELA
JOÃO PEDRO LIMA BELLAS
Luís Nicolau Fagundes Varela (1841-1875) publicou suas obras mais celebradas pela crítica, como Noturnas e Cantos e fantasias, entre os anos de 1861 e 1865. Sua obra é considerada de transição pois traz alguns dos temas caros à geração anterior, dita ultrarromântica, e antecipa elementos que perpassam a obra da geração seguinte representada por poetas como Castro Alves. O poeta fluminense restaura alguns temas dos poetas precedentes, conferindo novo ânimo à melancolia e ao tom imaginativo da poesia ultrarromântica. Dessa forma considera-se pertinente uma análise da obra de Fagundes Varela segundo o viés das teorias do sublime, dada a sua relevância para a literatura romântica europeia, cujos vestígios podem ser traçados também na produção romântica brasileira. No entanto, devido à pluralidade de teorias – algumas vezes conflitantes – acerca desse conceito estético, a hipótese preliminar da pesquisa que vem sendo desenvolvida é de que seria possível encontrar nos poemas do autor de Vozes da América aspectos de diferentes formulações do sublime. Duas delas são o sublime de Edmund Burke, e o sublime egotista, seguindo a terminologia proposta por Thomas Weiskel em seu estudo O sublime romântico, de poetas como William Wordsworth. A teoria burkeana do sublime, apresentada na obra Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo, é fundamentada nas ideias de dor e perigo. Por essa razão, o filósofo julga necessária a presença do terror para a produção do sentimento sublime. Dessa forma, a noção de autopreservação é essencial para as teses apresentadas na Investigação. O sublime egotista, por outro lado, surge a partir de uma progressão que parte da memória até a imaginação que resulta no reconhecimento dos poderes e do caráter quase divino da alma. Esta formulação ressalta uma autoafirmação do espírito, em lugar de uma autopreservação instintiva. O modelo burkeano é pertinente no contexto romântico uma vez que essa escola recebeu algumas influências do Gótico do século XVIII. Em obras do período como O morro dos ventos uivantes é possível perceber elementos comuns à escrita gótica, dentre eles o sublime tal qual é descrito por Burke. O sublime egotista surge no mesmo contexto, então, como uma alternativa àquela visão, relegando a ideia de terror e enfatizando a melancolia da memória como o elemento capaz de possibilitar à imaginação o reconhecimento das capacidades do próprio espírito. Neste trabalho pretende-se demonstrar a presença de traços dessas duas versões do sublime na obra de Varela mediante a análise de dois poemas: o célebre “Cântico do calvário”, de Cantos e fantasias, e “A sede”, presente na antologia Cantos do ermo e da cidade.
Palavras-chave: FAGUNDES VARELA, SUBLIME, TERROR, MELANCOLIA
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