Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
"QUANDO NÃO ESTOU POR PERTO": POEMA-PAISAGEM
MAÍRA FERNANDES RIBAS DE MELO E SILVA, ANA KIFFER
A comunicação aqui proposta pretende desenvolver uma leitura do livro "quando não estou por perto", da poeta Annita Costa Malufe. Admitindo que toda leitura é apenas uma hipótese, a que viemos propor se valerá da noção de paisagem em contato com procedimentos poéticos que configurariam este livro como um poema-paisagem. Mais do que uma compilação de poemas específicos, pretendemos demonstrar que "quando não estou por perto" pode ser considerado uma sucessão de versos criando um ritmo próprio, espécie de música ambiente, de paisagem sonora que ressoa e retorna, como "cama" para seus campos semânticos. O crítico Denilson Lopes, a quem majoritariamente recorreremos para a noção de paisagem, observa o surgimento da categoria de paisagem sonora, em artigo sobre o trabalho dos músicos Eric Satie e Brian Eno. A partir dele, pensaremos a paisagem como procedimento metodológico que instaura um deslocamento, uma ambiência, uma viagem. Assim, "quando não estou por perto", composto por sete capítulos, pode ser considerado um poema em sete movimentos. A narrativa inconclusa e estilhaçada, como quer Donizete Galvão na orelha do livro, não chega a figurar, em nenhum dos sete capítulos, um fio condutor de contornos nítidos. Como uma partitura que incorpora as repetições em suas sutis diferenças, "quando..." revela-se um poema longo, "onde importa mais o fluxo sonoro e rítmico do que uma ideia explícita" (GALVÃO). Os temas gerais do livro (amor, relacionamento, memória e esquecimento, distância, viagem, casa, cidade, impossibilidade, infância, afeto, além do onipresente "fazer poético") deslizam por todas as páginas: frases inteiras se repetem, motivos retornam, versos que finalizaram um poema iniciam, levemente transformados, outro logo a seguir. Certa paisagem vai tomando forma ao longo do livro, forma essa, porém, que é diluída no momento mesmo em que se configura. No ensaio "A poesia-em-crise ou a indecisão da forma" (Revista FronteiraZ, 2012), Annita Costa Malufe analisa o livro "Metade da arte", do poeta Marcos Siscar. O que ela própria observa, em relação à poesia de Siscar, poderia também se aplicar a "quando não estou por perto": "A escrita do poema é uma procura, uma deambulação, delineando uma espécie de movimento autopoïetico – o poema que, ao mesmo tempo em que se faz, busca criar o pensamento que, em mão dupla, o torna possível" (MALUFE). Annita Costa Malufe é. além de poeta, doutora em Teoria Literária e professora do Departamento de Literatura e Crítica Literária da PUC de São Paulo. Sua tese de doutoramento é um estudo sobre a poesia de Ana Cristina César e Marcos Siscar. Nesse sentido, podemos imaginar que este lugar, o do poeta também crítico, que escreve poesia e sobre poesia, circulando dentro e fora dos ambientes acadêmicos, seja talvez um lócus privilegiado para/da poesia contemporânea; se não exclusivo, ao menos determinante para que se compreenda o fazer poético e sua crítica, hoje.
Palavras-chave: ANNITA COSTA MALUFE, POEMA-PAISAGEM, CRÍTICA
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