Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
POESIA E HISTÓRIA: LEITURA DE “FOTOGRAFIA”, DE FABIO WEINTRAUB (2007), E “PRESENTE”, DE ANTONIO CICERO (2012)
WILBERTH CLAYTHON FERREIRA SALGUEIRO
A poesia brasileira do século XXI abriga um sem-número de traços e elementos que tanto possibilitam certos agrupamentos, quanto separações inconciliáveis. Um modo de se perceberem tais diversidades e afinidades é investigar como a caudalosa produção contemporânea lida com a existência do sofrimento humano. A pesquisa que desenvolvo junto ao CNPq, ora com o título “Poesia de testemunho e catástrofe cotidiana: trauma, humor e violência”, tem evidenciado que os problemas sociais coletivos aparecem (considerando uma grande massa de obras recentes) bem escassamente. Os poetas e os poemas atuais ao que parece têm preferido elaborar versos em que, entre tantos aspectos, se destacam experiências da intimidade (instantes epifânicos, metáforas do corpo) e habilidades de escrita (obras metapoéticas, alusões intertextuais). Em paralelo, e proporcionalmente em menor número, outros poetas e poemas tematizam as dores, as misérias e as mazelas de uma população desassistida de voz e poder. Para tensionar esses dois polos – em que evidentemente não se exaurem as formas e forças da poesia de hoje –, vamos analisar e cotejar os poemas “Fotografia” (Baque, 2007), de Fabio Weintraub, e “Presente” (Porventura, 2012), de Antonio Cicero: naquele, vê-se a imagem deplorável de uma mulher “oculta / pelos caixotes / embriagada / entre sobras de repolho” e vem à tona a questão da indigência urbana; neste, o sujeito, mesmo ciente de “que há sofrimento / de um lado e de outro e atrás e à frente”, opta, numa espécie de carpe diem contemporâneo, pelo prazer da autoentrega, no desejo de “dar a mim mesmo este presente”. O poema de Cicero faz parecer hegemônica, ainda, a perspectiva hegeliana de que o tal “eu lírico” (a própria expressão induz à categoria da subjetividade plena) não enxergaria muito longe além da particular vivência, sendo incapaz – por excelência, desde o seu estatuto de gênero – de falar do outro, a não ser de forma interessadamente solipsista. Já o poema de Weintraub exemplificaria uma abordagem que estreita os vínculos entre arte e compromisso, entre estética e ética. Em clássico artigo de 1957, Theodor Adorno pensava as relações intrínsecas entre “lírica e sociedade”, entre sujeito e coletivo, entre forma e história, num mundo desencantado, pós-guerra. Redimensionando radicalmente estas relações, o filósofo alemão diz que “a lírica se mostra mais profundamente assegurada, em termos sociais, ali onde não fala conforme o gosto da sociedade, ali onde não comunica nada, mas sim onde o sujeito, alcançando a expressão feliz, chega a uma sintonia com a própria linguagem, seguindo o caminho que ela mesma gostaria de seguir”. Tais conflituosas e incontornáveis relações entre lírica e sociedade, entre poesia e história conduzirão o debate que aqui se propõe, a partir dos poemas de Fabio Weintraub e Antonio Cicero.
Palavras-chave: POESIA BRASILEIRA, POESIA E HISTÓRIA, FABIO WEINTRAUB, ANTONIO CICERO
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