Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ALGUNS CONCEITOS PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA
RODRIGO OCTÁVIO ÁGUEDA BANDEIRA CARDOSO
Em As palavras e as coisas, Foucault afirma que tanto o conceito de história, como o conhecemos hoje, quanto o de literatura surgiram no final do século XVIII, em meio às revoluções burguesas, no limiar da modernidade. Esta aparição caracteriza também o surgimento do homem, pensado então como origem e destino desses fenômenos, em uma perspectiva teleológica e etnocêntrica, muitas vezes associada à filosofia de Hegel, para quem a história seria inteiramente racional, em todos os seus momentos e progrediria dialeticamente por uma tomada de consciência do Espírito Absoluto, afirmando ainda que a História é a autobiografia do Espírito. De acordo com tais concepções, as manifestações literárias foram pensadas historicamente segundo categorias hierarquizantes que apresentavam fenômenos contemporâneos como pertencentes a diferentes etapas de um desenvolvimento histórico uniforme, classificado-os, assim, como primitivos, civilizados ou modernos. Através dessas categorias, chega-se, por um lado, à noção esquemática da sucessão dialética de escolas literárias, opondo-se umas às outras (barroco – subjetivo, clássico – objetivo, romântico – subjetivo, realista – objetivo...), por outro, à ideia de inovações progressivas nas técnicas literárias indo de uma suposta ingenuidade na idade média a uma suposta maturidade no século XX: das narrativas populares e histórias de cavalaria medievais e a estrutura do conto popular, à forma do romance em Dom Quixote, seguindo-se o realismo do século XIX, a introdução do romance psicológico já no final desse século com seus personagens “redondos”, o discurso indireto livre no início do século XX, chegando finalmente à ruptura da forma nas vanguardas. Narrativas progressivas semelhantes podem ser feitas em relação à poesia: a autonomização em relação à dança e à música, eliminação das interjeições, o desenvolvimento de formas fixas, sua flexibilização no romantismo, a introdução modernista do verso livre e branco, etc. Em “A Biblioteca de Babel” Borges imagina uma simultaneidade eterna de todos os textos possíveis em uma biblioteca fantástica. Embora a emergência histórica dos textos não possa ser desconsiderada, em suas relações discursivas, estéticas e políticas com o seu tempo, o conto de Borges sugere a presença e a repetição do mesmo (as mesmas vinte e seis letras do alfabeto) num espaço sem progressão – sem origem e sem destino. Considerações históricas mais críticas vão apontar também para os diversos equívocos que se acumulam na narrativa eurocêntrica e teleológica tradicional, da presença do discurso indireto livre em Ulysses (apontada por James Wood), à aparição do romance “moderno” no Japão do século X (O Conto de Genji), à observação de técnicas complexas de composição em narrativas indígenas. Seguindo essas considerações, buscarei, enfim, apresentar alguns conceitos que deslocam concepções tradicionais da história – os jogos de força em Nietzsche, a arqueologia de Foucault, o paradigma de Agamben, a rede de atores de Bruno Latour e a imagem dialética de Benjamin – para podermos pensar outros rumos para as histórias das literaturas.
Palavras-chave: ARQUEOLOGIA, NARRATIVA, PARADIGMA, HISTÓRIA DA LITERATURA
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